tag:blogger.com,1999:blog-86644667932436344302024-03-13T07:06:52.229-03:002 contra o mundoO blog começou em 2011 meio que sem responsabilidades. Não era um blog de política. Em 2013, porém, o país começou a desabar, e de certa forma o blog foi acompanhando isto com enorme tristeza, principalmente a partir de 2018, com a prisão de Lula e a chegada de Bolsonaro e Moro ao poder. Hoje em dia, tentamos fazer nossa pequena parte na luta contra este horror que nos governa.
Pode me escrever no email joaogabriel14@gmail.com
Este email também é o PIX caso vc queira contribuir com qq 10 reaisJoão G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.comBlogger264125tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-85835389516167256002024-02-21T11:12:00.000-03:002024-02-21T11:12:24.664-03:00Netanyahu, Lula e as atrocidades<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqw4tU5ILPXW2u8O7QkA_Oq12Iiwyv9wORGTIU2sf6qf6zz2Ih1-S9pfQqNUji5lBfykPkoV3fF2h19FTW7sPh5O4F2O1TRmhGdx5eKb57nHBTk_Cb_FZ4wDWct9B62oCTxb79U9I8Y_Wk9TCqH628V7uW8nR5NYo3_0TP15EPEGkEKHgBMmwu7wfsdDk/s1280/Lula_BIB.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="959" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqw4tU5ILPXW2u8O7QkA_Oq12Iiwyv9wORGTIU2sf6qf6zz2Ih1-S9pfQqNUji5lBfykPkoV3fF2h19FTW7sPh5O4F2O1TRmhGdx5eKb57nHBTk_Cb_FZ4wDWct9B62oCTxb79U9I8Y_Wk9TCqH628V7uW8nR5NYo3_0TP15EPEGkEKHgBMmwu7wfsdDk/s320/Lula_BIB.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma
constante da história da humanidade é a atrocidade. E uma constante sobre a
atrocidade é que normalmente aquele que comete a atrocidade justifica a sua
atrocidade argumentando que foi vítima de uma atrocidade anterior e que a sua
atrocidade serve para impedir uma atrocidade posterior. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
Iugoslávia dos anos 1940, tínhamos sérvios mais próximos da Rússia e bósnios-croatas
mais próximos da Alemanha. Quando os alemães invadiram o país, coube
basicamente a bósnios e croatas a missão de realizar uma limpeza étnica na
região. Conseguiram. Aproximadamente metade da população sérvia foi assassinada
durante o conflito. Por uma sorte do destino, porém, o líder do movimento de
libertação dos sérvios era um croata, o marechal Tito. Com sua liderança,
conseguiu impedir a revanche sérvia quando a guerra acabou. Veio a paz, que durou
enquanto durou Tito. Com a morte do marechal, movimentos nacionalistas croatas
e bósnios floresceram e bastou uma pessoa oportunista chegar ao poder na Sérvia,
Slobodan Milosevic, para que o medo se instalasse entre os sérvios. A
independência de Croácia e Bósnia foi vista como uma possibilidade de repetição
da atrocidade dos anos 1940. E com o medo veio a força para a realização da
nova atrocidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
geral aquele que comete a atrocidade se sente uma vítima enquanto a comete. A
atrocidade é um ato de justiça. O Holocausto judeu. Uma enorme atrocidade.
Desde a fundação de Israel, em maior ou menor força, o Holocausto é a força motriz
para a realização de todas as atrocidades cometidas pelo Estado. E para que
esta força funcione bem, é importante que se realize uma gradação de
atrocidades. O Holocausto tem que ser considerado a atrocidade maior, pois se toda
a atrocidade for menor basicamente toda a atrocidade é justificada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
muito difícil fazer uma gradação de atrocidades. Principalmente porque a
atrocidade que sofremos será para nós sempre a atrocidade maior.
Aproximadamente 3.000 pessoas morreram nos ataques terroristas de 11/09/01 em
Nova Iorque. Uma atrocidade. Esta atrocidade serviu como justificativa para que
os americanos invadissem o Iraque, ocasionando uma guerra que gerou aproximadamente
1.000.000 de mortos. Uma atrocidade. Qual atrocidade foi maior, a que causou
3.000 de mortos ou a que causou 1.000.000 de mortos? A resposta parece óbvia,
mas pergunte a um americano. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
paz é algo muito difícil, pois quase toda paz é injusta. Vamos pegar a situação
entre Israel e Palestina. Imagine que amanhã se assine um acordo de paz. O que
sentirá a mãe israelense que teve um filho assassinado no ataque de 07/10 do
Hamas no caso do assassino de seu filho não ser punido? Sentirá uma grande
injustiça. O que sentirá a mãe palestina que teve um filho assassinado pelas
forças israelenses no caso do assassino do seu filho não ser punido? Sentirá
uma grande injustiça. A paz exige perdão e este perdão exige uma coragem extrema.
Em 1990, Nelson Mandela saiu da prisão após 27 anos decidido a fazer a paz.
Para conseguir esta paz, mostrou-se disposto a não punir os muitos criminosos
da era do apartheid. Um grau de injustiça enorme. Coloquemo-nos no lugar de uma
pessoa que teve a vida massacrada pelo regime do apartheid e que não viu seus
opressores sendo punidos pelo crime. Imagine o sentimento de injustiça. Só funcionou
porque havia Mandela. Mandela era capaz de olhar no olho desta pessoa
massacrada e falar “Olha, eu me fodi também. Eu passei 27 anos trancafiado numa
jaula. Se eu estou sendo capaz de passar por cima disto, você também consegue”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nenhuma
pessoa neste conflito parece menos interessada na paz do que Benjamin
Netanyahu. O primeiro-ministro israelense fez sua carreira boicotando toda
tentativa de acordo de paz com os palestinos. Vendendo a seus eleitores a ideia
de que a criação do estado palestino é injusta para o povo israelense. Desde a
atrocidade de 07/10 vem cometendo todo tipo de atrocidade possível. E tudo registrado.
Está acontecendo na frente dos nossos olhos. Netanyahu já DISSE, sim, ele já
DISSE que seu objetivo é tirar os palestinos daquele região e ocupá-las com
israelenses. Isto está dito. Para ele é fundamental que siga existindo a gradação
de atrocidades que coloca o Holocausto no topo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lula
em nenhum momento negou ou diminuiu o Holocausto. O que ele fez foi colocar a
atrocidade contra os palestinos no mesmo grau. E isto choca Netanyahu, porque
esta gradação de atrocidades é fundamental na manutenção de seu ciclo de atrocidades.
Uma verdadeira máquina de mentiras entrou em ação. Lula foi acusado de “negar o
Holocausto”. Tornou-se pessoa non grata em Israel. Não importa que o governo
brasileiro tenha desde o primeiro dia condenado o ataque do Hamas. Netanyahu
precisa de submissão total. Netanyahu mente sobre a fala de Lula e a usa como distração. A distração é fundamental para que as atrocidades sigam acontecendo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
governo brasileiro tenta desde o dia 1 trabalhar pela paz. Não deu certo. Todas
as reuniões da ONU seguem terminando 13x1. Este 1 é dos EUA, que seguem
rejeitando todas as tentativas de cessar-fogo. Não sei como será se um dia
ficar 14x0. O governo israelense não se mostra muito disposto a respeitar
decisões da ONU. Segue achando normal que um estado adote táticas semelhantes
às de um grupo terrorista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
1993, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat deram as mãos naquele que prometia ser o
momento da paz na região. Rabin foi assassinado dois anos depois. Netanyahu
chegaria ao poder na eleição seguinte, prometendo desfazer o acordo de paz.
Conseguiu. A paz exige coragem. Coisa que Netanyahu não tem. Cresceu prometendo
atrocidades. É isto que consegue entregar.<o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-47899403119693429622023-12-08T21:52:00.001-03:002023-12-08T21:52:16.134-03:00O Botafogo e a vida<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnz7QiiKgDFt0UPRGqzG9pNirO9QwKc6IIgyKZVlo232o0q75OAioliO7lm1ykNZx-v8t0ULITMB3JligC_gflBIQqjGW3M-EkeaRmP_CmwvHXgugrhh_vvXfYFJXhMV8ibFOLgV7y23oqxmkisBPEcrW7jVwQGTjAq1TFCsvsECuEKD9e72gw50aM1Z8/s1189/garrincha_Destaque.jpg" imageanchor="1" style="font-family: "Berlin Sans FB", sans-serif; font-size: 18.6667px; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="831" data-original-width="1189" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnz7QiiKgDFt0UPRGqzG9pNirO9QwKc6IIgyKZVlo232o0q75OAioliO7lm1ykNZx-v8t0ULITMB3JligC_gflBIQqjGW3M-EkeaRmP_CmwvHXgugrhh_vvXfYFJXhMV8ibFOLgV7y23oqxmkisBPEcrW7jVwQGTjAq1TFCsvsECuEKD9e72gw50aM1Z8/s320/garrincha_Destaque.jpg" width="320" /></a></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Berlin Sans FB",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">É
algo curioso quando todo mundo meio que sabia que algo iria acontecer, aí
quando este algo acontece fica todo mundo impressionado “meu Deus, algo aconteceu”
quando no fundo todo mundo meio que sabia que algo iria acontecer. Pois bem,
algo aconteceu. E foi com o Botafogo, o time com quem algo sempre acontece. Há
uma espécie de sinergia. Um sentimento coletivo que antecede o algo que acaba
provocando o algo. Qualquer faísca serve para provocar o grande incêndio de
algo. Um apagão. Um cartão vermelho. Um pênalti desperdiçado. Um pênalti
cometido. O impedimento por um micrômetro. Algo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Berlin Sans FB",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Amarelão.
Pipoqueiro. Eu sempre me identifiquei com estes dois adjetivos. Sempre me achei
meio amarelão. Sempre me achei meio pipoqueiro. E olhe que eu nem acho que
tenha passado por situações tão estressantes assim. Qualquer coisa eu já fico
nervoso. Sempre fui assim. Se eu fosse um jogador de futebol, sou do tipo que mandaria
a bola do pênalti mais importante para fora do estádio. Se eu fosse jogador de basquete,
meu lance livre decisivo não bateria nem no aro. Se eu fosse jogador de tênis,
cometeria uma dupla falta no match point do adversário. Sempre achei curiosa
esta identificação que as pessoas têm com atletas ou marcas vencedoras. Você se
identifica com Roger Federer, Rafael Nadal ou Novak Djokovic? Eu me identifico,
sei lá, com o Thiago Monteiro. Muito esforço e muita luta para chegar na
segunda rodada. E olhe lá.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Berlin Sans FB",sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Se
eu fosse um time, seria o Botafogo. Superstições, administrações atrapalhadas e
poucos momentos de glória espalhados numa vida de sonhos e frustrações. Mas há
uma certa beleza em perder muito e ganhar pouco. As muitas derrotas tornam as
vitórias mais saborosas. E o esporte nos dá uma capacidade ímpar de aprender a
recomeçar. E é isto que o Botafogo vai fazer. Recomeçar. É isto que estou fazendo
sempre. Uma hora vai dar certo. Pode ser que não dê, mas por algum motivo
sempre acreditamos. Uma hora derrotaremos o algo. E veremos que o algo não era
tão foda assim. O Botafogo é o time que mais representa a vida. A vida não é o
Palmeiras de Abel. Como não era o São Paulo de Telê ou o super Santos de Pelé
(perdão por comparar o Palmeiras atual com aquele Santos. É como comparar um
bom livro com, sei lá, Grande Sertão Veredas). A vida é o Botafogo. A sucessão
de acasos que destrói os sonhos. Mas eles seguem lá. A sucessão de acasos que
ao mesmo tempo destrói os sonhos servem para intensificá-los. Na primeira
sequência de três vitórias o sonho e o trauma voltarão. Ainda mais fortes. E
esta é a beleza da vida. É a beleza o Botafogo. No mundo competitivo e baseado
nesta falsa identificação com os vitoriosos, o Botafogo sobrevive. Uma hora o
pênalti vai entrar. O lance livre vai cair. Salvarei o match point com um ace.
E o botafoguense vai sorrir no final. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><br /><p></p><br />João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-85474213628705655982023-09-27T09:41:00.003-03:002023-09-27T09:42:08.501-03:00A Assessora Negra, a Torcida Branca e o Pacto da Branquitude<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWtBPZtPnR5iT-M6levW7BzDc22Fs9M4m8VZI0ArOlRVeLxpXMJpcu-OQ_Z2osAqRH1jk8IcQxo91APnB8cu3umOMMYzG95i3zhkANThC5eVwn-vG6JFNje23Wy6MBuOFVJLKX-PqgaTEjp9bwVY4vpOQqlue2rH80t7-T2uRelSLB0d_GGVmdYRX8TTI/s920/whatsapp-image-2023-04-25-at-144345.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="704" data-original-width="920" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWtBPZtPnR5iT-M6levW7BzDc22Fs9M4m8VZI0ArOlRVeLxpXMJpcu-OQ_Z2osAqRH1jk8IcQxo91APnB8cu3umOMMYzG95i3zhkANThC5eVwn-vG6JFNje23Wy6MBuOFVJLKX-PqgaTEjp9bwVY4vpOQqlue2rH80t7-T2uRelSLB0d_GGVmdYRX8TTI/s320/whatsapp-image-2023-04-25-at-144345.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;">Ter um
público majoritariamente branco e que não sabe torcer em estádios não é
exclusividade do São Paulo. À exceção talvez de Vasco e Santos, todos os
grandes clubes brasileiros passaram por um processo intencional de elitização
de seu público. Os dois instrumentos para isto foram o encarecimento dos
ingressos e o programa de sócio-torcedor. Ninguém que não seja razoavelmente
abastado tem condições de pagar uma mensalidade para poder, quem sabe, comprar
ingresso em algum jogo. Cor de pele e classe social tem tudo a ver num país
construído à base de escravidão e racismo. A área mais popular dos antigos
estádios, a geral, foi destruída nas reformas de Maracanã e Mineirão. Ficou
claro que os clubes não têm mais interesse em ter a camada mais popular em seus
estádios. A isto a maior parte da mídia chamou de “modernidade”. Outras coisas
“modernas” são a reforma da previdência e a reforma trabalhista. Sempre os
mesmos beneficiados, sempre os mesmos prejudicados. O próximo passo da
“modernidade” no futebol é tirar o esporte da grade da televisão aberta.
Pay-per-view e streaming são o caminho para um esporte mais “moderno”, em que o
torcedor é visto como um consumidor e a função do futebol é gerar receita. A
parcela mais pobre da população já foi afastada do estádio e vai
progressivamente sendo afastada da televisão. Sobrará o rádio, este
sobrevivente da modernidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;">A assessora
negra da ministra negra “ousou” apontar isto. Não apontou contra o time dela, o
Flamengo, time mais popular do Brasil e que ironicamente é um dos líderes deste
processo de elitização dos estádios. A mídia que defende a “modernidade” se
revoltou e se levantou para pedir a demissão da assessora. Não importa que o
que ela disse faça sentido, nem que ela tenha feito a crítica para um grupo
interno de pessoas. O importante é impedir que o debate exista. Em geral,
pessoas brancas detestam quando são apontadas como um grupo. Para elas, ir a um
jogo de futebol e só ter pessoas brancas na arquibancada é “normal”. Assim como
ir a um restaurante que só tem clientes brancos e atendentes negros. Tudo é
“normal”. Quem ousa apontar alguma anormalidade nesta situação é rapidamente
afastado. </span><span style="color: white; font-size: 13.5pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;">Marcelle
Decothé e Anielle Franco estão em posições que causam incômodo ao país moldado
pelo racismo. A assessora negra da ministra negra. Ainda ontem, a mídia
“moderna” fez reportagens apontando os ganhos mensais da assessora negra. O
rendimento mensal dela vira assunto. O de pessoas brancas, não. Isto
independente da ideologia. Ninguém vai atrás de saber o rendimento mensal de
Fernando Haddad, por exemplo. Ele pode estar onde está. Marcelle e Anielle,
não.</span><span style="color: white; font-size: 13.5pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;">O Pacto da
Branquitude foi rápido em moer Marcelle. Não importa que ela seja extremamente
preparada para o cargo que exercia. Cortaram o mal pela raiz. A ministra negra
ligou para o presidente branco do time de torcida majoritariamente branca para
pedir desculpas porque a sua assessora negra falou que o time de torcida
majoritariamente branca tem torcida majoritariamente branca. E a vida vai
seguir, com estádios cada vez mais brancos. É o que a “modernidade” exige.</span><span style="color: white; font-size: 13.5pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: white; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;">Anielle
segue, mas o Pacto da Branquitude estará sempre de olho, divulgando seus
salários e criticando quando ela usar um avião público para participar de um
evento especial. Este pacto se sente incomodado quando pessoas como Anielle
chegam ao lugar em que chegaram e vai fazer de tudo para mostrar que “ela não
presta”. Gostam de cortar o mal pela raiz. Mostrar o lugar de cada um. Não
deixar ir longe demais. Imaginem se um dia uma mulher negra como Anielle chega,
por exemplo, ao Supremo? Não, o Pacto não lidará bem com isto. O Pacto até está
tentando fingir que é mais ou menos civilizado agora. Mas não verá problemas em
fazer no futuro o que fez em 2016 e 2018. Explodir tudo para manter tudo como
está. Como disse Emicida em entrevista ao futuro ministro Silvio de Almeida,
"O Racismo vai morrer gritando". </span><span style="color: white; font-size: 13.5pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none; mso-themecolor: background1;"><o:p></o:p></span></p><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-65066486801490370042023-08-24T21:53:00.002-03:002023-08-24T21:53:36.648-03:00Todos os sonhos do mundo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEizdm4yK4KH3n7Vnnq4ZiLUdW567uaQ9sJpmqsI1TxSCHcEMn9MvIUlr8z6-Z0JQiCiHC0v8WogogYBy6NgxbBGneZn23Q1Cb-3TtFUbyiYKvL7BXUzkWBA7rJMNwbqL9pFBeDlGxNA_jaZmcb3u8pcxUaNiRJnEDSwQSjEGqMqWe43ipKF7Uhl6C-xjnQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="973" data-original-width="1600" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEizdm4yK4KH3n7Vnnq4ZiLUdW567uaQ9sJpmqsI1TxSCHcEMn9MvIUlr8z6-Z0JQiCiHC0v8WogogYBy6NgxbBGneZn23Q1Cb-3TtFUbyiYKvL7BXUzkWBA7rJMNwbqL9pFBeDlGxNA_jaZmcb3u8pcxUaNiRJnEDSwQSjEGqMqWe43ipKF7Uhl6C-xjnQ" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estou cansado. Muito cansado. Estou
exausto. À parte isto, tenho em mim todos os sonhos do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O bebê que não dorme. A aluna que faltou
e não quer pagar pela aula. A aluna que cancelou o curso. A mulher da
entrevista que deveria ter dado a resposta na semana passada. A dor nas costas
que teima em não passar sozinha. A consulta ao médico que não paro de adiar. O
fogo esquecido que queimou os legumes. A conta de luz. A verdade do universo. A
bicicleta roubada. O governador fascista. A mãe paranoica mentindo. A mentira criando
uma nova vítima. Larissa Manoela disparando meus gatilhos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Calma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Respira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conte até dez.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um, dois, treis, cuatru, cincu, seis,
seti, oitu, novi, deis. Fodam-se as regras gramaticais. Mas só algumas. Não se
começa uma frase com pronome oblíquo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um Lucky Strike.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pronto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As palavras devem ser ditas ou
escritas. Quando guardadas, as palavras causam estragos. Algo assim foi dito
por Clarice Lispector ou por Belo. Na falta de dinheiro para a terapia, restará
escrever mais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após cinco noites sem dormir, fiz a
minha prova de alemão. Na aula seguinte, assinei a lista e tive que ir embora
logo em seguida. Meu filho tava doente. Recebi a mensagem e foda-se tudo. Felizmente
não era nada. Ou quase nada. Mas o filho com febrinha vira tudo. Dois dias sem
cocô e vê-lo fazer cocô se torna a prioridade da minha vida. A alegria de
chegar perto dela e sentir o cheiro de merda no terceiro dia. Nada paga. Tudo é
relativo, até merda. Bom, na aula seguinte, recebi a lista novamente e lá tava o
meu nome na aula anterior riscado. <s>João Gabriel D. de Oliveira</s>. Assim
estava a minha presença naquela aula no fatídico dia. Era direito do professor,
afinal, riscar a minha presença naquela aula no fatídico dia. A aula dele não é
lugar para palhaços vagabundos. É sua função proteger o suado dinheiro do
contribuinte público da ação parasitária de alunos picaretas que assinam a
lista e vão embora curtir a vida. O que mais chamou a minha atenção, porém, não
foi o risco. Foi que, além do risco, ele escreveu um F acima do meu nome
riscado, circulou o F e deu um visto. Apenas riscar a minha assinatura já seria
suficiente para cancelar a minha presença naquela aula no fatídico dia. Mas ela
não bastava. Ele pôs também o F, o círculo e deu o visto. Para deixar claro que
era ele que estava cancelando a minha presença naquela aula no fatídico dia,
não uma outra pessoa que por algum motivo poderia ter raiva de mim a ponto de
aproveitar a chance para cancelar a minha presença naquele fatídico dia. O
risco, o F e o círculo foram feitos de caneta vermelha, o visto de caneta azul.
Olhei para o professor, era um momento em que ele olhava alguma coisa no
computador. Ele é daquela geração de homens que guarda uma caneta no bolso da
camisa. A caneta era azul. Percebi que um outro aluno fez naquela aula a mesma
coisa que eu havia feito naquele fatídico dia. A lista ainda não havia voltado
para o professor e, assim que voltou, ele foi para um estojinho que tinha
deixado em sua mesa e pegou a caneta vermelha. Risco, F e círculo. Guardou a caneta
vermelha. Concluí que possivelmente aquela era a única função daquela caneta
vermelha no mundo. Riscar, efezar e circular. Era quase um ritual de vingança.
Ou de justiça. Às vezes, a linha que separa os dois termos é extremamente
tênue. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Meu nome completo é João Gabriel
Domingos de Oliveira. Aos 8 anos, tive que tomar uma decisão que decidiria a
minha forma de identificação para o resto da minha vida. Fui fazer meu primeiro
RG e minha mãe me pediu que eu abreviasse o Gabriel ou o Domingos, meu nome não
caberia inteiro no espaço destinado à assinatura. Eu não tava preparado para
aquilo. Abreviar o João e o Oliveira não era uma opção possível. Estes dois
nomes estariam presos a mim para sempre. Optei por abreviar o Domingos. D.
Tornei-me João Gabriel D. de Oliveira. Foi este nome que apareceria riscado,
efezado e circulado na lista de alunos do curso na universidade pública trinta
e um anos depois. Não sei se esta lista ficará arquivada por muito tempo. Acho
que sim. Em algum futuro alguém achará o registro de que um tal João Gabriel D.
de Oliveira quis enganar um professor universitário que não deixou barato a
tentativa de esperteza do aluno folgado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Oliveira é uma prisão na minha
vida. A família do meu é composta basicamente por filhos da puta. Não todo
mundo, claro. Mas basicamente. Não que eu não ame alguns destes filhos da puta.
Eu os amo. Mas o amor não me cega a ponto de não enxergar que um filho da puta
é um filho da puta. É aquele tipo antigo de filho da puta. O filho da puta da
metade do séc. XX. Gente ruim. Gente má. A matriarca da família (a irmã mais velha
do meu pai) era uma empregada doméstica que se casou com o seu patrão, um homem
rico. É muito raro alguém no Brasil que fosse rico nos anos 1950 e não fosse
filho da puta. Ou filho de um filho da puta. Ou neto de um. Ou bisneto. A
literatura brasileira foi escrita por gente rica. Gente que se beneficiou
bastante de filhas da putagem. Não que não sejam bons. Alguns são, e muito. Apenas
é preciso que isto fique claro. Tiveram um filho. Assim que ele nasceu, a
matriarca “adotou” duas meninas, crianças, transformando-as em empregadas
domésticas. A matriarca pensou no longo prazo. Queria alguém que servisse a seu
filho a vida toda. Assim viveram as duas meninas, depois duas mulheres.
Servindo a matriarca, o patrão e o filho único. O patrão morreu em 1989 de
câncer. O filho único morreu de pneumonia em 1990. Uma das meninas já mulher
morreu em 1998. Sobraram a matriarca e a outra menina já senhora. Uma era a
única companheira que sobrou para a outra. A velha matriarca ficou um certo
tempo morrendo. Não queria morrer de jeito nenhum. Morreu. E deixou tudo para a
menina agora já senhora. A velha era rica e foi gananciosa até o fim.
Gananciosa o suficiente para cair num golpe de pirâmide já aos 90 anos. A agora
ex-empregada torrou tudo em um ano. Em menos até. Gastava com ódio. Como se
quisesse se livrar daquilo logo. Encontrou sua tranquilidade quando o dinheiro
acabou. Foi morar numa casa simples com um homem que conheceu neste período e
começou a fazer bolo para vender. Eu a visitei quando uma outra tia minha
faleceu. Ela foi ao enterro. Não chorou. Em certos momentos até riu, mas
discretamente. Com respeito. Eu fui à sua casa, que ficava perto do cemitério,
para usar o banheiro. Ela me ofereceu uma Coca-Cola quente e um bolo de cenoura
mofado. Eu aceitei. Nossos olhares se encontraram enquanto eu pegava o bolo. O
rancor estava lá. O rancor contra um Oliveira. Está marcado em meu nome. A opressão,
a covardia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando nasceu meu filho, cheguei à conclusão
de que era hora de acabar com a saga dos Oliveira na terra. Não transmitir para
o meu filho o sobrenome marcado pela opressão, o nome de uma família que em
nome desta praticou crimes e barbaridades. Meu filho se tornou apenas Domingos.
O D. abreviado do meu nome se tornou completo nele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um, dois, treis, cuatru, cincu, seis,
seti, oitu, novi, deis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O cigarro e o chocolate vêm ocupando
o papel de válvula de escape no momento. Cinco quilinhos já ganhei com esta
brincadeira. Na infância era o futebol. Até hoje sei os campeões brasileiros de
Bahia em 59 até Palmeiras em 22. Foi o álcool na juventude. E foi muito álcool.
E uma incapacidade de se divertir sem beber. Foi a literatura em parte da minha
vida adulta madura. Foi a literatura que me deu forças para recomeçar num
momento em que não tinha muitas forças para nada. Força que não encontrei nas
pessoas que me cercavam. Recomeçar é difícil e libertário. Foi apenas quando
recomecei que sinto que tomei conta da minha vida. Que cortei o cordão
umbilical. Na bagunça encontrei um pouco mais de paz. Mas o recomeço parece que
não acaba. E é repleto de fracassos e de tentações. Mas é o que há muitas vezes.
A opção que sobra. Conheço muita gente que deveria recomeçar. Dá vontade de
gritar “Recomece, porra”. Mas eu tô longe de ser o parâmetro de como se deve
viver a vida. É quanto mais você tem, mais difícil é recomeçar. Cada posse é
uma prisão. Cada relacionamento também pode ser uma espécie de prisão. Mas o
contrário desta prisão não é a liberdade. É o vazio. Não há liberdade individual.
A liberdade é uma conquista coletiva. Enquanto houver uma pessoa sendo
oprimida, não existe a liberdade. Só existe o vazio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ter um filho mudou a visão que tenho
sobre mim e minha relação com o mundo. Sinto que sou realmente importante para
alguém. Importante como nunca fui. E isto é muito ruim, pois coloca uma pressão
que não quero que meu filho tenha. Em algum momento, não serei mais tão
importante para meu filho como ele é para mim, e tudo bem. Assim é a vida,
assim que deve ser e eu devo saber lidar com isto. Minha mãe não soube. O
recomeço é meu grande orgulho e sinto que será meu grande legado para ele. Até
porque ele é também fruto deste recomeço.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um, dois, treis, cuatru, cincu, seis,
seti, oitu, novi, deis<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Você chegou a existir? Quantas
pessoas sua existência oprimiu? Quem pega a garrafa de cerveja vazia que você
bebeu? Quem come os restos da comida que você deixou no prato? Quantas pessoas
sua última viagem alimentaria? O que foi feito com o dinheiro do seu celular
roubado? Onde foram parar os mendigos que estavam lá na frente ontem? Por que
eles não voltaram? Quantos escravos me vestem? Quantos centavos recebeu a
pessoa que apertou o último parafuso do meu celular? Eu e minha tia somos tão
diferentes assim? Meu filho será diferente dela? Ele sentirá culpa? Somos todos
culpados. A inocência é uma utopia tão grande quanto a liberdade. É importante
nas sociedades modernas que as utopias sejam ridicularizadas. Ou que virem
peças publicitárias. Quantas pessoas serão mortas para que eu me sinta seguro?
Quanto medo você sente? O que você está disposto a aceitar para não ter mais
medo? O que está disposto a perder? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Papa”. “Pato”. “Sapato”. “Água”. “Casa”.
“Vovó”. São as palavras que meu filho já sabe falar. Ele também imita animais.
Leão, tigre, dinossauro e cachorro têm o mesmo barulho. O gato faz auau. Macaco
faz nhã. Toda vez que uma palavra ou um gesto aparecem, a esperança renasce. O Recomeço.
Tudo parece valer a pena. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo.
Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo.
Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Apesar de tudo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estou cansado. Muito cansado. Tô
exausto. Apesar disto, tenho em mim todos os sonhos do mundo.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-91486787560933870092023-07-16T20:56:00.000-03:002023-07-16T20:56:11.557-03:00"Super" Xuxa e o Baixo Astral<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJrcQLU7s5puTshZGYIu9BM0Ig50roX0eDQogvbV2pqv6CQy645F7ZsS0NBW4Py-WhDUpk58xDxeBx0XInaHgEr9yRCp_CYANbeWz0xoYTsIyNjRA4st9edLLv70mzDifyVLCDM3FOtgmAOvGE1CwuAxaOUbkV-sajesamtCWnNh-bAJ_4QKnUfXSSIKY" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJrcQLU7s5puTshZGYIu9BM0Ig50roX0eDQogvbV2pqv6CQy645F7ZsS0NBW4Py-WhDUpk58xDxeBx0XInaHgEr9yRCp_CYANbeWz0xoYTsIyNjRA4st9edLLv70mzDifyVLCDM3FOtgmAOvGE1CwuAxaOUbkV-sajesamtCWnNh-bAJ_4QKnUfXSSIKY" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tenho às vezes a impressão de que
algumas notícias aparentemente inocentes e irrelevantes são mais importantes e
relevantes do que notícias aparentemente importantes e relevantes. Reforma
Tributária, inelegibilidade do genocida, gado agredindo Xandão. Mas a notícia
que mais me chamou a atenção foi a briga de Xuxa e Marlene Matos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Possivelmente não há pessoa mais
improvável na história da mídia brasileira. Não há história de sucesso mais
improvável que a dela. Mulher num país machista. Negra num país racista.
Nordestina num país em que o Sul-Sudeste trata com menosprezo a região Nordeste.
Homossexual num país homofóbico. Obesa num país gordofóbico. Marlene é o tipo
de pessoa que o Brasil oprime. É o perfil de pessoa que o Brasil silencia. Acho
um mistério como uma pessoa como ela conseguiu triunfar num país tão
preconceituoso como o Brasil e num ambiente em que estes preconceitos são tão
aflorados quanto a televisão brasileira dos anos 1980.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com exceção ao fato de ser mulher,
Xuxa é todo o oposto de Marlene. A branca. Sulista. Heterossexual ex-namorada
dos dois atletas mais importantes da história do país. Símbolo sexual. O choque
entre Marlene e Xuxa é mais do que um choque entre duas personalidades. É o choque
entre dois mundos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu tenho pouco interesse em geral por
biografias. Não sei muita coisa fora o já dito sobre Marlene. Procurei algo
sobre a vida de Marlene quando a ideia deste texto surgiu e achei pouca coisa
de muito interessante. O mais relevante é que ela entrou na Globo como
datilógrafa. Deve ter ralado MUITO para chegar à diretora de um programa de televisão.
Sei bastante sobre Xuxa. Sei o nome da sua filha, dos seus namorados e conheço
um monte de música que ela cantou. Xuxa nunca foi boa atriz, nem boa cantora.
Seus filmes foram sucesso de bilheteria e seus discos são recordes de venda até
hoje. Xuxa nunca precisou ser tão boa, sua principal qualidade foi ter “carisma”.
E o “carisma” é, em geral, algo muito restrito a um grupo de pessoas no Brasil.
Ninguém nunca se interessou muito por Marlene. Todo mundo sempre se interessou
por Xuxa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Xuxa passou boa parte da sua vida
sendo debiloide. Aparentemente está mudando. Um privilégio que pessoas brancas
têm é de ter mais tempo para aprender. Pessoas negras não têm tanta sorte. Em
geral, elas não podem errar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Marlene não podia errar quando
apostou todas as suas fichas na jovem Xuxa nos anos 1980. Entrou de cabeça, era
a sua chance. A única chance. O que ela fez exatamente? Não sei. Ninguém parece
muito interessado em saber e Marlene não parece estar a fim de contar. Xuxa
está lançando um documentário para contar sua versão sobre a história. Parece
que vai fazer sucesso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O encontro de Xuxa e Marlene Mattos
foi transmitido pelo “Fantástico”. O parto de Xuxa também. Marlene chocou Xuxa
ao dizer que “não mudaria nada do que fez”. Ainda não sabemos ao certo o que Marlene
fez. E provavelmente não veremos sua versão dos fatos. O Brasil nunca se
interessou muito pela versão das Marlenes, afinal. Mas faz todo sentido que ela
não queira mudar nada do que fez. Marlene é mulher num país que há 5 anos
elegeu como presidente uma pessoa que dizia que ter filhas mulheres era sinal
de fraquejada. Marlene é negra num país que há 5 anos elegeu como presidente
uma pessoa que ria ao dizer que pessoas negras deveriam ser pesadas em arrobas.
Marlene é maranhense num país que há 5 anos elegeu como presidente uma pessoa
que dizia que a melhor coisa que existia no Maranhão era um presídio
superlotado onde ocorrera naquela semana uma chacina. Marlene é homossexual num
país que há 5 anos elegeu como presidente uma pessoa que defendia que crianças deveriam
ser agredidas pelos pais caso demonstrassem inclinações homoafetivas. Marlene é
a pessoa sem boa aparência num país que há 5 anos elegeu como presidente uma
pessoa que disse que não estupraria uma então colega deputada porque ela era
feia e não merecia. Marlene não tem que mudar nada. É todo o resto que tem que
mudar. Xuxa mudou bastante. Inclusive a ponto de trabalhar aberta e
corajosamente contra a reeleição deste presidente no ano passado. Mas não mudou
a ponto de entender totalmente seus privilégios e de se colocar no lugar de
Marlene. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Marlene disse a Xuxa em seu encontro
que “o mundo não é feito de flores”. Não, definitivamente não é. O documentário
provavelmente transformará Marlene, a grande responsável pelo sucesso de Xuxa,
em vilã. Marlene não parece muito preocupada com isto. Ela já está acostumada.
O Brasil já está acostumado. A barbárie se converteu em costume. E é difícil
abandonar mais de 500 anos de costumes. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-40277715559336134972023-04-11T15:38:00.001-03:002023-04-11T15:38:44.038-03:00Angústia<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTedfkp-ayGB2xnJx9Kp8L7FatH9edHvXAVTZ2H5L5flmmKLaZZuWDk4H5Ij7uRm4MjnETOEEpyd32A6jgeGaqyHcI-JLP-xaVsPFF2A8jXWfEKtksR6k7Ulh-EC_0Jgm6sVxOiTHxAHWreg5CWYM3W6NEwAe0NXFoI-Yu2EJsWOQPKqzpHMpqyPic/s246/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="205" data-original-width="246" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTedfkp-ayGB2xnJx9Kp8L7FatH9edHvXAVTZ2H5L5flmmKLaZZuWDk4H5Ij7uRm4MjnETOEEpyd32A6jgeGaqyHcI-JLP-xaVsPFF2A8jXWfEKtksR6k7Ulh-EC_0Jgm6sVxOiTHxAHWreg5CWYM3W6NEwAe0NXFoI-Yu2EJsWOQPKqzpHMpqyPic/s1600/images.jpg" width="246" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Este
blog funciona para mim como uma espécie de terapia. Clarice Lispector (e juro
que foi ela mesmo quem disse) certa vez disse que palavras devem ser ditas ou
escritas, senão elas te devoram. Os últimos anos foram muito angustiantes para
mim e este blog me ajudou muito. A nova etapa da angústia e distopia brasileira
parece ser a onda de ataques a escolas. Não há nada que indique que isto não vá
virar uma epidemia, principalmente porque o país escolheu tratar este problema
da pior forma possível, que é considerar estes ataques resultado de pura e
simples maldade individual. Ela está lá, sem dúvida. Mas há algo mais
acontecendo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Torcida
organizada. Igreja evangélica. Bolsonarismo. Todos estão em busca de uma noção
de pertencimento. Um grupo do qual você faça parte e sinta que há algo
acontecendo. Pode ser torcer para um time. Pode ser rezar para um suposto
senhor que mora no céu e vê tudo que você faz. Pode ser se vestir de
verde-e-amarelo e sair pelas ruas berrando todo tipo de barbaridade. A verdade
é que um grupo de jovens encontrou nesta loucura nas escolas um grupo de
pertencimento. Eles estão em redes sociais sendo incentivados a praticar estes
atos absurdos e enxergam na realização dos mesmos uma chance de fazer algo que
dê algum sentido a uma vida insignificante. Encontram na mais pura maldade uma
voz. Palavras devem ser ditas ou escritas, senão elas te devoram. Ninguém quer
ouvi-los. Ninguém quer lê-los. Eles estão sendo devorados. E resolveram levar
outros juntos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
Brasil se tornou uma cópia tosca dos EUA. A impressão que tenho é que tudo de
mais tosco que existe lá está vindo para cá. Mais do que isto, somos incapazes
de olhar os exemplos de lá e entender como agir por aqui. Todo mundo sabia que
estes lunáticos bolsonaristas invadiriam o Congresso em algum momento. Nada foi
feito. Agora é a hora de importar o que há de pior por lá, estes massacres em
escolas. Duas lições de lá: Pena de morte não adianta. O Texas, estado com
maior número de massacres nesta década, tem pena de morte. Não apenas isto, a
maior parte das pessoas que praticam estes ataques se suicidam ou tentam se
suicidar após fazê-los. Eles enxergam a morte como uma libertação. Os massacres
são um último grito, algo para tornar a própria morte algo grandioso. Algo do
tipo “morri, mas trouxe outros juntos”. Não li muitos detalhes sobre os ataques
recentes em escolas brasileiras. Para um pai de um filho de um ano é uma
tortura ver isto acontecendo. Mas acho bem provável que o suicídio estivesse
nos planos dos que praticaram os ataques, talvez eles tenham sido capturados
antes. Ameaçar de matar pessoas que tocaram o foda-se a tal ponto para a vida
não é um bom plano. A segunda lição: armar a população (professores neste caso)
não vai dar certo. Numa sociedade doente como a nossa, deixar uma pessoa armada
numa sala de aula é pedir para mais merdas acontecerem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trocentas
são as causas deste tipo de tragédia. É como a queda de um avião. Óbvio que há
o componente maldade. Mas há também o componente exclusão. O componente silêncio.
O componente competição, que cria uma sociedade de perdedores. Há
principalmente o componente ódio, tão estimulado pelo grupo político que nos
governou entre 2018 e 2022. E teremos que achar um jeito de lidar com isto. Normalizamos
a barbárie diariamente. Com este tipo de barbárie ainda não estamos
normalizados. Espero que não copiemos também isto dos EUA, mas acredito que
copiaremos. A pandemia tirou a minha capacidade de achar que podemos resolver
as coisas coletivamente. É cada um por si. Até a hora em que a tragédia bater
na porta de casa. Seja tomando o tiro. Seja puxando o gatilho.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-19164780250097959982023-03-10T09:41:00.002-03:002023-03-10T09:41:47.408-03:00A Educação no governo petista<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4Fuzt7aQUSlbCIgo4tCuliBw_Pm1PqsqDDJ-ZBQuJeaLsqPoXkRHyZJqoQtpsjRk6ixj99UM-LcjX_-wxwoNLUTkHsVAxAxxp1fhki_Qkv6hAu3lX6ZanFckpvlOquS3KaTOOKKgzsF-Aouvv4lPLtFEE50oGVz3aijIaW3l0JJfWCri9bbdwxOjt/s675/1_lula_camilo_santana_claudio_kbene_instituto_lula_750x440-26559546.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="675" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4Fuzt7aQUSlbCIgo4tCuliBw_Pm1PqsqDDJ-ZBQuJeaLsqPoXkRHyZJqoQtpsjRk6ixj99UM-LcjX_-wxwoNLUTkHsVAxAxxp1fhki_Qkv6hAu3lX6ZanFckpvlOquS3KaTOOKKgzsF-Aouvv4lPLtFEE50oGVz3aijIaW3l0JJfWCri9bbdwxOjt/s320/1_lula_camilo_santana_claudio_kbene_instituto_lula_750x440-26559546.webp" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um fenômeno tipicamente brasileiro é
o voto de pessoas instruídas na extrema-direita. O Brasil é um dos únicos
lugares do mundo em que a probabilidade de uma pessoa votar em candidatos
fascistas aumenta de acordo com o seu grau de escolaridade. Digo um dos únicos
porque a mesma coisa aconteceu na última eleição presidencial chilena. Talvez
isto seja um fenômeno latino-americano, mas temos que esperar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mais do que um instrumento de
inclusão, a educação sempre foi vista no Brasil como um meio de diferenciação.
Aquele que se instrui se acha melhor do que o que não teve instrução, e a
sociedade faz tudo para confirmar este sentimento. Prisão especial para quem tem ensino superior, liberação do serviço militar, entre outras coisas. Mais do que tudo, uma parte
significativa das pessoas que busca o ensino superior procura esta
diferenciação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A formidável inclusão de pessoas em
cursos superiores nos governos Lula e Dilma não foi completada por formação
política. Uma boa parte das pessoas que alcançou cursos superiores neste período,
principalmente aqueles que entraram em universidades privadas, não enxerga esta
conquista como fruto de uma luta política, mas sim como fruto de uma conquista
pessoal. Algo do tipo “eu me matei de trabalhar, paguei o curso, o mérito é todo
meu”. Para estas pessoas, o diploma só faz algum sentido se vier seguido por
aumento salarial e emprego melhor. Como em MUITAS situações isto não veio, o
novo diplomado se sentiu frustrado, encontrando no fascismo a válvula de escape
para esta frustração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há também, claro, a rejeição daqueles
que já frequentavam universidades e que perderam sua exclusividade. Pessoas que odeiam as cotas sociais. Nada
frustra mais pessoas acostumadas com a exclusividade do que perdê-la. Vejamos o exemplo dos aeroportos, o rancor que a nossa elite teve em ter que dividir o avião com pessoas que ela acha que deveriam pegar ônibus. São
pessoas que estão amando este novo mundo em que um moleque de bicicleta faz as
suas compras no mercado por 10 reais, por exemplo. Pessoas que acham que vale a pena votar num maníaco psicopata porque ele vai privatizar a Eletrobrás. Pessoas ruins que de certa forma usam a educação para chamar a sua crueldade de racionalidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Poucas coisas sofrem mais com
discurso vazio do que a educação. Às vezes mesmo pessoas claramente bem intencionadas, como
Tábata Amaral, se perdem ao achar que o simples investimento em educação basta, ou que acreditam que a função da educação seja a formação de lideranças. Uma visão individualista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Mais do que investir em educação, é preciso mudar o conceito de educação. Por anos, inclusive durante os governos
petistas, a educação brasileira seguiu a lógica de que sua função era
simplesmente formar mão-de-obra qualificada para o mercado. As últimas décadas foram marcadas
pela desvalorização das ciências humanas. Não à toa o programa Ciências sem Fronteiras
não contemplou ciências humanas. O Brasil não se interessou em enviar filósofos
ou sociólogos para estudarem fora, apenas engenheiros. Educação sem formação
política e sem formação para a cidadania não forma uma sociedade melhor. Pelo contrário. O Brasil que gerou Bolsonaro é a prova disso. Dilma Rousseff era inclusive contrária à inclusão de filosofia e sociologia na
grade curricular das escolas. Foi impedida de realizar estas retiradas pelo PT,
cabendo a Temer realizar a tarefa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ainda não ficou totalmente claro qual o caminho
que o novo governo petista seguirá na área educacional, se o PT entende os erros que cometeu nesta área. Erros estes, para deixar claro, que são menores do que os enormes acertos. Por enquanto, a área
está sob comando do PT-CE, governo mais bem-sucedido na área educacional nas
últimas décadas e onde a experiência fascista dos últimos cinco anos não
vingou. Uma esperança. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A experiência de destruição do tecido
social vivida com a Lava-Jato e com Bolsonaro deveria nos levar a uma forte
reflexão e reconstrução de toda a sociedade. Um processo semelhante à desnazificação
alemã. E este processo pela educação. Mas não pela educação que tínhamos e que
de certa forma estimulou o fascismo. Um novo tipo de educação, que forme
cidadãos e que pense na sociedade como um todo.<o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-56232482101618505402023-02-09T13:55:00.001-03:002023-02-09T13:55:30.540-03:00O primeiro semestre de 1998<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1jNqsRiNLfsQoPcd0_4EBspNJg3mYux3VW5f5sQyBwQA2hpwFHEJflOE_3_P3g-Lrb7C9ZvOyI85nSSAM4D92WptNdGNfjEYsT50O5lKI35U_nBxwFQndtj4TzaKn9gySzLEMR8Uzv_dEkpbp_k-FpKIsaaumZwJKHzlaEbyjIR1nImP1YIyxncIr/s1135/NLD2YJBXMVIBRIHK7UAF5JZ3PA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="691" data-original-width="1135" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1jNqsRiNLfsQoPcd0_4EBspNJg3mYux3VW5f5sQyBwQA2hpwFHEJflOE_3_P3g-Lrb7C9ZvOyI85nSSAM4D92WptNdGNfjEYsT50O5lKI35U_nBxwFQndtj4TzaKn9gySzLEMR8Uzv_dEkpbp_k-FpKIsaaumZwJKHzlaEbyjIR1nImP1YIyxncIr/s320/NLD2YJBXMVIBRIHK7UAF5JZ3PA.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">1998. Muitas
vezes eu acho que idealizo o primeiro semestre de 1998. Mas toda vez que penso
numa época muito feliz, eu volto ao primeiro semestre de 1998. O U2 veio para o
Brasil. A Copa foi legal. Teve o meu primeiro beijo. Minha primeira viagem de
avião. Teve o gol do Didi. Teve o gol do Oseas. Teve Titanic. E principalmente,
teve o que se seguiu no segundo semestre de 1998. Se eu acho que idealizo o
primeiro semestre de 1998, não tenho dúvidas de que o segundo semestre de 1998
foi uma merda. Foi quando perdi meu pai. Sempre que penso no primeiro semestre
de 1998, penso no meu pai saudável. Claro que ele não estava saudável, ele já
tinha câncer há uns 10 anos. Mas na minha memória ficou saudável. Eu tinha 14
anos e já faz tempo afinal. O segundo semestre foi só tristeza.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O gol do Didi. Tinham
se passado uns 20 minutos do segundo tempo da final do Campeonato Paulista
entre São Paulo x Corinthians. O Timão havia vencido o primeiro jogo por 1x0 ou
2x1, não lembro, jogava pelo empate, e o tricolor vencia o segundo jogo por
1x0, com um gol do Raí, que tinha voltado para o SP depois de uma passagem em
Paris e fazia seu primeiro jogo na volta. Didi era o pior jogador do Corinthians.
Um atacante horroroso. Eu sou palmeirense e meu pai era corintiano. Como eu
enchi o saco do meu pai por causa deste cara. Muito. Eis que aos 20 do segundo
tempo (ou algo do tipo), Didi recebe a bola pela esquerda, na entrada da área.
Corta o zagueiro e com o pé direito chuta a bola por cobertura. Há um tipo de
gol no futebol que eu gosto muito, que é aquele cujo chute faz o tempo parar.
Gols por cobertura têm esta característica. No curto período em que a bola saiu
do pé de Didi e foi na direção do ângulo do gol defendido pelo jovem Rogério
Ceni, a Terra parou de girar. Neste segundo, todas as pessoas assistindo ao
jogo aspiraram o ar com força, um som meio “fffff”, até a bola estufar a rede e
vir a explosão. Eu assistia o jogo na sala, andar de baixo, e meu pai no
quarto, andar de cima, de um sobrado cujo piso era de madeira, a casa inteira
ouvia quando alguém andava. Meu pai, embora na minha memória estivesse
saudável, já estava doente e não saia muito do quarto. Pois eis que quando a
bola entra, não ouço nenhum grito. Só ouço um “tum”, que era levantando da
cama, seguido por mais alguns “tum” de seus passos indo até a escada e uns “tum”
mais forte dele descendo a escada. Meu pai chega na sala vermelho, suado, com
um sorriso que eu nunca mais esqueceria e grita “CHUPA”. O SP viria a ganhar o
jogo e o campeonato, mas o que ficou para mim deste jogo foi o gol do Didi. Às
vezes penso que se eu pudesse mudar o resultado de um evento esportivo na
história do mundo, seria o desta final do Paulista. Não consigo imaginar o que
meu pai faria se o Corinthians tivesse sido campeão com aquele gol do Didi. Mas
o título se tornou o de menos na minha memória. Alguns dias depois, o Palmeiras
ganhou a Copa do Brasil com um gol improvável de Oseas no último lance do jogo.
Até hoje não sei como aquela bola entrou. Havia chegado a hora de devolver a
meu pai a visita. Desta vez era eu quem fazia o “tum tum tum” em direção ao seu
quarto. Lá chegando, encontrei meu pai feliz e de pé. Ele me abraçou e me deu
parabéns. Eu não sabia, mas de certa forma ele começava a se despedir. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Titanic. Não sei
se depois daquilo houve algo semelhante no cinema. E digo não sei porque sou ignorante
sobre cinema mesmo. Não faço ideia do que está acontecendo desde que filmes de
heróis ocuparam as salas. Há um tempo, antes da pandemia, eu trabalhei numa
Wizard em Itapevi e a escola conseguiu ingressos gratuitos para seus alunos
assistirem Os Vingadores. Foi uma loucura. Talvez tenha sido algo semelhante ao
que foi com Titanic. Não sei. Mas bom, para falar do que foi Titanic no meu
1998, é necessário passar por duas personagens do meu 1998, Tatinha e Aninha.
Eu era apaixonadinho pelas duas. Ora por uma, ora pela outra, ora pelas duas. Eu
me apaixonava bastante em 1998. Tatinha e Aninha eram duas pessoas que, como o
diminutivo mostra, eram pequenas e andavam sempre juntas. Tatinha era a nerd da
turma e Aninha era sua melhor amiga esforçada que passava aos trancos e
barrancos. A paixonete por Tatinha é fácil de explicar. Eu era nerd, ela era
nerd, pronto, isto bastava para que eu nos imaginasse juntos. Já Aninha era um
pessoa mais interessante. A primeira coisa sobre ela é que ela tinha uma
autoestima tão baixa quanto à minha à época. A segunda é que ela tinha uma mãe
tão controladora e competitiva quanto a minha. Toda vez que existia alguma
competição na escola que exigia alguma participação materna, eu ficava em
primeiro e ela em segundo, ou vice-versa. Lembro uma vez em que houve uma
competição para ver qual aluno levava mais latinhas para reciclagem. Aninha
liderava até o último dia, quando minha mãe apareceu com uma caralhada de
latinhas. Venci. Meus prêmios foram um boné e uma bola que perdi no mesmo dia.
A terceira característica de Aninha é que ela tinha uma letra linda. Uma vez
fui ajudá-la em algum texto de história, estava absolutamente tudo errado, mas
a letra era linda. Tenho planos de ser professor e serei do tipo que darei
pontos a alunos com letras bonitas. Tenho uma certa queda por talentos que
perderam espaço. E a quarta característica de Aninha é que ela era
obsessiva-compulsiva. Não faço ideia de onde isto a levou na vida, mas ela
mergulhava com intensidade em tudo. E mergulhou no Titanic.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Aninha ia duas
vezes por semana ao cinema assistir Titanic. Eu achava incrível porque eu ainda
não havia nem conseguido ingresso para ver o filme e ela dizia que tinha ido de
novo. Aninha mergulhou também em Di Caprio. Tinha absolutamente tudo sobre ele.
A ponto de ir ao cinema repetidas vezes assistir O Homem da Máscara de Ferro.
No mesmo ano de Titanic, saiu este outro filme com o Di Caprio e é tipo o pior
filme de todos os tempos. É tipo muito muito ruim. E ela ia ver. Não apenas
isto. Tinha alguma rádio de SP que tocava My Heart Will Go On uma vez a cada
hora. Uma vez a cada hora. E My Heart Will Go On, possivelmente a pior música de
todos os tempos. Pois Aninha passava o dia inteiro ouvindo esta rádio para não
perder a música sendo tocada naquela hora específica. Ficava ouvindo um walkman
escondida durante as aulas, se ferrou algumas vezes por isto aliás. Um belo
dia, alguém perguntou a ela se ela não tinha comprado o CD com esta música. Ela
respondeu que sim, e este alguém perguntou por quê ela não ficava ouvindo o CD
ao invés de esperar a música tocar na rádio a cada hora. Aninha respondeu com
um gemido. Ela sabia que o cara que perguntou não seria capaz de entender que
esperar a música tocar na rádio é bem mais legal.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Minha mãe estava
desesperada para ver Titanic. Ela já não ia mais ao cinema, achava caro e ver
em casa na fita cassete era mais confortável. Mas ela não aguentava mais.
Queria ver Titanic. Minha família já estava numa fase mais shoppinglizada da vida.
Até 1995, eu morava num apartamento na Santa Cecília, depois fomos para um
sobrado no Cambuci. Engraçado é que a minha vida de certa forma se fechou
depois que saí do centro. Antes fazia tudo por lá. No Cambuci, tudo se tornou
mais “perigoso”. Cinema só no shopping. Mas eis que minha mãe não conseguia
ingresso de jeito nenhum. Contei a história de Aninha e ela xingou a coitada.
Chamou-a de mentirosa. Um belo sábado minha mãe falou: “Chega!”. Me puxou pelo
braço e disse: “Hoje vamos ver Titanic”. Sua solução foi ir no Cine Ipiranga.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O Cine Ipiranga.
Joia da era de ouro do cinema paulistano nos anos 1950, em franca decadência
nos anos 1990. A sala tinha lugar para 1.200 pessoas, 1.500 com o andar de cima
aberto. Lá chegando, a fila dava uma volta no quarteirão. Após uma hora e meia,
ingresso comprado, mas para a sessão seguinte. Teríamos que esperar mais 2
horas e meia para entrar. Sentamos e esperamos, na sala de espera do cinema.
Minha mãe vai ao banheiro e, então, o inesperado acontece. Uma adolescente da
minha idade senta ao meu lado e me oferece pipoca. Vou repetir. Uma adolescente
da minha idade senta ao meu lado e me oferece pipoca. Isto nunca mais aconteceu
na minha vida. Acho que nunca mais acontecerá. Eu travei, ao mesmo tempo que me
apaixonei instantaneamente pela menina. A minha versão adolescente se
apaixonava automaticamente por qualquer garota que demonstrasse qualquer
interesse em mim. Ainda travado, respondi que não e me levantei. Passei uns 2
anos para superar este não. Na saída do cinema, vi a menina beijando um outro
cara. Prometi que nunca mais recusaria uma pipoca. Um mês depois desta sessão
eu daria meu primeiro beijo. Aconteceu com uma menina chamada Claudia, durante
o trailler de Missão Impossível, ao som de Bed of Roses do Bon Jovi. Depois
dividimos uma pipoca.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Pois bem,
entramos no cinema. A parte de cima estava fechada para reforma. Mas por algum
erro, o cinema havia vendido 1.500 ingressos para 1.200 lugares. Superlotação
rolando, a galera sentando em todo canto, de repente alguém fala “Vamos invadir
lá em cima”. Correria. Gritos. Porta caindo. Gritos. Com a parte de cima já
ocupada, começa a cantoria “se o filme não começar, ole ole olá, o pau vai
quebrar”. Ao nosso lado na sala, uma senhora que estava lá para assistir ao
filme pela quarta vez. No trailer ela começa a chorar. “O que houve?”, pergunta
minha mãe. “Estou pensando no final”, responde ela. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Assistir filme
no Cine Ipiranga era uma experiência totalmente diferente do que já era minha
experiência cinematográfica e do que seria no futuro. Não havia espaço para
silêncio. Era gritaria e festa o tempo todo. “Corno vagabundo” quando aparecia
o vilão. “Gostosa” quando aparecia Kate Winslet. “Lindo” quando aparecia Di
Caprio. O barulho na hora em que Di Caprio desenha Kate Winslet sem roupa me
lembrou o gol de Didi. Gostei daquilo. Até o fim do cinema, ia ao Ipiranga
assistir filmes quando este tipo de atmosfera fosse “permitida”. Filmes do
Eddie Murphy, por exemplo. Fim do filme. Choro e desespero na sala. Minha mãe
vira para a sua vizinha de cadeira que chorava copiosamente e diz “não gostei,
esperava mais”. Eu tinha certeza que ela falaria isso. Na volta compro uma
pipoca com bacon do pipoqueiro na frente do cinema e pegamos um táxi. Minha mãe
passa o caminho inteiro falando mal do filme com o taxista. Eu pensava na garota da pipoca.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Um pouco depois,
minha primeira viagem de avião. Viagem de formatura da oitava série para as
Serras Gaúchas. Toda vez que penso no primeiro semestre de 1998, penso que eu
era rico. Fui a primeira pessoa da família a viajar de avião. A Copa rolava
durante esta viagem. A Copa na adolescência / infância. Não há nada melhor. Tive
um filho em 2022, se tiver que escolher uma Copa para o Brasil ganhar, que seja
2030, quando ele tiver 8 anos. Eu tinha 10 quando o Brasil ganhou em 1994.
Tinha 14 quando perdeu em 1998. Isto foi em julho. Dois dias depois da final,
eu e minha irmã viajamos para visitar uma tia em Santa Cruz do Rio Pardo. Quatro
horas de viagem na ida, quatro na volta. Meu pai e minha mãe foram nos levar na
rodoviária. Ficaram esperando o ônibus sair. Meu pai estava de boina e
cachecol. Ele sorria. Quando voltamos duas semanas depois, apenas minha mãe foi
nos buscar. Começava o segundo semestre de 1998.<o:p></o:p></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-84645357182760369012022-08-31T10:43:00.003-03:002022-08-31T10:43:40.067-03:00O Ex-presidiário<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjwVy-Yx7HgV-pT9vYGZL_KQaNRNpGRHAL6TTeaEVolu6r_Uh1IxM3l2Hco4CziHJ8MmFSnYDnTxHNjot0ow4MlGzrpHGnF6r4nNfuP1BPr3Q1HpFBfHmdRSFGA4aFkBR7dWSV-unkEx8Mtj7N5vLNC4U7GQt4BBs7D8j97xz-6XroNeNHFlHPekAQe" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="926" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjwVy-Yx7HgV-pT9vYGZL_KQaNRNpGRHAL6TTeaEVolu6r_Uh1IxM3l2Hco4CziHJ8MmFSnYDnTxHNjot0ow4MlGzrpHGnF6r4nNfuP1BPr3Q1HpFBfHmdRSFGA4aFkBR7dWSV-unkEx8Mtj7N5vLNC4U7GQt4BBs7D8j97xz-6XroNeNHFlHPekAQe" width="166" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O ex-presidiário passou 580 dias
preso. Um pouco antes da sua prisão, foi levado à força para um depoimento sem
ter se negado a ser chamado, numa tentativa de humilhação pública. Sua esposa
faleceu um pouco depois. Já preso, perdeu seu irmão e seu neto. Foi impedido de
acompanhar o funeral do primeiro. Foi escoltado para o funeral do segundo, onde
foi impedido de conversar com boa parte das pessoas. No ano eleitoral de 2018,
quando liderava as pesquisas, foi impedido de concorrer e de dar entrevistas.
Ficou incomunicável. Viu o juiz que o condenou manipular este processo
eleitoral e ser anunciado ministro do candidato que venceu graças à sua prisão
dois dias depois da disputa. Ainda ficou quase um ano preso após esta primeira
demonstração clara e pública de parcialidade. Viu se tornarem públicas mensagens
mostrando este juiz combinando o processo com a acusação, e continuou preso
mesmo assim. Após 580 dias, 1 ano e 215 dias, foi solto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para entender o que ex-presidiário
passou, é necessário ter empatia. Mas quem não tem empatia nem pelos 700.000
mortos na pandemia definitivamente não terá empatia pelo ex-presidiário. Quem
não desconsidera votar num cara que boicotou o processo de vacinação e que imitou
gente sem ar morreu por dentro. Não é mais capaz de se colocar no lugar de
outro ser humano. Tudo o que restou a esta pessoa é rancor e ódio. Ódio que não
diminuiu pelo ex-presidiário conforme ele sofria. Pelo contrário, só aumentou.
Uma necessidade de vê-lo sofrendo e humilhado que nunca será sanada. O ódio é
assim. O eleitor do atual presidente funciona deste jeito. Quanto mais vence,
mais ódio sente. Derrubar Dilma não reduziu o ódio. Eleger isto que nos governa
não diminuiu o ódio. Pelo contrário, só criou um complexo de perseguição para
tentar justificar a enorme incompetência deste governo bisonho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Se aqueles que prenderam o
ex-presidiário sentem cada vez mais ódio, o ex-presidiário só quer pensar no
futuro. Demonstra quase indiferença a seu algoz. Tenta reconstruir um país
destruído, muitas vezes com o apoio de pessoas que celebraram sua prisão. Seu
vice é um deles. O ex-presidiário não tem tempo a perder com o passado e com o ex-juiz
que passa o dia inteiro demonstrando sua parcialidade em redes sociais. Tudo
que sobrou ao ex-juiz é tentar usar o ex-presidiário como escada. É tudo que
ele e muita gente fez na vida. Odiar o ex-presidiário se tornou uma indústria
lucrativa. Desumanizá-lo também. Quase uma linha de produção de ódio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O ex-presidiário tem companhia na
lista de ex-presidiários que definiram a nossa história. Nelson Mandela foi um
ex-presidiário. Marthin Luther King foi um ex-presidiário. Gandhi foi um
ex-presidiário. Rosa Parks foi uma ex-presidiária. A figura ícone construída pela
nossa República, Tiradentes, foi um ex-presidiário. Todos estes ex-presidiários
saíram maiores do que entraram no presídio. Todos foram presos em processos farsescos
e as suas libertações (exceto Tiradentes, que foi executado) representaram o
início do fim de injustiças históricas. Todos eles têm prisões que representam
mais do que sofrimentos pessoais, representam sofrimentos coletivos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O ex-presidiário não tem tempo para
sentir ódio nem rancor. Sua mensagem é de futuro e de esperança, ao mesmo tempo
em que lembra de um passado não distante em que mostramos que podemos ser
melhores. Enquanto seus adversários berram, xingam e ofendem, o ex-presidiário
busca a conciliação. O ex-presidiário é o que há de melhor entre nós. Que
consiga reconstruir o país. Como Mandela e Gandhi, seus companheiros na
designação “ex-presidiários” fizeram. O país tem muito a aprender com Luiz
Inácio Lula da Silva. Ao menos o que sobrou de vida neste país.<o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-43966421750821424832022-08-16T09:29:00.003-03:002022-08-16T09:29:15.772-03:00Bolsonaro e o Senhor das Moscas<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqFKlWmw5LNtj4FjED7WtyjeY1sAmUSlWx3usWrKPmfnE69QekMcd316oN6Wyuuir-KW_ATZVqLDxVtHVoG6ohre7kF0-4m2laAe-1b-HXbKVEF-c4-dOAxrE9XgWI_5QTaI2Qxbpdu2u3eVk03dlLNa-pri98bcEbrxOigs8mnLnGUfWbQpPcjiWp/s250/OSenhordasMoscas_cover.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="250" data-original-width="250" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqFKlWmw5LNtj4FjED7WtyjeY1sAmUSlWx3usWrKPmfnE69QekMcd316oN6Wyuuir-KW_ATZVqLDxVtHVoG6ohre7kF0-4m2laAe-1b-HXbKVEF-c4-dOAxrE9XgWI_5QTaI2Qxbpdu2u3eVk03dlLNa-pri98bcEbrxOigs8mnLnGUfWbQpPcjiWp/s1600/OSenhordasMoscas_cover.jpg" width="250" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em <i>O Senhor das Moscas</i>, obra
clássica de William Golding, um avião cai em uma ilha e os únicos sobreviventes
são um grupo de garotos, que tentam a partir disto criar um tipo de
autogoverno. O poder é dividido basicamente entre dois garotos, Ralph, mais
racional, e Jack, o líder da caça. Em um determinado momento, Jack consegue
convencer os demais garotos da existência de um monstro, contrariando Ralph,
que sempre diz que este não existe. O medo em relação a esta fera inexistente
se torna o foco do grupo e é a principal arma para a tomada de poder de Jack. Enquanto
a paranoia vai tomando conta do grupo, Ralph estipula que os garotos devem montar
um sinal de fogo para o caso de algum navio passar perto. Seria a forma deles
mostrarem que estão ali e serem salvos. Os garotos se revezariam em turnos
noturnos para impedir que o fogo fosse apagado. Em um determinado dia, na vez
de Jack olhar o fogo, ele convence as demais crianças a sair para caçar. Com o
descuidado de Jack, o fogo e apaga, e bem neste dia um navio passa ao lado da
ilha. No dia seguinte, as crianças refazem o sinal, ao que Ralph responde “mas
agora o navio já passou”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A principal arma de Bolsonaro para
vencer a eleição de 2022 é a caça ao monstro inexistente. Daqui até outubro ele
vai investir em todo tipo de paranoia. O PT vai fechar templos evangélicos, o
PT vai mudar o sexo de crianças nas escolas, estamos enfrentando uma ameaça
comunista, dinheiro cubano vem em caixa de uísque para ajudar o Lula, os
globalistas, vacinas causam AIDS etc. Deu certo em 2018.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foi linda a carta pela democracia
lida na Faculdade de Direito da USP na semana passada. Ela seria ainda mais
linda em 2018. Pena que o navio já passou. O sinal de fogo só foi aceso quatro
anos depois de quando deveria ter sido aceso. Bolsonaro fez exatamente o que
prometeu na campanha de 2018. Chego até a arriscar dizer que na verdade fez
menos. Ainda não iniciou uma guerra contra a Venezuela, nem tirou o Brasil da
ONU. Apenas as palavras não foram suficientes para que o fogo fosse aceso.
Foram necessários os 600 mil mortos da pandemia e o descaso único de um
presidente que ria imitando pessoas sem ar enquanto as UTIs estavam
superlotadas e que atrasava propositalmente a compra de vacinas, estimulando em
seguida seus seguidores a não toma-las. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bolsonaro foi muito bem-sucedido em
continuar a tática da Lava Jato de apropriação dos símbolos nacionais para sua
causa. Ao fazer isto, todos os que estão contra ele deixam de ser apenas
adversários, tornam-se inimigos da pátria. Fez com a bandeira, com o hino, e
agora conseguiu com o 7 de setembro. Pelo segundo ano seguido, promete um golpe
de estado na data da independência. A primeira tentativa não foi suficiente
para que as instituições o barrassem. Ele tentou, deu errado, mas está aí. Uma
hora dá certo. O lado bom de ter como prioridade à caça a um monstro
inexistente é que você nunca o encontra, portanto pode manter seus seguidores
dominados e com medo eternamente. Desta vez, ao menos, mais gente acendeu o
sinal de fogo. O problema é que o navio já passou. Agora resta torcer para que
ele passe de novo.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-29329723231583549272022-07-26T14:52:00.005-03:002022-07-26T14:55:10.804-03:00Higienópolis<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgImcUY7FahwbDu0kH7aYKCB96fIN71TxqKSxNLnkjuZEZSWJ9lE5vMAE_p2xT7rKiRoTEgUuBAbIxMxIuKQ6cmyo2MthSXC1ow3GMS1AA4KljVa3szK_owMIDyb24q5td9GTLnUEY522Tqk6mWtnJoxjKWnzbQe6pbUWyBVf9bP1YSRh_-qCQyHdSv/s300/images.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgImcUY7FahwbDu0kH7aYKCB96fIN71TxqKSxNLnkjuZEZSWJ9lE5vMAE_p2xT7rKiRoTEgUuBAbIxMxIuKQ6cmyo2MthSXC1ow3GMS1AA4KljVa3szK_owMIDyb24q5td9GTLnUEY522Tqk6mWtnJoxjKWnzbQe6pbUWyBVf9bP1YSRh_-qCQyHdSv/s1600/images.jpg" width="300" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Morar no centro sem morar no centro.
Esta é a grande qualidade que possui a região de Higienópolis segundo aqueles
que moram ou querem morar lá. O bairro é central, mas não é aquela zona que é o
centro. Já foi assim em sua construção. Higienópolis foi um dos primeiros
bairros planejados do Brasil. Grandes produtores rurais buscavam se estabelecer
na capital que crescia, mas numa região só deles. A escolha por lá se deu por
dois motivos: a proximidade já citada em relação ao centro, onde ficavam as
melhores opções de entretenimento e a Bolsa de Valores, e a topografia. Se hoje
a preocupação central de quem mora na região é assalto, naquela época eram
doenças, principalmente a varíola. A elite brasileira, tendo já a elite
paulista como líder, colocava em prática na época um projeto de
embranquecimento da população, tentando atrair imigrantes especialmente
italianos para trabalhar nos campos e nas recém-inauguradas fábricas. Junto com
os italianos veio a doença, que se espalhava com maior facilidade pois estes eram
basicamente jogados amontoados no bairro do Bixiga. Higienópolis foi o primeiro
bairro com saneamento básico na história do Brasil, mostrando que a elite já
possuía lá o tipo de pensamento que marcou a sua relação com o Brasil, que é
resolver o problema para ela, e o resto que se foda. Hoje, em 2022, Guarulhos,
a segunda maior cidade do estado, trata 4% de seu esgoto, jogando o resto no
rio Tietê. 35 milhões de brasileiros não tem acesso à água tratada, enquanto
100 milhões seguem sem acesso à esgoto. A elite paulistana construiu sua cidade
da higiene e deixou o resto abandonado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ser latifundiário no Brasil nesta
época significava basicamente que você era beneficiário direto do sistema de
escravidão. Basicamente não havia mobilidade social, então não é uma
generalização tão perigosa a se fazer. Sempre que você abrir um livro e ler
“barão do café” pense em escravocrata. O Brasil seria um lugar bem melhor se
escolhesse os termos certos para descrever as coisas. Isto quer dizer que
Higienópolis foi basicamente um bairro criado por e para escravocratas no
momento em que a escravidão havia, ao menos no papel, acabado, e em que a
aristocracia escravocrata brasileira buscava novas formas de viver, explorar e
continuar prosperando. Basicamente toda a elite paulista e brasileira à época
era formada por estas pessoas, havia tido pouco tempo para que alguns poucos
prosperassem na indústria, por exemplo. Toda a intelectualidade paulistana era
formada por estas pessoas. A Semana de Arte Moderna de 1922, por exemplo, foi
realizada basicamente por herdeiros de escravocratas. Mário de Andrade, Oswald
de Andrade e Tarsila do Amaral são três exemplos de “filhos de latifundiários”.
O papel desta herança escravocrata, aliás, foi muito pouco abordado no
centenário da Semana. De certa forma o “pensamento paulistano”, se é que isto existe,
foi moldado por herdeiros do escravismo. E isto não significa tirar o valor cultural
do movimento. Significa apenas tirar o pano desta eterna mancha em nossa
história. Significa entender que o escravismo está em tudo. Até hoje, quase
todas as nossas relações são baseadas nisto. A intelectualidade paulistana nunca
se esforçou para resolver esta desigualdade. É simbólico que a USP tenha sido
uma das últimas universidades públicas do país a adotar o sistema de cotas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nos anos 1920 o bairro de
Higienópolis se desenvolveu. Uma epidemia de febre amarela assolou a cidade de
Campinas, forçando 75% dos seus habitantes a mudar de cidade. A elite
campineira veio para cá, para o meio dos seus pares, naquela ilha de
prosperidade e saneamento construída em meio ao caos. Em 1929 a casa caiu. Ou
começou a cair, literalmente. Com a quebra da Bolsa de NY, a elite agrária
paulistana começava a viver sua decadência. Com os donos endividados, os
casarões de Higienópolis começaram a cair para dar lugar a prédios, o primeiro
exatamente em 1933, um ano após a derrota desta mesma elite paulistana na guerra
contra o governo federal. Com a revolução de 1930, o desenvolvimento
sub-desenvolvimentista paulistano perdeu espaço para um novo país. A geração de
1922 foi superada pelo regionalismo. SP nunca perdoou a derrota. Não há uma
Avenida Getúlio Vergas em SP. Mas há uma rodovia dos Bandeirantes. A arquitetura
escravocrata dos casarões que lembravam fazendas deu lugar a um novo tipo de
arquitetura, mantendo porém o quartinho de empregada. Décadence avec élégance.
Até hoje, passeando pela região e chegando até a Paulista, achamos uns casarões
destes perdidos, quase sempre caindo aos pedaços. A especulação imobiliária
deve pirar com isto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Morar no centro sem morar no centro.
Este segue sendo o sonho realizado dos novos habitantes do bairro. Mais de cem
anos depois de sua construção, segue sendo o objetivo. Se a arquitetura da
cidade hoje é dominada por hiper condomínios com lógica semelhante à de um presídio-empresa
de luxo, com grades e isolamentos separando a cidade do seu mundinho, Higienópolis
tem uma barreira invisível, o Minhocão. Do lado de lá, tudo é feio. Do lado de
cá, tudo é lindo. Há muitos poucos mendigos em Higienópolis, por exemplo. Os
que aparecem logo desaparecem. Ninguém sabe a razão, mesmo que todos saibam a
razão. O sentimento dos habitantes de Higienópolis quando um mendigo some não é
de preocupação, é de alívio. Pessoas cujo desaparecimento geram alívio normalmente
desaparecem. O grau de barbárie de uma sociedade pode ser medido pelo grau de
alívio que esta sente quando há estes desaparecimentos. Higienópolis pode até
ter saneamento básico, mas não resolveu os problemas básicos de barbárie em que
foi construído.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A mulher da Casa Abandonada é uma
caricatura, e as pessoas amam estes personagens. Ela pode se tornar o bode
expiatório. Ela é um problema, mas está longe de ser o problema. O problema hoje
não está no casarão abandonado. Está na cobertura do prédio ao lado. Ou na cobertura do prédio que será construído quando o bairro se livrar da mulher. Ela ter feito uma mulher de escrava por trinta anos não é problema para a vizinhança. Esta provavelmente via o que acontecia e não enxergava problema algum. Pelo contrário, rolava identificação. A mulher da Casa Abandonada é a "tia do interior". Higienópolis se incomoda com ela agora porque ela é um entrave ao seu desenvolvimento. E porque ela traz sujeira. E se tem uma coisa que Higienópolis detesta desde o seu início é sujeira. Mas podridão da mulher é a mesma do bairro. Boa parte dos habitantes do bairro ainda pertence a herdeiros daquela turma que construiu o
bairro. O problema está em todo um sistema que segue beneficiando esta turma,
que se recusa a fazer um acerto de contas. Se um dia ela começar, terá que
começar por Higienópolis. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-87504832112658427612022-06-30T15:20:00.002-03:002022-06-30T15:20:26.440-03:00Quando éramos reis<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0LKWICC6c7S_LxjqF29sWrpAV2WraVGm7AMBIrk3v8xUrlXs8SyTYnazazt9f9RJE62sRgAmHFwM-NAS_A_GYqmHJDhUwBEQzsq2UcnfuyiX8bxF4P6aEIUYY3rAfKsL_0aLw7apWouIlLDdOR8cv2xrG_YeXcLT1wZJQzVANDg-podyGBhS6acx0/s648/5aaa680daa913.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="404" data-original-width="648" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0LKWICC6c7S_LxjqF29sWrpAV2WraVGm7AMBIrk3v8xUrlXs8SyTYnazazt9f9RJE62sRgAmHFwM-NAS_A_GYqmHJDhUwBEQzsq2UcnfuyiX8bxF4P6aEIUYY3rAfKsL_0aLw7apWouIlLDdOR8cv2xrG_YeXcLT1wZJQzVANDg-podyGBhS6acx0/s320/5aaa680daa913.webp" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Muito raramente
os textos que escrevo ficam tão bons no papel quanto parecem ser na minha
cabeça. A razão principal é a ansiedade. Eu quase nunca dou a um texto o tempo
para que eu o melhore na minha cabeça. É quase sempre o impulso. E também quase
nunca os reviso. Escrevo para um blog que pouca gente lê textos que funcionam
mais como uma terapia, um desabafo, do que qualquer outra coisa. Na minha
cabeça eu tenho um texto não escrito que acho brilhante sobre a relação entre a
Copa do Mundo e o país. Não é a à toa que a seleção de 1958 surgiu ao mesmo
tempo da Bossa Nova. Não é à toa que a seleção de 1982, possivelmente a melhor
seleção não-campeã que tivemos, tenha tido o mesmo destino derrotado do movimento
das Diretas-Já, dois anos depois. A derrota bonita segue sendo uma derrota. Mas
segue sendo bonita. Não é à toa que a seleção de 1994 surgiu no ano do Plano
Real. Vencer a inflação a qualquer custo após sucessivas derrotas. Vencer a
Copa do Mundo a qualquer custo depois de sucessivas derrotas. Vencemos. Não é à
toa que a seleção de 2002 venceu em 2002. Ronaldo renasceu no ano em que o
Brasil optou por renascer. Em algumas coisas o renascimento deu bem certo. Em outras
deu bem errado. Não é à toa que a hecatombe de 2014 antecedeu a hecatombe de
2016-2018. No momento em que o Brasil deveria mostrar ao mundo sua força, tudo
desandou. O 7x1 se tornaria a metáfora perfeita do país. Cada dia um 7x1 diferente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Eu tinha 18 anos
em 2002. Uma das melhores memórias que tenho daquela Copa é que eu estudava num
Cursinho pré-vestibulares cheio de estudantes coreanos e eles enlouqueceram na
Copa. Roubaram muito para a Coreia naquela Copa e eu adorei isto. Foi lindo ver
aqueles coreanos nerds e obcecados por uma vaga na faculdade de engenharia
surtando e enchendo a cara por causa de algo tão besta quanto onze homens
correndo atrás de uma bola. Metade da minha sala faltou na aula para assistir a
semi entre Coreia x Alemanha. Eu não faltei. Me arrependo. Não lembro do que
era a aula, mas provavelmente me lembraria da ida ao bar com os coreanos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Chegar numa
final de Copa do Mundo parecia algo fácil para a minha geração. Chegamos com um
time zoado em 1994. Quase ganhamos em 1998 com um técnico que não sabia o nome
de quase nenhum dos jogadores adversários. Depois procurem uma entrevista do Vampeta
em que ele comenta a preleção do Zagallo para as quartas-de-final contra a
Dinamarca. Ganhamos em 2002 com um time desacreditado, que um ano antes tinha
perdido para Honduras na Copa América. Ronaldinho surgiu, Ronaldo ressurgiu,
Rivaldo teve sua última explosão. Roberto Carlos, Cafu, putaquepariu, que time
bom. O Brasil jogou quase sempre às 8 da manhã, lembro que eram os únicos dias
de folga no Cursinho. Tínhamos aula até de sábado. Uma coisa interessante que
acho quando lembro do Cursinho é que naquela época eu não fazia ideia do que
queria fazer da vida. Com o tempo percebi que é uma temeridade exigir de um
garoto de 18 anos que escolha o que fazer da vida. Mas aos 38 sigo sem saber.
Em 20 anos, descobri mais o que não quero do que o que quero. Ou falhei em transformar
o que gosto em profissão. Ou vai ver simplesmente não arranjei alguém para me
pagar para fazer o que gosto. Bom, decidi no fim das contas fazer economia.
Encontrei na faculdade vários como eu. Não é tão incomum não saber o que quer
da vida. Não é tão incomum não descobrir. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Naquele ano
votei pela primeira vez para presidente. Meu voto foi em Lula. Foi a única vez
que votei nele. Este arrependimento é maior do que o arrependimento do bar dos
coreanos. Vai ver na vida vamos juntando arrependimentos. Ou damos valor quando
perdemos. Do mesmo jeito que parecia ser fácil chegar em final de Copa do Mundo,
parecia ser fácil viver em democracia. Minha geração não lutou por ela, não
soube preservá-la. Em 2002, o segundo turno foi entre Lula e José Serra. A
direita votava num economista ex-ministro da Saúde que lutou pela quebra das
patentes dos remédios contra HIV, tornando o Brasil exemplo no Mundo. Regina
Duarte apareceu em sua campanha dizendo que tinha “medo” de Lula. Duas décadas
depois, a Regina Duarte que fazia campanha para o cara que ajudou a transformar
o Brasil em modelo na luta contra o HIV se tornou ministra do cara que diz que
vacina transmite HIV. Saudade de 2002. Passei uma década votando no partido de
José Serra. Típico de um jovem privilegiado incapaz de sair da própria bolha,
que não busca ver as mudanças. Um jovem que aos 18 anos fazia Cursinho, afinal.
Foi preciso muita merda acontecer para que eu saísse do discurso de ódio que a
direita ia já implantando a partir de 2003. Às vezes sinto que o João de 2006
embarcaria fácil no discurso de uma coisa como o MBL e me xingo. Me arrependo
pelo que faria. Ainda bem que não fiz. Deu tempo.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">18 anos. Quando temos 18 anos, 20 anos parece uma vida inteira. Quando temos 38, 20 anos não parece tanto tempo assim. Às vezes parece até mesmo ontem. Aos 58 anos, sabe-se lá o que pensarei sobre 20 anos. Impossível prever. Se voltasse a 2002, a primeira coisa que faria seria ir ao bar com os coreanos. E conversaria com o João de 2002. Não seria necessário mostrar o 2022 sombrio para convencê-lo a mudar. Talvez bastaria fazê-lo olhar à sua volta.</p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">2022 o Brasil
vai em busca do hexa. Vai em busca de redenção. Novamente na Ásia. Novamente
nas urnas. Fomos incapazes de criar uma renovação e a nossa esperança em 2002 é
a mesma de 2022. É Lula. Muito raramente os textos que escrevo ficam tão bons
no papel quanto parecem ser na minha cabeça. A razão principal é a ansiedade.
Eu quase nunca dou a um texto o tempo para que eu o melhore na minha cabeça. É
quase sempre o impulso. E também quase nunca os reviso. Escrevo para um blog
que pouca gente lê textos que funcionam mais como uma terapia, um desabafo, do
que qualquer outra coisa. Na minha cabeça eu tenho um texto não escrito que
acho brilhante sobre a relação entre Lula e o país. Sua ascensão foi a ascensão
do país. Sua queda nos levou ao buraco. Sua ressurreição pode ser a nossa
ressurreição. É paradoxal ter esperança no futuro olhando tanto para o passado.
Mas é o que sobrou, quando não há perspectiva no presente. Ninguém entende
tanto de recomeço quanto ele. Ronaldo recomeçou apenas uma vez. A vida de Lula
é a vida dos recomeços. Que o Brasil recomece com ele.<o:p></o:p></p><br /><p></p><p><br /></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-32493363017171155352022-06-28T15:13:00.002-03:002022-06-28T15:13:28.292-03:00A decadência de Nelson Piquet<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhruO-P5tqiYB_nViurhTo0K_iQImx0dwiUxFRZLClJ_1V9tCFlB26o5TiQdM0ieMgs3xUHxt5dryfmDu14kQr_n5maH9Hl43Q-F-cAxy--P7QgdgMwPMaD0Wefg91ZR0AI1kvR0ZAh9NY4cz8JTwgfmUOYMiWAs31Mbt_U0Y4zybJnnvv2gTSEY9-W/s617/000_dv2065020-617x450.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="617" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhruO-P5tqiYB_nViurhTo0K_iQImx0dwiUxFRZLClJ_1V9tCFlB26o5TiQdM0ieMgs3xUHxt5dryfmDu14kQr_n5maH9Hl43Q-F-cAxy--P7QgdgMwPMaD0Wefg91ZR0AI1kvR0ZAh9NY4cz8JTwgfmUOYMiWAs31Mbt_U0Y4zybJnnvv2gTSEY9-W/s320/000_dv2065020-617x450.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">É realmente
difícil convencer um idiota bem-sucedido profissionalmente de que ele é um idiota.
Em geral porque ele se cerca de pessoas que o bajulam. Mas também porque o
idiota bem-sucedido acredita que o próprio sucesso profissional é uma prova de
que ele não é idiota. Nelson Piquet era muito bom no que fazia. Muito muito
bom. Foi três vezes campeão do mundo. Ganhou mais de vinte corridas. Deu sorte
de ser muito bom numa atividade que, embora não muito relevante para a
humanidade, uma parte significativa de nós leva a sério, a corrida de
automóvel. Além de muito bom no que faz, Piquet sempre foi muito, mas muito
idiota. Ele é tão, mas tão idiota, que ele consegue ser mais idiota do que foi
bom piloto. Piquet tem três títulos mundiais de Fórmula 1. Se houvesse título
mundial de idiotice, é possível que Piquet tivesse mais do que sete títulos
mundiais nesta categoria. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Piquet sempre se
esforçou para ser o mais idiota possível. Sempre que perguntado sobre um
assunto ou sobre uma pessoa, o objetivo de Piquet sempre foi dar a resposta
mais idiota possível. Ele acha isto engraçado. É comum entre pessoas bem-sucedidas
e idiotas responder perguntas destas forma. Quem trabalha no setor privado
conhece bem aquele diretor que adora falar palavrões desnecessários e xingar o
mais alto possível. Faz parte do que eles enxergam como poder. Não à toa Piquet
ou este tipo de diretor se identificam tanto com o atual presidente da
República. Na sua fala sobre Hamilton, Piquet poderia escolher muitos
adjetivos. Poderia apenas dizer que Hamilton foi agressivo. Mas não, fez
questão de explicitar seu racismo. Fez porque é adepto do quanto mais idiota
melhor. Fez porque acha engraçado. Fez porque se sente poderoso ao fazer isto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Piquet sempre se
sentiu um tanto quanto injustiçado pelo público brasileiro. Ao mesmo tempo em
que ganhava nas pistas, surgiu outro piloto brasileiro tão bom ou melhor e com
mais carisma. Acontece. O idiota foi se tornando cada vez mais rancoroso e
amargo. Era hiper falante até seu filho protagonizar o maior vexame possivelmente
da história do esporte. Nelsinho Piquet herdou a idiotice, mas não o talento do
pai. Ficou um tempo quieto. Mas quis o destino que Piquet se tornasse sogro de
um novo fenômeno do mesmo esporte. Voltou com a corda toda. Recuperou a força e
a energia. Força e energia que usa para falar merda.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O Brasil tratou
por muito tempo gente como Piquet como engraçada. Suas barbaridades eram
tratadas como “polêmicas”. Frases de “gênio”. Precisamos parar, aliás, com esta
história de que piloto de Fórmula 1 é gênio. Não é. Schumacher não foi. Senna
não foi. Eles são muito bons no que fazem. Mas gênio era, sei lá, o Da Vinci. À
exceção de Hamilton, a Fórmula 1 nunca teve um atleta relevante para o planeta.
A Fórmula 1 é cheia em geral de playboys mimados de famílias ricas totalmente
alienados da sociedade. A Fórmula 1, entre outras coisas, corria na África do
Sul nos anos 1980, durante o apartheid. Hamilton é relevante não apenas pelos
sete títulos ou pelos recordes que bate, mas por ser possivelmente o primeiro piloto
de Fórmula 1 não completamente alienado que eu lembre. Hamilton se interessa
pela sociedade, entende o papel que pode ter como agente transformador e seus
sete títulos mundiais, mais do que o fim, são o meio para que sua mensagem seja
passada. É possivelmente o atleta mais relevante da sua geração. É o que Muhammad
Ali foi nos anos 1960, Billie Jean King nos anos 1970, Maradona nos anos 1980, as
irmãs Williams nos anos 2000, entre outros. Consegue fazer seu talento na
atividade irrelevante ser relevante. Voltando ao Brasil, as barbaridades de
Piquet foram sempre tratadas como humor pela mídia brasileira. Como as
barbaridades do antigo deputado federal, aliás. “Olha que engraçado, ele falou
que a ditadura deveria ter matado uns 30 mil”. Pessoas como Piquet se sentem
realmente ameaçadas com a modernidade. Não sabem não ser idiotas e temem que a
queda do idiota-mor seja a queda do próprio estilo de vida, baseado em privilégios
e preconceitos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O piloto Nelson
Piquet está na história do esporte. A pessoa Nelson Piquet caminha rumo à irrelevância.
O ex-piloto muito bom se tornou uma figura triste e rancorosa que só aparece na
mídia falando merda ou servindo de chofer para um genocida aloprado. Não foi
vítima de ninguém. Escolheu o seu caminho. Basta olhar para a cara de Piquet e
notar como ele é infeliz. Pessoas como ele vão para a irrelevância sempre do
mesmo jeito. Reclamando e ofendendo. E com um olhar triste, servindo de
condutor para um idiota ainda mais idiota do que ele. Piquet já conhece de certa forma o ostracismo no país em que nasceu. Tanto que a frase racista que proferiu contra Hamilton demorou 6 meses para aparecer. Ninguém liga para o que ele fala. Agora deve conhecer o ostracismo na categoria que o consagrou como piloto. Este não existe mais. O que sobrou foi esta tristeza. A demonstração do impacto que o rancor pode causar em um ser humano.<o:p></o:p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-76567137231234422902022-06-26T15:29:00.002-03:002022-06-26T15:29:17.684-03:00Bolsonaro e o empoderamento dos imbecis<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglqWv-2Cg2W1lwXomBKtnnhh3jR1hqmW8ABkNfIIps2x0SiIqF6YvneoiUVHt3wq7x9l8QnYuRdKM6WTlO7t33hpvnXmQsXoqFsuU6gXh7O5Z50G4_zfeZlLg1x0gaAzAWewEXl-jEKe4VrffrQu0z-uyBIi88bR5Q2QWYtofWVLXNRtdljZGIgOnX/s675/1_20201229193135840606e-6464171.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="675" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglqWv-2Cg2W1lwXomBKtnnhh3jR1hqmW8ABkNfIIps2x0SiIqF6YvneoiUVHt3wq7x9l8QnYuRdKM6WTlO7t33hpvnXmQsXoqFsuU6gXh7O5Z50G4_zfeZlLg1x0gaAzAWewEXl-jEKe4VrffrQu0z-uyBIi88bR5Q2QWYtofWVLXNRtdljZGIgOnX/s320/1_20201229193135840606e-6464171.webp" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O Brasil sempre
foi uma merda. Uma máquina de moer gente. Um país fundado com a ideia de
utilizar mão-de-obra escrava para produzir açúcar. Sim, para produzir açúcar.
Europeu queria consumir açúcar, veio para cá e começou a escravizar nativos
para isto. Descobriu que podia transformar escravo em mercadoria e começou a
escravizar pessoas na África e trazer para cá. Tudo para produzir açúcar.
Açúcar... Daí surgimos e até hoje isto somos, europeus escravizando nativos e
africanos para produzir açúcar para a Europa. Troque açúcar por café. Depois
por soja. “O agro é a riqueza do país”, diz o slogan enquanto a fome e a
miséria aumentam. “O agro carrega o país nas costas”, diz o analista econômico
no país em que mercados começaram a trancar carne com cadeado. Melhorou um
pouco por um breve período, mas no fundo sempre foi isto aí.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Os bolsonaristas
sempre foram escrotos. Sempre foram esta gente de merda que hoje escreve e fala
este monte de asneiras por aí. A diferença é que hoje estão empoderados. E o
que os empoderou foi a vitória de Bolsonaro. Antes daquilo, eles tinham alguma
vergonha de expor explicitamente suas visões de mundo. E esta vergonha era algo
que, se comparamos com o que temos hoje, era bom. A pessoa ter vergonha de
falar merda ao menos mostrava que ela tinha alguma noção de que aquilo era uma
merda. Ver alguém como Bolsonaro chegar ao poder de certa forma os libertou.
Eles viram alguém como ele chegar ao topo, ser eleito com 55% dos votos.
Sentiram-se aceitos. Bolsonaro foi eleito deixando claro ser um completo
imbecil. Trata-se de uma pessoa sem nenhuma qualidade, completamente incapaz de
sentir qualquer tipo de empatia. Obteve fama falando merda em programas de
subcelebridades, exaltando a ditadura militar e a tortura, não teve sequer um
projeto significativo aprovado em 28 anos de mandato como deputado. Não importa.
Bolsonaro não foi eleito pelas suas qualidades, mas pelos seus defeitos. Ou ao
menos pelo que gente minimamente decente considera defeito. Prometeu em
campanha prender, expulsar ou matar opositores, ofendeu minorias, defendeu
extermínios, estimulou todo tipo de violência possível. Quando mais merda fazia
e prometia, mais se tornava um mito. Durante a maior tragédia coletiva da nossa
história, debochou do sofrimento de milhares que perderam a vida e dos milhões
que sofreram com estas mortes. Enquanto a miséria avança, roda o país passeando
de moto em motociatas bizarras. Quanto mais ele é idiota, mais os bolsonaristas
se sentem livres para fazer o mesmo. É bom ser livre. Não é à toa que para estes
imbecis Bolsonaro representa a “liberdade”. “Liberdade” para esta gente é ofender,
ameaçar e oprimir. Quanto mais ofendem, ameaçam e oprimem, mais se sentem “livres”.
A “liberdade” para eles é algo individual, o coletivo não existe.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Na ausência de
coletividade, eles encontraram o seu coletivo. A sua noção de pertencimento.
Vestem a camisa da seleção. São o Brasil e o Brasil é deles. Qualquer um que se
oponha é inimigo da pátria. Pessoas que puderam deixar de fingir que eram
civilizadas e que ganharam o apelido de “patriotas” por isto. Reginas Duartes
celebrando a ditadura. “A gente cantava as musiquinhas", disse ela nesta
exaltação ao período em que, ao mesmo tempo em que ela cantava as musiquinhas,
milhares eram torturados em porões clandestinos. Saudade. E mais do que isto,
encontraram um mercado muito fértil e pronto para ser explorado. Esta turma estava
desde sempre louca para consumir muita merda e todo um grupo de pessoas ganhou
espaço na mídia. Pessoas irrelevantes. Antônia Fontedemerda nunca fez nada de
relevante. Nada. Tem 2 milhões de seguidores só falando merda. O tal do Adrilles.
Por que estes caras têm tanto espaço? Porque há todo um público disposto a
comprá-los. Que sente prazer vendo a opressão ao vivo. Quase goza vendo o
opressor chiliquento. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">"Bolsonaro fala umas verdades". Bolsonaro fala o que pensa. A primeira frase merece aspas, a segunda não. Porque Bolsonaro realmente fala o que pensa, mas isto não é suficiente para que seja verdade. Pensar merda e falar merda não te torna alguém verdadeiro. Te torna apenas um merda. Este simples conceito talvez impediria que vivêssemos o que vivemos. Mas falar merda é lucrativo.</p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Não importa o
que gente como Fontedemerda, Adrilles, Constantino, Narloch, a jogadora de
vôlei ou o escambau façam. Leo Dias pode até perder o emprego agora. Adrilles
também perdeu quando fez o gesto nazista. Depois de um tempo voltou para Jovem
Pan. Constantino também o perdeu quando disse que culparia sua filha se ela
fosse estuprada. Depois voltou para a Jovem Pan. Alexandre Garcia saiu da CNN
quando defendia a cloroquina contra a Covid. Lá está a Jovem Pan para unir esta
turma. Sempre defendendo a barbárie. Sempre falando de “liberdade”. Falam de “liberdade”
porque eles sim se sentem mais livres. Livres como nunca. Ou no caso do Brasil,
como quase sempre. O mito os “libertou”. E eles farão o demônio para não voltar
para a caixinha. <o:p></o:p></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-80806464527906904792022-06-07T14:47:00.006-03:002022-06-07T14:53:45.140-03:00Tiago e Alice<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0oUPdfscH-pFCZSUXNR6Y4iGfAsdKt4I716QkbzkOrY5vGepgrDkoXCDA5B1CqHOR_zXyjRw27VatehYHXt3ckv-EVPU-zKKIIAXfST9aSqsAydKoxLJiUP5FK_e9CmGEFk9QxZHyCv0UVe3IzBJlSp0CodBD54FSrDrmFgjNJjhU9TK7KHFzIOT6/s948/Sem%20t%C3%ADtulo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="546" data-original-width="948" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0oUPdfscH-pFCZSUXNR6Y4iGfAsdKt4I716QkbzkOrY5vGepgrDkoXCDA5B1CqHOR_zXyjRw27VatehYHXt3ckv-EVPU-zKKIIAXfST9aSqsAydKoxLJiUP5FK_e9CmGEFk9QxZHyCv0UVe3IzBJlSp0CodBD54FSrDrmFgjNJjhU9TK7KHFzIOT6/s320/Sem%20t%C3%ADtulo.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Um tiro. Tiago
disse que prefere levar um tiro a escolher entre Jair e Luiz. Um tiro.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Tiago é filho de
um diretor da Globo, fez viagens ao exterior desde a infância, estudou nas
melhores escolas, teve todas as oportunidades que ser filho de um diretor pode garantir.
Jovem, “revolucionou” o jornalismo esportivo da Globo, outrora baseado em reportagens
mais sérias e jornalismo mais sofisticado. Com ele, ganharam espaço brincadeiras
e piadas. Este estilo foi chamado de descontraído. Uma semana antes de dizer que
preferia tomar um tiro a escolher entre Jair e Luiz, Tiago havia dito que
sofria “preconceito” por ser rico na faculdade. Como resposta, mudou-se para
Miami. Repetindo, Tiago disse que prefere levar um tiro a escolher entre Jair e
Luiz. Um tiro.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Um tiro. Uma
semana antes da entrevista de Tiago, a menina Aline Rocha, de 4 anos, levou um
tiro enquanto comprava pipoca no subúrbio carioca. Ao mesmo tempo ocorria uma
ação policial na região e uma bala, provavelmente saída da Polícia Militar,
atingiu a criança. Nenhum policial foi punido. Nenhum será. As forças públicas
trataram o assunto como “acidente”. Os “acidentes” ocorrem sempre com as mesmas
pessoas. Ocorrem com Alices, nunca com Tiago. Tiago pode tranquilamente dizer
que prefere tomar um tiro. Sabe que não tomará. Na pior (ou melhor) das
hipóteses irá para Miami. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">No fim de maio,
uma chacina matou 25 pessoas na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. A polícia
justificou a ação, dizendo que foram localizadas armas na região. Uma das
vítimas foi Gabrielle Cunha, nenhum antecedente criminal, que morreu em casa. “Bala
perdida”. Olha quem morre então veja você quem mata, diz a música dos Racionais.
Jair, o provável candidato de Tiago em 2018, elogiou a ação da Polícia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O primeiro ato
de Jair ao assumir o poder foi facilitar o porte de armas. O registro de armas
triplicou desde que o atual presidente assumiu o poder. Teoricamente ficou mais
fácil para Tiago tomar um tiro, mas ele não se importa. Sabe que não tomará. Os
tiros são dados em nome de pessoas como ele nos “outros”. Ele está tranquilo,
não se encaixa nestes “outros”. As vítimas são Alices, Gabriellas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">No começo do governo
de Jair, o seu então ministro da Justiça, Sérgio, tentou passar uma lei que
legalizava o excludente de ilicitude. Basicamente o policial estaria livre de
qualquer punição a ações ocorridas em seu expediente de trabalho, podendo
alegar que estava submetido a fortes emoções. A lei não foi aprovada, mas ela
não é tão necessária assim. Os policiais que atiraram em Alice estão
tranquilos. Os policiais que atiraram em Gabriella estão tranquilos. No fundo,
Tiago também está tranquilo. Pode até fazer piada com tiro.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">João,
ex-governador de São Paulo, prometeu em campanha que no seu governo o policial
atiraria para matar. Na cabeça. Linguagem de psicopata. Um ano depois, nove
jovens foram assassinados em um baile funk em Paraisópolis. Muito barulho,
muita bagunça. Nenhum policial foi punido. Nenhum será. Excludente de
ilicitude. Talvez arrependido, João decidiu colocar câmeras nas roupas dos
policiais em horário de trabalho. O número de mortos foi reduzido em mais de
30%. O candidato de Jair em SP já falou que vai acabar com isto. Que esta
câmera atrapalha a ação policial. As vidas salvas não renderam muitos votos a
João. Ele era mais popular quando falava coisas psicopatas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Todo crime cometido
por policiais é um crime cometido em nosso nome. Assassinatos financiados por
nós, cometidos por nós. Não puxamos o gatilho, mas somos mandantes. Ao não reconhecermos nossa culpa, tornamo-nos cúmplices.
Fomos nós também que atiramos em Alice. Fomos nós que matamos Gabriella. Fomos nós que
matamos Genivaldo num camburão transformado em câmara de gás. Todos nós. Chega de passar pano. Passou da hora de
dizermos basta. Passou da hora de falarmos “não em nosso nome”. Passou da hora
de vivermos uma vida “tranquila” enquanto jovens são assassinados em nosso
nome. Passou da hora de exigirmos mudança. Chega de tranquilidade. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Tiago é homem
rico e branco. Entre pessoas ricas, Jair lidera por 44 a 30. Alice é uma mulher
pobre. Entre pessoas pobres, Luiz lidera por 49 a 28. A eleição é sobre isto.
Olha quem morre então veja você quem mata. Tiago prefere dar um tiro. Nesses
últimos 4 anos, o tiro dado em nome de Tiago. E no fundo ele fará o possível
para que continue assim. Talvez morando em Miami. E tratando tiro como piada.<o:p></o:p></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-7234229891456381132022-04-17T21:41:00.007-03:002022-04-17T21:43:35.087-03:00O impeachment do Presidente Haddad<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWRsCfDiUCTfZ8YyZwH5kCLMtIbQyB8b4-sKXiPveqtyFSkuus31b4zU1UrY3YNj5lcyA4C3-ApHP61nJZ31uCMz6JN8Pdi5IJZhf0qWhzxDkVnn6BrDkVSGW_UMvQtYU-mRx6n5v3-9_1GCwDWcz9VnNpr_KR1ZZjN40IhzcOgmG6AvADiXQBg5zU/s1280/foto_lula_haddad_manu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWRsCfDiUCTfZ8YyZwH5kCLMtIbQyB8b4-sKXiPveqtyFSkuus31b4zU1UrY3YNj5lcyA4C3-ApHP61nJZ31uCMz6JN8Pdi5IJZhf0qWhzxDkVnn6BrDkVSGW_UMvQtYU-mRx6n5v3-9_1GCwDWcz9VnNpr_KR1ZZjN40IhzcOgmG6AvADiXQBg5zU/s320/foto_lula_haddad_manu.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Terminou no último 30 de fevereiro o governo
Fernando Haddad. O Congresso aprovou o seu pedido de impeachment, após considerá-lo
culpado por uma má gestão da pandemia que custo 200.000 vidas. Seu principal
crime, apresentado pela advogada Janaína Paschoal, a mesma que liderou a acusação
contra Dilma há seis anos, é de que Haddad comprou um número excessivo de
vacinas, cometendo um crime conhecido como “pedalada vacinal”. O juiz Sérgio
Moro, líder da Lava Jato que entra em sua milésima quinta etapa conhecida como “Fogo
Infernal”, aceitou a denúncia apresentada por Deltan Dallagnol de que Haddad
teria participado de um almoço com uma pessoa que conhece alguém que conhece
alguém que conheceria um representante de uma empresa produtora de vacinas, e
que o almoço teria sido pago com propina que seria recebida pela Petrobrás a
partir da compra de vacinas pela estatal para seus funcionários. Moro decretou
a prisão preventiva de Haddad 5 minutos após a declaração do impeachment, e as
câmeras da TV Globo já estavam no Palácio acompanhando a operação da Polícia
Federal que conduziu o agora ex-presidente à sede da Polícia Federal em Curitiba.
Moro voltou a negar que tenha interesse em seguir carreira política, chamou a
reportagem que dizia que ele tinha um acordo para ser ministro da Justiça
candidato derrotado Jair Bolsonaro de “sensacionalismo”, mas diz que não se
arrepende de vazar a ligação do ex-presidente Haddad em que ele diz que não
deveríamos economizar na compra de vacinas, conversa fundamental para mobilizar
as ruas contra o presidente. Moro também voltou a defender que provas obtidas
ilegalmente devem ser consideradas em processos e que um homem público não pode
esconder suas ações. Também negou, mais uma vez, que ajudou Dallagnol a montar
o Power Point em que Haddad era apontado como responsável pela compra excessiva
de vacinas e de respiradores, argumentando que isto é normal no Judiciário
brasileiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Numa ação inédita, a vice-presidenta Manuela D’Ávila
foi impichada e presa junto com o presidente Haddad. Ainda não há denuncia
formal contra ela, mas Moro já decretou sua prisão preventiva dizendo que ela
pode “atrapalhar as investigações”, decisão confirmada pelo ministro Barroso. O
general Braga Neto assumiu o poder de forma interina, prometendo restabelecer a
democracia após um ano. O ex-deputado federal Jair Bolsonaro, grande crítico das
medidas de contenção adotas pelo governo petista, surge como grande favorito
para as eleições de 2022, prometendo focar todos os esforços na produção de
cloroquina, na liberação de armas e reduzindo a zero os gastos em vacinação. Bolsonaro
promete também retirar o Brasil da OMS, que elogiou as medidas adotadas pelo governo
Haddad, da ONU, que criticou as ações da Lava Jato contra o governo petista, e
do Mercosul, argumentando que é um antro de “comunistas”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O mercado celebrou o impeachment do presidente
Haddad, e o dólar caiu ao valor de R$ 4. Analistas do Jornal o Estado de SP
argumentam que o dólar estaria a R$ 1,50 caso Bolsonaro tivesse sido eleito e
Paulo Guedes tivesse entrado no Ministério da Economia antes. Guedes, ministro
do governo Braga Neto, já anunciou um novo programa de demissão em massa e de corte
de gastos para estimular a economia, que caiu 2% em 2020, responsabilidade das
medidas de contenção do governo Haddad. Carlos Sardenberg, analista econômico da Globo, acusou Haddad de irresponsabilidade fiscal quando o então presidente anunciou um auxílio de R$ 1.200,00 aos trabalhadores que tiveram que ficar em casa durante a pandemia, mais uma bolsa para fornecimento de máscaras apropriadas contra a doença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em debate na rádio Jovem Pan, Vera Magalhães e
Marco Antônio Villa elogiaram a decisão do governo Braga Neto de proibir o PT
de participar do processo eleitoral de 2022. Disseram que o Brasil não aguenta
mais a “roubalheira desta gangue”. Elogiaram também a “jogada de xadrez” do
juiz Moro ao prender o ex-presidente Haddad antes que ele tivesse tempo de
discursar após o impeachment e reafirmam a crença no desprendimento político do
juiz. Também elogiaram a decisão do Supremo que mudou a interpretação da Lei da
Ficha Limpa, bastando agora a abertura de um B.O. para que uma pessoa seja
considerada inelegível. Criticaram também a análise de especialistas de saúde e
de economia, que dizem que o Brasil teria mais de 600.000 mortes e uma queda no
PIB de mais de 5% caso Bolsonaro tivesse sido eleito. Disseram que esquerdistas gostam de "inventar números" e "criam um fantasma fascista que não existe".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assim caminhamos para 2022, o ano mais
decisivo da nossa história. Ano de Copa.<o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-80562732325699201142022-02-13T19:31:00.005-03:002022-02-13T19:31:51.404-03:00A barbárie e o cancelamento<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9a_0fxasthNL2Xzu-z-yFs2UouQbw2FAq6Sd9dBjbIrrl8rai24lsrxd_z9Gm1RYbC2WQEe3GGFBjZ3koLoHgOAaG10c0_13Z4_VZdFBFm29Hjpmc8mpeWhF65iWGZHvQjB2z6UIlsre4Otcm1DtMy8JPS0DzgGNUtk6-NosIxQRPUash6SuaB6QK=s1021" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1021" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9a_0fxasthNL2Xzu-z-yFs2UouQbw2FAq6Sd9dBjbIrrl8rai24lsrxd_z9Gm1RYbC2WQEe3GGFBjZ3koLoHgOAaG10c0_13Z4_VZdFBFm29Hjpmc8mpeWhF65iWGZHvQjB2z6UIlsre4Otcm1DtMy8JPS0DzgGNUtk6-NosIxQRPUash6SuaB6QK=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em 25/03/2021, a apresentadora Xuxa Meneghel
deu uma entrevista à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em que defendeu
que presidiários fossem utilizados como cobaias para testes de empresas farmacêuticas.
Disse Xuxa que, assim eles “serviriam para alguma coisa”. Xuxa não foi repreendida
por nenhuma pessoa participando da entrevista. No dia seguinte, após polêmica
em redes sociais, Xuxa se desculpou pelo que disse. Dizer que presos deveriam
ser usados como cobaias no teste de remédios não foi suficiente para prejudicar
muito a carreira de Xuxa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A desumanização do inimigo é uma das muitos
características do regime nazista. É mais fácil eliminar um ser humano quando
ele foi descaracterizado como tal. Pensamentos e comportamentos tipicamente nazistas
fazem parte do senso comum brasileiro. Em dezembro de 2021, o apresentador
Ratinho disse que uma deputada federal deveria ser metralhada por causa de um
projeto de lei que buscava tornar os termos da declaração do casamento mais
inclusivos. Sugeriu que a deputada fosse “eliminada”. Após polêmica em redes sociais,
o apresentador se recusou a falar novamente sobre o tema. Antes desta “polêmica”,
Ratinho se destacou por diversas outras barbaridades, como dizer que resolveria
os problemas dos presídios superlotados no Brasil com um botijão de gás.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em fevereiro de 2014, Rachel Sheherazade
defendeu em TV aberto o linchamento de um garoto que havia sido amarrado por um
grupo de pessoas que o acusavam de roubar celulares. “Quem gosta de ladrão, que
o leve para casa”. Sheherazade nunca se desculpou pela fala. Não teve a
carreira prejudicada, pelo contrário, tornou-se porta-voz da extrema-direita
brasileira, cargo que perdeu quando começou a criticar o atual presidente. Mas
afirma segue sem se arrepender do que disse. Em fevereiro de 2022, o congolês
Moïse Kibagames foi linchado por um grupo que comanda milícias donas de
quiosques em praias no RJ. A barbárie não começou ontem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O nazismo adora este termos. “Eliminar”. A
violência é a solução para tudo. Por isto a tara pelo militarismo, pela polícia.
Justiça é vingança. Não há categoria de pessoas mais desumanizada no Brasil do
que a dos presidiários. Com eles, pode-se tudo. É necessário legitimar a
barbárie e a eliminação dos oponentes, e esta é uma das funções da cadeia. O presidiário
não pode ser ouvido e não tem direitos. Por isto é tão importante o apelido de “ex-presidiário”
a Lula, aquele que pode derrotar os dois projetos de extrema-direita, que na
verdade são um só. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O jornalista Merval Pereira escreveu em
fevereiro de 2022 que Moro foi um juiz parcial, mas que isto não é um problema,
que imparcialidade não existe. Democracia é um processo e o nazismo seduz com algumas
quebras de burocracia. Depois cria outras, de tal forma a tornar toda a
sociedade cúmplice de seus crimes. Mas a primeira etapa é reclamar dos processos
que tornam a democracia possível. Direito à defesa e presunção de inocência são
dois deles. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Transformar seres humanos em cobaias é uma
característica nazista. Eliminar oponentes políticos é uma característica
nazista. Defender justiçamento de uma maioria contra um suspeito é uma
característica nazista. Legitimar uma condenação praticada por um juiz parcial
é uma característica nazista. Possivelmente Xuxa, Ratinho, Rachel e Merval
processariam alguém que os chamasse de nazistas. Assim como Kim Kataguiri está
fazendo. Kim, o líder de um movimento que estimulou alunos a filmarem
professores, que invadiu hospitais durante a pandemia e que perseguiu um padre
que distribui comida para miseráveis nas ruas de SP. Ser chamado de nazista
ofende. O mesmo Kim que defendeu a censura a uma exposição de arte defende a
criação de um Partido nazista no Brasil porque isto é “liberdade de expressão”.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No Brasil, o senso comum possui muitas características
nazistas. Quase todo mundo tem o tiozão que fala absurdos no almoço. Não é à
toa que o Brasil elegeu quem elegeu em 2018. Bolsonaro prometeu metralhar os
opositores, como Ratinho. Prometeu legalizar a tortura, como Rachel. Prometeu
endurecer penas para tornar a punição “mais fácil”, como quer Merval. Não tenho
dúvidas de que apoiaria uma proposta como a de Xuxa. Entre outros absurdos.
Comparou em comício na Hebraica os quilombolas a bois, dizendo que eles eram
pesados em arrobas. Disse que preferia um filho morto a um filho gay. Disse que
não estupraria uma deputada porque ela era feia. Elogiou a chacina em um
presídio. Foi aplaudido ao homenagear um torturador em rede nacional. São
muitos os absurdos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O maior absurdo foi ele ter recebido mais de
50% dos votos. Como isto aconteceu? Foi muito tempo de desumanização. Bolsonaro
possuía o senso comum. O processo de desbolsonarização do Brasil exigirá humanização.
Exigirá muito cancelamento. Ele será nossa principal arma. Qualquer “bola fora”
deve sofrer cancelamento. Qualquer. É necessário que uma parcela da população
entenda que não pode falar o que quer usando o termo “polêmica” como disfarce.
Não pode haver mais espaço para isto. Rachel, Xuxa, Merval e Ratinho não foram cancelados. O cancelamento teria sido o basta. Poderia ter evitado Bolsonaro.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O processo de humanização precisa passar
pela forma como lidamos com a nossa situação prisional. É o grande símbolo da
nossa barbárie. A semana já mostrou que o Brasil não aceita a ideia de que um
partido nazista exista, e isto é muito bom. Agora é necessário que o Brasil
trabalhe para não aceitar também as ideias nazistas. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-10849066341981328092022-02-04T16:10:00.004-03:002022-02-04T16:10:39.912-03:00O Pacto<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi6iK7g75mVz0fqOIIj0ZVFo2Q_PyfVBd3idEwXDyDrzeuJKRsGNvmYvnbv_2M7_A-DSEt3GGGzylVz2M2nDFmM_c4YKc-fGaETQx3V8BNHuVLcdnwAmH9n7He2BgXG5zemgWmFaE07kLyvBZ0Mbmo-3q7CIk7Mt1_k3TWUldM2QYe-wL8UyxOxmSsA=s1280" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="853" data-original-width="1280" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi6iK7g75mVz0fqOIIj0ZVFo2Q_PyfVBd3idEwXDyDrzeuJKRsGNvmYvnbv_2M7_A-DSEt3GGGzylVz2M2nDFmM_c4YKc-fGaETQx3V8BNHuVLcdnwAmH9n7He2BgXG5zemgWmFaE07kLyvBZ0Mbmo-3q7CIk7Mt1_k3TWUldM2QYe-wL8UyxOxmSsA=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Pacto com o Diabo nunca pode ser desfeito. Uma vez que você
vendeu a sua alma, já era. Não depende mais da sua vontade. Será pela eternidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O diabo não existe. E ele está em
todo lugar. Está dentro de nós. Precisa apenas de um clique para nos ocupar. Aí
já era. Virá a vitória. Virá a derrota. Virá o arrependimento. Virá a culpa.
Mas aí já era.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Algumas vezes eu já senti que estive em
presença demoníaca. Numa aula, conversava com um aluno sobre sei lá o quê e o papo
acabou parando na tragédia de Brumadinho. “Ganhei muito dinheiro naquele dia,
professor”, disse o aluno. “Como assim?”, perguntou o professor. “Quando vi
aquilo, pus uma grana nas ações da Vale”, replicou o aluno sorrindo. O diabo
sorria. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em 17/04/2016, o diabo sorriu em rede
nacional. Subiu no palanque, virou para a câmera e homenageou o torturador. “Perderam
em 1964, perderam em 2016”, disse o diabo. Apenas um deputado cuspiu no diabo. Boa
parte dos restantes aplaudiu. As ruas aplaudiram. O Pacto já estava feito.
Alguns se arrependeriam depois. Mas já não depende mais da vontade deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A grande arma do diabo é dizer aquilo
que a pessoa quer escutar. Todos temos nosso ponto fraco. E queremos soluções simples.
O diabo às vezes nos oferece a simplicidade. Seduz com tolices e com noções comuns.
“Eu não gosto de corruptos”, disse o diabo. Não que ele se importe com isto.
Isto é o de menos. “Eu também não gosto”, pensou o seduzido. “Temos que prender
todos os corruptos”, disse o diabo. “É isso aí”, disse o seduzido. Numa
sociedade em que todo mundo é culpado todo mundo acha que é o único inocente. É
muito fácil convencer o “único inocente” de que o outro é culpado. Basta um boato.
O boato vira denúncia. O diabo faz o resto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O diabo assume a face que o seduzido
deseja. Pode ser o tiozão que fala “a real”. Pode ser o juiz que manda prender
e que chama direito de defesa de “formalidade”. Pode ser o tecnocrata do mercado
financeiro que diz que você vai ganhar muito dinheiro se o cara mais pobre
perder os direitos trabalhistas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Pacto está em todo lugar. O Pacto é
a nossa história. É o bandeirante matando o indígena. É o senhor de engenho chicoteando
o negro e estuprando a negra. É a Vale soterrando pessoas em Minas Gerais e
garantindo o lucro do acionista em São Paulo. É o militar colocando um rato na
vagina da militante presa. É o cidadão de classe média que vê o presídio superlotado
e acha isto justo. “Queremos Justiça”. Quem faz o Pacto sempre se acha um “injustiçado”. Ele é o único inocente, afinal. E sempre acha que “merece” o que conseguiu depois do Pacto. A história do Brasil é uma sucessão de tragédia cometidas em nome de uma parcela da população que ou apoia ou opta por um silêncio criminoso enquanto o crime é cometido. Uma hora a ficha
cai. Mas quando cai, já era. Já não tem mais alma. A coragem para desfazer o Pacto exige alma. A solução não virá de quem a perdeu.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-21263442072729639022022-01-30T17:17:00.001-03:002022-01-30T17:17:26.847-03:00Não desfaça amizades por politica<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgWPFlDaB2ZzQmJ8tO9YfLj5rPDiQAPwjMQ3JRPReibu0pLX0sTAkg9RynErQbo0-tvVYCgIbxWSbWS1vaQuygB-BUlgKnsWmLKAtG2aTT77fstEYpeu1C0fWs4GXxEB81n8J1cyn5-aSIHmm7HH2rQUjnFVIgWNVczMzB1M0sDiEqHQtQyAnt4N9o6=s781" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="488" data-original-width="781" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgWPFlDaB2ZzQmJ8tO9YfLj5rPDiQAPwjMQ3JRPReibu0pLX0sTAkg9RynErQbo0-tvVYCgIbxWSbWS1vaQuygB-BUlgKnsWmLKAtG2aTT77fstEYpeu1C0fWs4GXxEB81n8J1cyn5-aSIHmm7HH2rQUjnFVIgWNVczMzB1M0sDiEqHQtQyAnt4N9o6=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nunca desfiz uma amizade por causa de
política. Sou contra a autonomia do Banco Central, tenho muitos amigos que são
a favor. Sou contra algumas privatizações e a favor de outras, tenho amigos que
são a favor das algumas e contra as outras. Fui contra a Reforma da Previdência
e a Reforma Trabalhista, mas não acho que uma pessoa que tenha sido a favor seja
mau caráter. Nunca desfiz e jamais desfaria uma amizade por causa disto. Já
mudei muito de opinião sobre política. Já votei no PT, no PSDB e depois voltei
a votar no PT. Já cheguei até a votar no Garotinho, olha minha tosquice. O que acontece
no Brasil desde a Lava Jato e com a gestão de Bolsonaro nada tem a ver com
política. Tem a ver com humanidade. Tem a ver com caráter.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota em um candidato que defende
a tortura não tem caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota em um candidato que diz que
crianças gays devem ser agredidas pelos pais não tem caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota em um candidato que diz que
opositores devem ser presos ou metralhados não tem caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota em um candidato que diz que
quilombolas devem ser pesados em arrobas não tem caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que,
governando o país na maior tragédia de nossa geração, imita caçoando pessoas
sem ar, morrendo, não tem caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que
sabidamente criou um gabinete para criar e espalhar notícias falsas não tem
caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que louva a
Ditadura Militar e diz que seu erro foi ter matado “pouca gente” não tem
caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quem apoia um candidato que boicota
abertamente a vacinação é mau caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que diz que as
pessoas que recebem auxílios de renda são vagabundas é mau caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que
abertamente defende o genocídio indígena, que disse que o grande erro brasileiro
foi não ter feito o que foi feito nos EUA, em que eles foram dizimados, é mau
caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que diversas
vezes já manifestou o seu desprezo por mulheres é mau caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato que diz que a
melhor coisa que existe no Maranhão é um presídio em que havia acabado de
ocorrer uma chacina é mau caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem apoia um candidato cujo vice
disse que o problema do Brasil eram os filhos de mãe solteira é mau caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota em um candidato que exalta
um torturador em rede nacional no processo de julgamento de sua vítima é mau
caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vota a favor de um candidato que
promete dar licença às forças policiais para que elas matem suspeitos é mau
caráter;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem silencia frente a tudo isto e
opta pela neutralidade não tem caráter.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desfiz minha amizade com boa parte
das pessoas do meio que votaram em Bolsonaro em 2018. E também com as que
votaram nulo. Em alguns pontos acho que estas são até piores. Ao não votarem em
Bolsonaro, elas se mostraram capazes de entender que ele era ruim. Mas ao não
votarem em Haddad, mostraram que acham que qualquer uma destas coisas que citei
é tão grave quanto corrupção na Petrobrás ou um apartamento no Guarujá. Ser
corrupto é o menor dos crimes de Bolsonaro. Ele é muito corrupto, mas isto não
é pior do que nada que citei. Se Bolsonaro não fosse ladrão, continuaria sendo
pior do que o pior corrupto do mundo. Por política nunca desfiz amizades.
Desfiz pela defesa de direitos humanos. A eleição de 2018 foi sobre isto. A
eleição 2022 será sobre isto. Qualquer outro assunto é perda de tempo. Coisa de
mau caráter querendo disfarçar o próprio mau caratismo. Assim como em 2018, a eleição não será sobre esquerda e direita. Será sobre humanidade e barbárie.<o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-48361431892178786632022-01-14T09:14:00.004-03:002022-01-14T09:14:54.114-03:00O juiz e o Exército<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhBF9MJe07E0eHJKyVeNeooGd0sxy4nX-0pjvXjVE5UUAaMJEfa0C8rEZlPSGl2OVfwFvMKpqTAy25O4tFebZU8RhWkDqH-3ts3M5VfJwpUWhdaAPYVyxKORgIGG7AMDsi3xnJ_ziCTdiRqRY5qtKhn1Sh3tDJodkY_7fUTB0k_iSfZyehUwE0SDKFp=s1076" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="760" data-original-width="1076" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhBF9MJe07E0eHJKyVeNeooGd0sxy4nX-0pjvXjVE5UUAaMJEfa0C8rEZlPSGl2OVfwFvMKpqTAy25O4tFebZU8RhWkDqH-3ts3M5VfJwpUWhdaAPYVyxKORgIGG7AMDsi3xnJ_ziCTdiRqRY5qtKhn1Sh3tDJodkY_7fUTB0k_iSfZyehUwE0SDKFp=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A vitória de Jair Bolsonaro em 2018
foi possível graças à união de duas forças retrógradas e fascistas, uma de
natureza militar, liderada pelo próprio ex-capitão, e outra vinda das primeiras
instâncias do Poder Judiciária, liderada por Sérgio Moro, ambas igualmente reacionárias
e autoritárias. Se nos anos 1960 estes dois grupos não tinham problema em
simplesmente dar um golpe, no novo século estas forças tentam dar uma aparência
de legalidade à tomada de poder. É necessário que haja eleições, mesmo que elas
sejam uma farsa. Coube a Moro o papel de impedir a candidatura de Lula,
candidato que venceria as eleições, e de manipular processos de forma a ajudar os
parceiros do projeto. Foi assim nas eleições estaduais de Rio de Janeiro,
Paraná e Goiás. Coube ao Exército o papel de ameaçar as instituições que
poderiam impedir que a farsa se concretizasse. Um país que aceita que um
militar ameace dar um golpe de Estado por Twitter já se rendeu. A aliança ficou
clara quando Moro aceitou tornar-se ministro da Justiça do governo que ajudou a
eleger. Em qualquer lugar sério, o fato de o juiz prender o primeiro colocado e
depois virar ministro do segundo já seria suficiente para que a fraude fosse denunciada.
Por aqui não foi. No fundo porque quem apoiou isto sempre soube o que estava
acontecendo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bolsonaro e Moro não se separaram por
diferenças de visão de mundo, mas sim por ambições pessoais. Moro não fico puto
porque Bolsonaro interveio na Polícia Federal, mas sim porque ele, Moro, não
conseguiu intervir. Disse diversas vezes que havia sido uma promessa do presidente
que as indicações da Polícia Federal seriam dele. Não tem nada a ver com
independência. Moro não era e não é contra a interferência do governo no órgão, desde que a interferência seja dele. Até sair do governo, Moro não mostrou nenhuma discordância em
relação ao rumo do governo durante a pandemia. Até elogiou o então chefe por comprar
cloroquina mais barata da Índia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A saída de Moro do governo poderia
levar a uma cisão na aliança entre militares e baixo clero do Judiciário. Não
levou, e isto me surpreendeu. O baixo clero do Judiciário não desembarcou do
governo junto com o ex-líder. É importante lembrar que este baixo clero do
Judiciário foi fundamental na desestabilização dos dois governos anteriores, de
Dilma e Temer. Os dois não conseguiam fazer nada, nem escolher ministros, que
ações na primeira instância travavam as nomeações. Bolsonaro segue até hoje
fazendo e acontecendo sem que nada aconteça na primeira instância. Um caso
emblemático deste apoio é a situação do ex-ministro Ricardo Salles, que deixou
o governo quando seus crimes eram investigados pelo Supremo porque sabe que na
primeira instância nada acontecerá.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O governo Bolsonaro, obviamente,
fracassou. Não tinha como dar certo. Colocar um maníaco, lunático e psicopata
que nunca escondeu sua psicopatia no poder não tinha como dar certo, afinal.
Junte-se à personalidade do presidente a maior pandemia dos últimos cem anos e
vivemos a maior tragédia da nossa geração enquanto o presidente passeava de jet
ski, corria atrás de ema, promovia aglomerações e festas, boicotava a vacina e
mentia. Mentia e mente muito e o tempo todo. Chegou ao governo assim e não tem razão
para mudar agora que está no topo. Uma parte dos aliados deste projeto, vendo a
possibilidade de derrota do projeto, resolveu desembarcar de Bolsonaro. E Moro
parece estar ganhando espaço entre os militares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vemos um número considerável de
militares de alta cúpula abandonando o presidente agora que o barco afunda.
Como ratos. Todos eles se apresentado como “exemplos de responsabilidade”
enquanto o governo que apoiaram segue cumprindo sua promessa de matar. A
cartinha de Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, surge neste contexto. Estes
militares estão entrando de cabeça na candidatura de Moro. General Santos Cruz,
um dos que ameaçou golpe de Estado se o STF revisse a prisão em segunda
instância em 2018, e ex-ministro do governo Bolsonaro, é um dos chefes de
campanha de Moro. Se Bolsonaro conseguiu manter o apoio na primeira instância
do Judiciário no divórcio em 2020, Moro agora avança entre os militares. Eles enxergam no ministro a chance de prosseguir no poder e de continuar o projeto, personalizando a tragédia em Bolsonaro. "Ele nos enganou", dizem estes dois grupos que apoiaram o candidato que prometeu matar ou expulsar opositores, entrar em guerra contra a Venezuela e que disse que a ditadura matou pouco, que deveria ter matado "uns 30 mil".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“A democracia é uma concessão do
Exército”. Assim pensa Bolsonaro. Assim pensa a cúpula do Exército. Eles acham
que estão fazendo um favor permitindo que a democracia exista. 2018 serviu para
mostrar que ela já não existe mais. Nenhuma democracia existe em um lugar em
que um militar ameaça um golpe de Estado e não é preso por isso. É importante
tem isto em mente na eleição de 2022. Ela não vai acabar com a eleição de Lula.
Os grupos de Bolsonaro e Moro não estarão dispostos a conceder. Esta turma não
voltará para o quartel. E isto exigirá uma mobilização do que restou de
democracia que não se resumirá ao dia da eleição e à festa na noite da vitória.
Exigirá um esforço de reconstrução. E se destruir foi fácil, a reconstrução
durará décadas. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bolsonaro era o plano A. Moro é o plano B. Esta turma pode até aceitar a posse de Lula. Mas estão desde já trabalhando no plano C.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-53803504032676189312022-01-12T10:52:00.002-03:002022-01-12T10:52:54.862-03:00Barra Torres, a Anvisa e as pessoas que não prestam<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEicpbUrIu1Uiw2T8a2kOp8ViIhDFogmJakdUF5jakycxE0S-CcAg8HJdnxPWC4tHRUjGT_yEyuUu9IX-YDtWOBA3fF-ncds6OWH61j7Nf8iMY01UKY8Crsiir0Ko2l0Jlm1o3PXSli7E9C3czjvCnfMnz6jIDZRgJ7cR_2zuvG5jD0mMNboWIT9Ni5s=s645" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="359" data-original-width="645" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEicpbUrIu1Uiw2T8a2kOp8ViIhDFogmJakdUF5jakycxE0S-CcAg8HJdnxPWC4tHRUjGT_yEyuUu9IX-YDtWOBA3fF-ncds6OWH61j7Nf8iMY01UKY8Crsiir0Ko2l0Jlm1o3PXSli7E9C3czjvCnfMnz6jIDZRgJ7cR_2zuvG5jD0mMNboWIT9Ni5s=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É importante ter uma coisa em mente.
Nenhuma pessoa que tenha aceitado participar do governo Bolsonaro em qualquer
momento presta. Bolsonaro foi um deputado de trabalho quase nulo e insignificante
durante 28 anos de mandato, ganhou fama participando de programas de subcelebridade
e de humor, que deram espaço para seu lunatismo em troca de audiência. Chegou
ao poder graças a um processo de destruição exercido por membros corruptos do
judiciário aliados a setores da grande mídia dispostos a tudo para evitar que a
esquerda continuasse no poder. Seus momentos de maior “destaque” em sua
carreira político estão sempre ligados a manifestação de algum preconceito.
Negros, mulheres, movimentos sociais e principalmente gays. Disse que crianças
gays deveriam apanhar, que preferia um filho morto a um filho gay. Disse que o
maior erro da ditadura foi “matar pouco”. Em sua campanha presidencial,
prometeu matar ou expulsar do país os seus opositores. Também prometeu entrar em
guerra contra um país vizinho que nada nos fez e tirar o Brasil da ONU. Repetindo,
qualquer pessoa que tenha aceitado trabalhar em um governo que tenha sido
eleito com estas propostas não presta. Qualquer pessoa com acesso à informação
que não tenha feito oposição a este governo desde o dia em que ele foi eleito deve
ser vista com desconfiança. O horror não começou com a pandemia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antônio Barra Torres, presidente da
Anvisa, é um picareta. Mesmo que tivesse presidido a Anvisa com técnica e
competência, seria um picareta. Pelo simples fato de ter feito parte deste
governo. Ele é almirante e foi um dos muitos militares incompetentes e
inexperientes na gestão pública a assumir um cargo relevante. Sua gestão na
Anvisa foi marcada pela liberação de um número nunca antes visto de agrotóxicos
e pela burocracia na liberação (ou não de vacinas), na maior parte das vezes
agradando Jair Bolsonaro. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A Anvisa fez tudo que pode para não
liberar ou atrasar a Coronavac. Se não fosse a ação dura e correta do
governador de São Paulo, João Doria Jr., e a pressão intensa da sociedade, a liberação
da vacina possivelmente não teria acontecido. Se não fosse a Coronavac,
estaríamos hoje ainda mais fodidos do que já estamos. Bolsonaro só aceitou
comprar as outras vacinas quando Doria começou a vacinar com a Coronavac em SP
e quando Lula voltou a ter direitos políticos. Até agora, a Anvisa não liberou
a mesma vacina, a única que pode ser produzida em território nacional, para
aplicação em crianças. Argumentos burocráticos. Mesmos argumentos que foram
usados para não liberar a Sputnik, vacina usada em boa parte da América Latina
e que já havia sido negociada pelos governadores do Nordeste, todos adversários
do presidente. Muitas vidas teriam sido salvas se a Anvisa tivesse liberado o medicamento.
A ideia de que a Anvisa trabalhou bem nas vacinas durante a pandemia é uma
falácia. Na maior parte do tempo foi aliada de Bolsonaro no processo de criação
de entraves na vacinação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em março de 2020, pandemia começando,
Bolsonaro fazendo merda, lá estava Barra Torres participando de manifestação
com o presidente. Ambos sem máscara. Festejando a tragédia que se anunciava.
Pessoas como Barra Torres não estão acostumadas a cobranças pelo que fazem.
Elas são muitas. As “enganadas”. As que dizem que votaram em Bolsonaro porque
achavam que ele era “diferente”. Diferente sem dúvida ele é. Nada é mais
diferente do que correr atrás de uma ema com um remédio que não tem eficácia
durante uma pandemia. Nada é mais diferente do que boicotar a vacinação
infantil. Nada é mais diferente do que gravar vídeo caçoando de pessoas sem ar
no ápice da tragédia. Barra Torres e os imbecis que queriam alguém “diferente”
para “acabar com tudo isto daí” tiveram a missão duplamente cumprida. Ele é
diferente e acabou com tudo. Não sobrou nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma parte da cúpula do Exército,
vendo o barco afundar, resolveu cair fora. Estão tentando embarcar na
candidatura de Sérgio Moro, maior responsável pela eleição de Bolsonaro. Nada
mais natural do que isto. Personalizar a tragédia em Bolsonaro e governar sem
ele. Gente que tem o autoritarismo na veia. A aliança jurídico-militar. O juiz
que prendeu o primeiro colocado e se tornou ministro do segundo, junto com os
generais que ameaçaram dar um golpe de Estado caso o Supremo não mantivesse a
decisão. Um bolsonarismo sem Bolsonaro. A cartinha de Barra Torres nada tem a
ver com divergências com Bolsonaro. Tem a ver com um movimento político. Assim como o seu processo de "beatificação". Movimento de gente que em 2018 estava na rua celebrando a tragédia que
começava. Gente que não acha que estava errada. Gente que não presta.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-35624108658037523732022-01-09T19:35:00.001-03:002022-01-09T19:35:19.124-03:00A Reforma Trabalhista foi uma bosta<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcvuLzPCV3jzy6Bbx-E2Q_R2Kyp1Ylh9nCAXvDoM1kYx12xaFeioFs1E9Opyyjq5pjlWehJMZhLXbd35qyymhNu4yA7VIZks0A1HT4tCpDpVW7JPnk_spVhchC1YZdZ5XR0F3o2nKc7wTRMZbNR5DDJSaHpD4WeQSUez8uT3mnT1df07uAXiNr271N=s891" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="501" data-original-width="891" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcvuLzPCV3jzy6Bbx-E2Q_R2Kyp1Ylh9nCAXvDoM1kYx12xaFeioFs1E9Opyyjq5pjlWehJMZhLXbd35qyymhNu4yA7VIZks0A1HT4tCpDpVW7JPnk_spVhchC1YZdZ5XR0F3o2nKc7wTRMZbNR5DDJSaHpD4WeQSUez8uT3mnT1df07uAXiNr271N=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É muito fácil encontrar uma pessoa e
responsabilizá-la por todas as nossas mazelas. Jair Bolsonaro é a pior pessoa
do mundo, mas é fruto de uma sociedade doente, uma sociedade em que mais da
metade dos eleitores topou ser cúmplice de um projeto de governo lunático e
assassino. Mais do que isto, uma sociedade que fez tudo que pôde para permitir
que esta pessoa chegasse ao poder, prendendo num processo completamente fajuto
aquele que impediria este maníaco de chegar ao poder. Sim, a prisão de Lula
custou vidas. Bolsonaro é sem dúvida o maior responsável pelo fracasso
brasileiro na contenção da Covid. Fez o inferno para atrapalhar qualquer medida
que impedisse a propagação do vírus e salvasse vidas. Boicotou as medidas de distanciamento
social, incentivou aglomerações, atrasou o máximo que pôde o pagamento do auxílio
que permitiria aos autônomos fazer algum tipo quarentena por algum período com alguma
estabilidade financeira, caçoou dos doentes, atrapalhou a compra de vacinas,
espalhou notícias falsas sobre as mesmas, incentivou o uso de um remédio
ineficaz. Fez o diabo e não foi afastado. Em qualquer país minimamente decente,
a classe política e a sociedade teriam se unido para tirar este maníaco do
poder quando ficasse claro que a sua loucura significaria a morte de milhares
de pessoas. Mas o país que fez impeachment por causa de um Fiat Elba e que inventou
um crime chamado “pedalada fiscal” foi incapaz de realizar este impeachment.
Como dito, Bolsonaro é fruto de uma sociedade doente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isto dito, uma outra causa
importantíssima do nosso fracasso em salvar vidas foi a precariedade do
trabalho. Quase a metade da população ativa brasileira trabalha na informalidade
(40,6%). Temos um sistema de proteção social montado para proteger apenas os
trabalhadores formais. Previdência, seguro-desemprego e auxílio-doença, apenas
quem tem carteira assinada tem estes direitos. Estes 40,6% inicialmente tiveram
sua renda reduzida basicamente a zero no começo da pandemia e a um pouco mais
de metade de um salário mínimo após o auxílio emergencial que chegou atrasado.
R$ 600 ou R$ 1200 ajudaram, mas não dá para um pai ou para uma mãe de família ficar
em casa com este valor. Uma lição que a sociedade deveria retirar disto é que
precisamos urgentemente trazer esta multidão para o sistema de proteção social,
e isto se faz expandindo-o para os sem carteira assinada ou incentivando a
contratação com carteira assinada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes de falar mal desta bosta de Reforma,
é importante dizer que a precarização do trabalho não é fruto da Reforma
Trabalhista. Sempre fomos um lugar de trabalho precarizado. Não há nada mais
insano do ponto de vista lógico, por exemplo, do que esta maluquice de MEI. Pare
para pensar, por favor. Uma pessoa se cadastra como uma empresa, tendo a si
mesma como proprietária e única funcionária, trabalha muitas vezes para uma
única empresa e é tratada como uma fornecedora, e não como uma trabalhadora. A
relação trabalhador x empresa se transforma em uma relação empresa x empresa, e
o trabalhador-empresa que jogou pela janela todos os seus direitos em nome
disto é enganado pela ideia de que vai pagar menos imposto. Se você acredita
realmente que ter MEI é melhor para você, você está sendo enganado.
Simplesmente não é. Chegamos ao ponto em que empresas simplesmente não aceitam
mais contratar trabalhadores sem que eles sejam MEI. A MEI que ficou em casa
durante a pandemia faliu. E o ministro da Fazenda maníaco do governo maníaco
disse que não ia fazer nada para ajudar pequenas empresas porque elas não geram
emprego. Vai se foder. O Brasil passou anos estimulando a ideia de que o
trabalhador deve ser individualizado e qualquer tipo de união entre eles foi
demonizada. Os sindicatos foram basicamente demolidos. Uma boa parte dos
trabalhadores, os de classe média principalmente, foram convencidos da ideia de
que qualquer dinheiro que seja gasto por alguma coletividade era roubo. Taxa
sindical e imposto. Ele foi acostumado a lutar por si e se afastar destas
coisas. Foi despolitizado. O grande problema da Reforma de 2017, fora o fato de
que ela foi feita por um governo sem legitimidade e por um vice que foi eleito
numa chapa que prometera o contrário, foi que com ela o Estado deu um gigante
passo para reconhecer que esta realidade é “moderna” e que o problema não está
na ausência de direitos trabalhistas deste mundo de pessoas, mas nos direitos
daqueles que os têm. Não só nada é feito para incluir aqueles que não têm
direitos como parte do sistema de proteção social, como ainda estimula que mais
pessoas saiam deste sistema. Incentivou terceirização e prometeu empregos fictícios
enquanto facilitou e barateou as demissões. Os empregos não vieram, o crescimento
não veio, e isto me parece meio óbvio. O país não vai crescer tornando a vida
das pessoas uma bosta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não gosto de dizer que deveríamos
tirar um ensinamento da pandemia. Acho que às vezes isto acaba servindo para
romantizar a tragédia. Mas é fato que a pandemia deveria ter servido para
mostrar que nenhum ser humano é uma ilha. A saída para a pandemia era, e ainda
é, coletiva. Não adiantava (e não adianta) apenas você ficar em casa do mesmo
jeito que não adianta apenas você tomar vacina. É necessário que todos façam a
sua parte para que a solução seja alcançada. Não há sucesso individual, apenas
coletivo. Não adianta se fechar numa porra de um condomínio, morar no último
andar, colocar 5 trancas na porta, contratar seguranças armados, viajar duas
vezes por ano, pagar um plano de saúde, trocar de carro uma vez por ano, pôr o
filho para aprender inglês. Uma hora a conta pelo seu egoísmo vai chegar. E vai
chegar na forma de medo. E vai chegar na forma de demissão e falência. Vai
chegar na forma de violência. Sua vida não ficará melhor enquanto você não
pensar no coletivo e não entender que este individualismo nos leva a barbárie. A
pandemia não vai acabar com você ficando em casa, mas com o garoto precarizado
rodando a cidade de bicicleta para trazer o seu hambúrguer. A sociedade não vai
melhorar enquanto este garoto não estiver recebendo o suficiente para ter uma
vida decente e tendo um Estado que garanta a sua proteção caso algo o impeça de
trabalhar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vivemos em uma sociedade em que o
último presidente eleito recebeu mais de 50% dos votos prometendo prender e
matar oponentes. Pessoas que votam em alguém assim perderam qualquer capacidade
de enxergar o outro, e por isto é fundamental restabelecer os laços de
comunidade. E o mundo do trabalho é um dos focos disto. O outro trabalhador
deve ser visto como colega e não como concorrente. O coletivo precisa estar
preparado para ajudar os mais carentes e falhamos fortemente nesta missão
durante a pandemia. Uma possível revogação da Reforma Trabalhista seria um
passo fundamental para iniciar uma nova era no Brasil. Um país que precisa ser reconciliado
e reconstruído. O Brasil precisa de paz, e a paz só é obtida compartilhando. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E na boa, a Reforma foi uma bosta.
Está tudo uma bosta. Se você acha que ela foi um avanço, na boa, não foi avanço
porra nenhuma. Acorda e olha para o que está ao seu redor. <o:p></o:p></span></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-31542278200737889362022-01-06T09:53:00.001-03:002022-01-06T09:53:39.860-03:00Djokovic e Austrália: O imbecil e a truculência<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJHYsZbfqzHFoRpyMU1IXhpXP1Ixfis3sdRd_O5wqeaQTBWjaniwaSmrx3MOpWRuhDWSfWtOPj8ngPkNa-WvXCBMSfK6BJNjDWkZkqTepFAlEkT3d2aX23RkvuCac9_dv2ccjQLN6xl73jNLJaZjSR0lKWYY58EZuYkEJpsk73Lrwb_oDSXOKOVLnX=s512" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="512" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgJHYsZbfqzHFoRpyMU1IXhpXP1Ixfis3sdRd_O5wqeaQTBWjaniwaSmrx3MOpWRuhDWSfWtOPj8ngPkNa-WvXCBMSfK6BJNjDWkZkqTepFAlEkT3d2aX23RkvuCac9_dv2ccjQLN6xl73jNLJaZjSR0lKWYY58EZuYkEJpsk73Lrwb_oDSXOKOVLnX=s320" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Novak
Djokovic é um imbecil. Esta é a causa inicial da confusão que o deixou preso em
um aeroporto na Austrália. Todas as pessoas que estão se recusando a tomar a
vacina por um motivo que não seja muito sério são imbecis. Todas. E “não querer”
não é um motivo sério. São pessoas que estão colocando em risco a saúde pública
por egoísmo e ignorância. E quando a gente fala de Djokovic, a gente fala de
bastante ignorância. A esposa do tenista, Jelena, foi bloqueada por alguns dias
no Instagram no começo da pandemia por compartilhar um vídeo que dizia que a
Covid era transmitida pela rede 5G. Djokovic não é responsável pelo que a esposa
posta, claro, mas sua atitudes durante a pandemia mostram que é bem provável que
ele compartilhe este tipo de maluquice. É um grau muito elevado de tosquice. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Djokovic
é um tipo específico e perigoso de idiota: o idiota bem-sucedido. Djokovic é
possivelmente o melhor tenista de todos os tempos. O maior campeão da
modalidade, mobiliza uma multidão de fãs por onde vai. Isto significa que muito
provavelmente Djokovic não deve ouvir um não na vida desde os 18 anos. Pessoas
bem-sucedidas normalmente se cercam de pessoas que aplaudem tudo que elas fazem,
e quando esta pessoa é idiota ela normalmente se cerca de idiotas. Estas
pessoas idiotas provavelmente aplaudiram a ideia idiota do idiota do Djokovic
de organizar um torneio idiota durante a primeira onda da pandemia. E quando a
gente fala de uma pessoa bem-sucedida e idiota, um dos maiores problemas é que
ela acha que o fato de ser bem-sucedida é uma prova clara de que ela não é
idiota. O dinheiro e a fama trazem tudo que ele quer, portanto se ele quer ficar
sem tomar vacina, ele acha que pode.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dentre
as muitas coisas que me incomodam muito na pessoas que são anti-vacinas é a
forma como elas simplesmente não querem lidar com nenhuma consequência da sua
escolha. Não sei de nenhum país em que as pessoas estejam realmente sendo obrigadas
a tomar vacina. Talvez a China, mas não sei. Ninguém está sendo preso ou tendo
a casa invadida por não tomar vacina. Elas só estão, com razão, enfrentando
restrições. Num momento de pandemia, é totalmente racional que pessoas que
façam a escolha de não tomar a vacina sofram algumas restrições enquanto a
doença persistir. Primeiro pela falta de vontade de participar do esforço
coletivo para superá-la, e segundo pelo risco sanitário que ela representa. Não
quer tomar a vacina, então se isole enquanto a pandemia durar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isto
não tem nada a ver com o conceito real de liberdade. Liberdade é uma conquista
coletiva. Se você acha que liberdade é fazer o que você quer e quando quer
enquanto outra pessoa está se fodendo porque você faz isto, você está errado. Isto
não é liberdade, é privilégio. Não há liberdade real enquanto a sua suposta “liberdade”
individual foi possível graças a exploração e opressão de outras pessoas. Você
não está curtindo sua liberdade quando vai fazer curso em Amsterdã pago pelo
pai enquanto sua família paga uma miséria à sua empregada doméstica. Você está
curtindo seu privilégio. A liberdade real só existe quando obtida por todos e
para todos e é uma luta constante de todos. A ideia atual de liberdade está
muito ligada a comércio e à realização de vontade. “Você é livre porque compra
o quer e faz o que quer”. Não. Quando você compra uma roupa barata feita por
mão-de-obra escrava você não está sendo livre porque escolheu comprar aquela roupa,
você está sendo um instrumento de opressão. Liberdade não é olhar apenas para o
próprio umbigo. É pensar nas consequências coletivas de suas escolhas. É meter
uma vacina no braço quando a sociedade precisa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isto
dito, o governo da Austrália está agindo de forma babaca. A Austrália tem toda
a razão, toda toda, toda memo, ao exigir que apenas pessoas vacinadas entrem em
seu país. É o que países governados por gente minimamente decente fazem. Porém
a Austrália LIBEROU a entrada de Djokovic. Ele só entrou no avião quando a
liberação foi dada. A decisão do governo australiano gerou mal-estar, óbvio, e
só depois disso é que Djokovic foi barrado no aeroporto por um suposto problema
no visto. Um problema que provavelmente não existe, porque ninguém diz ao certo
qual é. Djokovic conseguiu a liberação para entrar através de uma regra de exceção,
sem que ninguém também explicasse em qual ponto desta regra ele entrou. Ser um
idiota bem-sucedido, talvez. Mas o certo é que a liberação aconteceu e pará-lo
no aeroporto fazendo publicidade política disto é um ato de truculência. Se aceitaram
a ida dele, que aceitem a entrada e lidem com a consequência ao invés de fazer
este show patético agora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
um certo populismo que se alimenta de duas coisas. A primeira é a truculência contra
pessoas ricas, que muitas vezes serve para justificar as ações cometidas
diariamente contra pessoas pobres. Aqui no Brasil, muitas vezes analistas
aplaudiam a Lava-Jato porque “pela primeira vez víamos pessoas ricas presas no
Brasil”. Não se importavam com a truculência das ações e com as inúmeras e
claras arbitrariedades cometidas pela operação. Ao invés de buscarmos uma
sociedade mais humana, passamos a aplaudir a expansão da desumanidade e
aplaudíamos cada vez que Sérgio Cabral era humilhado por juízes justiceiros. A porta
do horror se abriu. Uma segunda é a truculência com estrangeiros, com pessoas
que vem achando que “aqui é bagunça”. Vimos isto aqui no Brasil na ação da
Anvisa em Brasil x Argentina, quando a agência parou a partida porque quatro jogadores
argentinos estariam no país irregularmente, quando teve todas as oportunidades
de resolver o assunto antes da partida e impedir o circo. Até hoje a Anvisa não
apresentou os supostos documentos falsificados dos argentinos, mas ninguém foi
atrás disso. Ninguém quer ir atrás ou impedir o circo. Pelo contrário, monta-se
tudo para realizar o circo. A Anvisa conseguiu ter sua ação transmitida ao vivo
em rede nacional e foi ovacionada pela sociedade sedenta por “justiça”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
primeiro-ministro da Austrália já se pronunciou em rede social dizendo que na
Austrália as regras servem para todos e aquilo que já sabemos. Está sendo
aplaudido. Todos estão errados. E normalmente quando todos estão errados, todos
acham que estão certos. Djokovic é um imbecil. O pior tipo de imbecil. Mas
neste caso está sendo vítima de truculência. O fato de sermos todos vítimas de
seu egoísmo e de sua ignorância não deveria permitir que fossemos favorável à
humilhação que ele está sofrendo. Até o maior dos imbecis deve ter algum
direito assegurado e não pode ser usado como brinquedo por um governo buscando
autopromoção. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-19191823013793321852022-01-03T15:41:00.001-03:002022-01-03T15:41:10.961-03:00O último ano<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjKm5uaOxfStV6fgtd8DcRzpig90LIDahyiPWjK8CsA2jv0GR938YLaZ5TSMwsYLRgiXPGgwCiCIzDQTbq1TlmnaSDXeXRPd4o2yTXnNH-4s1pyVxZ0g23hLM9zkCvYR0cpUqD2Vv51AzcYXPOIoMxDw9umFqokPN1yx-KF0LwoLA8q1vRa5mD23ciF=s299" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="299" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjKm5uaOxfStV6fgtd8DcRzpig90LIDahyiPWjK8CsA2jv0GR938YLaZ5TSMwsYLRgiXPGgwCiCIzDQTbq1TlmnaSDXeXRPd4o2yTXnNH-4s1pyVxZ0g23hLM9zkCvYR0cpUqD2Vv51AzcYXPOIoMxDw9umFqokPN1yx-KF0LwoLA8q1vRa5mD23ciF" width="299" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
último ano chegou. Pelo menos não consigo imaginar uma situação diferente. Uma
vez tentei imaginar como será se eu acordar na última segunda de outubro e descobrir
que isto vai continuar. Não vai. Não é possível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
Brasil passou desde 2016 por um processo de auto implosão que eu sinceramente <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não conheço igual. Era inimaginável. Tá, houve
sim papel americano na Lava Jato. Mas todo o processo de destruição foi
praticado por agentes nacionais. Foi a grande mídia nacional, o Judiciário nacional,
a classe média nacional e, principalmente, o eleitorado nacional. Não conheço
nenhum caso em que uma pessoa tão abjeta como Bolsonaro tenha chegado ao poder
com mais da metade dos votos da população. Foi o Brasil que fodeu o Brasil. Ok,
houve toda a fraude para tirar Lula do páreo, mas ok, mesmo assim, é
inacreditável que a saída de uma pessoa do processo tenha sido suficiente para
que a pior pessoa do mundo se tornasse presidente. Nos últimos seis anos assistimos
a destruição do sistema democrático, de quase todo o aparato público, da
proteção social, da presunção de inocência, do direito à defesa, do sentimento
de sociedade. Sim, porque uma sociedade que escolhe um candidato que ameaça
matar ou expulsar seus opositores não existe mais. Uma sociedade que não tira
do poder uma pessoa que caçoa das vítimas da maior tragédia da geração não
existe mais. Uma sociedade que sucumbiu, em que a relação com o outro não é
marcada pela empatia e pela solidariedade, mas pelo medo e pela desconfiança. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">01/01/23
será um dia de festa. Mas não se engane, o que acontecerá neste ano de 22 é
algo inimaginável. Com base em antecedentes históricos, podemos perceber que o
último ano de governos de pessoas como Bolsonaro costumam ser o pior. O que
será pior do que o que vivemos desde 2016? Algo que ainda não sabemos. Mas
quanto mais Bolsonaro e sua turma perceberem que a casa deles está caindo, maiores
serão as loucuras e maiores serão as radicalizações? O que é mais radical do
que atrapalhar vacinação de criança? Não sei. Bolsonaro joga com o inimaginável.
Ele é o “diferente”. Será o “diferente” até o fim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">2022
será bem foda. Os dois nomes de 2016 farão o possível para que o último ano não
seja o último ano. Vão fazer o possível para não perderem o que “conquistaram”.
Sim, eles veem o Brasil atual como fruto de uma “conquista”. Em algum momento o
juiz e o capitão vão se unir novamente. Falando de lei e de ordem. Falando de
prender e matar. Fustigando o caos. Dê uma olhada na rede social do juiz. É
apenas caos disfarçado por slogans de algum marqueteiro especialista em autoajuda.
Tentarão repetir 2018. Mas desta vez vão perder. E se esta turma só soube
semear o caos enquanto estava ganhando, você vai ver o que farão quando perderem.
Imagine o que serão os dois meses entre a vitória e a posse do Lula? Com
Bolsonaro presidente... Não dá para imaginar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
reconstrução exige paz. E a paz não se faz conversando com os amigos, e sim com
os adversários. O metalúrgico e o médico entenderam isto. Quando duas pessoas
minimamente civilizadas, dá para imaginar o que vai acontecer. A reconstrução
passa por este gesto. Mas até lá, teremos que viver o último ano do Horror. E
ele será mais horroroso do que nunca. Inimaginável até para quem o viveu até
agora. 2023 será o ano da paz. Mas 2022 será o último da guerra. O pior.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8664466793243634430.post-50396399583999432162021-12-21T14:46:00.001-03:002021-12-21T14:46:49.346-03:00Ronaldo e Cruzeiro: a conta que não fecha e os outros 10%<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw0TXJU1K5xVyh_SNZVqbgiWQyfZPH71eGKxx0iaDsgW_TsKmoPF9zx0cHTpKnSZlM6bmWMLAGTb2PvW2Ad7xK_l7aq44o5t0DYxrIQrZ8_NPDTameK51WihwGhQCeuyWO2q9xERbb3EA/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1200" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw0TXJU1K5xVyh_SNZVqbgiWQyfZPH71eGKxx0iaDsgW_TsKmoPF9zx0cHTpKnSZlM6bmWMLAGTb2PvW2Ad7xK_l7aq44o5t0DYxrIQrZ8_NPDTameK51WihwGhQCeuyWO2q9xERbb3EA/" width="240" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A cena do jovem Ronaldo jogando no
Cruzeiro aos 17 anos dá lugar ao consagrado e bem-sucedido Ronaldo comprando o
seu clube de origem 27 anos depois é comovente. Exemplo de como o mundo dá
voltas. E eu confesso que sempre me comovo com essas histórias de gente que sai
da pobreza e prospera. A história é tão linda, mas tão linda, que praticamente
nos impede de ver que nada neste lance de Ronaldo comprar o Cruzeiro faz
sentido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ronaldo pagou R$ 400 milhões por 90%
do Cruzeiro. Pagou para quem? Esta é apenas a primeira pergunta sem resposta. Uma
semana antes desta venda do sujeito indeterminado para Ronaldo, o Cruzeiro
havia sido transformado em SAF, Sociedade Anônima do Futebol. Que porra é essa?
Até pesquisei. Quem quiser a explicação técnica, é só dar um Google. Mas no
fundo não passa de mais um dos muitos trambiques de gente rica querendo evitar
imposto. O Cruzeiro passou a ser um Cruzeiro SAF e alguns dias depois foi
vendido para Ronaldo por estes R$ 400 milhões. Ninguém tem muito interesse em
saber quem vendeu. O dono da XP participou da negociação (se é que ela houve) e
ficou animado com o negócio, disse que ele é apenas o primeiro e já disse que o
Botafogo será o próximo time a ser transformado em SAF. Como ele sabe disso? Por
que exatamente a XP está participando disto? Ninguém sabe. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ronaldo tem, segundo o Deus-Google,
uma fortuna estimada em R$ 800 milhões. Grana que para mim parece ser algo
infinito. Gastou metade desta fortuna para comprar 90% da Cruzeiro SAF. Se isto
é muito ou não, não sei. Há alguns sonhos que não tem preço, não sei o quanto
comprar o clube que o revelou representa para Ronaldo. Os R$ 400 milhões que
sobraram continuam sendo grana infinita. Não é aí que a conta não fecha, mas
sim no que vem depois. Ronaldo usou para comprar a Cruzeiro SAF uma empresa sua
sediada na Espanha chamada Tara Sports, que possui um patrimônio declarado de
R$ 120 milhões. Como que uma empresa de R$ 120 milhões compra uma outra de R$
400 milhões? Mais do que isto, Ronaldo assumiu com a Cruzeiro SAF uma dívida de
R$ 1 bilhão que ele deve pagar em 10 anos. Como uma pessoa que tem agora R$ 400
milhões vai pagar R$ 1 bilhão em 10 anos? É muito dinheiro infinito em contas
que não fecham. A XP entende disto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A compra do Cruzeiro por Ronaldo foi o assunto
da semana, quase sem nenhum tipo de questionamento. Inventou-se até um carinho
especial de Ronaldo pelo clube mineiro. Não lembro de já ter visto alguma
declaração carinhosa de Ronaldo em relação ao time que o revelou. Nunca o vi
num jogo do Cruzeiro e acho que as únicas vezes que ele voltou a Belo Horizonte
na vida foram em jogos da seleção em que ele jogou e no 7x1 que ele comentou
pela Globo. Clube ter dono é a nova ideia de modernidade. O grande exemplo é o
futebol inglês, tão amado pelos comentaristas de TV a cabo. Os clubes ingleses,
porém, não existem para dar lucro. Pelo contrário, eles querem é gastar. Boa
parte dos clubes ingleses têm como proprietários mafiosos bilionários jogando
dinheiro fora ou lavando dinheiro. Gente que gasta os R$ 400 milhões de Ronaldo
em uma festa. O Chelsea pertence ao milionário russo Roman Abramovich, que
enriqueceu com negócios ilícitos com o governo russo, comprando a preço de banana
empresas que eram públicas no fim da URSS e fugiu da Rússia quando descobriram
as mutretas. Sua fortuna é de R$ 60 bilhões. É infinito elevado a infinito. O
Manchester City pertence a um membro da família real dos Emirados Árabes
Unidos, este com R$ 130 bilhões. Infinito elevado a infinito vezes dois mais
dez. O Leicester é um clube mais tranquilo, pertence a uma família tailandesa
que controla lojas de duty-frees com fortuna de R$ 30 bilhões. Infinito
dividido por dois. É gente que basicamente quer brincar, torrar e lavar
dinheiro, ficar famoso e ganhar cidadania europeia. O Reino Unido concede
cidadania a qualquer estrangeiro que chegue disposto a investir R$ 8 milhões no
país. Quando chega um mafioso destes, concede cidadania e título de nobreza. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Esta maluquice se expandiu para
outros países. O Atlético de Madri basicamente pertence ao governo do Azerbaijão.
O PSG pertence a grupos ligados à monarquia do Qatar. Outros clubes optaram por
um caminho diferente, vendendo ações na Bolsa de Valores. Manchester United,
Liverpool e Borussia Dortmund são três exemplos. Este último, quando ia para
uma partida pelas quartas-de-final da Copa dos Campeões de 2017, foi vítima de
um ataque terrorista. O ônibus com seus jogadores foi atacado e as ações do clube
despencaram naquela tarde. No dia seguinte, o autor do ataque foi encontrado.
Era um russo que havia vendido ações do clube no dia anterior e queria recomprá-las
a um preço menor após o atentado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O torcedor brasileiro ainda é meio
refratário à ideia de clube ter dono. Digo ainda pois não me parece ser nada
que uma boa campanha de marketing não mude. Jornalistas chamando isto de
modernidade é o primeiro passo. Colocar figuras como Ronaldo como proprietário
é outra. Ganha mais simpatia do que se o clube fosse comprado por algum destes
picaretas do mercado financeiro. Pelo cara da XP, por exemplo, que
aparentemente está liderando o saldão de clubes. É possível que nos próximos
meses vejamos, sei lá, o Jairzinho comprando o Botafogo, o Renato Gaúcho
comprando o Grêmio, Neymar comprando o Santos etc. A conta não vai fechar. Mas
não importa se esta conta não fecha. Estes caras são só a embalagem. O sonho é ver futebol negociado na Bolsa de Valores. Imagine ver o Flamengo administrado como o Vale? O que vai ser quando a decisão do título brasileiro significar valorização ou desvalorização na Bolsa? Ou que uma zebra signifique gente ganhando ou perdendo muito de uma hora para a outra? Na cabeça desta turma, o mundo funciona desta forma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A lógica da transformação de clubes
em empresas é a mesma das privatizações. Você precariza, paga muita gente para
fazer publicidade negativa, depois apresenta esta operação como única solução. A
resposta para o que está acontecendo não está nos 90% de Ronaldo. Está nos 10%
dos outros. Os 10% da turma da XP.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>João G. Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/09093709442423815664noreply@blogger.com0