terça-feira, 6 de setembro de 2016

O PMDB TIROU DILMA, NÃO AS RUAS


Pensei em escrever um texto culpando a classe média trabalhadora por mais esse duro golpe na democracia brasileira. As pessoas que foram às ruas pedir pelo impeachment foram somente mais um instrumento para a pseudo legitimidade do impedimento da presidenta Rousseff.

Dilma tentou, com toda a sua inabilidade política, implodir o PMDB. Ela fez totalmente o oposto do que o seu antecessor que com o passar dos anos praticamente dividiu os poderes entre os dois partidos. Os indícios que Dilma desejava retirar o tumor do governo começaram em seu primeiro mandato, tanto que o PMDB cogitou não apoiar a reeleição caso não ganhasse mais ministérios.
Quem encheu as ruas nos protestos de 2015 foi a classe média trabalhadora. O argumento da esquerda de que as manifestações eram compostas de burgueses é fraco. As passeatas estavam recheadas de trabalhadores assalariados que possuem o pensamento do patrão, ao contrário do dinheiro.

O PMDB é de centro e até por isso dentro dele podemos encontrar todo tipo de ideologia. É um partido que hoje tende ao liberalismo econômico e ao enfraquecimento da CLT, atendendo aos desejos da indústria e em oposição aos interesses dos trabalhadores.
Se Dilma não tivesse tentado fragmentar a influência do PMDB no governo as ruas poderiam estar até agora bradando incansáveis, pois nada mudaria. É difícil classificar com a palavra “erro” qualquer tentativa de destruir um partido fisiologista como o PMDB, porém vou usar o termo e dizer quais foram os erros da presidenta que culminaram no impeachment.
Já no primeiro mandato, em 2011, a presidenta mudou o comando de Furnas, retirando de Dimas Toledo e repassando para Flávio Decat. É conhecido que Dimas era muito próximo a Eduardo Cunha, bem como que Flávio tem muito mais capacidade técnica para o cargo. A substituição foi excelente para a estatal e péssima para Dilma, que a partir desse fato ganhou o seu pior opositor.

Durante o primeiro mandato Dilma desagradou a cúpula do PMDB com as suas indicações ministeriais. As vagas do partido eram preenchidas por nomes que não tinham “cumplicidade” com a Câmara, irritando os parlamentares e criando o “BLOCÃO” de deputados insatisfeitos com o governo, chefiado por Eduardo Cunha.

Após as eleições Dilma decidiu que colocaria em prática o plano de destruição do PMDB e dessa vez ela não teria mais que pensar em apoio para a reeleição. O primeiro passo foi tentar emplacar um petista como presidente da Câmara. Arlindo Chinaglia perdeu feio para Eduardo Cunha. Dilma 0 x 1 PMDB.

O segundo passo foi a tentativa de refundação do PL. Mais uma vez o Planalto tentou ajudar Gilberto Kassab a criar um partido. Para o governo era a chance de “puxar” alguns parlamentares do PMDB e enfraquecer a sigla. Essa manobra alertou a cúpula do partido e Eduardo Cunha ganhou ainda mais liberdade na oposição. Acredito que ali o PMDB definiu o futuro da presidenta. O PL não foi fundado até hoje e Kassab  é ministro de Temer. Dilma 0 x 2 PMDB.

Dilma não governou em seu segundo mandato e o impeachment foi uma mera formalidade. O governo não tinha poder algum na Câmara e nada do que foi proposto para melhorar as condições econômicas passou. A política do “quanto pior melhor” foi posta em prática com maestria. Aumento do desemprego e retração do PIB é tudo o que a mídia precisa para cumprir o seu papel no golpe e convencer pessoas de que era preciso retirar o governo para que o país voltasse a andar. Dilma 0 x 3 PMDB.

Por fim o mês de dezembro de 2015. A última chance de Dilma evitar o impeachment era que o PT livrasse Eduardo Cunha do seu. O PT indicou o voto desfavorável a Cunha e o revide veio ligeiro.
Dilma e o PT ainda tinham esperança diante da fragmentação de poder no PMDB. O grupo de Temer é chefiado por Cunha, que é desafeto de Renan Calheiros. Mas o PMDB é realmente um câncer, sua vocação é sobreviver, o seu lema é vão-se os anéis e ficam os dedos. O PT não pôde contar com ninguém mais além de Requião e Kátia Abreu. Final de jogo.

Vemos aqui o que a classe média assalariada não quer enxergar. Não foram as ruas que tiraram Dilma, foi o PMDB. A antiga oposição foi convencida de que Michel Temer colocaria em pratica o plano de governo derrotado nas urnas em 2014 e as manifestações populares foram apenas a chancela de um golpe que todos enxergam e poucos discutem. A classe média assistiu a essa partida em que a democracia perdeu com um gol impedido, porém para o torcedor o que importa é a vitória e o sentimento de que roubado é mais gostoso. Estão cegos mais que pela falta de informação, mas pelo ódio.

Viveremos a partir de agora a era dos empresários. A aversão ao PT será o combustível para impulsionar todas as reformas previstas pelos industriais. A flexibilização das leis do trabalho é um nome bonito para a retirada da proteção dada ao trabalhador pela lei contra o maior poder econômico do empregador. Em período de desemprego vão deixar o empresário escolher quais os “direitos” o trabalhador terá, como se patrão e empregado pudessem sentar para conversar de igual para igual e discutir sobre férias, 13º, licença maternidade, salário, alimentação, etc.

Espero que a classe média acorde desse transe logo, mas pelo o que vejo o aprendizado virá apenas pela dor. Salários sucateados, aumento na carga horária e aposentadorias baixas são apenas alguns dos remédios amargos que teremos que tomar para que deixemos de abraçar patos de borracha na frente da FIESP.



Nenhum comentário:

Postar um comentário