De todas as discussões infantis que tomaram conta da sociedade paulistana neste início de gestão Doria, nenhuma delas supera em idiotice o "debate" sobre o que é ou não arte de rua. Uma quantidade quase infinita de pessoas está opinando sobre o assunto, na maioria das vezes simplesmente expressando chavões do tipo "pichação é vandalismo" e "estão destruindo o patrimônio público". Disposto a agradar uma classe média fanática por punições (exceto para infrações no trânsito, claro), o prefeito-show resolveu transformar pichadores em inimigos número 1 da administração pública, afinal, nada une mais do que um inimigo em comum praticamente indefensável. Pisou na bola um pouco, pois aparentemente não sabia que boa parte dessa classe média compra a ideia de grafitismo (que ela gosta de chamar de "arte de verdade"). Apagou o maior mural de grafite da América Latina na Avenida 23 de Maio, mas já corrigiu com mais uma ação de marketing a "custo zero" bancada pelo "benevolente" setor privado. Vai pôr um monte de planta onde antes havia este mural, para delírio desta maioria. A próxima é concentrar a arte de rua em locais fechados. Tirar a arte de rua da rua. É rir para não chorar...
Afinal, o que é arte? Arte é apenas talento ou é também contestação? Alguma arte hoje é capaz de contestar como a pichação? O que querem os pichadores, quem são e por que fazem isto? Aparentemente quase ninguém está interessado nisso. O que importa é a repetição de chavões, refletir e pensar exige um tempo e um hábito que boa parte da nossa classe média hoje não tem. No fundo, quase ninguém quer entender nada com nenhuma profundidade. Doria governa para estas pessoas e por isso sua popularidade está nas nuvens.
Berlim é tida como a principal cidade de arte de rua do mundo. Abaixo algumas fotos de lá. O que existe por lá é quase que uma integração entre pichação e grafitismo, sem frases do tipo "que os pichadores aprendam a ser artistas de verdade". Doria não seria eleito prefeito lá.
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