quarta-feira, 5 de abril de 2017

Sobre Doria, Bolsonaro e o autoritarismo


Há algo muito grave ocorrendo no Brasil. Mais sério do que crise econômica, desemprego ou até mesmo corrupção. O país vive uma verdadeira onda autoritária, que possui atualmente duas correntes. Há uma corrente mais truculenta, grosseira, representada por Jair Bolsonaro, e outra mais "refinada", bem entre aspas, composta principalmente por empresários, que querem expandir a forma tirânica com que conduzem suas empresas à esfera pública, e por jovens que usam uma definição pobre de meritocracia para justificar seus privilégios. Esta segunda corrente encontrou no prefeito de São Paulo, João Doria Jr., sua grande estrela. Doria e Bolsonaro se encontraram no último dia 31/03, aniversário do golpe militar, num evento festivo organizado pelas Forças Armadas. A data não foi coincidência, assim como a presença dos dois políticos. Eles disputam o mesmo tipo de eleitor e sabem disso. 
Primeiramente, falaremos sobre a corrente representada por Doria, "apolítico" em ascensão, cujo nome vem sendo cogitado para uma possível disputa presidencial. Como dito no parágrafo anterior, este tipo de autoritarismo tem origem empresarial, no gestor que sabe tudo e não aceita sugestão de subalternos. Quem sabe é ele e mais ninguém. A opinião de especialistas não importa, apenas o que o gestor acha. Não importa se todos os especialistas acreditam que a redução de velocidade nas marginais significa redução no número de mortos e aumento na velocidade da via. Doria acha que não. Não importa se os especialistas em urbanismo elogiam o plano diretor da gestão Haddad. Doria quer revê-lo. Não importa se estes mesmos especialistas acreditam que uma cidade moderna deve investir em ciclovias. Doria não gosta delas. Tudo com base em achismos. 
Em uma empresa, não há espaço para contestação nem debate. Por isso, Doria se esforça para humilhar e desacreditar todos aqueles que ousam discordar de sua gestão. "Vá para Curitiba" é o que diz o prefeito, seja para um folião no carnaval da Vila Madalena, um morador na entrega do Minha Casa Minha Vida, um cientista político renomado como André Singer ou uma empresa que faz uma propaganda que ele não gosta. Especialistas e debatedores não têm espaço na gestão empresarial autoritária, apenas bajuladores. Doria teve uma interessante ideia de criar uma espécie de talk show, transmitido no facebook, em que o prefeito aborda os problemas da cidade. Seria interessante ver o prefeito conversando sobre urbanismo com um urbanista, sobre política com um cientista político, sobre transporte público com um especialista no assunto, sobre arte com um artista etc. O que tivemos até o momento foram conversas circenses com Roger, Lobão, Marco Antônio Villa e José Luiz Datena. O autoritarismo empresarial não gosta de reflexão, afinal. Gosta de frases feitas e autoajuda. A gestão Doria apresentou um vergonhoso Plano de Metas com muito menos metas do que as gestões anteriores. O prefeito não ficou na Câmara dos Vereadores para debatê-lo por mais do que 30 minutos. Gestor não debate. Não à toa Doria atraiu o MBL, grupo de jovens de classe média fascistas com pouco apego à verdade e adeptos de táticas de intimidação, como ameaças àqueles que não compartilham suas ideias.
Sobre o autoritarismo truculento, é uma herança dos militares. Não há muito de novo nele. Bolsonaro foi convidado esta semana para uma "palestra" no clube Hebraica do Rio de Janeiro. No final deste texto, encontra-se alguns dos absurdos ditos pelo deputado apenas nesta palestra. É assustador imaginar que uma pessoa como Bolsonaro esteja atualmente em segundo lugar (empate técnico com Marina Silva) numa pesquisa para eleição presidencial. Mais assustador é ver que a opinião pública não enxerga que isto é um grave sintoma de psicopatia social e não trata o assunto com a devida seriedade. O prefeito da maior cidade do país aceitou participar de um evento com um cara destes. Cumprimentou-o, tirou fotos e não o mandou ir para Curitiba. O empresário se enxerga no fascista.
Abaixo, as frases de Bolsonaro na Hebraica. Lembro, ele está em segundo. Como disse um ex-deputado hoje preso por corrupção, parabenizado por Bolsonaro por ter guiado o processo farsesco de impeachment, "que Deus tenha misericórdia desta nação"...

Bolsonaro na Hebraica:


“Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher.”
“O pessoal aí embaixo (jovens de movimentos juvenis, torturados da ditadura militar, ativistas dos direitos humanos), eu chamo de cérebro de ovo cozido. Não adianta botar a galinha, que não vai sair pinto nenhum. Não sai nada daquele pessoal.”
“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais”.
“Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Não, porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual a essa raça que tá aí embaixo, ou como uma minoria que tá ruminando aqui do lado”
“Pedi prum assessor meu dar um pulo ali no bar, comprar um sanduíche de mortadela que eu vou jogar pela janela.”
“Se eu chegar lá não vai ter dinheiro pra ONG. Esses vagabundos vão ter que trabalhar. Pode ter certeza que se eu chegar lá (Presidência), no que depender de mim, todo mundo terá uma arma de fogo em casa, não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola."
“Tínhamos na presidência um energúmeno que são sabia contar até 10 porque não tinha um dedo”
“Se um idiota num debate comigo falar sobre misoginia, homofobia, racismo, baitolismo, eu não vou responder sobre isso”
“Eu não tenho nada a ver com homossexual. Se bigodudo quer dormir com careca, vai ser feliz.”

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