domingo, 16 de abril de 2017

Chegou a hora, macaquinha querida !


Antes de começar este texto, quero deixar bem claro que é sem dúvida o texto menos racional que já escrevi na minha vida. Não há espaço para razão quando o assunto é Ponte Preta. Se você não suporta textos emotivos e exagerados, pare por aqui.
Eu sabia muito pouco sobre a Ponte Preta quando comecei a me interessar pelo time. Foi num jogo contra o Cruzeiro em 1999, pelo Campeonato Brasileiro. Por algum motivo besta, sempre gostei muito de jogos em estádios em que a câmera treme quando sai um gol. Naquela época, isto acontecia com dois times, com a Ponte e com o Paysandu. Cada gol parecia um terremoto transmitido ao vivo. A Ponte, que disputava uma vaga no G8 para as quartas de final (saudade do mata-mata) perdia o tal jogo por 2x0. Fez dois gols em dois minutos, acho que aos 36 e aos 37 do segundo tempo, causando uma hecatombe no estádio. Lembro que rolou até da galera colocar fogo no estádio. O meu jogador favorito daquele time era o Régis Pitbull. Famoso depois por uma passagem desastrosa pelo Corinthians, em que fez uns 10 jogos sem marcar nenhum gol, eu cheguei a afirmar para um amigo meu que Régis era o melhor jogador do mundo naquela época. Eu gostava do estilo dele. Ele basicamente pegava a bola, olhava pro chão e saia em linha reta. Chegando na linha de fundo, chutava a bola pro meio da área, na maioria das vezes sem encontrar ninguém. Eu achava divertido. Umas duas semanas depois do jogo contra o Cruzeiro, a Ponte enfrentaria o São Paulo no Morumbi. Por algum motivo que hoje não lembro, a diretoria do São Paulo colocou o ingresso desse jogo a R$ 1,00 a arquibancada. Não lembro se o time estava ruim ou se tinha alguma coisa a ver com o rolo do Sandro Hiroshi. Só sei que um amigo meu são paulino me arrumou um ingresso para este jogo na torcida da Ponte e eu armei um esquema para ir. Era uma quinta-feira às 19:30. Eu nunca havia ido a um jogo sozinho e armei um esquema louco para ir sem que minha mãe e minha irmã soubessem. Elas nunca me deixariam, aos 15 anos, ir a um jogo sozinho, ainda mais na torcida adversária. Inventei uma festinha no prédio de um amigo que elas conheciam e fiquei torcendo para que elas não achassem estranho uma festa de adolescentes numa quinta-feira. Deu certo e lembro que peguei o Jardim Colombo, que passava na Praça da República, junto à torcida do São Paulo para ir ao jogo. Dei umas voltas e consegui achar o setor da torcida da Ponte, sem falar com ninguém por medo. Entrei atrasado e no momento em que consegui ver o estádio, o ídolo Régis Pitbull entrava na cara de Rogério para fazer o gol, o jogo estava 0x0. Já entrei pulando, mas Régis perdeu o gol mais feito da história do universo. O jogo terminaria 1x0 para o São Paulo, mas me recordo daquele dia que, não faço ideia até hoje de como, um torcedor pontepretano conseguiu entrar com um macaco de verdade para ver o jogo. E o pior é que o macaco assistia ao jogo, colocando a mão na boca cada vez que a Ponte era ameaçada e aplaudindo cada vez que a Ponte ia para o ataque. A Ponte chegaria nas quartas daquele mesmo campeonato, enfrentando o mesmo São Paulo. No primeiro jogo, a Ponte abriu 2x0, mas o SP virou para 3x2 com três gols do Marcelinho Paraíba. Nunca xinguei tanto um jogador na vida. Na partida seguinte, a Ponte ganhou em Campinas por 2x1, com um gol do Adrianinho aos 45 do segundo tempo, gerando uma nova hecatombe com direito a câmera tremendo. A Ponte perderia o terceiro jogo em casa, mas aquela série de jogos me marcou.
A Ponte Preta foi o primeiro clube de futebol da história do Brasil, fundada em 1900. Sofrendo forte preconceito por sua origem popular, era chamada de "time dos macacos" pelos rivais, devido à grande quantidade de negros entre a sua torcida. Foi um dos primeiros times do Brasil a aceitar negros no seu plantel e com o tempo a torcida acabou adotando a macaca como mascote, enfrentando de forma corajosa o forte racismo da época. A Ponte sempre esteve do lado certo da história. Transformou o que era símbolo de racismo em símbolo de resistência. No final dos anos 1940, uma união da torcida conseguiu construir, praticamente em forma de mutirão, o estádio que até hoje usa, Moisés Lucarelli. São paulinos costumam ter orgulho de um estádio construído graças a um governador biônico da ditadura militar. Palmeirenses costumam ter orgulho de um estádio que mais parece uma casa de eventos e cujo nome é de uma seguradora. Corintianos se orgulham de um estádio construído com dinheiro que não se sabe de onde veio. Nenhum deles tem uma história que chega tão perto da beleza da história da construção do estádio da Ponte, construído com tijolos doados pela torcida, com a mão-de-obra da mesma.
A história da Ponte é gloriosa, linda, time guerreiro e que sempre apostou na inclusão. Falta, porém, um detalhe, o título. Por mais que isto seja pouco perto do que a Ponte representa em paixão e história, fica esta lacuna. Lembro-me de ter ido à final da Ponte contra o Lanus pela Copa Sulamericana e poucas vezes senti tanta emoção na vida. Era muita gente com brilho nos olhos. Aquele foi o jogo mais importante da história do clube e a diretoria não cobrou ingresso de sócios torcedores, inclusive pagando o ônibus que os levaria até o Pacaembu. Uma derrota especialmente dolorosa foi em 1977 para o Corinthians, num jogo que todo pontepretano sabe que teve mutreta. Quarenta anos depois, a Ponte provavelmente terá sua chance de revanche. Nenhuma torcida merece tanto. Os chamados "grandes" de São Paulo são arrogantes quanto ao Estadual, dizem não ligar. Para os pontepretanos, seria um dia inesquecível. A torcida da Ponte ama o time de forma incondicional, sem esperar nada em troca. Não há torcida mais linda no Brasil. Chegou a hora desta torcida viver o seu sonho. São 117 anos de espera. Algo me diz que a hora chegou !

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