quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Fantástico Mundo de Nizan Guanaes




         Nizan Guanaes, dizem os entendidos, é um dos mais importantes publicitários do Brasil. Deve ser mesmo, não entendo do assunto para contrariar. Ele possui uma coluna quinzenal na Folha de São Paulo. E ela, ao menos para quem gosta de coisas trashs, como eu, é divertidíssima. Guanaes é possivelmente o pior colunista de jornal do Brasil. Absolutamente todos os textos que ele escreve são ruins e rasos. Faz bem para a autoestima de qualquer pessoa que goste de escrever ler os seus textos. Até eu me acho um escritor ao lê-lo. Esta semana, como um artista com sua obra mais importante, ele escreveu o seu pior texto. Uma verdadeira obra-prima às avessas. Ele tenta explicar o porquê as manifestações não devem ocorrer durante a Copa do Mundo. Se você ainda não teve a oportunidade de ler, o link está abaixo:
            A “magia” do texto começa, a meu ver, com o tom adotado por Guanaes. Ele nos conta exatamente como devemos agir, em nenhum momento nos convidando à reflexão. Tudo no texto é imperdível. Desde o título, exaltando o Brasil, passando pela introdução, em que as manifestações do ano passado são elogiadas, chegando à sua tese, em que ele diz que devemos ser alegres, pacíficos e passivos por um mês.
O Brasil é um país de origem escravista, com governos autoritários em boa parte de sua história. A sociedade, claro, sofre com resquícios disso, principalmente no que se refere à hierarquia. Chefes mandam, funcionários obedecem cegamente. A elite fala, o resto ouve. Guanaes, um homem de sucesso, respeitado e bajulado por todos, está acostumado a ensinar e mandar, a reles mortais como nós cabe o papel de ouvir, aprender, obedecer e bater palma. Não à toa tantas pessoas em busca de sucesso pagam fortunas por palestras motivacionais de pessoas de sucesso como ele. Do mesmo jeito que ele aceitou o papel de influenciador, os outros aceitam o papel de influenciados. Como um joguinho.
           Guanaes é publicitário e, como todo publicitário que se preze, tenta transformar tudo num produto para vendê-lo. Isto mostra que ele tem realmente vocação para a profissão. Para quem teve preguiça e não leu o texto, ele basicamente diz a nós, leitores revoltadinhos, que não façamos protestos durante a Copa do Mundo. Assim, mostraremos ao mundo um país feliz e agradável. Depois da Copa, com o mundo não mais nos olhando, o bicho pode pegar. Transformar o Brasil num produto, porém, não é algo tão fácil para nós quanto é para ele. Não sei nada da sua vida, mas muito provavelmente ele é do tipo que, por ano, passa 4 meses na Costa do Sauípe, 4 meses na Barra da Tijuca e os outros 4 meses em Miami. Para nós, o Brasil não é um produto, é a nossa casa. Nela vivemos, não estamos interessadas em vendê-la. Não podemos simplesmente esquecer nossas mazelas para que os outros achem que vivemos numa fantasia muito diferente da nossa realidade. Não temos saúde, transporte e educação, e temos que agir como tais para que o mundo veja. Se o mundo não gostar, foda-se.
          A agência de Guanaes lançou uma campanha publicitária como o nome #imaginanacopa. Publicitários antenados que são, só podiam começar a campanha com este hashtag. A base da campanha, cujo objetivo era vender alguma cerveja que não lembro o nome, era dizer que nossa bagunça era legal, que iríamos nos divertir muito durante o caos, a pegação iria rolar solta, muitas meninas viriam pedir um gole de nossa cerveja com olhares provocantes e o mundo ia achar tudo legal. Não deu certo. Vivemos esta bagunça e sabemos que ela é uma merda. Não venha nos dizer que trânsito é legal, porque não é. Pelo que leio, a publicidade está desesperada porque ganhará menos dinheiro nessa Copa do que esperavam. Estão putos. Sabemos como é, a maioria de nós convive a tempos com o fato de ganhar menos dinheiro do que achava que ganharia. A eles, tudo que tenho a dizer é, bem-vindo ao nosso mundo!
           Falando sobre os legados da Copa, ouso discordar do gênio. Para mim, há dois:
          1 )Ela serviu para mostrar a incapacidade de nossa classe política em realizar algo pensando no bem coletivo. Não apenas do PT, mas de todos. A Copa é responsabilidade de todos. Não se esqueçam da patética cena de Alckmin e Kassab comemorando a escolha de são Paulo como abertura do Mundial. Nem que Eduardo Campos decidiu construir um quarto estádio em Recife quando as três equipes da cidade o possuíam. Eles são incapazes de planejar qualquer coisa.
2) Somos um povo idiota e nada estimula mais nossa idiotice do que a paixão clubística. De todas as roubalheiras da Copa, as únicas defendidas por parcela da população são aquelas que beneficiaram algum clube. A Gaviões do Fiel impediu uma manifestação no Itaquerão, pois isto prejudicava o Corinthians. A torcida do Inter não aceita questionamentos ao dinheiro público investido na reforma do Beira-Rio sendo que o Grêmio estava construindo um estádio padrão-fifa no mesmo período. No país em que o interesse individual está sempre acima do interesse coletivo, o amor pelo clube está acima do amor pelo país. O meu prognóstico é que, a partir de agora, clubes de futebol serão usados com mais frequência por políticos corruptos. O patrocínio da Caixa para muitas equipes é um pequeno demonstrativo do que veremos nos próximos anos.
A população brasileira já perdeu com a Copa. Não só financeiramente, mas em entusiasmo. Nunca vi uma Copa com começo tão broxante quanto essa. Quanto a Nizan, peço que ele continue escrevendo sua coluna. E que se junte na nós quando sentir que está ganhando menos do que imaginava. E que se prepare para ano que vem. Em 2015, começaremos a pagar a conta. Ficará mais caro ir para Miami.