Nizan Guanaes, dizem os
entendidos, é um dos mais importantes publicitários do Brasil. Deve ser mesmo,
não entendo do assunto para contrariar. Ele possui uma coluna quinzenal na
Folha de São Paulo. E ela, ao menos para quem gosta de coisas trashs, como eu,
é divertidíssima. Guanaes é possivelmente o pior colunista de jornal do Brasil.
Absolutamente todos os textos que ele escreve são ruins e rasos. Faz bem para a
autoestima de qualquer pessoa que goste de escrever ler os seus textos. Até eu me acho um escritor ao lê-lo. Esta
semana, como um artista com sua obra mais importante, ele escreveu o seu pior
texto. Uma verdadeira obra-prima às avessas. Ele tenta explicar o porquê as
manifestações não devem ocorrer durante a Copa do Mundo. Se você ainda não teve
a oportunidade de ler, o link está abaixo:
A
“magia” do texto começa, a meu ver, com o tom adotado por Guanaes. Ele nos
conta exatamente como devemos agir, em nenhum momento nos convidando à
reflexão. Tudo no texto é imperdível. Desde o título, exaltando o Brasil, passando
pela introdução, em que as manifestações do ano passado são elogiadas, chegando
à sua tese, em que ele diz que devemos ser alegres, pacíficos e passivos por um
mês.
O Brasil é um
país de origem escravista, com governos autoritários em boa parte de sua
história. A sociedade, claro, sofre com resquícios disso, principalmente no que
se refere à hierarquia. Chefes mandam, funcionários obedecem cegamente. A elite
fala, o resto ouve. Guanaes, um homem de sucesso, respeitado e bajulado por
todos, está acostumado a ensinar e mandar, a reles mortais como nós cabe o
papel de ouvir, aprender, obedecer e bater palma. Não à toa tantas pessoas em
busca de sucesso pagam fortunas por palestras motivacionais de pessoas de
sucesso como ele. Do mesmo jeito que ele aceitou o papel de influenciador, os
outros aceitam o papel de influenciados. Como um joguinho.
Guanaes
é publicitário e, como todo publicitário que se preze, tenta transformar tudo
num produto para vendê-lo. Isto mostra que ele tem realmente vocação para a
profissão. Para quem teve preguiça e não leu o texto, ele basicamente diz a
nós, leitores revoltadinhos, que não façamos protestos durante a Copa do Mundo.
Assim, mostraremos ao mundo um país feliz e agradável. Depois da Copa, com o
mundo não mais nos olhando, o bicho pode pegar. Transformar o Brasil num produto,
porém, não é algo tão fácil para nós quanto é para ele. Não sei nada da sua
vida, mas muito provavelmente ele é do tipo que, por ano, passa 4 meses na
Costa do Sauípe, 4 meses na Barra da Tijuca e os outros 4 meses em Miami. Para
nós, o Brasil não é um produto, é a nossa casa. Nela vivemos, não estamos
interessadas em vendê-la. Não podemos simplesmente esquecer nossas mazelas para
que os outros achem que vivemos numa fantasia muito diferente da nossa
realidade. Não temos saúde, transporte e educação, e temos que agir como tais
para que o mundo veja. Se o mundo não gostar, foda-se.
A agência de
Guanaes lançou uma campanha publicitária como o nome #imaginanacopa.
Publicitários antenados que são, só podiam começar a campanha com este hashtag.
A base da campanha, cujo objetivo era vender alguma cerveja que não lembro o
nome, era dizer que nossa bagunça era legal, que iríamos nos divertir muito
durante o caos, a pegação iria rolar solta, muitas meninas viriam pedir um gole
de nossa cerveja com olhares provocantes e o mundo ia achar tudo legal. Não deu
certo. Vivemos esta bagunça e sabemos que ela é uma merda. Não venha nos dizer
que trânsito é legal, porque não é. Pelo que leio, a publicidade está desesperada
porque ganhará menos dinheiro nessa Copa do que esperavam. Estão putos. Sabemos
como é, a maioria de nós convive a tempos com o fato de ganhar menos dinheiro
do que achava que ganharia. A eles, tudo que tenho a dizer é, bem-vindo ao
nosso mundo!
Falando
sobre os legados da Copa, ouso discordar do gênio. Para mim, há dois:
1 )Ela serviu para mostrar a incapacidade de nossa classe política em realizar algo pensando no bem coletivo. Não apenas do PT, mas de todos. A Copa é responsabilidade de todos. Não se esqueçam da patética cena de Alckmin e Kassab comemorando a escolha de são Paulo como abertura do Mundial. Nem que Eduardo Campos decidiu construir um quarto estádio em Recife quando as três equipes da cidade o possuíam. Eles são incapazes de planejar qualquer coisa.
1 )Ela serviu para mostrar a incapacidade de nossa classe política em realizar algo pensando no bem coletivo. Não apenas do PT, mas de todos. A Copa é responsabilidade de todos. Não se esqueçam da patética cena de Alckmin e Kassab comemorando a escolha de são Paulo como abertura do Mundial. Nem que Eduardo Campos decidiu construir um quarto estádio em Recife quando as três equipes da cidade o possuíam. Eles são incapazes de planejar qualquer coisa.
2) Somos um
povo idiota e nada estimula mais nossa idiotice do que a paixão clubística. De
todas as roubalheiras da Copa, as únicas defendidas por parcela da população
são aquelas que beneficiaram algum clube. A Gaviões do Fiel impediu uma
manifestação no Itaquerão, pois isto prejudicava o Corinthians. A torcida do
Inter não aceita questionamentos ao dinheiro público investido na reforma do
Beira-Rio sendo que o Grêmio estava construindo um estádio padrão-fifa no mesmo
período. No país em que o interesse individual está sempre acima do interesse
coletivo, o amor pelo clube está acima do amor pelo país. O meu prognóstico é
que, a partir de agora, clubes de futebol serão usados com mais frequência por
políticos corruptos. O patrocínio da Caixa para muitas equipes é um pequeno
demonstrativo do que veremos nos próximos anos.
A população
brasileira já perdeu com a Copa. Não só financeiramente, mas em entusiasmo.
Nunca vi uma Copa com começo tão broxante quanto essa. Quanto a Nizan, peço que
ele continue escrevendo sua coluna. E que se junte na nós quando sentir que
está ganhando menos do que imaginava. E que se prepare para ano que vem. Em 2015,
começaremos a pagar a conta. Ficará mais caro ir para Miami.