O australiano Lleyton Hewitt fez
hoje o seu último jogo como profissional. Despediu-se em casa contra o espanhol
David Ferrer, na partida mais importante e emocionante do Aberto da Austrália
deste ano. Hewitt era o último grande nome ainda em atividade de uma curta era
deste esporte, aquela entre o fim do domínio de Pete Sampras e Andre Agassi e o
início da ascensão de Roger Federer e Rafael Nadal (e posteriormente de Novak
Djokovic).
Hewitt surgiu para o esporte
ainda adolescente, no torneio de Adelaide em 1998, um preparativo para o Aberto
da Austrália. Lá, antes mesmo de completar 17 anos, conquistou seu primeiro
torneio profissional, gerando forte comoção e atenção na mídia australiana, que
desde cedo percebeu o potencial do garoto. Chegou ao top 10 em 2000 e viveu o
ápice em 2001, quando conquistou seu primeiro Grand Slam e substituiu Gustavo
Kuerten como número um do mundo ao final da temporada. Muitos acreditavam estar
assistindo ao surgimento de um dos maiores tenistas de todos os tempos quando
Hewitt manteve seu domínio em 2002, vencendo Wimbledon e terminando novamente a
temporada na primeira posição do ranking. Com a aposentadoria de Sampras e o
declínio de Agassi, esperava-se naquele época que Hewitt e o americano Andy
Roddick formassem uma nova dinastia do tênis, que duraria possivelmente uma
década.
A partir de 2003, porém, surgiria
uma nova estrela no esporte, o suíço Roger Federer, que jogaria toda a geração
anterior numa espécie de ostracismo. Junto com Rafael Nadal, Federer jogou o
nível do tênis em outro patamar que Lleyton Hewitt nunca conseguiria alcançar.
O antes vitorioso australiano passou a conviver com vitórias esporádicas entre derrotas
rotineiras. Acostumado com a ideia de que colecionaria Grand Slams e seria um
dos, quem sabe, cinco maiores tenistas de todos os tempos, Hewitt ganhou seu
último Grand Slam em 2002 aos 21 anos, tentando nos 14 anos restantes, em vão,
alcançar o novo nível de jogo estabelecido por Federer e Nadal. Nenhum tenista
vencedor de Slam jogou por tanto tempo depois de sua última conquista.
Até 2003, Hewitt era
possivelmente um dos tenistas mais odiados do circuito. A sucessão de fracassos
e seu esforço para continuar jogando mesmo assim, porém, mudaram sua imagem
frente aos torcedores. Para pessoas como eu, que odiavam Hewitt na
adolescência, ele passou a ser quase um símbolo de nostalgia de uma época de
nossas vidas. Era como se as pessoas, acostumadas a vê-lo como o vilão que
gritava Come On na cara dos adversários derrotados, passassem a enxergá-lo como
o lutador que não desistia nunca frente a rivais superiores. Assistir Hewitt era como voltar no tempo. Com isto, Lleyton
perdia partidas, mas sua persistência fez com que ganhasse a admiração que
nunca teve dos fãs do esporte na época em que dominava o circuito.
O tênis neste curto período em que Hewitt brilhou, entre
2000 e 2003, estava longe de ter o nível de qualidade que possui hoje, mas era
mais equilibrado e, de certa forma, mais divertido. Em quatro temporadas, seis
tenistas foram número um no ranking: Andre Agassi, Marat Safin, Gustavo
Kuerten, Lleyton Hewitt, Juan Carlos Ferrero e Andy Roddick. Para que se tenha
uma ideia do equilíbrio que isto representava se compararmos com o que ocorre
hoje, nas 12 temporadas seguintes, apenas três tenistas alcançaram este posto,
Federer, Nadal e Djokovic. Com exceção de Andre Agassi, cujas glórias foram
vividas quase todas nos anos 1990, os outros cinco tenistas entraram em
decadência a partir da chegada de Federer e encerraram suas carreiras de forma
até certo ponto discretas. Hewitt foi o último. Suas últimas temporadas, porém,
não vão apagar seus feitos da juventude. Como dito, o fim de sua carreira marca
o final de uma era no tênis que não foi tão brilhante como a atual. Mas que foi
sem dúvida muito divertida. As conquistas e a personalidade do australiano serão inesquecíveis para os verdadeiros fãs do esporte.
Pedi a um amigo meu, torcedor
fanático de Lleyton Hewitt, que me listasse as cinco maiores partidas do
australiano. Juntei mais uma que acho que não poderia ficar fora.
1 ) Copa Davis 2003 – Semifinal –
Hewitt 3x2 Federer (5-7, 2-6, 7-6, 7-5, 6-1)
Federer não era ainda o monstro
que mudaria o esporte, mas já era o campeão de Wimbledon quando foi enfrentar
Hewitt na semifinal da Davis na Austrália. Abriu rapidamente 2x0 no placar
quando, numa reviravolta improvável, o australiano virou a partida de forma
espetacular. Seria a última vez que Hewitt, a base de gritos, dominaria o suíço
numa batalha mais mental do que física. O próprio Lleyton diz que esta foi a
maior vitória de sua carreira.
2 ) US Open 2001 – Final – Hewitt 3x0 Sampras (7-6,
6-1, 6-1)
Pete Sampras já não era o tenista
que dominou o Esporte nos anos 1990, mas ainda era capaz de chegar a uma final
de Grand Slam. Apoiado pela torcida nova-iorquina, foi massacrado pelo jovem
Hewitt na final, sofrendo possivelmente a derrota mais constrangedora de sua
carreira. Hewitt era neste momento visto como o tenista que dominaria o esporte
nos anos seguintes e poucos imaginavam que aquele seu primeiro Grand Slam seria
apenas um de dois.
3 ) Copa Davis 2001 – Quartas de
Final – Hewitt 3x0 Kuerten (7-6, 6-3, 7-6)
Gustavo Kuerten era número um do
mundo e dominava como poucos a temporada de saibro quando o Brasil enfrentou a
Austrália em Florianópolis em 2001. Os brasileiros prepararam uma quadra
lentíssima, esperando que o talento de Guga no saibro os levasse à semifinal.
Hewitt, porém, assombraria todos, chegando a uma performance inimaginável no
saibro naquele final de semana. Jogando no tipo de piso que menos gostava,
Hewitt dominou o rei do saibro da época, levando a Austrália à final daquele
ano, em que seriam derrotados em casa de forma traumática para a França.
4 ) Aberto da Austrália 2008 – 3ª
Rodada – Hewitt 3x2 Baghdatis (4-6, 7-5, 7-5, 6-7, 6-3)
Numa das últimas grandes atuações
de Hewitt, ele bateu o favorito cipriota, finalista da competição em 2006, numa
partida emocionante e que só terminou às 04:33 da manhã.
5 ) Masters Cup 2004 – Semifinal – Hewitt 2x0
Roddick (6-3, 6-2)
A grande rivalidade de Hewitt,
sem dúvida, foi com o americano Andy Roddick. Em 2004, os dois já sofriam
contra Roger Federer quando se enfrentaram na semifinal da Masters. Era contra
Roddick que Hewitt usava com maestria sua capacidade de derrotar os adversários
na batalha mental. Nesta partida, contra um dos maiores sacadores da história,
Hewitt venceu os últimos 20 pontos, fazendo questão de gritar Come on na cara
do adversário e da torcida americana em Houston ao final de cada um deles.
Naquele dia, mais do que em qualquer outro, Hewitt demoliu um adversário
emocionalmente.
6 ) Aberto da Austrália 2005 –
Quarta Rodada – Hewitt 3x2 Nadal (7-5, 3-6, 1-6, 7-6(3), 6-2)
Rafael Nadal era um desconhecido
de 17 anos quando enfrentou o ídolo local Hewitt no Aberto da Austrália em 2005.
Poucos acreditaram quando o jovem espanhol abriu 2x1 e esteve perto de eliminar
o australiano. Hewitt, porém, com uma persistência única e usando como nunca a
torcida para desestabilizar o jovem adversário. Naquele ano, Lleyton chegaria
pela única vez à final do Aberto da Austrália, sendo derrotado por Marat Safin
em quatro sets.