No último dia 29 de junho me deparei no Twitter com uma tag curiosa,
para dizer o mínimo. Nos disputadíssimos trending topics constava o incômodo
#heterosexualprideday, justamente no dia seguinte ao Dia do Orgulho LGBT. Há
dois tipos de pessoas que apoiam essa “coisa” que me recuso a chamar de causa:
os que têm ódio e os que são ignorantes. Os odiosos nós já sabemos quem são, seja
aqueles que carregam lâmpadas fluorescentes para agredir outras pessoas ou os
que cospem argumentos limitados para justificar sua intolerância. Existem
também os ignorantes, não menos homofóbicos, mas que usam aquele discurso de
que temos que aceitar que os heterossexuais também merecem o seu dia.
Claro que é uma provocação maquiada de liberdade de expressão pelos
seus defensores e pelos entusiastas do mau gosto. É interessante que os
conservadores utilizem justamente a liberdade como argumento, sendo que o que
mais desejam é impedir que as pessoas decidam o que fazer com o próprio corpo, tentam
modelar manifestações de afeto público e têm a esperança que os que possuem
pensamento e comportamento antagônico devam viver escondidos das pessoas de
bem.
A criação dessa tag não denota somente a homofobia e um possível
orgulho em se manter hétero com tantos memes magníficos de Inês Brasil e Nicole
Bahls, compartilhar essa tag sem que seja para criticá-la mostra que a
população ainda tem um conhecimento cultural, histórico e social muito abaixo
do que entendo como ideal para uma sociedade igualitária. Penso, inclusive, que
até quem é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo deva saber diferenciar a
reação do oprimido da violência do opressor. Essa análise é necessária pois
vivemos um tempo em que as opiniões superam o certo e o errado, como se essa
dicotomia não existisse mais e que tudo pode ser classificado como uma forma de
pensar. Ainda existe o certo e o errado, todos temos que saber que homossexuais
foram e continuam sendo marginalizados por uma sociedade machista e
conservadora como a brasileira. Temos que saber que quem é contra direitos
iguais para todas as pessoas não está exercendo a sua liberdade de expressão,
mas está errado. Há 130 anos apoiar a escravidão e questionar o seu fim era
tratado como opinião, mas não deixava de estar errado. O homossexualismo é a
escravidão de hoje, com pessoas que se sentem no direito de gritar pela cidade o
seu repúdio a comunidade LGBT e eu espero que não demore muito para rebaixarem
esse triste ato ao erro, ao mal, ao repugnante.
Mesmo você, conservador, deve saber que não há sentido na mobilização
que apoia o opressor. Não há necessidade nenhuma que heterossexuais – o maior
conjunto de pessoas do mundo – se engajem em uma campanha para preservar ou
aumentar os seus direitos. O orgulho, neste caso, se opõe à vergonha, mostra
que os homossexuais não querem mais se esconder, e esses sentimentos
heterossexuais simplesmente não conhecem. Aliás, a lista de injustiças que o hétero
cis não conhece é inversamente proporcional à sua capacidade de enxergar o
óbvio, já que são incapazes de ver outro ser humano sem fazer um julgamento
baseado nos seus valores pequenos e irracionais.
Participar do Dia do Orgulho Hétero é escancarar o sentimento comum
dos reacionários de não aceitar nenhuma perturbação no seu mundo, pois para
eles a igualdade dos direitos do homossexual é a diminuição dos seus. Pensam
como se a causa LGBT lhes tirasse o direito de andar de mãos dadas, beijar,
adotar crianças, se considerar uma família, ser feliz. Lutar contra a igualdade
de direitos do outro é se colocar automaticamente no papel de opressor, do lado
errado. Só o opressor quer manter seus privilégios e o seu “direito” de discriminar.
Adolf Hitler em 1938, com um smartphone nas mãos, tuitaria o #DiadoOrgulhoAnti-semita
e naquela época teria milhares de retuites sob o véu da liberdade de expressão.
Em 1945 tivemos 6 milhões de judeus mortos, milhares de famílias destruídas e
marcas que duram até hoje.
Chega um momento que temos que escolher um lado na história. Não
entenda “história” como esse episódio lamentável do dia do orgulho hétero, mas
como o legado que vamos deixar para os nossos filhos. A mudança da sociedade é
uma onda, uma força da natureza que não vai mudar por hashtags preconceituosas
e sem sentido, cabe a você, homofóbico, começar a pensar e mudar a sua postura para
que no futuro olhe para trás e veja que escolheu o lado certo, e também para
que a nossa geração não tenha mais que ser atriz protagonista desse espetáculo
de horrores chamado intolerância.
Não veja o homossexual como inimigo, veja como alguém que só quer ser
feliz como você, IGUAL a você.
Então bofes e amapôas, deixem de fazer a Iôca e cagar no maiô. Xoxar
os outros é uó.