A bombástica entrevista do
prefeito eleito de SP João Doria em que ele disse que a cidade está um lixo e
teve a absurda proposta de fechar a Virada Cultural no Autódromo de Interlagos é
uma boa amostra do que será a gestão da cidade nos próximos quatro anos. Slogans
fáceis e exagerados, típicos de um publicitário, e destruição do conceito de
ocupação dos espaços públicos que, sejamos sinceros, teve pequenos avanços a
partir da gestão Serra-Kassab e se tornou o grande legado da gestão Haddad.
A cidade era governada por um
cientista político que se cercou de urbanistas. Passará a ser governada por um
milionário excêntrico cercado de publicitários. Ao invés de ideias e debates,
teremos slogans. Um típico gestor brasileiro. Daqueles que acha que sabe de
tudo e toma decisões sem consultar ninguém. O Secretário de Cultura da gestão
Doria disse que não sabia desta decisão do prefeito. Ou seja, nem com ele Doria
conversou sobre o assunto.
Doria não conhece a cidade. E o
pior, não sabe disso. E o pior, como o típico gestor brasileiro, é cercado de
bajuladores que não permitem que ele saiba disso. A Virada Cultural foi
idealizada na gestão de José Serra como um projeto de revitalização e
reocupação do centro da cidade. A população de todo canto da metrópole poderia,
por um dia, ocupar aquela região e assistir eventos culturais de todo tipo. A
Virada cresceu na gestão Haddad, que incentivou muito este tipo de ocupação,
que o digam o Carnaval e a abertura da Paulista para pedestres aos domingos.
Doria, bem possivelmente, nunca foi à Virada. Tudo que ele sabe sobre o
assunto, muito provavelmente, vem de matérias de jornais nos dias seguintes aos
eventos, sempre falando sobe o número de furtos e assaltos ocorridos durante o
evento. Na cabeça dele, isto é suficiente para cercá-lo no Autódromo de
Interlagos, onde em nome de uma suposta segurança o conceito do evento será
destruído. E, claro, com o evento num local fechado fica mais fácil lucrar com
publicidade. A Virada poderá ser patrocinada pela cervejaria A, pela marca de
celulares B, pelo energético C e pelo refrigerante D. Quem sabe uma revista de
celebridades não pode fechar um camarote e trazer celebridades. No mundo de
Doria, a publicidade se sobrepõe a ocupação da cidade. A questão da segurança é
resolvida com cercas.
Baseada na Nuit Blanche de Paris
e na Fête de La Musique de Berlim, a Virada Cultural se transformou na gestão
Haddad no terceiro evento que mais atrai turistas na cidade. Perde apenas da
Parada Gay e da Fórmula 1. As pessoas vêm exatamente para ter a oportunidade de
viver a cidade de uma forma que só é possível naquela noite. Doria a enxerga
como uma grande micareta. Ainda durante a campanha, em seu início, Doria
esbravejou contra a abertura da Paulista para pedestres, mudando de ideia após
visitar o evento. Segundo suas palavras, gostou da “vibe”. Poderia ter
aprendido a lição deste evento, enxergado o pouco conhecimento que possui da
cidade e o quanto tem a aprender. Preferiu manter a arrogância. Há algumas
semanas, disse que vai “melhorar” os domingos na Paulista, trazendo os conceitos
de “pockets-shows” que viu em Nova York. Se voltasse à Paulista, veria que já
há shows acontecendo por lá. Típico do gestor brasileiro. Não sabe e não quer
aprender. Só estaria disposto a isto se achasse algum MBA de Gestão Pública em
Miami.
Uma semana antes de Doria chamar
a cidade de lixo e propor a destruição da Virada Cultural, a gestão de Fernando
Haddad foi premiada em Nova York, cidade idealizada por Doria, por Michael
Bloomberg, ex-prefeito idealizado pelo tucano. Doria adora dizer que Bloomberg
é seu grande exemplo. Vê-lo premiando Haddad pode ter mexido com o ego do
prefeito eleito. Típico do gestor brasileiro. O ego acima de tudo. Haddad tem
sido extremamente decente com Doria na transição e deixará uma cidade com
finanças ajustadas mesmo na crise econômica que vivemos. Doria poderia ser um
pouco mais grato. Mas isto não é típico do gestor brasileiro. Não rende
slogans. Vamos nos preparar. Teremos quatro longos anos pela frente. A notícia de hoje é que o orçamento da cidade prevê a triplicação dos gastos com publicidade para o ano que vem. Acelera,
São Paulo !