segunda-feira, 21 de maio de 2018

O típico eleitor de Bolsonaro é infeliz



Muito se fala sobre a onda de ódio que toma conta do Brasil, a forma como este ódio foi inflado e manipulado pela mídia e pelas elites para derrubar o governo petista e sobre como este movimento gerou a candidatura de Jair Bolsonaro. O outro fenômeno, porém, que é pouco abordado sobre o sucesso da candidatura fascista nas eleições de 2018 é a representação que ela traz da infelicidade que tomou conta de um setor da sociedade brasileira, especialmente dos brancos de classe média.
O típico eleitor de Jair Bolsonaro é infeliz. Também é branco e de classe média. Mas é principalmente alguém infeliz. Sou uma pessoa branca e de classe média (mas não sou eleitor do fascista ignorante, quero distância deste povo aliás), conheço pessoas da minha idade e mais velhas que vão votar em Bolsonaro (de alguns já consegui me afastar, de outros ainda não), e todas elas têm a infelicidade como característica maior. Se você conhecer alguém que também vai votar nele, veja se esta(s) pessoa (s) não possuem estas características.
O eleitor de Bolsonaro está sempre reclamando. Desde sempre. Eles nunca acham que a vida é justa com eles e são sempre vítima do mundo. Sempre acham que deveriam estar em um lugar melhor, ser mais reconhecidos. São arrogantes e se consideram conhecedores de todos os assuntos, mesmo sendo incapazes de terem concentração para, sei lá, ler um livro. São pessoas com muitas certezas e poucas dúvidas, principalmente quando criticam algo. O embasamento destas pessoas costuma vir basicamente de achismos, quase nunca há uma fonte intelectualmente respeitada. Dificilmente falam bem de alguém que não seja de si mesmos e estão sempre competindo. Resumindo, sempre se colocam no papel de vítimas.
O vitimismo opressor de pessoas brancas de classe média talvez seja o termo que melhor explica o processo atual do Brasil. O privilegiado que, ao mesmo tempo em que parece não enxergar os próprios privilégios, sabe de forma instintiva que a base da sua existência está em defendê-los. O privilegiado que acima de tudo teme a igualdade, pois sabe que esta mostraria sua mediocridade. São pessoas que não seriam nada sem seus privilégios, pois efetivamente não sabem fazer nada. Tudo que conseguiram é fruto deste privilégio, disfarçado num discurso fajuto de meritocracia.
A maioria das pessoas brancas e de classe média que eu conheço estão um pouco perdidas na vida (e eu me incluo neste grupo, aliás, embora eu tenha felizmente seguido um caminho diferente). Fomos uma geração criada com a ideia de que éramos “especiais”. Todos chegaríamos aos 35/40 com a vida de comercial de margarina. Agora estão quase todos ou em empregos de merda ou se matando para conseguir um emprego de merda. Fomos criados para sermos competitivos e “vencedores”, um período que chamo de ditadura da vitória. Por isso há, em pessoas que possuem os mesmos privilégios que eu tive, um forte sentimento de derrota. A maioria é incapaz de culpar a si mesmo e às próprias escolhas por estas derrotas, é mais fácil culpar o “outro”. Também são incapazes de refletir sobre o estilo de vida que levam e sobre uma possível forma de mudá-lo. Só sabem culpar uma sociedade na qual se sentem de alguma forma superiores, incapazes de enxergar a própria mediocridade. As vítimas mais fáceis são aqueles que de alguma forma melhoraram nos últimos anos, as minorias, mesmo que estas ainda estejam muito longe de terem os mesmos privilégios. Para isto, criam uma série de paranoias. Não à toa tantas pessoas brancas e de classe média espalham notícias falsas. É fácil se acreditar numa paranoia quando se vive numa.
As redes sociais de alguma forma uniram esta gente. Estas pessoas podem ser infelizes, julgando e xingando juntas. Só conseguem esboçar alguma alegria através de deboche e humilhação. O movimento que derrubou Dilma era de gente branca e de classe média. O eleitorado de Bolsonaro é branco e de classe média. São as mesmas pessoas. Elas não se importam com a ausência de conhecimento, truculência, boçalidade e arrogância do candidato fascista, porque se reconhecem nestas características. Bolsonaro faz aquilo que elas sabem fazer, ele grita e ofende. E é infeliz.
Este tipo de pessoa está infeliz há muito tempo. E continuará sendo infeliz, independente do que ocorrer. Eles continuarão procurando alguém para culpar pela vida infeliz. É só isso que eles sabem ser. A próxima meta é conquistar o Brasil. Desta forma, podem fazer aquilo que mais gostam, espalhar infelicidade.