segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A Chapa Lula - Alckmin




O período entre 1994-2014 foi possivelmente o momento mais próspero da nossa história. Crescemos, estabilizamos a economia, combatemos a fome, incluímos milhões nas universidades, tudo num ambiente democrático. Isto não quer dizer que o período tenha sido perfeito. Obviamente houve problemas, mas nada que se compare ao que vivemos agora. Uma das muitas lições que podemos tirar do Horror que vivemos é que precisamos ser menos puristas. Precisamos entender que discordar de um governo em um ou outro assunto não é suficiente para desconsiderarmos tudo que é feito. Quase todos os governos terão acertos e erros. Digo quase todos porque o atual é a prova de que, se não há governo que só acerte, é possível um governo que só erre.

Aquele que julgo o momento mais próspero de nossa história foi fruto da ação de dois partidos: PT e PSDB. Os dois, mesmo com suas discordâncias, conduziram o processo com continuidade. O PT manteve a estabilidade conquistada pelo PSDB, o PSDB participou nos governos estaduais dos programas sociais do PT. As discordâncias, especialmente sobre a participação do estado na economia, ficaram em segundo plano até 2014, quando o PSDB cometeu suicídio. Ao não aceitar a quarta derrota eleitoral consecutiva e embarcar num processo completamente ilegal de impeachment, o PSDB não percebeu que estava destruindo o sistema que ele mesmo ajudou a construir. Se o PT se manteve mais vivo do que nunca, o PSDB perdeu boa parte dos seus eleitores para o bando de maluco que conduziu o processo de deposição de Dilma. Surgiu um “novo” PSDB, comandado pela figura um tanto quanto bizarra de João Doria, que conseguiu uma grande vitória no ano do impeachment, mas o retumbante fiasco do partido em 2018 mostrou que o partido foi engolido pelo Horror.

O PSDB que participou da construção do nosso período mais próspero não existe mais. Em seu lugar surgiu uma coisa que mais parece uma start up desorganizada de jovens metidos a empreendedores torrando o dinheiro do papai. A disputa prévia entre João Doria e Eduardo Leite, dois que apoiaram o Horror em 2018, mostra isto. Uma coisa que precisa ficar clara é que tudo é melhor do que o Horror, até mesmo os apoiados arrependidos do Horror. As ações de João Doria na pandemia mostram isto. Enquanto Doria lutou por vacinas, o Horror corria atrás de uma ema com uma caixa de remédio e ria imitando pessoas sem ar. A existência do Horror criou um novo tipo de inaceitável. O que antes parecia inaceitável hoje não é mais.

Alckmin representa o que restou de um antigo PSDB, tão importante na construção do país até 2014. Entender isto não significa deixar de criticar os erros que ele cometeu na gestão paulista, muitos menos negar o papel do PSDB no processo que, a partir de 2015, culminou na chegada do Horror ao poder. Isto significa entender que tudo mudou. Não há mais espaço para o puritanismo pré-2015. Não há mais espaço para a exigência da perfeição. O que existe é um Horror que está destruindo tudo que foi a duras penas construído. Em três anos de Horror, assistimos a volta do país ao mapa da fome, a volta da inflação, a completa destruição da imagem do país no exterior. Vimos o Bolsa-Família, projeto pensado pelo PSDB e expandido pelo PT, o mais bem-sucedido programa de transferência da nossa história, ser substituído por um programa provisório com data para acabar, a eleição de 2022.

Se a eleição de 2018 foi a eleição da destruição, onde o Horror e seus apoiadores convenceram a maioria da população de que a solução era “acabar com tudo isto daí”, a eleição de 2022 tem que ser a eleição da construção. E nada melhor do que uma chapa representando os dois polos de construção de nossa história recente para enfrentar o Horror. Hora de dar as mãos. Que a chapa Lula-Alckmin dê certo. Precisaremos agregar o máximo possível no processo de reconstrução. Isto não signifique esquecer o que foi vivido. No dia que o Horror sair do poder, é preciso tem mente de que ele não acabou e que a nossa vida será marcada pela luta contra ele. A História será fundamental para que ensinemos a nossos filhos como o Horror seduz e o que Ele é capaz de fazer para chegar e se manter no poder. E como mesmo pessoas que amamos são capazes das piores coisas possíveis. E que como na luta contra o Horror não há espaço para puritanismos. O mundo pré-2014 permitia que PT e (o que sobrou) do PSDB se tratassem como adversários. Este mundo não existe mais. O debate agora não é mais Estado x iniciativa privada. É civilização x barbárie.