É
algo curioso quando todo mundo meio que sabia que algo iria acontecer, aí
quando este algo acontece fica todo mundo impressionado “meu Deus, algo aconteceu”
quando no fundo todo mundo meio que sabia que algo iria acontecer. Pois bem,
algo aconteceu. E foi com o Botafogo, o time com quem algo sempre acontece. Há
uma espécie de sinergia. Um sentimento coletivo que antecede o algo que acaba
provocando o algo. Qualquer faísca serve para provocar o grande incêndio de
algo. Um apagão. Um cartão vermelho. Um pênalti desperdiçado. Um pênalti
cometido. O impedimento por um micrômetro. Algo.
Amarelão.
Pipoqueiro. Eu sempre me identifiquei com estes dois adjetivos. Sempre me achei
meio amarelão. Sempre me achei meio pipoqueiro. E olhe que eu nem acho que
tenha passado por situações tão estressantes assim. Qualquer coisa eu já fico
nervoso. Sempre fui assim. Se eu fosse um jogador de futebol, sou do tipo que mandaria
a bola do pênalti mais importante para fora do estádio. Se eu fosse jogador de basquete,
meu lance livre decisivo não bateria nem no aro. Se eu fosse jogador de tênis,
cometeria uma dupla falta no match point do adversário. Sempre achei curiosa
esta identificação que as pessoas têm com atletas ou marcas vencedoras. Você se
identifica com Roger Federer, Rafael Nadal ou Novak Djokovic? Eu me identifico,
sei lá, com o Thiago Monteiro. Muito esforço e muita luta para chegar na
segunda rodada. E olhe lá.
Se
eu fosse um time, seria o Botafogo. Superstições, administrações atrapalhadas e
poucos momentos de glória espalhados numa vida de sonhos e frustrações. Mas há
uma certa beleza em perder muito e ganhar pouco. As muitas derrotas tornam as
vitórias mais saborosas. E o esporte nos dá uma capacidade ímpar de aprender a
recomeçar. E é isto que o Botafogo vai fazer. Recomeçar. É isto que estou fazendo
sempre. Uma hora vai dar certo. Pode ser que não dê, mas por algum motivo
sempre acreditamos. Uma hora derrotaremos o algo. E veremos que o algo não era
tão foda assim. O Botafogo é o time que mais representa a vida. A vida não é o
Palmeiras de Abel. Como não era o São Paulo de Telê ou o super Santos de Pelé
(perdão por comparar o Palmeiras atual com aquele Santos. É como comparar um
bom livro com, sei lá, Grande Sertão Veredas). A vida é o Botafogo. A sucessão
de acasos que destrói os sonhos. Mas eles seguem lá. A sucessão de acasos que
ao mesmo tempo destrói os sonhos servem para intensificá-los. Na primeira
sequência de três vitórias o sonho e o trauma voltarão. Ainda mais fortes. E
esta é a beleza da vida. É a beleza o Botafogo. No mundo competitivo e baseado
nesta falsa identificação com os vitoriosos, o Botafogo sobrevive. Uma hora o
pênalti vai entrar. O lance livre vai cair. Salvarei o match point com um ace.
E o botafoguense vai sorrir no final.