A
ascensão da AfD na Alemanha foi um dos assuntos da semana nos noticiários
políticos brasileiros. Com uma retórica xenófoba, a extrema direita obteve o
terceiro lugar nas eleições alemãs e chocou a quase totalidade dos analistas
políticos brasileiros. A reação destes analistas à ascensão da extrema direita
nos países de primeiro mundo, porém, não se repete quando estes mesmos
analistas discutem o cenário brasileiro.
Todas as
características encontradas no discurso político de Trump, Le Pen ou AfD são
encontradas no discurso do MBL. A origem deste movimento no Brasil, aliás, é
semelhante à origem da AfD na Alemanha. Empresários e jovens conservadores
defendendo inicialmente ideias liberais economicamente, mas que com o tempo
perderam a vergonha de demonstrar ideias reacionárias quanto a direitos civis e
sociais.
Com o
intuito de derrubar Dilma Rousseff, parte da grande mídia alimentou e deu força
ao MBL, grupo que há tempos age como uma milícia fascista. Eles se infiltram em
manifestações de grupos contrários com o objetivo de causar confusões. Defendem
que o Brasil deixe de aceitar imigrantes de países muçulmanos com base
exclusivamente em preconceito religioso e numa paranoia terrorista. Perseguem
jornalistas e celebridades que ousam criticá-los, basta ver a guerra virtual
que realizaram contra Ricardo Boechat e Monica Waldvogel nesta semana.
Visitam escolas com o objetivo de censurar e pressionar professores, dentro de
seu ambiente de trabalho. Defenderam o juiz que liberou psicólogos a tratarem a
"cura gay", com o argumento de que ninguém entendeu, só eles, esta
liberação. Lideram cruzadas contra exposições de arte. Comandam dois dos sites
responsáveis por boa parte da divulgação de notícias falsas na internet, o
Jornal Livre e o Reacionario. O mais preocupante, porém, é a forma como este
grupo formado basicamente por jovens arrogantes e lunáticos tem se aproximado
do poder, especialmente graças ao prefeito de SP, João Doria Jr.
O MBL tem
funcionado como espécie de "braço direito virtual" de Doria,
realizando todo tipo de trabalho sujo para esta gestão. É o MBL, por exemplo,
que tem feito boa parte da perseguição a jornalistas que criticam a gestão
paulistana, invadindo os perfis destes e expondo suas vidas pessoais, tentando
sempre desqualificar o autor da notícia e não a notícia em si, quase sempre com
um argumento paranoico anticomunista.
Pessoas
do MBL já fazem parte da gestão Doria diretamente. Paulo Mathias, prefeito
regional da sub-prefeitura de Pinheiros, é membro do grupo. Cauê del Valle,
editor do site Reacionário, foi contratado por esta mesma sub-prefeitura. MBL e
Juventude Tucana já anunciaram uma possível união de forças para as eleições de
2018, o que completa a bizarra guinada do outrora partido social-democrata rumo
à extrema direita.
O quase
silêncio midiático sobre a ascensão deste grupo através de Doria é a
demonstração da hipocrisia de boa parte da grande mídia brasileira. O mesmo
choque que possuem na análise da conjuntura internacional não demonstram na
cobertura nacional. Doria e Bolsonaro não são tão diferentes, com a diferença
de que o segundo é mais caricato. Todo bolsonete adora a gestão do prefeito de
SP, pois enxerga nele três características que adoram no seu líder, antipetismo
paranoico, patriotismo fajuto e autoritarismo. Nenhum questionamento é feito ao
prefeito em relação à sua proximidade com algo tão assustador como o MBL.
A aliança
Doria-MBL virá com força em 2018. É bem provável que a mídia não mude sua
postura até lá, em nome dos interesses do mercado. O triste papel da grande mídia em nossa história, dessa forma, repete-se.