quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Aliança Doria-MBL e ascensão da extrema-direita no Brasil

A ascensão da AfD na Alemanha foi um dos assuntos da semana nos noticiários políticos brasileiros. Com uma retórica xenófoba, a extrema direita obteve o terceiro lugar nas eleições alemãs e chocou a quase totalidade dos analistas políticos brasileiros. A reação destes analistas à ascensão da extrema direita nos países de primeiro mundo, porém, não se repete quando estes mesmos analistas discutem o cenário brasileiro. 
Todas as características encontradas no discurso político de Trump, Le Pen ou AfD são encontradas no discurso do MBL. A origem deste movimento no Brasil, aliás, é semelhante à origem da AfD na Alemanha. Empresários e jovens conservadores defendendo inicialmente ideias liberais economicamente, mas que com o tempo perderam a vergonha de demonstrar ideias reacionárias quanto a direitos civis e sociais.
Com o intuito de derrubar Dilma Rousseff, parte da grande mídia alimentou e deu força ao MBL, grupo que há tempos age como uma milícia fascista. Eles se infiltram em manifestações de grupos contrários com o objetivo de causar confusões. Defendem que o Brasil deixe de aceitar imigrantes de países muçulmanos com base exclusivamente em preconceito religioso e numa paranoia terrorista. Perseguem jornalistas e celebridades que ousam criticá-los, basta ver a guerra virtual que realizaram contra Ricardo Boechat e Monica Waldvogel nesta semana. Visitam escolas com o objetivo de censurar e pressionar professores, dentro de seu ambiente de trabalho. Defenderam o juiz que liberou psicólogos a tratarem a "cura gay", com o argumento de que ninguém entendeu, só eles, esta liberação. Lideram cruzadas contra exposições de arte. Comandam dois dos sites responsáveis por boa parte da divulgação de notícias falsas na internet, o Jornal Livre e o Reacionario. O mais preocupante, porém, é a forma como este grupo formado basicamente por jovens arrogantes e lunáticos tem se aproximado do poder, especialmente graças ao prefeito de SP, João Doria Jr.
O MBL tem funcionado como espécie de "braço direito virtual" de Doria, realizando todo tipo de trabalho sujo para esta gestão. É o MBL, por exemplo, que tem feito boa parte da perseguição a jornalistas que criticam a gestão paulistana, invadindo os perfis destes e expondo suas vidas pessoais, tentando sempre desqualificar o autor da notícia e não a notícia em si, quase sempre com um argumento paranoico anticomunista.
Pessoas do MBL já fazem parte da gestão Doria diretamente. Paulo Mathias, prefeito regional da sub-prefeitura de Pinheiros, é membro do grupo. Cauê del Valle, editor do site Reacionário, foi contratado por esta mesma sub-prefeitura. MBL e Juventude Tucana já anunciaram uma possível união de forças para as eleições de 2018, o que completa a bizarra guinada do outrora partido social-democrata rumo à extrema direita.
O quase silêncio midiático sobre a ascensão deste grupo através de Doria é a demonstração da hipocrisia de boa parte da grande mídia brasileira. O mesmo choque que possuem na análise da conjuntura internacional não demonstram na cobertura nacional. Doria e Bolsonaro não são tão diferentes, com a diferença de que o segundo é mais caricato. Todo bolsonete adora a gestão do prefeito de SP, pois enxerga nele três características que adoram no seu líder, antipetismo paranoico, patriotismo fajuto e autoritarismo. Nenhum questionamento é feito ao prefeito em relação à sua proximidade com algo tão assustador como o MBL.
A aliança Doria-MBL virá com força em 2018. É bem provável que a mídia não mude sua postura até lá, em nome dos interesses do mercado. O triste papel da grande mídia em nossa história, dessa forma, repete-se.



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