sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O papel de Moro e da Lava Jato no avanço do autoritarismo


Um general defende publicamente uma possível intervenção militar. Pesquisa indica que mais de quarenta por cento dos jovens também a defendem. O jornal O Estado de São Paulo diz que esta intervenção poderia ser boa “dependendo do cenário”. Aquelas pessoas que estavam nas passeatas de 2015 com faixas pedindo “Intervenção Militar Já” parecem, afinal, não serem tão minoria quanto a grande mídia adorava alardear no período. O MBL, movimento que liderou aquelas passeatas midiáticas, passou a perseguir jornalistas e exposições de arte. Bolsonaro já tem 20% das opções de voto e lidera entre os mais ricos. O objetivo deste texto é refletir sobre o papel que a Operação Lava Jato no avanço desta onda autoritária no país.
Todo grande regime autoritário surge em momentos de “limpeza”. A rejeição à corrupção faz com que sociedades de “pessoas de bem” aceitem qualquer coisa para combatê-la. Ou ao menos a usem como justificativa para se livrar daqueles que consideram indesejados. Em nome do que diz ser a lei e a moral, o juiz Sérgio Moro e o restante da Operação fazem coisas ilegais e moralmente questionáveis, para dizer pouco. Abaixo alguns exemplos:
- Pessoas estão há mais de dois anos em prisão preventiva sendo chantageadas para delatar o que o juiz deseja ouvir;
 - Delações são tornadas públicas antes de investigadas;
- Conduções coercitivas são realizadas sem que tenha havido tentativa de intimação;
- Estas conduções e prisões são transformadas em espetáculos midiáticos;
- Condenações acontecem sem provas;
- O juiz age como acusador, quase unido à promotoria;
- O juiz exige que as provas sejam apresentadas pela defesa, invertendo a lógica de que é a acusação que deve apresenta-las e não o inverso;
- O juiz grampeia e divulga uma conversa telefônica de uma presidenta, algo explicitamente proibido pela Constituição.
Moro e os procuradores da Lava Jato se colocam acima da lei e não se sentem incomodados por isto. Nem eles nem a mídia que os bajulam. Moro praticamente nunca deu entrevistas a meios de comunicação nacionais. Não sente necessidade de explicar nada à sociedade. Quase todas as suas entrevistas foram dadas a órgãos estrangeiros, em que ele já disse que foi influenciado por heróis de quadrinhos. As únicas vezes em que conversou com órgãos nacionais foi para receber prêmios, na maioria das vezes inventados por revistas ou associações que basicamente querem bajula-lo. Um destes prêmios foi o da Revista IstoÉ, que o premiou como “juiz do ano”, na primeira e provavelmente única edição desta premiação. Esta revista foi a mesma que antecipou sua edição e bateu recordes quando vazou a delação de Delcídio Amaral, uma semana antes da passeata dos patos verde-amarelos. Aquelas em que as pessoas que pediam intervenção eram “minoria”. Dois anos depois, esta delação foi anulada porque o delator não conseguiu provar praticamente nada que havia delatado. O estrago já estava feito.
Nada é mais perigoso para uma sociedade democrática do que juízes e outros membros do Poder Judiciário que se consideram acima da lei. Um crime cometido por aquele que julga é mais grave do que aquele cometido pelo julgado. Todas as infrações cometidas pela Lava Jato são mais graves, inclusive, do que a corrupção que julgam. Uma das principais influências da Operação no avanço do autoritarismo no país é a legitimação do senso de que pode se passar por cima da lei para derrotar algo “maior”.
Outra influência marcante é a ideia de que justiça necessariamente significa punição. Moro raramente absolve. Quase todas as absolvições da Operação vieram na segunda instância, por falta de provas. Praticamente não há questionamentos a Moro do porquê ele ter condenado alguém sem provas, há sim descontentamento da sociedade com os juízes que absolvem, que estariam sendo “permissivos com a corrupção”.
Daltan Dallagnol, talvez o mais famoso e midiático dos procuradores da Operação, autor do já lendário Power Point, criou e divulgou dez medidas contra a corrupção. Entre elas, estão a praticamente extinção do habeas corpus e o quase fim de qualquer obstáculo à prisão preventiva. Coisas típicas de uma sociedade autoritária. Quase não houve questionamentos a ele sobre isto.
A Lava Jato virou filme antes mesmo da Operação acabar. Financiado por “patrocinadores ocultos”, o filme teve acesso a filmagens de prisões e conduções. Quase ninguém achou isto estranho. Moro foi à pré-estreia, onde foi tratado como herói. Seus fãs o consideram acima da lei. Quase todo fã de Bolsonaro é fã de Moro. Enxergam nos dois a capacidade de sobreposição a leis que “protegem bandidos”.

Moro nada faz para negar o personagem que lhe foi criado pela mídia. Pelo contrário, parece gostar de ser um herói como os que ele citou de quadrinhos. O juiz que não cumpre a lei e é amado por isso. Todo autoritarismo começa assim. O juiz dá indícios de estar cansado e querer sair da Lava Jato. Sairá provavelmente ovacionado por bolsonetes, mídia e MBL. Como dito anteriormente, o estrago já foi feito.

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