José Luiz
Datena anunciou ontem, 28/7, sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Apenas
o tempo dirá se é apenas um golpe midiático ou se ele vai levar a sério esta
empreitada. Datena é o tipo de celebridade bajulada e mimada, eu acredito que
abandonará a sua candidatura na primeira desavença com qualquer correligionário. A
análise mais importante, a meu ver, é entender o que está por trás disso.
O articulador
da campanha Datena é Guilherme Mussi, deputado federal pelo PP. Seu principal
projeto é um projeto de lei pedindo um plebiscito pela redução da maioridade
penal. É deputado deste 2011, tendo passado neste período por 3 partidos, PV,
PSD (o partido de aluguel criado pelo Kassab) e agora o PP. Nas eleições de
2010, declarou um patrimônio de R$ 1.136.416,76. Já em 2014, seu patrimônio
declarado foi de R$ 67.517,51. “Perdeu” em patrimônio (com toda ironia
possível) R$ 1.068.899,25 em 4 anos e mesmo assim quis continuar no Congresso.
Um fato bastante curioso.
Eleito
deputado federal por São Paulo, seu maior financiador de campanha é a IBAR
Nordeste, empresa de extração de Magnésio localizada na Bahia e no Ceará.
Recebeu 150.000 votos na última eleição em SP para defender os interesses de
uma empresa mineradora nordestina. Em 4 anos e meio de mandato, apresentou 5
projetos, não obtendo nenhuma aprovação. Especializou-se muito mais em defender
causas populistas do que em efetivamente fazer algo. Não liga muito para
contradições: Faz parte da bancada ruralista e da bancada que defende os
interesses indígenas ao mesmo tempo. Mussi é o tipo de político que trabalha
nas sombras, mas parece pronto a querer dar um passo maior. Usará Datena para
isso.
O vice na
chapa de Datena será o delegado Antônio Assunção Olim, ex-chefe da Divisão Antissequestro
da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Em 2004 respondeu a um inquérito por
expor 3 acusados de forma constrangedora no programa de Datena. Elegeu-se
deputado estadual em 2014, aproveitando a fama por ter sido o delegado do
Mércia. Aparece constantemente no programa de seu possível companheiro de
chapa, já sendo conhecido dos espectadores que Mussi pretende transformar em
eleitorado. É o Robin perfeito.
A popularidade
de Datena e Olim é fruto da comercialização da violência cotidiana na televisão.
Este processo teve início no começo dos anos 90 (embora Jacinto Figueira Junior
já tenha sido um precursor nos anos 70) com o programa Aqui Agora, que tinha
como objetivo levar o jornal Notícias Populares à televisão. Grande sucesso, o
programa elegeu em 1992 o seu primeiro vereador, o apresentador Ivo Morgante e
dois anos depois elegeu para deputado federal sua primeira grande celebridade,
Celso Russomano. Este segue até hoje na Câmara e é um nome forte também para a
próxima eleiçao, mesmo sem atuação significante no Congresso, enquanto aquele
acabou entrando no ostracismo após ser um dos chefes dos esquemas de corrupção
na gestão Pitta.
Outras redes
de TV, aproveitando o sucesso do Aqui Agora, entraram neste ramo. Datena,
inicialmente um repórter esportivo, foi convidado para assumir o Cidade Alerta
da Record no final dos anos 90, continuando neste tipo de programas até hoje,
ora na Bandeirantes, ora na Record. O esquema é sempre o mesmo: repetição a
exaustão de crimes ocorridos na cidade, de tal forma a fazer o público acreditar
que aquele único crime aconteceu várias vezes, estimulando o medo entre os
espectadores. O apresentador sempre assume a posição de dono da verdade. Datena
se mostra como especialista em todos os assuntos, discutindo, por exemplo, com
um piloto de avião após um acidente aéreo ou dando aulas de medicina para
médicos quando algum erro deste tipo acontece.
Tragédia e
violência vendem. O personagem de Datena é aquele que sempre “previu” os
motivos da tragédia, mas só fala isso depois que ela acontece. É o grande sábio
que mostra para o público como elas deveriam ser evitadas. À imagem de sábio
une-se a imagem de xerife justiceiro, daquele que critica os criminosos e
defende os cidadãos de bem, que são aqueles que estão em casa assistindo seu
programa, com medo de sair na rua. Os temas são sempre tratados com
superficialidade, estimulando apenas o impulso e nunca a reflexão.
Após 15 anos
vivendo o mesmo personagem, é muito possível que Datena não mais se enxergue
como alguém que finge ser sábio e justiceiro, mas como alguém que é o sábio e
justiceiro que pode salvar a cidade das mãos dos bandidos que tomaram conta
dela. Duvido muito que Datena seja capaz de reconhecer o próprio papel nesta
sociedade apavorada. Os anos de
bajulação o fizeram ser incapaz de enxergar que ele é apenas um boneco pronto
para ser manipulado por pessoas como Mussi. Datena está pronto para virar herói. Não é a primeira celebridade a cair nessa (que o diga Silvio Santos), não será
a última. Será que a IBAR Nordeste investirá nessa jogada?
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