sexta-feira, 22 de maio de 2020

ME AJUDA, LUCIANO!



Há uma classe de pessoas denominada isentões. Ser isento é um adjetivo, por si só, definidor, porém eu acho que o termo isentão foi criado para destacar pessoas que evitam escolher um lado mesmo que motivos para o contrário caiam em suas cabeças. É muito complicado manter um pé em cada canoa na descida do rio, você quer os bônus de cada lado e também que se julgar livre para criticar ambos.
Um caso que se tornou chacota, embora eu tenha extremo respeito pela figura na história, é o de Marina Silva. Marina foi declarada de extremo centro, tamanha a isenção em suas falas e dubiedade nas suas ações. Marina é incapaz de responder uma questão diretamente, parece a todo momento navegar nas duas canoas. Uma vez perguntada se era de direita, de esquerda ou de centro, Marina respondeu que estava à frente.

Uma marca de todos os isentões envolvidos na política dos últimos anos é colocar Bolsonaro e Lula como iguais de lados opostos, bem como seus apoiadores. O jornal O Estado de São Paulo publicou em 2018, pouco antes do segundo turno, o editorial mais vexatório possível e que até hoje é revisitado. O texto UMA ESCOLHA MUITO DIFÍCIL queria demonstrar como seria complicada a decisão do eleitorado nacional ao escolher entre Fernando Haddad, professor universitário, advogado, mestre em economia e doutor em filosofia, e o deputado Jair Bolsonaro, militar. Um ano e meio depois do editorial jornalistas do Estadão foram agredidos em um ato pró Bolsonaro em Brasília.
Colocar Bolsonaro e Lula no mesmo balaio é sempre uma tática para dizer não possui lado, de que o seu partido é o Brasil, que não tem político de estimação. Chegamos, então, ao personagem principal do texto. O apresentador Luciano Huck tuitou nessa semana o seguinte:

“Assustador. Duas das principais autoridades do país seguem frias na semana que vms chegar a 20 mil mortos. Sensibilidade zero. Nenhuma palavra de carinho c/ as famílias vítimas da pandemia. Um preocupado c/ o tamanho do Estado. O outro c/ a tubaína. O Brasil está descoordenado”.

Bolsonaro fez uma piada com cloroquina e tubaína, seguida de riso frouxo. Lula quis dar ênfase à importância do Estado para a população. Luciano Huck tratou de colocar esses dois aspectos no mesmo tuite. Assustador mesmo, Luciano.

O apresentador global está há anos construindo a sua imagem pública baseado no assistencialismo televisivo. Ele foi muito bom em construir a imagem de que ajuda as pessoas, quando na verdade compra histórias de pessoas paupérrimas para garantir 30, 40 ou 60 minutos de audiência, dando em troca uma reforma no carro, na casa, ou um prêmio qualquer em dinheiro. Eu costumo dizer que é muito difícil encontrar a caridade pura, já que se você faz o bem mas o conta para uma pessoa sequer estará tentando lucrar algo com aquilo, mesmo que seja apenas afeto ou reconhecimento. O Caldeirão do Huck possui dois objetivos: gerar lucro e criar a imagem perfeita do apresentador caridoso. No caso de Luciano é assim, lucro e caridade cabem sim no mesmo tuite.

A abordagem de Lula sobre a importância do Estado é necessária simplesmente pelo fato de estarmos em uma pandemia, e de que 75% da população depende exclusivamente do SUS. O Sistema Único de Saúde é realmente singular, já que está pronto para atender 210 milhões de habitantes, bem como qualquer estrangeiro em nosso território. Isso é incomparável no mundo.
A afirmação da saúde como primordial para a população brasileira na Constituição de 1988, com a posterior criação do SUS, é uma conquista de importância incalculável para o bem estar social. Estamos em um momento de avanço dos serviços privados sobre os públicos. Seja na saúde, na educação, nos bancos ou na segurança, o sucateamento do Estado é o objetivo dos conglomerados para empurrar goela a baixo a solução particular. Luciano é um liberal convicto, pensa que o Estado exige demais das pessoas através da cobrança de impostos, assim como eu penso. No meu caso, entretanto, acredito que os impostos sobre o consumo devem ser mitigados em prol dos impostos sobre fortunas e grandes heranças. Luciano é contra mais impostos sobre grandes fortunas e sobre heranças, afinal é herdeiro e rico. O pensamento liberal do apresentador é de tornar o Brasil um grande Caldeirão, onde os ricos ficam com as grandes receitas de publicidade enquanto os pobres recebem migalhas, após concluírem alguma gincana pitoresca.

Huck tem realmente uma relação de amor e ódio com o Estado. Em 2003 a sua pousada em Fernando de Noronha foi interditada pelo Ibama. Em 2007 foi acusado de outro crime ambiental pela prefeitura de Angra dos Reis e foi obrigado a paralisar a construção do seu deck, da sua garagem de barcos e da sua praia artificial, porém um ano depois foi beneficiado por um decreto do Sérgio Cabral que alterava a legislação ambiental, decreto que ficou conhecido como “Lei Luciano Huck”. Os advogados de Huck trabalhavam no escritório de Adriana Anselmo, esposa de Cabral. Em 2013 o liberal Huck adquiriu um empréstimo de 17 milhões de reais do BNDES, com juros de 3% ao ano, para comprar um jatinho particular. Está aí o Estado criando problemas e soluções para a vida do pobre milionário.

Até os isentões precisam se posicionar algumas vezes. Marina Silva declarou voto em Haddad na escolha muito difícil de 2018, já Luciano Huck, no mesmo cenário, disse: “Eu não voto no PT, eu nunca votei no PT e eu não vou votar no PT”.

Qual será o plano de saúde da família Huck?

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