Eu não tenho dúvidas que boa
parte das pessoas que me conhecem devem me considerar um “petralha”. Não vou
entrar no mérito do tema. Sim, acredito que se colocarmos numa balança o
governo petista fez mais bem do que mal ao país, mas reconheço que houve vários
erros na gestão. O fato importante é que quase todo mundo me acha “petralha”.
Pois bem, na última eleição presidencial, um dos candidatos disse no palanque
que, caso eleito, iria metralhar os “petralhas”. Mais do que isto, disse que
aqueles que não concordassem com ele seriam presos ou expulsos do país. Sendo
um “petralha”, eu sou uma das pessoas que ele prometeu metralhar. Não
concordando com absolutamente nada do que ele diz ou faz, sou uma das pessoas
que ele prometeu expulsar ou prender. Qual a reação que os eleitores desta
coisa tiveram em relação a mim naquele momento? Elas basicamente falaram: “E
daí?”.
O presidente da República fez da
perseguição aos gays quase que um slogan de sua carreira. Disse que preferia um
filho morto a um filho gay. Defendeu que pais agredissem seus filhos caso
notassem indícios de que a criança fosse gay. O número de agressões a gays
subiu exponencialmente no país desde a eleição desta coisa que hoje nos governa.
Sua vitória representou um incentivo à homofobia. Imagine viver num país em que
a maioria das pessoas vota em alguém que te quer morto? Alguém que incentiva
que você seja agredido? Esta é a realidade que a maior parte da população LGBT
no Brasil vive desde outubro de 2018. Qual a reação dos eleitores desta coisa a
estas agressões, a estes assassinatos, a este medo, a este sofimento? Algo
muito próximo ao “E daí?”.
Durante a campanha, a coisa que
atualmente preside o país elogiou o processo de genocídio indígena brasileiro.
Só não elogiou mais porque, segundo ele, não fizemos como os americanos, que,
segundo suas palavras, “mataram todo mundo”. A violência contra populações
indígenas explodiu em seu governo. O agronegócio e o extrativismo invadem, com
anuência do governo, reservas indígenas, expulsam populações e agridem os
nativos. Aumentou o número de lideranças indígenas assassinadas. Qual a reação
dos eleitores desta coisa quando o então candidato prometia fazer isto ou
quando veem algo sobre o assunto? Algo muito próximo ao “E daí?”.
Durante a campanha, o candidato
coisa fez diversas declarações racistas. Disse que quilombolas eram pesados por
arrobas. Chamou a gigantesca desigualdade racial que vivemos de mimimi. “E daí?”.
Estimulou a xenofobia contra imigrantes africanos e haitianos. “E daí?”. Disse a uma deputada que não a estuprava porque "ela não merecia". "E daí?". Disse que fraquejou ao ter uma filha mulher. "E daí?". Prometeu entrar em guerra contra a Venezuela, vizinho que não nos ameaça. “E
daí?”. Disse que as universidades públicas eram um antro de vagabundos. “E daí?”.
Seu filho disse que fecharia o Supremo com um cabo e um soldado. “E daí?”.
Disse que o maior erro da ditadura foi ter matado “pouca gente”. “E daí?”.
O grande momento da carreira
desta coisa que nos governa até chegar à presidência foi na sessão de
impeachment de Dilma Rousseff, quando, em rede nacional, dedicou seu voto à
figura que a tinha torturado na juventude. Um homem que enfiava ratos na vagina
das presas por prazer sádico. “E daí?”.
Mais de cinco mil brasileiros já
morreram durante a pandemia do Covid-19. Muitos ainda vão morrer. A coisa que
nos preside faz tudo para boicotar os esforços para salvar vidas. Espalhou uma
cura falsa, criou burocracias para liberar o dinheiro que permitiria que muitos
trabalhadores informais ficassem em casa se cuidando, faz campanha quase que
diária contra o isolamento, única saída para diminuir a tragédia. Todo o discurso
genocida da coisa encontrou na Covid a chance de se realizar. A reação dele às
mortes é chocante, mas não surpreendente. “E daí?” é a reação esperada e o que o fez chegar ao cargo em que chegou. Nas poucas
vezes em que tentou simular algum tipo de compaixão pelas vítimas da tragédia,
tudo que conseguimos ver é cinismo. Muitos (não a maioria) dos que votaram nele
se mostram arrependidos. Sentem na pele o que é ver a coisa que possui o maior
cargo do país dizer “E daí?” para seus medos, dores e sofrimentos. Bem-vindo ao
clube. Muita gente já sente isto desde 2018. Dois anos vivendo num país que diz
“E daí?” para vocês. Respeito o arrependimento destas pessoas. Mas elas são
cúmplices. Não dá para ser amigo de quem falou “E daí?” para tanta gente por tanto
tempo. Simplesmente não dá.
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