Domingo, 17 de abril de 2016. O
grande momento chega para o deputado insignificante. Sua aposta no caos
finalmente dá resultado. Os 26 anos de mandato inútil e de polêmicas seriam
finalmente premiados com um palco em rede nacional. Cercado por seus colegas, o
deputado enaltece a tortura e o golpe militar no Congresso Nacional. As TVs
transmitem seu voto ao vivo. Festa nas ruas. O deputado é ovacionado por seus
colegas, sai quase carregado após o voto. “Perderam em 1964, perderam em 2016”.
Quem é este sujeito oculto? Eles? Vocês? Nós, que perdemos. O único deputado
que pessoalmente fez algo contra o deputado torturador naquela sessão foi Jean
Wyllys. O mesmo Jean que teria que fugir do Brasil dois anos depois por causa
das ameaças dos seguidores do já presidente torturador. Bolsonaro se tornou naquele
dia o protagonista do Brasil. Onde você estava naquele dia? Este inferno em que
vivemos nasceu lá. Se você não percebeu isto, provavelmente estava abraçando o
deputado torturador.
A característica que mais me impressionava
em Dilma já na época do impeachment era a sua capacidade única de resistir.
Dilma era atacada, humilhada, ridicularizada pela grande mídia basicamente 24
horas por dia. Atacar Dilma era basicamente o único requisito para ter acesso aos
meios de comunicação. Foi graças a isto que gente como Constantino, Ana Paula
do Vôlei, Escosteguy, todos estes malucos ganharam palco. Se o maluco-mor
ganhou protagonismo no Congresso, espalhou seus mini-maluquinhos por aí. Mas
Dilma estava lá. Resistindo. Foi até o fim. Enfrenou mais de doze horas de
interrogatório no Senado. Olhou na cara dos seus acusadores.
A história de vida de Dilma é a
da resistência. E se tem uma coisa que a elite brasileira não aceita é gente
que resiste. Ela valoriza a traição. Valoriza a delação premiada. Transforma em
herói o juiz que tortura e prende sem provas. Dilma é o oposto disto. Dilma não
deveria ter sobrevivido às torturas. Sobreviveu. Dilma deveria ter delatado
seus companheiros enquanto era torturada. Não delatou. Dilma não deveria ter
concorrido à presidência. Não tinha “experiência”. Ela foi por seis anos a
ministra mais importante do governo mais relevante da nossa história recente. Mas
a mídia a desqualificava. Chamava-a de poste. Concorreu. Não deveria ter
vencido. Venceu. Não deveria exigir ser chamada de presidenta. Exigiu. Não
deveria ter sido reeleita. Foi. Não deveria ter ido ao estádio na abertura e na
final da Copa, seria vaiada. Mas Dilma suportou as vaias. Do mesmo jeito que
suportou a tortura. Suportou as humilhações, enfrentou seus algozes de frente,
olhando em seus olhos.
Nesta semana, 4 anos e 8 meses
depois da fatídica sessão do impeachment, o agora presidente Bolsonaro voltou a
debochar de sua tortura. Dois motivos. O primeiro é que Bolsonaro precisa deste
tipo de atitude para chamar a atenção. Bolsonaro chegou aonde chegou escolhendo
figuras para antagonizar e falando merda. Passou 28 anos no Congresso sendo o
tiozão inútil que só fala merda e não ia mudar agora que chegou ao topo. Vai
continuar sendo isto. O segundo, é porque ele enxerga em Dilma o seu oposto.
Bolsonaro sabe que Dilma possui todas as características que ele não possui. Ele
não consegue esquecê-la. Não importa que ele tenha “vencido”. Seu ódio não
passa, pois isto é tudo que ele sabe sentir.
Em sua despedida do Congresso
uruguaio neste ano, o ex-presidente José Mujica disse: “Triunfar não é ganhar,
é ter a capacidade de se levantar e recomeçar após cada derrota”. Dilma
triunfa. Triunfou ao suportar a tortura. Triunfou em 2016. Triunfa em 2020 e
seguirá triunfando, para desespero de Bolsonaro e seus apoiadores. Quem perdeu e segue perdendo é Bolsonaro e seus apoiadores.
Não há derrota maior do que a perda da capacidade de empatia. São as pessoas
que não mostraram empatia pela vítima de tortura em 2016 que hoje não têm
empatia pelo sofrimento das pessoas que morrem ou que perdem entes queridos na
pandemia. Estas pessoas são sempre as derrotadas. Não importa se são ricas, a
cara delas é de derrota. Perceba que mesmo quando acham que vencem estão com
ódio no olhar, estão sempre gritando e xingando. Resistir é triunfar e não há
exemplo maior de triunfo no Brasil de 2020 do que Dilma Rousseff.
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