terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Dilma Rousseff e o triunfo através da resistência

 



Domingo, 17 de abril de 2016. O grande momento chega para o deputado insignificante. Sua aposta no caos finalmente dá resultado. Os 26 anos de mandato inútil e de polêmicas seriam finalmente premiados com um palco em rede nacional. Cercado por seus colegas, o deputado enaltece a tortura e o golpe militar no Congresso Nacional. As TVs transmitem seu voto ao vivo. Festa nas ruas. O deputado é ovacionado por seus colegas, sai quase carregado após o voto. “Perderam em 1964, perderam em 2016”. Quem é este sujeito oculto? Eles? Vocês? Nós, que perdemos. O único deputado que pessoalmente fez algo contra o deputado torturador naquela sessão foi Jean Wyllys. O mesmo Jean que teria que fugir do Brasil dois anos depois por causa das ameaças dos seguidores do já presidente torturador. Bolsonaro se tornou naquele dia o protagonista do Brasil. Onde você estava naquele dia? Este inferno em que vivemos nasceu lá. Se você não percebeu isto, provavelmente estava abraçando o deputado torturador.

A característica que mais me impressionava em Dilma já na época do impeachment era a sua capacidade única de resistir. Dilma era atacada, humilhada, ridicularizada pela grande mídia basicamente 24 horas por dia. Atacar Dilma era basicamente o único requisito para ter acesso aos meios de comunicação. Foi graças a isto que gente como Constantino, Ana Paula do Vôlei, Escosteguy, todos estes malucos ganharam palco. Se o maluco-mor ganhou protagonismo no Congresso, espalhou seus mini-maluquinhos por aí. Mas Dilma estava lá. Resistindo. Foi até o fim. Enfrenou mais de doze horas de interrogatório no Senado. Olhou na cara dos seus acusadores.

A história de vida de Dilma é a da resistência. E se tem uma coisa que a elite brasileira não aceita é gente que resiste. Ela valoriza a traição. Valoriza a delação premiada. Transforma em herói o juiz que tortura e prende sem provas. Dilma é o oposto disto. Dilma não deveria ter sobrevivido às torturas. Sobreviveu. Dilma deveria ter delatado seus companheiros enquanto era torturada. Não delatou. Dilma não deveria ter concorrido à presidência. Não tinha “experiência”. Ela foi por seis anos a ministra mais importante do governo mais relevante da nossa história recente. Mas a mídia a desqualificava. Chamava-a de poste. Concorreu. Não deveria ter vencido. Venceu. Não deveria exigir ser chamada de presidenta. Exigiu. Não deveria ter sido reeleita. Foi. Não deveria ter ido ao estádio na abertura e na final da Copa, seria vaiada. Mas Dilma suportou as vaias. Do mesmo jeito que suportou a tortura. Suportou as humilhações, enfrentou seus algozes de frente, olhando em seus olhos.

Nesta semana, 4 anos e 8 meses depois da fatídica sessão do impeachment, o agora presidente Bolsonaro voltou a debochar de sua tortura. Dois motivos. O primeiro é que Bolsonaro precisa deste tipo de atitude para chamar a atenção. Bolsonaro chegou aonde chegou escolhendo figuras para antagonizar e falando merda. Passou 28 anos no Congresso sendo o tiozão inútil que só fala merda e não ia mudar agora que chegou ao topo. Vai continuar sendo isto. O segundo, é porque ele enxerga em Dilma o seu oposto. Bolsonaro sabe que Dilma possui todas as características que ele não possui. Ele não consegue esquecê-la. Não importa que ele tenha “vencido”. Seu ódio não passa, pois isto é tudo que ele sabe sentir.

Em sua despedida do Congresso uruguaio neste ano, o ex-presidente José Mujica disse: “Triunfar não é ganhar, é ter a capacidade de se levantar e recomeçar após cada derrota”. Dilma triunfa. Triunfou ao suportar a tortura. Triunfou em 2016. Triunfa em 2020 e seguirá triunfando, para desespero de Bolsonaro e seus apoiadores. Quem perdeu  e segue perdendo é Bolsonaro e seus apoiadores. Não há derrota maior do que a perda da capacidade de empatia. São as pessoas que não mostraram empatia pela vítima de tortura em 2016 que hoje não têm empatia pelo sofrimento das pessoas que morrem ou que perdem entes queridos na pandemia. Estas pessoas são sempre as derrotadas. Não importa se são ricas, a cara delas é de derrota. Perceba que mesmo quando acham que vencem estão com ódio no olhar, estão sempre gritando e xingando. Resistir é triunfar e não há exemplo maior de triunfo no Brasil de 2020 do que Dilma Rousseff.


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