Jair Bolsonaro é a pior pessoa a
já ter comandado o Brasil na história. Ele possui quase todos os defeitos que um
ser humano pode possuir. Para dar alguns exemplos, ele é um sociopata,
lunático, maníaco, imbecil, torturador, racista, homofóbico, racista, para
citar apenas alguns. Um destes defeitos, porém, não é a burrice. Bolsonaro é
inteligente. Ele é ignorante e culturalmente vazio, mas é inteligente. Poucas
pessoas no Brasil são tão capazes de enxergar o cenário político quanto Bolsonaro,
e é por isso que ele saiu de deputado insignificante de baixo clero para
presidente da República. Ele foi o único que percebeu que o caminho para a
presidência não estava nas colunas políticas dos jornais ou em debates
acadêmicos sobre “Qual o futuro do Brasil”, estava nas redes sociais, nos
palcos do Superpop e nas participações semanais no CQC. Bolsonaro sabe que há
apenas uma pessoa no Brasil que pode impedir sua reeleição e sua consequente
perpetuação no poder que a eleição de 2022 pode significar. Reeleito em 2022,
Bolsonaro poderá formar maioria no Supremo, a única instituição ainda capaz de
o segurar em seu projeto. Não há motivo, por exemplo, para arrumar uma briga
agora com o Supremo para salvar um deputado sendo que em três ou quatro aninhos
esta instituição já poderá estar tomada de forma “legal”.
Parcela significativa da mídia
divide o Brasil em três grupos: Os que amam Bolsonaro e odeiam Lula, o que amam
Lula e odeiam Bolsonaro e os que odeiam os dois. Há, porém, um quarto grupo, muito
grande, composto por pessoas que gostam dos dois e são estas pessoas que
decidirão a eleição de 2022. Não, não acho que comparações entre Bolsonaro e
Lula sejam possíveis, assim como não acho que comparações entre Bolsonaro com
qualquer outra pessoa sejam cabíveis. Como já dito na primeira frase do texto,
Bolsonaro é a pior pessoa possível. Não dá para compará-lo com nada que já
tenha acontecido ou possa acontecer, inclusive a ditadura militar. Ele é mais
psicopata do que os presidentes militares, já tendo afirmado por exemplo que o
principal erro do regime foi não ter matado uns 30 mil. Bolsonaro não pode ser
comparado a Lula, a Dilma, a Temer, a FHC, a Collor, a Sarney, a ninguém, e
qualquer comparação deste tipo é uma falta de respeito à história do país e ao
comparado. Mas é fato que as pessoas que gostam de Bolsonaro e de Lula existem
e que são completamente ignoradas nas análises políticas. Lula possuía 50%
contra 29% de Bolsonaro nas pesquisas quando foi afastado do processo eleitoral
pelo futuro ministro da Justiça de Bolsonaro, que venceu o primeiro turno com
46%. Já em 2018 houve migração de votos de Lula para Bolsonaro e precisamos
entender as razões disto.
O principal motivo, a meu ver, é
a capacidade de comunicação que ambos possuem. De formas diferentes, Lula e
Bolsonaro são as pessoas que conseguem ser compreendidas por quase toda a
população, e as pessoas tendem a se identificar com quem fala a mesma língua
que elas. Lula fala a “língua do povo”, basta entregar um microfone para ele
que o entretenimento está garantido. Lula pode passar horas em cima de um palco
falando sobre qualquer assunto. Já Bolsonaro muito raramente consegue falar
mais do que dois minutos sobre qualquer assunto, comunica-se verbalmente da
mesma forma que se comunica no Twitter. É incapaz de elaborar pensamentos com
mais de 250 caracteres, mas fala frases feitas e bordões de fácil compreensão
que rapidamente entram na cabeça do ouvinte. É quase um personagem da Praça é
Nossa. E repito, isto não é burrice. Bolsonaro sabe que os eleitores que vão
decidir a eleição são estes. Como foi em 2018.
Bolsonaro reuniu em torno de si
grupos que trabalharam e que tornaram possível sua eleição naquele pleito bizarro.
Militares, baixo clero de Judiciário, igrejas evangélicas, ruralistas, caminhoneiros
e, por último, o mercado. Esta instituição foi a última a embarcar na última
etapa da psicose coletiva, embora já tivesse financiado todas as etapas
anteriores da piração iniciada em 2015. Todos estes grupos estão tendo o que
querem na tragédia chamada Brasil. Militares incompetentes, como aquele que
ameaçou dar um golpe de Estado caso o Supremo não confirmasse a prisão de Lula,
ocuparam cargos-chaves do poder federal. O baixo clero do Judiciário, embora
tenha perdido sua grande estrela, que fugiu para os EUA, tem todos os seus privilégios
garantidos e se mostra parceiro do presidente durante o genocídio, não o
incomodando enquanto milhares morrem devido às ações do governo federal durante
a pandemia. Igrejas Evangélicas ganham cada vez mais espaço na área educacional
e recebem verbas milionárias desta área. Ruralistas veem o Brasil se transformar
cada vez mais numa enorme plantação de soja mecanizada, enquanto compram armas
mais baratas para matar índios e se livrar de movimentos sociais. Quem ainda
não estava recebendo sua parte eram os caminhoneiros.
A chegada de Bolsonaro ao poder é
como a queda de um avião. Um evento deste tipo nunca acontece por um motivo só.
Há trocentas razões para que isto tenha acontecido: glorificação da violência
policial na grande mídia, transformação de processos judiciais em circo, incapacidade de PT e PSDB de enxergar que algo
pior do que o opositor democrático estava aparecendo, crescimento do fanatismo
religioso a partir da expansão de igrejas evangélicas em regiões periféricas, ocorrido
sobretudo graças ao abandono do Estado. Isto para citar alguns. Mas há quatro eventos
cruciais a meu ver. O impeachment de Dilma, com Bolsonaro sendo ovacionado ao
exaltar um torturador na tribuna que deveria condená-lo, a prisão de Lula, as
gravações da JBS com Aécio e Temer, que inviabilizaram os dois principais nomes
fora Bolsonaro do campo antipetista, e a greve dos caminhoneiros. Se o baixo
clero do Judiciário e os militares foram a parte “intelectual” do golpe
bolsonarista, os caminhoneiros foram a parte “braçal”.
Os caminhoneiros são mais
importantes para o projeto bolsonarista do que o mercado. Eles podem em duas
semanas acabar com este governo. A grande maioria da população está cagando
para o mercado de ações, e possui certa razão nisto. Quem está na merda vai
continuar na merda independente do que acontecer com a ação da Petrobrás.
Bolsonaro sabe disso. Mostrou compromisso com a galera que fechou estrada para
ajudá-lo ao chegar ao poder e ainda vendeu a uma parcela da população a ideia
de que ele “enfrenta poderosos”.
Parte significativa do mercado no
Brasil é formada por pessoas burras. E é o pior tipo de pessoa burra que
existe, que é o burro rico. Uma pessoa rica nunca vai perceber que é burra
porque ela acha que o dinheiro funciona como uma espécie de comprovante de
inteligência. Mais do que isto, a o burro rico tende a fugir das ciências
humanas, principalmente porque ela questiona o processo que permite ao burro
rico ser rico. Esta galera realmente acredita que é ela que garante e permite a
presidência de Bolsonaro enquanto ele agradar seus interesses. O que acontece
desde 2016 é o oposto. O mercado no governo Bolsonaro é o coadjuvante que acha
que é protagonista. Como forma de tentar aliviar o voto no genocida, racista,
homofóbico, machista e torturador, muitos agentes do mercado justificaram o
voto em 2018 dizendo que Bolsonaro era apenas um “poste”, quem iria governar
mesmo era Paulo Guedes. Pouco mais de dois anos depois, já está claro que Paulo
Guedes é que é o poste.
Bolsonaro não se preocupa tanto
com o mercado porque sabe também que na hora do “vamos ver”, esta galera vai
votar nele de novo. Realizando-se o processo mais do que provável de segundo
turno entre ele e o candidato de Lula, o mercado vai votar de novo nele. O
principal trunfo da elite brasileira é a miséria. É esta que permite lucros
milionários e garante à elite e à classe média brasileira uma vida repleta de
luxos. É esta miséria que garantirá a esbórnia no período pós-pandemia, quando
a maior parte da população tentará refazer vidas ainda mais arrebentadas depois
da maior tragédia da nossa história enquanto a elite se divertirá em férias na
Europa e viagens para comprar nos EUA. Intervir na Petrobrás é um mal menor
comparado com medidas que combatam esta miséria. Não à toa eles acham que o
presidente que tirou o país do mapa da fome, que permitiu que negros entrassem
nas universidades federais, que levou o mínimo de dignidade a uma parcela gigante
da população é o pior presidente da nossa história. Pior do que o presidente
que correu atrás de uma ema com uma caixa de remédio durante a maior tragédia
de nossa história recente. O mercado pode estar puto agora porque perdeu uma
grana na Petrobrás, mas recupera comprando ações de armas e se sente feliz
podendo pagar menos para o pedreiro e para a empregada doméstica. Depois
Bolsonaro inventa qualquer coisa para acalmar este mercado, tipo “autonomia do
Banco Central”. Promete que vai privatizar qualquer coisa e pronto. Esta galera vive de expectativas. O mercado fica feliz e se algum dia Bolsonaro tiver que
intervir no Banco Central, simplesmente vai lá e intervém. A lei nunca foi um
problema para Bolsonaro. Assim como o mercado não é. Os caminhoneiros podem ser.
Estes podem mudar o voto. Bolsonaro é contra qualquer medida de inclusão social
e distribuição de renda. Mas sabe que o povo fica puto quando a gasolina está
cara. Intervindo na Petrobrás, consegue se vender para uma parcela da população
como o “homem que enfrenta os poderosos”, sem efetivamente combater as causas da
nossa miséria. Os caminhoneiros gostam disso. E o mercado também. Pode estar
puto agora, mas passa. Em duas semanas eles já se acostumam e voltam a fazer
sinal de arminha.
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