Neste
ano eu descobri que existe uma coisa chamada Baile de Gala do Met. Eu realmente
me sinto envergonhado quando sinto que sou a única pessoa que não conhece algo.
Foi assim no dia do Baile. De repente todo mundo estava falando sobre um assunto
que eu não fazia a menor ideia do que era. Na hora pus no Wikipedia e descobri
que todo ano tem este baile com um monte de celebridade de todo tipo que doa
sei lá quanto para o Met para participar deste baile. E tipo todo mundo que é
famoso nestes países ricos vai. É tipo um investimento. Tem desde 1973. Aprendi
isto tipo em dois minutos. Já era o suficiente para saber o que estava
acontecendo. O único ano em que não teve o Baile do Met foi 2020, não preciso
dizer o motivo. Mas 2021 ele estava lá. De volta ao normal. O velho normal. A
pandemia tinha acabado. Mas não acabou. Achávamos que era só pintar vacina e
pronto. Especialmente nos países ricos. No começo de 2021 se vacinam os países
ricos, da metade de 2021 para frente os países de “classe média”, depois os
pobres. Já estava tudo pronto para imagens dos ricos bondosos ajudando os
pobres depois de se protegerem. Ninguém levava em conta a burrice. Nada é mais
perigoso do que burro rico. É muito difícil convencer um americano burro de que
ele é burro. Ele é rico, ele trabalha e ele tem uma arma. Se ele não quer tomar
a vacina, não vai tomar a vacina é pronto. “Ninguém manda em mim”, diz ele
desde a juventude em que ouvia rock ruim. Algo parecido acontece com o europeu
burro. No fundo eu acho que o medo que esta turma tem de imigração é um pouco
isso. Eles têm medo que pessoas de outros lugares descubram que eles são
burros. Normalmente os lugares que são contra imigração são aqueles que não
recebem imigrantes. Nova Iorque, Londres, Berlim, nenhum desses lugares tem
medo de imigrantes. A coisa muda no Texas ou na Hungria. Lugares que não gostam
de imigrantes tem uma proporção maior de pessoas que não tomam vacinas. A
correlação é direta.
Eu
não entendo absolutamente nada sobre Bitcoins. Nada. Sou um péssimo administrador
de finanças. Tornei-me pior desde 2018. Sei lá, eu converso às vezes com estes
caras que mexem com isto e eles são totalmente reféns das ações que compram.
Eles estão o tempo todo pensando nisso e o mundo deles gira em torno disso.
Quando aconteceu a tragédia de Brumadinho, a primeira coisa que eles pensaram
foi na queda das ações da Vale. A primeira coisa que eles pensaram quando um maníaco
psicopata foi eleito é que as ações das empresas públicas iriam subir porque
entre a ameaça de matar um e de torturar o outro ele disse que ia privatizar a
Petrobrás. O ex-juiz tá fazendo a mesma coisa. Chega pra essa turma e diz “meu,
você vai ganhar muito dinheiro e tal” e pronto. Às vezes acho que a turma do
Bitcoin faz a mesma coisa. Um fala pro outro que conta para outro outro e assim
a coisa vai indo. Não tem a menor lógica esse lance de moeda virtual. Mas pelo
jeito teve gente que ganhou muito dinheiro com isso. Quem tá no poder são esses
caras, que enchem o cu de grana sem produzir nada. Acho que no fundo eles têm
muito medo de que descubram, aí eles criam estas figuras tipo o capitão ou o
juiz. Porque não é possível que isto pinte do nada.
Acho
que a coisa a que mais me dediquei nesta pandemia foi ao aprendizado da língua
grega. Não deu muito certo, passei com uma nota medíocre, mas consegui manter a
mente ocupada em algo impossível enquanto desistia do mundo. No ápice do seu
poder, Atenas sucumbiu a uma pandemia que durou 40 dias. Em 40 dias, tudo foi
pro saco, tipo 1/3 da população morreu, acabou o império. Quando a galera viu que
não tinha nada a fazer, resolveu não fazer nada. Tocou o terror, tocou o
puteiro. Ao menos eles não sabiam o que tinha que ser feito. Nós sabemos, mas
não fazemos mesmo assim. Atenas era uma cidade concentrada, enquanto Esparta
era uma região de campo, as pessoas viviam mais longe. O vírus se espalhou em
Atenas, mas não tanto em Esparta. As pessoas achavam que era punição do deuses.
Ah, os deuses. Zeus tocava o terror. Punia sem dó. Fulminou Sêmele porque esta
ousou olhá-lo. Arrancou seu feto e terminou sua gestação na sua coxa, gerando
Dionisio, o deus da tragédia. É tipo nosso Deus. Muita filhadaputagem querer que
um pai sacrifique um filho. E essas pragas no Egito, então. Ou me obedece ou
morre. Não tem como uma sociedade com um deus destes prosperar. Uma hora vai
dar merda.
O
terrivelmente evangélico chegou lá. Mentiu pra caralho no Senado. Mas muito pra
caralho. Tipo, outro conceito de pra caralho. E o que acho bizarro é que eles
nem mentem bem. Não é que são uns caras tipo era o Maluf. São uns caras que gaguejam.
Basta, sei lá, dar um google, e você já desmascara estes caras na hora. Em dois
minutos eu descobri tudo sobre o Baile do Met, em trinta segundos dava pra jogar
na cara do terrivelmente evangélico que ele tava mentindo. Mas não. Ele disse
que era a favor de um estado laico. Tava mentindo. Tava na cara. Tipo menos de
meia hora depois de ser aprovado ele já falou que ia julgar para os
evangélicos. É todo mundo muito burro.
Essa
turma acha que é corajosa. Essa turma que não toma vacina. Se você trocar ideia
com eles vai ver que eles tão se achando muito fodas. Eles estão enfrentando o
estado opressor. Enfrentando o sistema. Se por acaso alguém que não toma vacina
passar por aqui, vai tomar no cu. Mas acho que ninguém vai passar. Mas fica a
mensagem.
Estão
aparecendo uns Bolsonaros por aí. No Chile apareceu um que foi pro segundo
turno. Aparentemente vai perder, mas sei lá. A turma do bitcoin e do Baile de Gala
estão colocando as fichas nele. É a mesma lengalenga que aqui. Vai matar todo
mundo, mas vai respeitar o teto de gastos. Falou que vai construir um muro no
Chile para impedir a entrada de imigrantes ilegais. Sim, no Chile. O Chile é
uma merda, mas tem quem tá mais na merda. E quem tá na merda não costuma ser
muito solidário com quem tá mais na merda. A República Dominicana construiu um
muro para impedir haitianos de entrarem lá. Esse pedaço de terra é nosso.
Fiquem no de vocês. É todo mundo muito burro. E filhodaputa.
Manter
a lucidez numa era de loucura coletiva. É bem difícil. Embarcar na doideira é
muito mais fácil. “Irmão, o demônio fode tudo ao seu redor, pelo rádio, jornal,
revista e outdoor. Te oferece dinheiro, conversa com calma, contamina seu
caráter, rouba sua alma. Depois te joga na merda sozinho”. Vou comprar bitcoins
e viajar para o México. Lá não tem quarentena. A primeira vítima da Covid no
Brasil foi uma empregada doméstica. Pegou a doença da patroa, que tinha acabado
de ir para a Europa. Já tinha a pandemia, mas não dava para desmarcar a viagem.
Correu o risco. Rezou uma missa. Deve ter contratado outra empregada no lugar. É
muito difícil convencer um rico burro de que ele é burro. É mais difícil ainda
convencê-lo de que ele é um filhodaputa. O filhodaputa não acorda, olha no espelho
e pensa “bom dia, filhodaputa”. Se pá ele até reza. Que Deus proteja os Bitcoins.
O rico burro não se convence que é burro mesmo quando a burrice aparece. Depois
do capitão, ele inventa o juiz. Se não der com eles, vai o apresentador de TV.
E assim vamos. Lembro do Justus criticando o lockdown porque disse que não dava
para fechar a economia por causa de uns cinco ou sete mil mortos. Até hoje
foram seiscentos e quinze mil cento e setenta e nove. Se não fosse o lockdown
meia boca, sabe-se lá quantos seriam. Nunca saberemos quantas vidas foram
salvas. E este é uns dos problemas. Sei lá, se um ônibus estiver prestes a te
atropelar e alguém se jogar na frente, você sabe que foi salvo. No caso da
pandemia, não. E lembre-se que todo mundo é muito burro. A galera não acredita
em vacina.
Durante
a pandemia comecei a ter plantas. Um desses hobbys de pandemia. Sou apaixonado
pela planta da foto. Apaixonado. Ela é muito feia. E fica feia mesmo quando
está bonita. Resolvi não mexer nas ervas daninhas. Resolvi ver onde o caos a
leva. Ela sobrevive. Sem nenhum cuidado. As folhas caem, a planta fica pelada.
Mas de repente, do nada, elas renascem. E não tem muito esta de estações com
ela. Ela simplesmente é. Claro que deve ter uma explicação. Mas resolvi não ir
atrás. Hoje as folhas começaram a renascer. Por algum motivo há esperança. Não
quero saber o porquê, mas ela renasce. Algumas coisas não precisam ter sentido. O bitcoin, a burrice. Mas também a minha planta.
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