Dois povos se odeiam. Eles vivem
no mesmo território, dizem que são donos de tudo e vivem guerreando. Sabe de
quem é a culpa? De quem os pôs lá. No caso específico do conflito Israel –
Palestina, os grandes culpados não são nem israelenses nem palestinos. São os
europeus.
Não
sei ao certo quando os judeus chegaram na Europa, estou longe de ser um
especialista no assunto. Sei, porém, que desde muito tempo eles foram
perseguidos no velho continente. O Holocausto foi o final de uma longa história
de ódio e preconceito que culminou com um dos mais terríveis genocídios da
história da humanidade. Judeus foram perseguidos na Inquisição, dos séc. XVI ao
XIX, tendo suas famílias obrigadas a mudar de nomes e religião. A Europa sempre
os tratou como sub-humanos, como seres a serem banidos da vida cotidiana. Foram
anos de ódio silencioso, tempo que permitiu que boa parte da população europeia
assistisse ao extermínio dos anos 1940 de braços cruzados.
O
sionismo surgiu no final do séc. XIX. Cansados dos séculos de perseguição, um
grupo de intelectuais judeus chegou à conclusão de que era necessária a criação
de um estado judeu e que apenas este estado poderia acabar com a eterna peregrinação
do seu povo. Como eles já entendiam que na Europa nunca teriam paz, julgaram
que seu estado deveria ser no que chamam de Terra Santa, de onde foram expulsos
milênios antes e que naquela época era um domínio do império Otomano.
Tudo
mudaria com a 1ª Guerra Mundial. Dispostos a receber os recursos que os judeus
possuíam (eles sempre prosperaram economicamente), os ingleses prometeram, em
caso de vitória, a criação do estado de Israel. Para isso, exigiam que a
comunidade judaica, claro, ajudasse-os no conflito contra a Alemanha e o
Império Otomano. Assim os judeus, inclusive os alemães, caíram na armadilha e
financiaram economicamente os ingleses no conflito. E eis que a Inglaterra não
cumpriu sua promessa após a guerra, transformando a Palestina em parte de seu
domínio imperial. Era a faísca necessária para transformar um ódio silencioso
em fome de extermínio nos países derrotados. Isto ajudou a permitir que alguém
com o discurso com o de Hitler chegasse ao poder e fizesse o que fez. Achar que
o Holocausto foi fruto apenas de uma pessoa nada mais é do que uma forma de
simplificar o que ocorreu e de livrar toda a sociedade de uma culpa coletiva. E
não me refiro apenas à população alemã, mas a toda população da Europa ocupada.
Refiro-me ao Leste Europeu, à França e ao Vaticano. Hitler não conseguiria
fazer o que fez se não contasse com a conivência de uma população em transe,
livrando-se daqueles por quem sentiam um ódio primitivo.
Acabada
a guerra, os judeus, quase exterminados, não tinham mais para onde ir dentro da
Europa e, na posição de vítima, contaram com o apoio americano para a criação
do estado judeu na Palestina. A comunidade judaica era capaz de pressionar
economicamente o governo americano, que por sua vez forçou a Inglaterra a
cumprir sua promessa de 3 décadas antes e a ceder o território para esta nova
nação. Os judeus poderiam, finalmente, deixar a Europa que sempre os perseguiu.
Naquela terra dada pela Inglaterra, porém, já tinha muita gente morando. Mas
isto não era mais problema inglês. Jogou-se o problema nas mãos da recém-criada
ONU, que dividiu a região da seguinte forma: 25% seria o estado judeu (Israel)
e 75% seria o estado árabe (Jordânia). Os países árabes não aceitaram esta
divisão e passaram desde então a usar o povo palestino como marionete em sua
guerra religiosa. Conclamados por Egito, Jordânia e Iraque, os palestinos
abandonaram a região, com a promessa de que em troca teriam todo o território
após a aniquilação dos judeus da região. Estes, porém, já sabiam o que era uma
tentativa de aniquilação. E desta vez sabiam que tinham que se armar até os
dentes contra isso. E contavam com o apoio americano. E tinham um estado.
Venceram esta e todas as outras guerras contra os países árabes, que até hoje
usam a população palestina como escudo. É triste, mas somente duas coisas
permitem a existência do estado judaico hoje: armas e EUA. Se a situação fosse
inversa, com os países árabes tendo o armamento israelense e vice-versa, o
Estado israelense já não existiria mais. E o palestino provavelmente também
não. Egito, Síria e Jordânia se lixam para os palestinos.
A
origem de todos os problemas de hoje da região é a Europa. A perseguição de um
lado, o imperialismo britânico do outro. Tanto judeus quanto palestinos são
vítimas e refugiados. Israel no fundo é isto, um grande campo de refúgio para
os dois povos. Uns foram expulsos da Europa, outros, membros de uma ex-colônia que não são aceitos por seus
vizinhos (sim, os mesmos países árabes que criticam Israel NÃO aceitam a
imigração Palestina). O caminho para a paz, momento clichê do texto, é a
convivência. É o entendimento que nenhum dos dois tem outro lugar para ir. E a
forma de se chegar a isto é a compreensão de que ambos são vítimas. E têm o
mesmo algoz na origem. Cada vez que vejo uma passeata pedindo a paz em qualquer
grande cidade europeia, só enxergo hipocrisia. Chegou a hora de a Europa
analisar seus erros passados e como ela é a responsável por muitas tragédias
mundiais. A escravidão de africanos na América, a divisão da África, a questão
Israel-Palestina. Chega de passeatas e de sermões arrogantes vindos de Paris e
Londres. Nada que os israelenses fazem contra os palestinos é tão ruim quanto o
que os europeus já fizeram a eles, e o mesmo serve para os atos dos palestinos
contra os judeus.
As
novas vítimas do “ódio silencioso” europeu são os ciganos. São repelidos em
quase todos os países que chegam e não há nenhum tipo de comoção quando
governos tomam medidas contra eles. Nos últimos tempos, por exemplo, Nicolas
Sarkozy anunciou leis que permitem a expulsão de ciganos da França, mesmo no
contexto de União Europeia, e David Cameron anunciou medidas para barrar a
entrada destes mesmos ciganos no Reino Unido, uma vez que Bulgária e Romênia
passaram a integrar a UE. Quase não
houve barulho. Se um dia isto chegar ao extremo que chegou a questão judaica, os
britânicos podem ceder uma parte do seu vasto território aos ciganos. Mas não
na Europa, claro. As ilhas Malvinas são uma boa sugestão. Se os vizinhos da
ilha ficarem bravos e quiserem tomá-la, que os ciganos se armem e contem com o
apoio americano.