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domingo, 18 de janeiro de 2015
O imbecil e a barbarie
Marco Acher Moreira era um imbecil. Típico playboy carioca, estava acostumado com a impunidade que apenas a elite tupiniquim conhece. A mesma impunidade que permite que o filho de Eike Bastista se apresente bombadão nos sites de fofoca uns dois anos depois de atropelar e matar um ciclista, estando bêbado, quando dirigia seu carro importado ganho do papai a trocentos quilometros por hora.
Marco não conhecia regras. A vida era uma festa, um jogo no qual ele sempre ganhava. Recebeu uma proposta de US$ 3,5 milhões para vender cocaína em Bali, paraíso de pessoas como ele, que querem curtir a vida com Sol, praia, gente bonita e droga. Cabia a ele fornecer a última parte desta curtição. A vida é um jogo a ele só sabia ganhar. Perdeu uma única vez, e feio. Nem a mamãe e nem mesmo a presidente puderam salvá-lo.
Imbecis são as primeiras vítimas das barbáries. Quanto mais longe os imbecis estão de se foder como se fodeu Marco, maior a chance de estarmos falando de um lugar civilizado. Na Alemanha, Marco seria preso, no Afeganistão, executado. Qual lugar é mais civilizado? Se você acha que o Brasil deveria fazer com a Indonésia, pense nos países que executam imbecis e nos que não o fazem.
Imbecis são as primeiras vítimas das pessoas de bem. Ser pessoa de bem significa na atualidade sentir-se alguém trabalhador e injustiçado. "Eu trabalho para que este vagabundo se dê bem. Ele que morra", disse qualquer pessoa de bem sobre Marco. As pessoas de bem, na barbárie, sentem-se capazes não apenas de distinguir-se como o bem contra o mal, mas de diferenciar aqueles que merecem viver daqueles que merecem morrer. Elas se sentem vítimas dos imbecis e procuram a justiça. Tanto na Indonésia quanto no Brasil.
A barbárie se materializa quando alguém consegue capitalizar este sentimento das "pessoas de bem", que representam sempre uma maioria silenciosa. O político que consegue convencer estas pessoas de bem que ele será a pessoa que eliminará os imbecis da sociedade tem boa chance de ser alçado ao cargo máximo do país. Foi assim na Indonésia. Temo que seja assim aqui num futuro próximo. Numa sociedade de impunidade e injustiça, nada preenche mais o senso de justiça das pessoas que se consideram justas do que ver imbecis se foderem, de preferência com a vida. Como um gladiador romano, que foi entregue ao leão depois de aprontar alguma.
A morte do imbecil não é nada. A reação das pessoas de bem é tudo. Ela mostra o caminho que seguimos. Aquele em que o cidadão comum deseja a morte de alguém, sem remorso algum. Quando Cristo ofereceu a outra face, não fez isso para um "pai de família". Fez para um imbecil.
Após a morte de Marco, muitas pessoas vibraram ao verem o imbecil se dar mal, como numa novela da Globo em que o carro do vilão cai de um penhasco no último capítulo. Outras disseram que apenas os bárbaros matam. É o primeiro lado que me preocupa. Aquele que acredita que o assassinato é justificado, desde que justo. Toda barbárie começa assim. O primeiro passo, pelo visto, já foi dado. Não pelo imbecil. Mas pelos que comemoraram sua morte. As pessoas de bem.
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