sexta-feira, 13 de março de 2015

O problema é o PMDB



A base da democracia brasileira pós-impeachment de Collor foi feita com PT e PSDB governando com o “auxílio” do PMDB. Este partido sempre foi situação desde 1985, talvez com exceção do governo Collor, que não à toa não tinha apoio no Congresso e foi derrubado. Nesta época, com Ulysses ainda vivo, ainda existia algum resquício de ética ao maior partido do Brasil. Depois disso, não existiu mais.
 Este sistema, com alternância de poder sustentada pelo PMDB, é a grande causa da crise política que vivemos. O país não interessa a este partido, em que qualquer ideologia é ausente, a busca é apenas poder e cargos. É impossível um governo não ser corrupto enquanto houver participação do PMDB. Dos 3 presidentes eleitos com esta aliança, FHC, Lula e Dilma, a última é a que menos sabe “negociar” com o PMDB. “Negociar”, neste caso, significa dar ministérios e verbas para a roubalheira. Nesta época de dificuldade, o partido sai da sombra e lidera o ataque da base aliada à presidente eleita. O objetivo aqui é explicar como chegamos nessa situação histórica pós-ditadura.
                A origem do PMDB é o antigo MDB, partido de oposição à Arena no Regime Militar. Com a derrota das Diretas Já no Congresso, o já novo PMDB se aliou a uma parte do PDS (antiga Arena) que fundou o PFL, formando a chapa Tancredo-Sarney para o Colégio Eleitoral de 1985. Tancredo ganhou, morreu, e Sarney, antigo presidente do partido dos militares, assumiu o governo da nova democracia chefiada pelo PMDB. O Brasil do governo Sarney foi uma enorme bagunça. Qualquer pessoa que diga, nestes momentos de ódio, que o Brasil de hoje  vive seu pior momento o faz por uma das três razões a seguir: falta de memória, falta de conhecimento ou má fé. Instabilidade econômica, violência e corrupção foram as três marcas do único governo chefiado pelo PMDB. Originalmente o governo deveria acabar em 1988, mas Sarney conseguiu do Congresso mais um ano de governo graças à distribuição de rádios para deputados país a fora, algumas delas para Aécio Neves, novo “paladino da justiça e dos bons costumes” de parte do eleitorado. Completamente desgastado, o PMDB teve resultados pífios na eleição presidencial de 1989, com Ulysses Guimarães, o senhor-diretas, terminando num melancólico 7º lugar.
                Um ano antes, uma ala mais séria do PMDB, inconformada com os rumos que o partido tomou após a chegada ao poder, resolveu sair e fundar outra sigla, com o objetivo de reestabelecer certa conduta e ética. Este partido é o PSDB. Em boa parte do final dos anos 80 / começo dos anos 90, PT e PSDB caminharam juntos. O PSDB apoiou o PT no segundo turno contra Collor em 1989 e nas eleições municipais de 1992 apoiou Eduardo Suplicy e Benedita da Silva em São Paulo e Rio de Janeiro. Um ano depois, começaria a ruptura.
                O impeachment de Collor levou ao poder Itamar Franco, político excêntrico e completamente despreparado para o cargo. A grande qualidade de Itamar era ter noção do próprio despreparo. Ao sentar-se na cadeira outrora ocupada pelo caçador de marajás, Itamar se preocupou em procurar alguém para governar o país enquanto ia para festinhas com mulheres sem calcinha. Inicialmente tentou o PT, entregando um ministério a Luiz Erundina. Mas o PT nunca aceitou ser coadjuvante e recusou a oferta, inclusive expulsando a ex-prefeita de São Paulo do partido. Itamar procurou em seguida o antigo PMDB sério, o PSDB, que aceitou a tarefa. FHC se tornou ministro da Fazenda, lançou o Plano Real e virou presidente logo em seguida, como todos sabem.
                A amizade entre PT e PSDB começou a ruir quando este último chegou ao poder. Para conseguir maioria no Congresso, o PSDB se aliou a dois partidos, PFL e PMDB. A mesma aliança da chapa Tancredo-Sarney, que voltava ao governo dessa vez sem o desgaste de ser a linha de frente. Como todo governo deste país, o governo FHC foi corrupto. Mas melhorou o país. É inegável que o país estava melhor nos anos 90 do que nos anos 80. Só se nega isto por uma das 3 razões a seguir: falta de memória, falta de conhecimento ou má fé. Mesma má fé mostrada por FHC quando, um mês após a reeleição em 1998, em que uma das suas promessas era manter a paridade R$ e US$ em 1 para 1, desvalorizou o real em mais de 100 %.
                Nesta época, embora já brigadinhos, PT e PSDB ainda conseguiam fazer alianças contra forças verdadeiramente conservadoras. O PSDB apoiou o PT no segundo turno das eleições municipais de São Paulo em 1996 e 2000, e o PT apoiou o PSDB no segundo turno das eleições estaduais de SP em 1998. Foi a partir de 2002, com a vitória de Lula, a rivalidade se acentuou.
                Lula tentou fazer, para conseguir governar, as mesmas alianças que FHC fizera. Chamou o PMDB para governar junto, mas não conseguiu atrair o PFL. Não fez tanta diferença, uma vez que boa parte do PFL migrou para o PMDB em busca de cargos. Como todo governo deste país, o governo Lula foi corrupto. E também foi um período de incríveis avanços na área social e o Brasil dos anos 2000 foi melhor do que o Brasil dos anos 90. Um número nunca visto de brasileiros entrou na faculdade e milhões saíram da pobreza extrema. Só se nega isto por uma das 3 razões a seguir: falta de memória, falta de conhecimento ou má fé. O mensalão em nada se diferenciou da distribuição de cargos ao PMDB por apoio, a menos a meu ver.
                Com ódio de Lula, a parte mais conservadora do eleitorado nacional enxergou no PSDB a única possibilidade de afastar o PT do governo. Com isto, o partido fundado com os princípios da social-democracia europeia se “endireitou”. Mário Covas deve se revirar no túmulo ao ver Coronel Telhada no partido que ajudou a fundar.
                Lula conseguiu fazer sua sucessora, Dilma Roussef, uma burocrata sem carisma e sem a capacidade de fazer política de seus dois antecessores. Ela não ouve e também não está tão disposta a ceder às pressões do PMDB. Isto significa menos cargos e mais pressão. E também menos corrupção. Só se nega isto por uma das 3 razões a seguir: falta de memória, falta de conhecimento ou má fé. O PMDB está faminto e talvez disposto a voltar para a linha de frente. O impeachment de Dilma significaria isto.
                A crise política de hoje é fruto da cisão entre PT e PSDB quando ambos passaram a lutar pelo poder. Atualmente o ódio entre os dois lados é maior do que qualquer coisa. Não tenho dúvidas, por exemplo, de que PT ou PSDB apoiariam Russomano nas eleições de 2012, caso Haddad ou Serra ficassem fora da segunda etapa da disputa. Ao invés de procurar o entendimento com alguém sério, ambos buscaram alianças com a máfia PMDB. Se você vai às ruas bater panela no domingo, não o faça pelo que representa Dilma. Faça pelo que representa Temer. O verdadeiro problema é ele. O modelo que permite que o PMDB seja a sombra de quem está governando faliu. Que PT e PSDB percebam isso antes de se matarem.

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