terça-feira, 8 de setembro de 2015

A BABAQUIZAÇÃO DO FUTEBOL


Como sempre eu venho aqui escrever textos mais fúteis que o meu amigo João Gabriel, mas os maiores exemplos da babaquice humana podem vir das futilidades.

Nesta última semana parte da torcida do Corinthians iniciou um processo de excomunhão do jornalista Milton Neves, conhecido por ironizar e atacar o Corinthians em seus programas de TV e rádio. A torcida pôs em prática um boicote ao jornalista e seus anunciantes fazendo até com que eles se manifestem publicamente.

A marca de sapatos Rafarillo diz em comunicado que também já apoiou os jornalista Neto e Ronaldo Giovanelli, notoriamente corinthianos, porém enviará a reclamação para o departamento de Marketing para análise. Apenas essa resposta da empresa mostra que o futebol, por incrível que pareça, ainda não atingiu o seu maior nível de idiotice.
Milton Neves é, antes mesmo que jornalista, um comunicador dos bons. Diria que ele é o Silvio Santos do esporte. Muitos entendem que o futebol é religião, outros entendem que é entretenimento, e eu fico no meio do caminho. Não assisto jogos do meu time como se fosse um filme ou uma novela, pois aquilo me move, me fascina, me traz tristeza e alegria, me faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da razão. Por outro lado, não posso colocar o futebol acima das milhares de coisas mais importantes na vida, como a liberdade.

Gosto de ver o Milton Neves falando asneiras que nem ele mesmo acredita. Gosto de ver o antagonismo nos debates esportivos. O que a torcida quer? Que todos os jornalistas defendam o Corinthians? Que sem graça, literalmente. Pense você se não é legal ver o Neto dizendo que o Corinthians deveria jogar a Champions League pouco antes de uma eliminação para o Guarani do Paraguai? E a Renata Fan chorando logo após o Grêmio golear o seu Internacional por 5 gols? Pois é, também é legal ver o Milton Neves levando caixão e apito do Corinthians para o estúdio.


Acordem! Boicotar um jornalista porque ele brinca com futebol é a babaquização máxima, além de ser um péssimo exemplo para os nossos filhos. Isso é uma espécie clara de opressão e intolerância. O trabalho do Milton Neves é esse, ele vive disso. Se ele irrita 30 milhões de corinthianos, não se esqueçam que existem mais 174 milhões de pessoas que se divertem. Pois é, existem outras pessoas além de corinthianos, você acredita?

Há quem diga que o torcedor também tem a sua liberdade de expressão e tem o direito de boicotar quem ele quiser. Isso é fato, é uma verdade. Eu não questiono o direito, mas os motivos. Quando uma grande massa se rebela contra uma injustiça ou um contra um ditador é bonito, inteligente e louvável, mas quando uma grande massa se volta contra um jornalista que faz piada com um determinado time isso se torna feio, burro e desprezível. Isso é, mais uma vez o retrato de uma sociedade que não aceita perder e ser contrariada, uma sociedade de mimados que sempre quer vitória e perde a glória de chorar.
O ponto mais preocupante dessa atitude é a censura imposta por um grande grupo e com motivos pra lá de questionáveis. Imaginemos que essa campanha dê certo e os patrocinadores abandonem Milton Neves, e que sem dinheiro de publicidade a Bandeirantes o abandone também, todos os jornalistas “antis” estão fadados ao desemprego? Que espécie de ditadura é essa? É o início do plano para que todos os brasileiros sejam corinthianos? Pelo jeito descobrimos que Pink e Cérebro são alvinegros.
O problema aqui não é se o Milton Neves vai perder o emprego e passar necessidades, ele é rico. O problema é como podemos moldar o comportamento da mídia nos utilizando do nosso poder de compra.

Pior que tudo isso acima, há a possibilidade de que Milton Neves comece a só falar bem do Corinthians para manter sua audiência, patrocino e emprego. Viveremos em um mundo de mais mentiras e seremos como aquelas celebridades as quais pessoas paparicam mas não suportam. A torcida do Corinthians, como a do Flamengo, tem muito poder e pode mudar muitas coisas, não usemos isso para o mal e para a repressão. Viva a diversidade de pensamento. Viva ao humor no futebol. Isso não é política, isso não é religião (não que, em muitas vezes, não utilizemos o fanatismo e a irracionalidade nesse 2 também).

Corinthians e Palmeiras deram o exemplo nos últimos 15 dias quando um parabenizou o outro pelo aniversário e enalteceu a maior rivalidade do estado. Falta agora os torcedores reconhecerem no adversário o combustível que move toda essa engrenagem. Se o futebol te move, te fascina, te traz tristeza e alegria, te faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da razão, é justamente por causa do seu rival. Sem rivais, sem derrotas e sem decepções não há motivação para evoluir. Aceite as derrotas, curta suas vitórias, brinque com os seus amigos, só não tente unir uma nação de torcedores-censores para destruir o futebol e a liberdade. Aprenda a perder, menino!


Texto de um corinthiano, com muito amor, até o fim.


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