Como sempre eu venho aqui
escrever textos mais fúteis que o meu amigo João Gabriel, mas os maiores
exemplos da babaquice humana podem vir das futilidades.
Nesta última semana parte da torcida do
Corinthians iniciou um processo de excomunhão do jornalista Milton Neves,
conhecido por ironizar e atacar o Corinthians em seus programas de TV e rádio.
A torcida pôs em prática um boicote ao jornalista e seus anunciantes fazendo
até com que eles se manifestem publicamente.
A marca de sapatos Rafarillo diz em comunicado que também
já apoiou os jornalista Neto e Ronaldo Giovanelli, notoriamente corinthianos,
porém enviará a reclamação para o departamento de Marketing para análise.
Apenas essa resposta da empresa mostra que o futebol, por incrível que pareça,
ainda não atingiu o seu maior nível de idiotice.
Milton Neves é, antes mesmo que
jornalista, um comunicador dos bons. Diria que ele é o Silvio Santos do
esporte. Muitos entendem que o futebol é religião, outros entendem que é
entretenimento, e eu fico no meio do caminho. Não assisto jogos do meu time
como se fosse um filme ou uma novela, pois aquilo me move, me fascina, me traz
tristeza e alegria, me faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da
razão. Por outro lado, não posso colocar o futebol acima das milhares de coisas
mais importantes na vida, como a liberdade.
Gosto de ver o Milton Neves
falando asneiras que nem ele mesmo acredita. Gosto de ver o antagonismo nos
debates esportivos. O que a torcida quer? Que todos os jornalistas defendam o
Corinthians? Que sem graça, literalmente. Pense você se não é legal ver o Neto
dizendo que o Corinthians deveria jogar a Champions
League pouco antes de uma eliminação para o Guarani do Paraguai? E a Renata
Fan chorando logo após o Grêmio golear o seu Internacional por 5 gols? Pois é,
também é legal ver o Milton Neves levando caixão e apito do Corinthians para o estúdio.
Acordem! Boicotar um jornalista
porque ele brinca com futebol é a babaquização máxima, além de ser um péssimo
exemplo para os nossos filhos. Isso é uma espécie clara de opressão e
intolerância. O trabalho do Milton Neves é esse, ele vive disso. Se ele irrita
30 milhões de corinthianos, não se esqueçam que existem mais 174 milhões de
pessoas que se divertem. Pois é, existem outras pessoas além de corinthianos, você
acredita?
Há quem diga que o torcedor
também tem a sua liberdade de expressão e tem o direito de boicotar quem ele
quiser. Isso é fato, é uma verdade. Eu não questiono o direito, mas os motivos.
Quando uma grande massa se rebela contra uma injustiça ou um contra um ditador
é bonito, inteligente e louvável, mas quando uma grande massa se volta contra
um jornalista que faz piada com um determinado time isso se torna feio, burro e
desprezível. Isso é, mais uma vez o retrato de uma sociedade que não aceita perder
e ser contrariada, uma sociedade de mimados que
sempre quer vitória e perde a glória de chorar.
O ponto mais preocupante dessa
atitude é a censura imposta por um grande grupo e com motivos pra lá de
questionáveis. Imaginemos que essa campanha dê certo e os patrocinadores
abandonem Milton Neves, e que sem dinheiro de publicidade a Bandeirantes o
abandone também, todos os jornalistas “antis” estão fadados ao desemprego? Que
espécie de ditadura é essa? É o início do plano para que todos os brasileiros
sejam corinthianos? Pelo jeito descobrimos que Pink e Cérebro são alvinegros.
O problema aqui não é se o Milton Neves vai perder o emprego e passar necessidades, ele é rico. O problema é como podemos moldar o comportamento da mídia nos utilizando do nosso poder de compra.
O problema aqui não é se o Milton Neves vai perder o emprego e passar necessidades, ele é rico. O problema é como podemos moldar o comportamento da mídia nos utilizando do nosso poder de compra.
Pior que tudo isso acima, há a
possibilidade de que Milton Neves comece a só falar bem do Corinthians para
manter sua audiência, patrocino e emprego. Viveremos em um mundo de mais mentiras
e seremos como aquelas celebridades as quais pessoas paparicam mas não
suportam. A torcida do Corinthians, como a do Flamengo, tem muito poder e pode
mudar muitas coisas, não usemos isso para o mal e para a repressão. Viva a
diversidade de pensamento. Viva ao humor no futebol. Isso não é política, isso
não é religião (não que, em muitas vezes, não utilizemos o fanatismo e a irracionalidade nesse 2 também).
Corinthians e Palmeiras deram o
exemplo nos últimos 15 dias quando um parabenizou o outro pelo aniversário e enalteceu
a maior rivalidade do estado. Falta agora os torcedores reconhecerem no adversário
o combustível que move toda essa engrenagem. Se o futebol te move, te fascina, te
traz tristeza e alegria, te faz gritar, xingar, perder o senso de justiça e da
razão, é justamente por causa do seu rival. Sem rivais, sem derrotas e sem
decepções não há motivação para evoluir. Aceite as derrotas, curta suas
vitórias, brinque com os seus amigos, só não tente unir uma nação de torcedores-censores
para destruir o futebol e a liberdade. Aprenda a perder, menino!
Texto de um corinthiano, com
muito amor, até o fim.
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