Uma
semana após comparar os refugiados sírios a um enxame de insetos, o premiê
britânico anunciou ontem que o Reino Unido fará parte do programa de recepção
de refugiados da União Europeia. O número previsto é de aproximadamente 5.000
refugiados, ainda bem longe dos 400.000 refugiados que a Alemanha receberá
apenas em 2015, e foi uma resposta à crescente pressão da opinião pública
britânica que chegou ao ápice ontem, com a divulgação da impactante foto do
corpo de uma criança refugiada em uma praia turca.
Cameron
foi eleito e reeleito na Grã-Bretanha tendo como base uma política
anti-imigrantes e contrária à União Europeia. Após a entrada de Romênia e
Bulgária na União, por exemplo, o premiê iniciou uma campanha de publicidade
negativa do Reino Unido nestes dois países. Placas com frases do tipo “Não
venha para Londres, aqui só chove e as pessoas são antipáticas” foram
espalhadas nestes dois países, placas estas patrocinadas pelo governo de
Londres. A resposta do governo romeno foi brilhante. A Romênia comprou
publicidade em Londres e espalhou placas do tipo “Na Inglaterra só chove e as
pessoas são antipáticas? Pois então venham conhecer a Romênia, aqui o tempo é
bonito e as pessoas te tratarão bem !”.
Como
promessa de campanha, Cameron convocará até o final de 2017 um plebiscito para
a saída do Reino Unido da União Europeia. Em sua opinião, a União hoje só traz
custos ao contribuinte britânico. Cameron também é contra a entrada liberada
para europeus de países pobres, como os habitantes do Leste Europeu. A União
Europeia é possivelmente o mais importante acordo de paz hoje existente, mas
isto não importa para Cameron. Ele não quer derrubar fronteiras, quer
aumentá-las. A questão que importa para ele não é paz, é grana.
Poucos
países têm tanta responsabilidade sobre o que ocorre hoje no mundo do que a Grã
Bretanha. A questão dos refugiados africanos, por exemplo, está intimamente
ligada à política colonial inglesa. Por séculos aquela região foi explorada por
Londres, que levou toda a riqueza, deixando em resposta um rastro de
destruição. Hoje os descendentes dos explorados correm em direção à metrópole, buscando
melhores condições de vida. Cameron diz não, acredita que o Reino Unido não tem
responsabilidade pelo que acontece. Não há um lugar do mundo que não tenha
sofrido com o Império Britânico na história. A África foi dizimada em nome do
desenvolvimento industrial inglês. A Ásia teve sua população viciada em ópio
porque isto atendia aos interesses comerciais britânicos. O Paraguai foi
dizimado por Brasil, Argentina e Uruguai armados pelos ingleses. Isto para
citar 3 exemplos em 3 continentes distantes. Cameron deveria estudar
história... Ou não, a educação na Inglaterra é muito boa, neste caso a questão
é egoísmo mesmo... E má fé. Cameron e boa parte da população britânica não
enxerga a responsabilidade histórica que possuem com estes povos. Ou até
enxergam, simplesmente não se sentem incomodados com isso.
Para
não dizer que o Reino Unido não tem interesse com nenhum tipo de refugiado, o
governo britânico dá cidadania para qualquer pessoa que chegar lá disposta a
investir 1 milhão de libras no seu território. Com isso, muitos russos mafiosos
procurados em Moscou ou árabes milionários do petróleo são muito bem recebidos
na terra da rainha.
Cameron
representa hoje a ausência de humanidade em um governo. Deu uma entrevista em
que se disse emocionado com a foto do menino morto. Duvido. Não há espaço para
este tipo de coisa em seu governo. Ele quer apenas atender a um momento da opinião pública
britânica, que muito provavelmente não está tão interessada nesta questão.
Basta uma notícia de sua inútil família real para que o drama dos refugiados
saia da mídia. Uma nova festa de Harry ou uma nova foto de Kate no mercado. E
assim Cameron poderá se livrar do que há uma semana chamou de enxame...
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