Alberto Saraiva é um empresário
bem sucedido. Não gosto de usar o termo sucesso para pessoas como ele, pelo
simples motivo que se aplicarmos a palavra sucesso para casos como o dele
devemos aplicar a palavra fracasso para todo mundo que não conseguiu o que ele
conseguiu. Eu não acho que o pai de família que precisa de dois empregos para
sustentar sua família seja um fracassado. Para mim este conceito está muito
mais ligado à forma como você lida com a sua vida. Acho que o termo sucesso usado para pessoas que simplesmente enriqueceram cria uma sociedade doente. Mesmo assim, não posso negar
que a história de vida de Alberto seja comovente. Começou absolutamente do
nada. Primeiro com uma padaria com o pai, que foi assassinado em um assalto no
estabelecimento 19 dias após a abertura. Não desistiu, abandonou a medicina e
investiu no Habib’s. Hoje é um cara rico.
Há um texto circulando na
internet cuja autoria é atribuída a Alberto e que está viralizando. Ainda não
há confirmação se o texto é realmente dele e você pode vê-lo no link a seguir: http://www.jornaldoempreendedor.com.br/destaques/inspiracao/o-desabafo-do-presidente-do-grupo-habibs.
É um dos piores e mais hipócritas textos que li nos últimos tempos.
O texto vangloria aquilo que
chamo de “mito do empresário bonzinho”. Com o objetivo de inserir entre os
trabalhadores a defesa dos interesses patronais, há uma campanha de marketing
ideológico, em certa medida patrocinada por parte da mídia, para transformar o
empreendedor em herói cujo objetivo principal é a criação de empregos. Boa
parte (para não dizer todos) dos grandes empresários nacionais não se importa
com a criação de empregos, o interesse está na margem de lucro. Para se obter
lucro, contrata-se gente. O emprego, portanto, não é o fim e sim o meio para se
chegar à melhor margem. Não há juízo de valor nisso. Não é errado querer
lucrar. Apenas não posso mais aguentar a hipocrisia deste empresariado de
querer vender a ideia de que eles fazem uma boa ação ao país ao contratar
gente.
A base da criação de riqueza é o
trabalho. É ele que transforma o nada em alguma coisa. Não há produção sem
trabalho. Para usar o Habib’s como exemplo, Alberto é dono das máquinas e do
estabelecimento, mas ele necessita de pessoas para gerar o produto final. Se
Alberto contrata um atendente por R$ 1.000,00, significa que este atendente
gera para Alberto, no final das contas, mais do que R$ 1.000,00. Se gerar
apenas R$ 900,00, será demitido. A conta é simples, mas as pessoas se
esqueceram do óbvio. O empregado de Alberto não deve ser grato a ele. Tudo que
ele consegue é fruto do seu trabalho, que ajuda a enriquecer Alberto. É este
que se apropria de parte da riqueza criada pelo funcionário, e não o contrário.
Sem juízo de valor. A renda do trabalhador só depende de si próprio, enquanto a renda do patrão depende do trabalho do outro. Do ponto de vista lógico, quem deveria ser grato a quem?
O empresariado brasileiro, neste
período de crise, tenta transformar seus interesses de classe em interesses
nacionais e para isso tenta transformar o ato de criação de empregos em
caridade, de tal forma que os seus empregados devem ser eternamente gratos
àquele que os emprega. Para isso, usa o argumento batido e mentiroso de que “a
última coisa que queremos fazer é demitir gente”. Mais uma hipocrisia. A última
coisa que eles querem é diminuir a margem de lucro. Uma nova demissão é apenas “corte
de gastos”.
A quantidade de trabalhadores que
caiu neste engodo cresce. É assustador o número de pessoas remuneradas
defendendo valores patronais e criticando a CLT. Que realmente acreditaram que
os empresários querem pagar menos impostos para contratar mais gente. Eles não
querem contratar mais ninguém, querem aumentar o lucro. Querem menos imposto para ter mais dinheiro no bolso. Só isso. Sem juízo de valor.
O empresariado trabalha em
interesse próprio. Conseguiu convencer uma parcela significativa da classe
média trabalhadora de que seus interesses representam os interesses nacionais. Aparecem
na TV falando de quantos empregos geram e recebem elogios por isso. Sem juízo
de valor, mas nossos valores estão invertidos. Na sociedade da aparência, não
percebemos o lógico. O que gera riqueza não é o empresário de terno, mas sim o
trabalhador de macacão, utilizando as ferramentas do empresário de terno. E cada
um deveria defender seus interesses. Sem agradecimentos e sem hipocrisia.
Excelente texto. Tenho acompanhado seu blog e admiro muito suas postagens. Ontem alguém no meu Facebook compartilhou o texto do empresário e eu tive a mesma opinião que você, o sistema conseguiu transformar o patrão no herói da nação e os empregados em vítimas indefesas esperando pelo seu salvador.
ResponderExcluirConcordo plenamente com sua análise sobre o sistema.
ExcluirObrigado pelo elogio Letícia.