Nossa
sociedade é viciada em sexo. Nenhum vício é tão usado para dominar e alienar
quanto este vício. Nenhum produto vende tanto. A publicidade que nos ronda deixa
bem claro que não há felicidade possível sem uma boa vida sexual. Queira fazer
sexo, sempre. Isto funciona principalmente para o sexo masculino. Toda
propaganda mostra o macho alfa como exemplo. É o cara rico e gostosão comprando
o carro fodão e ganhando em troca o sorriso de uma mulher gostosona. É o cara
nem tão rico e nem tão gostosão ganhando o sorriso de uma mulher gostosona.
Você só será feliz trepando, para isso, compre. Passamos mais tempo pensando em sexo do que em qualquer outro assunto.
O
macho alfa nunca fracassa. Portanto, nunca broxa. Muita gente acha que a vida
só vale a pena se nele houver sexo. Muita gente é estimulada a isso. Não há
vida sem sucesso. Não há vida sem sexo. Como um viciado em cocaína disposto a
tudo para atender o seu vício, estamos dispostos a tudo para conseguir uma
ereção. Mesmo que isto arrisque nossa saúde.
Em
1998 surgiu o Viagra, remédio com grande eficácia no combate a disfunção
erétil. Nos 3 anos seguintes, a Pfizer lucrou mais de US$ 1 bilhão de dólares
com a venda deste produto. No Brasil, a venda deste produto e de similares hoje
chega a 30 milhões de unidades por ano. Poucos produtos são tão lucrativos,
afinal, nenhum é tão bem sucedido em explorar o nosso vício sexual quanto este.
O principal efeito colateral deste remédio é o aumento do risco de ataque
cardíaco e de AVC. Qual a frequência com que isto acontece? Não sabemos.
O
jogador de basquete Lamar Odom foi internado esta semana após o uso excessivo
de um produto similar ao Viagra durante uma orgia num prostíbulo nos EUA. Nada
é mais sintomático do que um viciado em sexo estar disposto a pagar pessoas
para que tenham relações sexuais com ele. Mais do que isso, ele precisava
garantir a ereção, para isto tomou doses de Viagra. Está quase morrendo. Alguns
sites noticiaram que foi por uso de Viagra, outros não.
Por
que há um silêncio e uma falta de pesquisas sobre o número de pessoas vítimas
deste tipo de medicamentos? Por que não temos nenhuma pesquisa séria sobre este
assunto? Por que órgãos de imprensa não noticiaram que o ataque foi fruto de uso
de medicamentos contra impotência? A resposta, a meu ver, é financeira.
Sexo
vende e um produto que permite que o sexo aconteça tem um potencial financeiro
gigantesco. Empresas farmacêuticas gastam milhões em publicidade e estão entre as
maiores financiadoras das empresas de comunicação. Sexo é vida, repete-se
sempre. Pode-se até noticiar que você deve procurar um médico, mas não se
noticia se alguém morre por este assunto. Isto prejudicaria vendas. Por isso,
não há números nem um rosto famoso que seja reconhecidamente vítima deste
medicamento. Odom é o primeiro famoso que eu lembre, mas o assunto está sendo abafado. O que causou
seu problema já não recebe a atenção que recebe a visita que recebeu no
hospital de uma ex-namorada, da família Kardashian (não sei se escrevi certo). Provavelmente quando o assunto for tratado futuramente, Odom será objeto de piadas e não de conscientização.
Sexo
é um vício e todo vício é uma forma de opressão. Todo viciado é um dominado,
tanto pelo produto quanto pela pessoa que o fornece. Somos uma sociedade com um
vício que não é debatido, pelo contrário, é estimulado, pois assim somos mais
alienados e facilmente comandados. Passamos boa parte do tempo tratando do
assunto sexo e em como necessariamente uma boa vida sexual significa
felicidade. Muitos que recorrem a estes medicamentos não sabem os riscos que
estão correndo, uma vez que o assunto não é tratado da forma como deveria por
interesses do capital. Outros recorrem a estes produtos mesmo sabendo os riscos
que estão correndo. No primeiro caso, há simples ignorância estimulada pela má
fé de um sistema que coloca a exploração de um vício acima de qualquer outra
coisa. No segundo caso, a questão é mais perigosa. Há pessoas dispostas a
morrer para saciar seus desejos sexuais. Neste caso, o problema real e não
discutido não está na falta de ereção. Está no fato de que muitos acreditam que
a vida e tudo que ela oferece só vale a pena se houver sexo. Há uma inversão
séria de valores. Invisível, não debatida, explorada e, acima de tudo,
lucrativa.
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