segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O PSEUDO INTELECTUAL PATRIOTA.


Temos várias pessoas no Brasil que sentem a necessidade de parecer que pensam fora da caixa, que têm uma visão única do mundo e que suas posições sobre diversos assuntos são revolucionárias e capazes de abrir a mente dos outros. Eu chamo de pseudo intelectuais. Dependendo da sua opinião eu serei um pseudo intelectual no final desse texto. Tudo bem, pode ser até verdade.

A última enxurrada de opiniões é sobre qual tragédia chorar. Estamos discutindo se é mais válido se entristecer por uma tragédia na França ou uma tragédia aqui em Minas Gerais. Vejo publicações nas redes sociais condenando a forma com que os brasileiros estão tratando a o ataque terrorista, colocando fotos de perfil com as cores da bandeira francesa ou compartilhando a súplica “pray for Paris”.
Os que questionaram o fato de que os outros estão mais preocupados com os franceses do que com os brasileiros não estão dando nenhuma aula de solidariedade e, muito menos, de amor ao próximo. Quantificar atrocidades é banalizar a morte e os supostos pensadores desse tipo de doutrina se colocam em um pedestal intelectual e social em que certamente não estão.

Comparar a tragédia de Paris com os atentados na Síria faz total sentido, por exemplo. Senti essa necessidade de "medir tragédias" quando analisei a cobertura da imprensa internacional sobre o atentado ao Charlie Hebdo e as atrocidades provocadas pelo Boko Haram na cidade de Baga (Nigéria), sendo que neste último a Anistia Internacional contabiliza em torno de 2 mil mortos. A diferença é que neste caso a revolta era mais com a imprensa do que com a população em geral.

O rompimento da barragem em Minas Gerais foi resultado de má gestão e negligência. Não existiu uma pessoa que propositalmente explodiu a barragem para prejudicar a cidade e seus habitantes. Foi um acidente em que 11 pessoas morreram de forma estúpida e a evitável, uma cidade foi destruída e milhares de famílias ficaram desabrigadas. A fauna e a flora da região levarão décadas para serem reconstruídas. Lamentável.

A comoção em torno do caso de Paris está baseada na clara vontade de um ser humano tirar a vida de outro. É a comprovação da falha da vida em sociedade, é a total descrença em um mundo melhor, pacífico ou tolerável. Atentados terroristas não devem ser comparados com acidentes nunca. O que os idiotas patriotas devem entender é que a divisão territorial é apenas uma linha imaginaria entre os países, que não importa se a tragédia é Mariana, em Paris ou em Baga, o que importa é que são vidas humanas desperdiçadas e SEMPRE um ato terrorista será mais grave que um acidente, pois o terrorismo poda a nossa esperança. O terror nos machuca física, mental e moralmente, abre feridas e mágoas que não curam.
Nem sempre pensar significa estar no lado oposto ao da maioria. Costumo dizer que nada é pior que o novo religioso e o novo ateu, já que os 2 acreditam que acabaram de descobrir uma verdade que os imbecis não enxergam. A necessidade de se expressar a qualquer custo faz com que as pessoas pensem de forma simplória e imediatista.

Ouvi nos últimos três dias todos os tipos de opiniões sem sentido que se possa imaginar. Há os que multiplicaram por 40 o número de mortos em Mariana apenas para basear sua tese ridícula. Outros se manifestaram com frases como: “Tanto valor para um país que nem conhecem”, “200 pessoas na boate Kiss e eu não vi ninguém em Paris chorando”. Tem gente fazendo relação dos refugiados sírios com o atentado.
Matar pessoas, seja lá quantas forem, com o objetivo de impor e calar é um crime contra a humanidade e a liberdade, não contra um parisiense.

Chore por Paris, chore por Baga, chore por Mariana. Esqueça as linhas do mapa.



Abaixo alguns tipos de absurdos vergonhosamente publicados:




2 comentários:

  1. Olá Vinícius! Cada vez eu fico mais convencida que o problema do mundo são as fronteiras.

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    1. Nós criamos todas as formas possíveis de diferenciar coisas iguais, como seres humanos. Obrigado pelo comentário.

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