Somos uma sociedade com medo.
Esta palavra será o grande lema das eleições de 2018, caso elas realmente
ocorram. Todos estão com medo de algo. Quem tem medo odeia. Queremos eliminar
aquilo do que temos medo. Não à toa as pessoas que têm medo e ódio de Lula
aplaudiram sua condenação sem provas. Não à toa uma parcela significativa da
população aplaude a intervenção federal no Rio. Elas têm medo e querem eliminar
aquilo do que têm medo. A qualquer custo. O medo é maior do que o respeito à lei ou ao próximo.
Somos uma sociedade consumista. A
procura da felicidade se dá quase sempre pelo consumo de um bem ou de um
serviço. Pagamos por privilégios. A real e principal causa da nossa violência é
o consumismo. Mas ninguém fala sobre isto. Manter-nos sedentos por consumir
sempre algo que ainda não temos é fundamental para manter a sociedade girando.
Como em Admirável Mundo Novo, não reaproveite nada. A publicidade infantil nos
ensinou desde pequeno a não gostarmos do que somos e a mudarmos isto comprando
algo. É como uma doutrinação. Queira o melhor brinquedo, a melhor roupa. Depois
o melhor carro, o melhor relógio. Comprar é ser bem-sucedido. Quem não tem é
perdedor. É melhor viver uma vida curta desfrutando do que há de melhor ou
viver uma vida longa se sentindo um perdedor. O Brasil melhorou muito seus
dados sociais a partir de 1994 e especialmente após 2002. Esta melhora não
resultou em diminuição da violência. Pelo contrário, a inclusão a partir da
expansão do consumo da era Lula só viu aumentar os casos de violência. O Ceará,
estado que mais evoluiu em educação na última década, tendo 77 das 100 melhores
escolas públicas do país, passa por um surto de violência. Uma falha da
esquerda é não enxergar que a violência brasileira não é totalmente fruto de
questões sociais, embora, obviamente, ela tenha grande importância.
Somos uma sociedade desigual.
Somos formados com uma forte herança escravista, com uma pequena elite
preguiçosa e sanguessuga explorando uma grande massa acostumada a ser
explorada. Muitos com pouco, poucos com muito. Aqueles, porém, não questionam o
sistema que os explora, sonhando um dia assumir o papel de explorador. Como
numa novela, em que a mocinha boazinha ganha como prêmio no final a riqueza. A
mídia faz seu papel. Estimula o consumo e incentiva os valores de uma sociedade
desigual. O programa da apresentadora loira e linda quase sempre tem em seu
intervalo uma propaganda de tinta de cabelo ou de remédio para emagrecimento. O
jornal que fala sobre as mazelas da saúde pública quase sempre tem alguma
propaganda de plano de saúde. O mesmo com educação e outras coisas. Quem
sustenta a mídia é a publicidade. Ela depende do nosso consumismo e nos faz
violentos.
Somos uma sociedade dependente da
violência. O sentimento de insegurança gera empregos. Seguradoras são hoje
anunciantes importantes. O impacto, digamos, num estado quase utópico, do fim
da violência seria gigantesco em nossa economia. É fundamental combate-la, ou
ao menos fingir que se está combatendo, mas mantendo o cidadão comum com medo.
Tanques na rua cumprem esta função. Melhoram a sensação de segurança. Mas ninguém vai deixar de pagar seguro do carro por causa disso.
Medo e consumismo. Intervenção
militar e crescimento do PIB. O estado visto como alguém que nos protege
daqueles que temos medo e que me ajuda a comprar mais bugiganga. Destrói-se a
Previdência para agradar ao mercado financeiro. Temer consegue ler nossa
sociedade como ninguém. Não duvidem de sua capacidade de fazer política. Sonha
com a reeleição e sabe que o medo é das melhores armas para atrair a sociedade
que hoje o detesta. Atrai os bolsonetes que querem sair matando todo mundo e os
barões do mercado que temem Lula. Mesmo que para isto tenha que brincar com o
pouco que nos resta de democracia. O fracasso do Exército significará uma
vergonha para nossas Forças Armadas. O sucesso, a volta de uma ideia monstruosa
de que o Exército é capaz de solucionar os problemas que a sociedade civil não
soube resolver. O mesmo sentimento que gerou a sucessão de golpes militares que
tivemos em nossa história. Sociedades com medo e ódio não se importam com a
democracia. O Brasil normalmente é assim. O que vivemos entre 1994 e 2014 foi
uma breve exceção em nossa história. Temer é a face medíocre de uma era
medíocre. Não duvidem que o Fora, Temer seja respondido por um Fica, Temer em
outubro.
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