segunda-feira, 11 de março de 2019

Bolsonaro não enganou seus eleitores



Bolsonaro não enganou seus eleitores. Não sei se um bom texto começa com a repetição do seu título, mas sinceramente não consigo pensar num começo melhor. Bolsonaro se apresentou como candidato tendo como “currículo” vinte e oito anos de um mandato como deputado federal completamente insignificante, em que se “destacou” graças a bizarrices espalhadas na mídia sensacionalista. É o político que ia no Superpop ou no CQC falar merda, gerando um ou dois pontos a mais de audiência. Não entende absolutamente nada sobre nenhum assunto, aproveitou seu mandato para ofender o maior número de pessoas possíveis, lutou contra o conhecimento, o respeito e a inclusão. É como presidente aquilo que foi como deputado.
O presidente Bolsonaro não tem nenhuma qualidade. Nenhuma. Tanto pessoal quanto profissional. Profissionalmente, é um ex-militar vagabundo e preguiçoso que saiu do Exército porque planejou um atentado malsucedido. Como pessoa, as principais “qualidades” que seus súditos adoram espalhar são que ele é “bom pai, autêntico e fala o que pensa”. Sobre ser bom pai, criou uns filhos de merda. Todos os seus filhos são brucutus ignorantes e insignificantes. Nenhum presta para nada ou é capaz de produzir algo minimamente relevante. Sobre ser autêntico e falar o que pensa, isto não é uma qualidade se você só pensa bosta. Aliás, se você só pensa bosta, não seja autêntico.
Muita gente pensa bosta. E votou neste imbecil. Este é o problema real. Numa eleição com trocentos candidatos preparados, a maioria da sociedade se identificou com o autêntico que só fala bosta. O ex-ministro da Educação que colocou milhares de jovens na Universidade não foi páreo para o imbecil que acha que o problema da Educação é a “mamadeira de piroca”. A ex-ministra do Meio Ambiente, autoridade mundial no assunto, que enfrentou todo tipo de dificuldade e preconceito, não foi páreo para o babaca que disse que teve uma filha mulher porque deu uma fraquejada. O ex-ministro da fazenda do Plano Real não conseguiu conter o avanço do idiota que acha criança gay deve apanhar dos pais. O ex-governador médico de SP com seu governo fiscalmente respeitável não conseguiu deter a besta que quer impedir que jovens tenham acesso a educação sexual. Tínhamos muitas opções, à esquerda e à direita. As pessoas escolheram a que tinha como “qualidade” falar bosta.
É complicado convencer alguém que se destacou falando e fazendo bosta a de repente parar de falar e fazer bosta. Coloquemo-nos no lugar de Jair Bolsonaro. Um ex-capitão rejeitado que ganhou fãs e notoriedade falando e fazendo bosta. Chegou assim ao topo. Como manter-se lá? Falando e fazendo ainda mais bosta, ora pois.
Quem acha que o eleitor de Bolsonaro está arrependido da escolha que fez vive fechado numa bolha e/ou é muito inocente. Ele está sendo exatamente o que prometeu. Um culto ao preconceito, à ignorância, à violência, ao machismo e à repressão sexual. Cada frase ou gesto seu que incentive estes cinco temas gera verdadeiros orgasmos em seus seguidores. O problema não é apenas Bolsonaro, é sim principalmente a sociedade que o elegeu.
Assim como seus eleitores, Bolsonaro adora acusar os adversários (vistos como inimigos) daquilo que faz. Chama todos de mentirosos enquanto espalha fake news. Faz pose de vítima enquanto chama tudo de vitimismo. Assina a posse com uma caneta Bic para mostrar humildade, enquanto eleva em sei lá quantos porcento os gastos com cartão corporativo. É uma das táticas típicas do fascismo.
Bolsonaro e seus eleitores não gostam de especialistas. Passaram anos sucumbindo às vontades daqueles que entendem. Paulo Freire não entende de educação, dizem eles. Quem entende é o Frota. Marina Silva não entende de meio ambiente. Quem entende é o rapaz do Partido Novo que inventou um diploma falso em Yale. Somos um país de Damares. De pessoas lunáticas e ignorantes querendo impor sua ignorância de forma truculenta. Bolsonaro evita debates. É incapaz de passar mais de um minuto falando sobre um assunto. Já tinha deixado isto claro na eleição. Segue a fórmula que deu certo agora. Seus eleitores também são incapazes de passar mais de um minuto prestando atenção, afinal. A comunicação deles é toda feita por memes.
A sociedade é a culpada. A sociedade que aceitou cegamente a forma como a Lava-Jato atropelou a lei. A sociedade que viu o juiz que prendeu o presidente virtualmente eleito e ganhou como prêmio um ministério. A sociedade que aprova o projeto deste mesmo ministro de legalizar os crimes cometidos por agentes do estado. A sociedade que aprova a facilitação do posse de armas. Numa eleição com tantas opções decentes, quem votou em Bolsonaro está tendo exatamente o que queria. Um imbecil truculento e preconceituoso. Somos uma sociedade truculenta e preconceituosa. 

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