A situação está cada vez mais
dramática na “Venezuela” e sinto que a mídia e as pessoas de certa forma
normalizaram a situação. No relato a seguir, descreveremos alguns dos últimos
eventos que servem para mostrar o tamanho do drama vivido pelos “venezuelanos”.
Na semana passada, em “Maracaibo”,
segundo maior cidade do país, membros do exército executaram, com oitenta tiro,
isto mesmo que você leu, oitenta tiros, o carro de uma família que foi
considerada suspeita. Questionados sobre o assunto, o presidente da “Venezuela”
disse que não houve crime algum e o ministro da Justiça disse que este tipo de
erro, nas palavras dele, “pode acontecer”.
A última eleição na “Venezuela”
foi bem esquisita. O líder da oposição, segundo as pesquisas, venceria as
eleições com tranquilidade, mas foi afastado da disputa e preso por um processo
altamente duvidoso, conduzido pelo juiz que receberia como prêmio o cargo de
ministro da Justiça do governo eleito graças a esta prisão, o mesmo ministro
que diz que o assassinato de um homem inocente por um ataque de oitenta tiros
das forças armadas “pode acontecer”. Ainda nesta eleição, conselheiros da ONU
recomendaram à “Venezuela” que o país permitisse a candidatura do líder da
oposição, mas a “Venezuela” se recusou a atender a recomendação.
A carreira do presidente da “Venezuela”
é marcada por declarações absurdas. Entre outras coisas, ele defende a ditadura
ocorrida no país em décadas passadas, assim como elogia os ditadores paraguaios
e chilenos. Disse que o maior erro da ditadura “venezuelana” foi ter “matado
pouco”. Além disso, tem diversas declarações machistas, racistas e homofóbicas.
Se uma criança for homossexual, diz o presidente da “Venezuela”, ela deve
apanhar. Sua campanha foi financiada por boa parte do empresariado nacional e
contou com o apoio de notícias falsas espalhadas em redes sociais. Disse em um
discurso que iria “metralhar a oposição” e que a obrigação das minorias é “se
curvar às maiorias”. Não à toa usou como slogan de campanha o mesmo slogan da Alemanha
nazista, “Venezuela über alles”.
Após tomar posse, uma das
primeiras medidas do presidente da “Venezuela” foi facilitar a posse de armas
no país. Quem redigiu este decreto foi o ministro da Justiça, aquele que era
juiz e que disse que assassinatos cometidos por forças públicas “podem
acontecer”. No dia anterior a este decreto, o ministro recebeu os
representantes das empresas “venezuelanas” produtoras de armas, mas não quis comentar
publicamente esta reunião. Foi decidido que cada família “venezuelana” pode ter
quatro armas em casa. Mais ou menos na mesma época, este ministro propôs um “pacote
anticrime”, cuja principal proposta é afastar a possibilidade de punição para
qualquer membro de força pública que cometa um “excesso” em operações
policiais. Basta, por exemplo, que este agente diga que a pessoa alvejada e
morta era “suspeita” para que ele não sofra nenhum processo caso cometa um
crime. Isto se aplicaria facilmente ao caso dos oitenta tiros de “Maracaibo”,
por exemplo. Ainda também no começo do governo, o ministro “venezuelano”, com o
total apoio do presidente, propôs repetir na educação o mesmo plano de ação que
prendeu o líder da oposição. O presidente da “Venezuela” coloca a “limpeza” na
educação como prioridade da sua gestão. Um dos objetivos do atual ministro da
educação, exposto publicamente, é acabar com faculdades de ciências humanas nas
regiões mais pobres do país. O presidente já anunciou que quer colocar
critérios ideológicos na aprovação de pessoas para mestrado, já disse que vai
vistoriar a prova de acesso às faculdades públicas e, com esta operação de “caça
às irregularidades” na educação procura buscar algo contra o seu adversário nas
eleições do ano passado, um ex-ministro da educação do líder preso. Abrir uma
operação para investigar um crime que não se sabe qual é algo típico de regimes
autoritários.
A operação comandada pelo
ministro da justiça “venezuelano” que resultou na prisão do líder da oposição
gerou espaço para o surgimento de outros políticos. O atual governador de “Maracaibo”,
local onde aconteceu o crime citado no primeiro parágrafo, é um ex-juiz amigo
pessoal deste juiz-ministro. Sua principal promessa de campanha era a
contratação de snipers para atirar na “cabecinha” de qualquer pessoa suspeita.
O número de mortos em ações policiais na cidade de “Maracaibo” bateu recordes
desde de que ele assumiu a província e ele já se disse um grande defensor do
projeto de lei do seu ministro amigo.
No ano passado, uma vereadora de
oposição da cidade de “Maracaibo” foi assassinada. Ela denunciava a atuação de
milícias policiais na cidade, que haviam dominado a prática do crime organizado.
O atual presidente, que era deputado por “Maracaibo” já deu declarações de que
é favorável a estas milícias e são muitas as suspeitas de que há relacionamento
próximo entre ele e milicianos. O principal suspeito do assassinato da
vereadora, preso no começo do ano, era vizinho e amigo do presidente. O atual
governador de “Maracaibo”, durante sua campanha, participou de um evento em que
uma placa em homenagem a esta vereadora era quebrada e em que seu nome era
xingado.
Outros absurdos acontecem no
governo “venezuelano”. A figura “intelectual” mais influente do governo é um
guru bizarro morando na Virgínia, sem formação em nada. Todo ministério se
curva a ele, incluindo o ministro da Economia, que o chamou de “líder da nossa
revolução”. As relações exteriores da “Venezuela” passam por um momento de tensão,
com o governo rompendo com aliados estratégicos. “Fazemos parte”, diz o
ministro das Relações Exteriores da “Venezuela”, de uma “guerra contra o
comunismo”. Estas situações, porém, não parecem preocupar tanto a mídia “venezuelana”,
que foca na tentativa de reforma da previdência e na situação das ações da “PDVSA”,
a petrolífera “venezuelana”.
A elite “venezuelana” quer
premiar o presidente da “Venezuela” com o prêmio de “venezuelano” do ano. O prêmio,
ironicamente, é entregue em Nova York, patrocinado pelas principais empresas “venezuelanas”
e teve como últimos vencedores o atual ministro da justiça, aquele, o juiz que
prendeu o opositor, liberou as armas e quer liberar a matança policial, e o
ex-prefeito de “Caracas”, atual governador da província e que foi eleito
basicamente com a mesma proposta que elegeu o governador da província de “Maracaibo”.
O local do evento, o Museu de História Natural de NY, já anunciou que quer
rever a realização do evento em sua sede e o prefeito nova-iorquino disse que o
presidente da “Venezuela” é uma vergonha com sua visão de mundo. Isto é apenas
uma mostra de como o Brasil é visto no mundo deste que esta turma horrorosa
assumiu o poder. Em outros lugares estamos nos tornando a vergonha mundial. Quem sabe lendo como “Venezuela” a ficha caia para aqueles que
ainda permanecem cegos e calados.