domingo, 11 de abril de 2021

Em nome de Deus

 

Boa parte dos maiores crimes da história da humanidade foram cometidos em nome de Deus. E digo este boa parte ao invés de todos para não correr o risco de que tenha tido um ou outro em que Seu nome não tenha sido citado. Não generalizar, um pequeno passo na minha busca por escrever melhor. O próximo será ser capaz de escrever textos opinativos que não sejam em primeira pessoa. Ainda não sou capaz.

Deus está sempre lá. Onipresente. Cristãos matando judeus, judeus matando árabes, árabes matando hindus, hindus matando sei lá mais quem. E assim vai indo. Os índios escravizados em nome de Deus, negros escravizados em nome de Deus. Judeus em câmaras de gás em nome de Deus. Avião explodindo uma torre em nome de Deus. Bombas inteligentes “errando” os alvos e acertando hospitais em nome de Deus.

Não acredito que Deus tenha criado os homens à sua imagem e semelhança. Mas não tenho dúvidas de que o homem criou Deus à sua imagem e semelhança. É muito provável que no começo o homem tenha imaginado que Deus era uma força da natureza. Faz todo sentido, aliás. Imaginar no Sol uma divindade faz muito mais sentido do que imaginá-lo como um homem velho que mora no céu. A evolução fez com que o homem precisasse de um novo Deus, capaz de servir a seus interesses. Um Deus autoritário e punitivo. O Velho Testamento nos apresenta um Deus mesquinho, egoísta e infantil, do tipo que obriga um pai a sacrificar um filho por capricho e que é capaz de espalhar pragas que destroem cidades e matam milhares caso seus habitantes se recusem a obedecer às dez regras que ele ditou a um outro homem velho em cima de uma montanha. Gregos e outras civilizações ainda colocavam um espaço entre os homens e os deuses. Embora todo tipo de atrocidade fosse justificado como uma honra às divindades, ainda não nos igualávamos a ela. Os egípcios e outros povos escolhiam uma pessoa para ser chamada de Deus. Embora isto já mostrasse uma vontade de igualar o homem ao Deus, Este era sempre o outro, não o eu. Foi o judaísmo e depois o cristianismo que trouxeram a ideia de que Deus é um homem como nós e que, por ser onipresente, está sempre conosco. Se Deus está comigo e eu creio Nele, Ele sou eu. Eu posso me sentir Deus. A minha vontade é a vontade Dele.

O pior tipo de pessoa má é aquele que acredita em Deus. Esta pessoa O usará como justificativa para todos os seus crimes. Não há um certo e um errado baseado em nenhum tipo de valor moral real, o certo e o errado é baseado exclusivamente na vontade e no desejo individual, uma vez que Deus está com esta pessoa. A realização do seu desejo pessoal é a realização do desejo divino. Bombardear, escravizar, torturar. Está tudo no livro sagrado.

Deus esteve com Bolsonaro o tempo todo. No seu histórico voto na sessão que marcou o início do fim, o “em nome de Deus” se seguiu ao louvor ao torturador. Não só ele, mas todos justificaram seus votos usando Deus. Não duvido que eles acreditassem realmente nisto. É realmente fácil se sentir um Deus. Não tenho a menor dúvida de que os militares que torturavam a jovem Dilma Rousseff se sentissem deuses nos momentos em que torturavam e matavam jovens como ela. Imagine a quantidade de poder que um ser humano deve sentir ao ter outra completamente submissa. Saber que você pode matar uma pessoa por um capricho qualquer, quase um sacrifício, e saber que nada nem ninguém vai te punir por isso. Nem Deus, pois Ele está ao seu lado. É muito vantajoso crer num Deus psicopata que justifique a própria psicopatia.

Quem crê no Velho Testamento não é tolerante. Tolerância não é a marca registrada deste livro e de quase nenhuma religião que eu conheça. Novamente evitando a generalização. Lá estão as dez regras e quem não cumprir as vontades de Deus será jogado no inferno pela eternidade, onde o pecador conviverá com o calor do fogo, o cheiro do enxofre e a escravidão pelo todo sempre, amém. Mas este Deus nos ama. É esta a visão de amor de quase toda religião. O Deus que te ama é o Deus que te domina. Aquele que não é dominado deve ser punido. Amor e punição andando juntos, se complementando. Urros quando Bolsonaro promete expulsar ou matar os opositores do país. Um pai nosso logo em seguida para abençoar a guerra santa em busca da Terra Prometida.

Não há a menor chance de convencer Bolsonaro e seus seguidores de que o que estamos vivendo é o horror, é a catástrofe. A ideia de horror e catástrofe para eles é muito mais ligada à vontade e ao prazer pessoal do que há qualquer outra coisa. O fechamento da academia incomoda muito mais do que os 350.000 mortos por Covid. Se Deus está comigo e a minha vontade é a Dele, a minha prosperidade é a Dele. A minha vontade é a academia aberta, qualquer pessoa que lute contra isto luta contra Deus. A minha vontade é a vontade suprema. E neste cenário de pequenos deuses psicopatas surge um grande Deus psicopata, o psicopata-mor, aquele que vai fazer tudo voltar a ser o que era. O que é exatamente o tudo voltar a ser como era? Algo ainda pior do que a distopia que vivemos. Lembremos, afinal, que estamos apenas no começo. Ou alguém realmente acha que isto vai acabar pacificamente?

Bolsonaro e seus seguidores estão numa guerra santa e exigem submissão completa. Notem que a exigência é pelo que chamo de idiotice completa. Qualquer pessoa que não se mostre 100% imbecil é logo rechaçada e se torna o alvo. João Doria Jr., por exemplo, é um idiota. Passou basicamente toda a sua vida fazendo idiotices, no que foi apoiado pela seita. Bastou um passo falso, um em que fez a coisa certa, no caso a vacina, e pronto. Tornou-se o inimigo. A mesma coisa com outras figuras bizarras e toscas, como os MBLs da vida. Não há mais lugar para eles na terra prometida.

Morrer numa guerra santa é o ápice. Surge o mártir, o lugar no céu está garantido. E é muito fácil acreditar que se vá chegar lá quando a vontade de Deus e a sua são uma só. E quando você encontra um grupo de pessoas que pensa exatamente igual a você e que se mostra disposto aos mesmos sacrifícios. Os bolsominions estão dispostos a morrer pela loucura em que acreditam. Morrer defendendo a própria maluquice. Morrer defendendo o templo do pastor bandido, os lucros do picareta da Havan. Normalmente quem está disposto a morrer por Deus também está disposto a matar por Ele. Bolsonaro não está disposto a morrer por nada. Mas encontrou um exército disposto a morrer por ele. Não terá dúvida em mandá-los para as trincheiras. Eles estão se armando. E vão rezar o pai nosso antes do primeiro tiro. Deus acima de todos.


Um comentário:

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