Palmeiras e Flamengo protagonizarão neste próximo domingo aquele
que é possivelmente o mais inútil e irresponsável evento esportivo da história
do país. Já peço perdão pelo erro que todo exagero pode produzir, mas em 11/04
as duas equipes entrarão em campo num domingo de manhã num campo neutro durante
a maior pandemia dos últimos cem anos para disputar o título da Supercopa do
Brasil, um torneio caça-níquel que não serve para nada. No pior momento da
maior tragédia da nossa geração, Palmeiras e Flamengo colocarão suas delegações
em aviões para ir à capital do país jogar uma partida que não significa nada.
Não deixa, porém, de ser simbólico. Os dois times que mais representam a era
Bolsonaro jogando num estádio vazio por um campeonato que não vale nada enquanto
batemos recordes de mortos.
Palmeiras e Flamengo são as duas equipes que mais buscaram a
aproximação com o genocida que nos governa. São as duas equipes que simbolizam
a decadência do país. Antes mesmo do dia um. Alguns dias após a trágica eleição,
o Palmeiras colocou o capitão que à época tinha “apenas” um discurso genocida
para erguer a taça do campeonato brasileiro, num dos eventos mais vergonhosos
de sua história. Praticamente entregue à Crefisa, o Palmeiras foi usado pela
instituição financeira para se aproximar do grupo que chegava ao poder, que
entre militares fracassados e lunáticos frustrados, conta também com o apoio de
empresários e rentistas picaretas, liderados por Paulo Guedes, que usam o poder
para aplicar diversos golpes financeiros. Basta um “A” de Bolsonaro para que,
por exemplo, ações da Petrobrás desvalorizem de um dia para o outro,
possibilitando que aqueles que possuem informação privilegiada ganhem milhões
de um dia para o outro. Também em busca dos milhões que esta aliança pode
trazer, o Flamengo logo buscou a aliança com o genocida, aproveitando todas as
situações possíveis para puxar o seu saco. O Flamengo foi premiado por isto no
ano passado. Enquanto já vivíamos a maior tragédia da nossa geração, o Flamengo
convenceu o governo federal que o momento exigia que o assunto a ser priorizado
fosse direito de transmissão de jogo de futebol na televisão. Foi assim que o “Mengão”
conseguiu que o governo editasse uma MP, sem passar pelo Congresso, mudando as
regras que então existiam para favorecer os interesses do clube. As finanças
não são o único interesse do Flamengo nesta aproximação. O clube conta com o
apoio do governo federal para impedir qualquer punição ao crime cometido nas
instalações do clube e que resultou na morte de dez adolescentes que dormiam em
containers improvisados.
Palmeiras e Flamengo são possivelmente os dois clubes que
mais agem de forma irresponsável durante a pandemia. O Palmeiras, por exemplo,
é o único dos três grandes da cidade de SP que não cedeu seu estádio para o
programa de vacinação. O pior caso, porém, veio nesta semana. O jogador Luiz
Adriano, afastado do elenco por estar com Covid, atropelou uma pessoa na saída
de um shopping em que havia levado sua mãe. Ele foi ao shopping SABENDO que
estava com Covid, no momento em que a doença mata mais de quatro mil pessoas
por dia no país. O Palmeiras o “puniu” com o pagamento de cestas básicas. Já o
Flamengo nem se preocupou em punir de qualquer forma o jogador Gabriel, detido
há algumas semanas numa operação que fechou um cassino clandestino. Não lembro
de nenhuma ação dos milionários clubes para ajudar hospitais em dificuldade,
nada. Absolutamente nada.
Palmeiras e Flamengo são símbolos de uma parcela da sociedade
que ligou o foda-se. Uma parcela sociedade que assiste a um genocídio, mas que
tem como única preocupação a alienação. Uma parcela da sociedade que defende a
continuação do futebol porque diz precisar de algo para “aliviar a mente”. Não
precisamos de porra nenhuma que alivie nossa mente. Estamos vivendo uma merda
gigantesca e as partidas de futebol só estão servindo para espalhar o vírus e
para que este bando de imbecil siga ganhando dinheiro enquanto pessoas não param
de morrer. O Brasil é hoje o centro da doença no mundo, surgiu por aqui uma
nova variante mais contagiosa e o futebol está sendo um instrumento usado para
espalhá-la pelo continente. É fato que em semanas veremos uma explosão de casos
nos nossos países vizinhos, em parte porque o Brasil e o futebol não fazem
absolutamente nada para impedir que a nova variante se espalhe entre nossos
vizinhos. É surreal que a Libertadores continue acontecendo e que pessoas
viajem do Brasil para outros países enquanto a situação está descontrolada por
aqui.
Palmeiras e Flamengo simbolizam uma sociedade que não está
aí. Uma sociedade que inventou um protocolo mequetrefe que já deu claras
demonstrações que não funciona. TODOS os times da série A, TODOS, já tiveram
algum surto de Covid e continuaram jogando, afastando apenas os contaminados,
mas mantendo em campo aqueles que tiveram contato com os doentes. E mesmo todos
os times já tendo tido surtos, estes times seguem defendendo estes protocolos
para justificar a continuação do futebol.
Palmeiras e Flamengo não estão nem aí. Aproximadamente 200
pessoas morrerão no país enquanto as duas equipes decidem o campeonato que não
vale nada no próximo domingo. Espero sinceramente que Bolsonaro compareça ao
jogo. Palmeiras, Flamengo e Bolsonaro se merecem. No dia em que isto acabar, ninguém lembrará quem foi o campeão da Supercopa do Brasil de 2020. É possível que ninguém nem lembre que este torneio existiu. Mas a história lembrará que Palmeiras e Flamengo foram cúmplices do maior horror da nossa história recente.
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