O ex-presidiário passou 580 dias
preso. Um pouco antes da sua prisão, foi levado à força para um depoimento sem
ter se negado a ser chamado, numa tentativa de humilhação pública. Sua esposa
faleceu um pouco depois. Já preso, perdeu seu irmão e seu neto. Foi impedido de
acompanhar o funeral do primeiro. Foi escoltado para o funeral do segundo, onde
foi impedido de conversar com boa parte das pessoas. No ano eleitoral de 2018,
quando liderava as pesquisas, foi impedido de concorrer e de dar entrevistas.
Ficou incomunicável. Viu o juiz que o condenou manipular este processo
eleitoral e ser anunciado ministro do candidato que venceu graças à sua prisão
dois dias depois da disputa. Ainda ficou quase um ano preso após esta primeira
demonstração clara e pública de parcialidade. Viu se tornarem públicas mensagens
mostrando este juiz combinando o processo com a acusação, e continuou preso
mesmo assim. Após 580 dias, 1 ano e 215 dias, foi solto.
Para entender o que ex-presidiário
passou, é necessário ter empatia. Mas quem não tem empatia nem pelos 700.000
mortos na pandemia definitivamente não terá empatia pelo ex-presidiário. Quem
não desconsidera votar num cara que boicotou o processo de vacinação e que imitou
gente sem ar morreu por dentro. Não é mais capaz de se colocar no lugar de
outro ser humano. Tudo o que restou a esta pessoa é rancor e ódio. Ódio que não
diminuiu pelo ex-presidiário conforme ele sofria. Pelo contrário, só aumentou.
Uma necessidade de vê-lo sofrendo e humilhado que nunca será sanada. O ódio é
assim. O eleitor do atual presidente funciona deste jeito. Quanto mais vence,
mais ódio sente. Derrubar Dilma não reduziu o ódio. Eleger isto que nos governa
não diminuiu o ódio. Pelo contrário, só criou um complexo de perseguição para
tentar justificar a enorme incompetência deste governo bisonho.
Se aqueles que prenderam o
ex-presidiário sentem cada vez mais ódio, o ex-presidiário só quer pensar no
futuro. Demonstra quase indiferença a seu algoz. Tenta reconstruir um país
destruído, muitas vezes com o apoio de pessoas que celebraram sua prisão. Seu
vice é um deles. O ex-presidiário não tem tempo a perder com o passado e com o ex-juiz
que passa o dia inteiro demonstrando sua parcialidade em redes sociais. Tudo
que sobrou ao ex-juiz é tentar usar o ex-presidiário como escada. É tudo que
ele e muita gente fez na vida. Odiar o ex-presidiário se tornou uma indústria
lucrativa. Desumanizá-lo também. Quase uma linha de produção de ódio.
O ex-presidiário tem companhia na
lista de ex-presidiários que definiram a nossa história. Nelson Mandela foi um
ex-presidiário. Marthin Luther King foi um ex-presidiário. Gandhi foi um
ex-presidiário. Rosa Parks foi uma ex-presidiária. A figura ícone construída pela
nossa República, Tiradentes, foi um ex-presidiário. Todos estes ex-presidiários
saíram maiores do que entraram no presídio. Todos foram presos em processos farsescos
e as suas libertações (exceto Tiradentes, que foi executado) representaram o
início do fim de injustiças históricas. Todos eles têm prisões que representam
mais do que sofrimentos pessoais, representam sofrimentos coletivos.
O ex-presidiário não tem tempo para
sentir ódio nem rancor. Sua mensagem é de futuro e de esperança, ao mesmo tempo
em que lembra de um passado não distante em que mostramos que podemos ser
melhores. Enquanto seus adversários berram, xingam e ofendem, o ex-presidiário
busca a conciliação. O ex-presidiário é o que há de melhor entre nós. Que
consiga reconstruir o país. Como Mandela e Gandhi, seus companheiros na
designação “ex-presidiários” fizeram. O país tem muito a aprender com Luiz
Inácio Lula da Silva. Ao menos o que sobrou de vida neste país.
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