sexta-feira, 10 de março de 2023

A Educação no governo petista

 


Um fenômeno tipicamente brasileiro é o voto de pessoas instruídas na extrema-direita. O Brasil é um dos únicos lugares do mundo em que a probabilidade de uma pessoa votar em candidatos fascistas aumenta de acordo com o seu grau de escolaridade. Digo um dos únicos porque a mesma coisa aconteceu na última eleição presidencial chilena. Talvez isto seja um fenômeno latino-americano, mas temos que esperar.

Mais do que um instrumento de inclusão, a educação sempre foi vista no Brasil como um meio de diferenciação. Aquele que se instrui se acha melhor do que o que não teve instrução, e a sociedade faz tudo para confirmar este sentimento. Prisão especial para quem tem ensino superior, liberação do serviço militar, entre outras coisas. Mais do que tudo, uma parte significativa das pessoas que busca o ensino superior procura esta diferenciação.

A formidável inclusão de pessoas em cursos superiores nos governos Lula e Dilma não foi completada por formação política. Uma boa parte das pessoas que alcançou cursos superiores neste período, principalmente aqueles que entraram em universidades privadas, não enxerga esta conquista como fruto de uma luta política, mas sim como fruto de uma conquista pessoal. Algo do tipo “eu me matei de trabalhar, paguei o curso, o mérito é todo meu”. Para estas pessoas, o diploma só faz algum sentido se vier seguido por aumento salarial e emprego melhor. Como em MUITAS situações isto não veio, o novo diplomado se sentiu frustrado, encontrando no fascismo a válvula de escape para esta frustração.

Há também, claro, a rejeição daqueles que já frequentavam universidades e que perderam sua exclusividade. Pessoas que odeiam as cotas sociais. Nada frustra mais pessoas acostumadas com a exclusividade do que perdê-la. Vejamos o exemplo dos aeroportos, o rancor que a nossa elite teve em ter que dividir o avião com pessoas que ela acha que deveriam pegar ônibus. São pessoas que estão amando este novo mundo em que um moleque de bicicleta faz as suas compras no mercado por 10 reais, por exemplo. Pessoas que acham que vale a pena votar num maníaco psicopata porque ele vai privatizar a Eletrobrás. Pessoas ruins que de certa forma usam a educação para chamar a sua crueldade de racionalidade.

Poucas coisas sofrem mais com discurso vazio do que a educação. Às vezes mesmo pessoas claramente bem intencionadas, como Tábata Amaral, se perdem ao achar que o simples investimento em educação basta, ou que acreditam que a função da educação seja a formação de lideranças. Uma visão individualista.

 Mais do que investir em educação, é preciso mudar o conceito de educação. Por anos, inclusive durante os governos petistas, a educação brasileira seguiu a lógica de que sua função era simplesmente formar mão-de-obra qualificada para o mercado. As últimas décadas foram marcadas pela desvalorização das ciências humanas. Não à toa o programa Ciências sem Fronteiras não contemplou ciências humanas. O Brasil não se interessou em enviar filósofos ou sociólogos para estudarem fora, apenas engenheiros. Educação sem formação política e sem formação para a cidadania não forma uma sociedade melhor. Pelo contrário. O Brasil que gerou Bolsonaro é a prova disso. Dilma Rousseff era inclusive contrária à inclusão de filosofia e sociologia na grade curricular das escolas. Foi impedida de realizar estas retiradas pelo PT, cabendo a Temer realizar a tarefa.

Ainda não ficou totalmente claro qual o caminho que o novo governo petista seguirá na área educacional, se o PT entende os erros que cometeu nesta área. Erros estes, para deixar claro, que são menores do que os enormes acertos. Por enquanto, a área está sob comando do PT-CE, governo mais bem-sucedido na área educacional nas últimas décadas e onde a experiência fascista dos últimos cinco anos não vingou. Uma esperança.

A experiência de destruição do tecido social vivida com a Lava-Jato e com Bolsonaro deveria nos levar a uma forte reflexão e reconstrução de toda a sociedade. Um processo semelhante à desnazificação alemã. E este processo pela educação. Mas não pela educação que tínhamos e que de certa forma estimulou o fascismo. Um novo tipo de educação, que forme cidadãos e que pense na sociedade como um todo.

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