Este
blog funciona para mim como uma espécie de terapia. Clarice Lispector (e juro
que foi ela mesmo quem disse) certa vez disse que palavras devem ser ditas ou
escritas, senão elas te devoram. Os últimos anos foram muito angustiantes para
mim e este blog me ajudou muito. A nova etapa da angústia e distopia brasileira
parece ser a onda de ataques a escolas. Não há nada que indique que isto não vá
virar uma epidemia, principalmente porque o país escolheu tratar este problema
da pior forma possível, que é considerar estes ataques resultado de pura e
simples maldade individual. Ela está lá, sem dúvida. Mas há algo mais
acontecendo.
Torcida
organizada. Igreja evangélica. Bolsonarismo. Todos estão em busca de uma noção
de pertencimento. Um grupo do qual você faça parte e sinta que há algo
acontecendo. Pode ser torcer para um time. Pode ser rezar para um suposto
senhor que mora no céu e vê tudo que você faz. Pode ser se vestir de
verde-e-amarelo e sair pelas ruas berrando todo tipo de barbaridade. A verdade
é que um grupo de jovens encontrou nesta loucura nas escolas um grupo de
pertencimento. Eles estão em redes sociais sendo incentivados a praticar estes
atos absurdos e enxergam na realização dos mesmos uma chance de fazer algo que
dê algum sentido a uma vida insignificante. Encontram na mais pura maldade uma
voz. Palavras devem ser ditas ou escritas, senão elas te devoram. Ninguém quer
ouvi-los. Ninguém quer lê-los. Eles estão sendo devorados. E resolveram levar
outros juntos.
O
Brasil se tornou uma cópia tosca dos EUA. A impressão que tenho é que tudo de
mais tosco que existe lá está vindo para cá. Mais do que isto, somos incapazes
de olhar os exemplos de lá e entender como agir por aqui. Todo mundo sabia que
estes lunáticos bolsonaristas invadiriam o Congresso em algum momento. Nada foi
feito. Agora é a hora de importar o que há de pior por lá, estes massacres em
escolas. Duas lições de lá: Pena de morte não adianta. O Texas, estado com
maior número de massacres nesta década, tem pena de morte. Não apenas isto, a
maior parte das pessoas que praticam estes ataques se suicidam ou tentam se
suicidar após fazê-los. Eles enxergam a morte como uma libertação. Os massacres
são um último grito, algo para tornar a própria morte algo grandioso. Algo do
tipo “morri, mas trouxe outros juntos”. Não li muitos detalhes sobre os ataques
recentes em escolas brasileiras. Para um pai de um filho de um ano é uma
tortura ver isto acontecendo. Mas acho bem provável que o suicídio estivesse
nos planos dos que praticaram os ataques, talvez eles tenham sido capturados
antes. Ameaçar de matar pessoas que tocaram o foda-se a tal ponto para a vida
não é um bom plano. A segunda lição: armar a população (professores neste caso)
não vai dar certo. Numa sociedade doente como a nossa, deixar uma pessoa armada
numa sala de aula é pedir para mais merdas acontecerem.
Trocentas
são as causas deste tipo de tragédia. É como a queda de um avião. Óbvio que há
o componente maldade. Mas há também o componente exclusão. O componente silêncio.
O componente competição, que cria uma sociedade de perdedores. Há
principalmente o componente ódio, tão estimulado pelo grupo político que nos
governou entre 2018 e 2022. E teremos que achar um jeito de lidar com isto. Normalizamos
a barbárie diariamente. Com este tipo de barbárie ainda não estamos
normalizados. Espero que não copiemos também isto dos EUA, mas acredito que
copiaremos. A pandemia tirou a minha capacidade de achar que podemos resolver
as coisas coletivamente. É cada um por si. Até a hora em que a tragédia bater
na porta de casa. Seja tomando o tiro. Seja puxando o gatilho.
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