Pensei em escrever um texto
culpando a classe média trabalhadora por mais esse duro golpe na
democracia brasileira. As pessoas que foram às ruas pedir pelo impeachment
foram somente mais um instrumento para a pseudo legitimidade do impedimento da
presidenta Rousseff.
Dilma tentou, com toda a sua
inabilidade política, implodir o PMDB. Ela fez totalmente o oposto do que o seu
antecessor que com o passar dos anos praticamente dividiu os poderes entre os
dois partidos. Os indícios que Dilma desejava retirar o tumor do governo
começaram em seu primeiro mandato, tanto que o PMDB cogitou não apoiar a
reeleição caso não ganhasse mais ministérios.
Quem encheu as ruas nos protestos
de 2015 foi a classe média trabalhadora. O argumento da esquerda de que as
manifestações eram compostas de burgueses é fraco. As passeatas estavam
recheadas de trabalhadores assalariados que possuem o pensamento do patrão, ao
contrário do dinheiro.
O PMDB é de centro e até por isso
dentro dele podemos encontrar todo tipo de ideologia. É um partido que hoje
tende ao liberalismo econômico e ao enfraquecimento da CLT, atendendo aos
desejos da indústria e em oposição aos interesses dos trabalhadores.
Se Dilma não tivesse tentado
fragmentar a influência do PMDB no governo as ruas poderiam estar até agora
bradando incansáveis, pois nada mudaria. É difícil classificar com a palavra
“erro” qualquer tentativa de destruir um partido fisiologista como o PMDB,
porém vou usar o termo e dizer quais foram os erros da presidenta que
culminaram no impeachment.
Já no primeiro mandato, em 2011,
a presidenta mudou o comando de Furnas, retirando de Dimas Toledo e repassando
para Flávio Decat. É conhecido que Dimas era muito próximo a Eduardo Cunha, bem
como que Flávio tem muito mais capacidade técnica para o cargo. A substituição
foi excelente para a estatal e péssima para Dilma, que a partir desse fato
ganhou o seu pior opositor.
Durante o primeiro mandato Dilma
desagradou a cúpula do PMDB com as suas indicações ministeriais. As vagas do
partido eram preenchidas por nomes que não tinham “cumplicidade” com a Câmara,
irritando os parlamentares e criando o “BLOCÃO” de deputados insatisfeitos com
o governo, chefiado por Eduardo Cunha.
Após as eleições Dilma decidiu
que colocaria em prática o plano de destruição do PMDB e dessa vez ela não
teria mais que pensar em apoio para a reeleição. O primeiro passo foi tentar
emplacar um petista como presidente da Câmara. Arlindo Chinaglia perdeu feio
para Eduardo Cunha. Dilma 0 x 1 PMDB.
O segundo passo foi a tentativa
de refundação do PL. Mais uma vez o Planalto tentou ajudar Gilberto Kassab a
criar um partido. Para o governo era a chance de “puxar” alguns parlamentares
do PMDB e enfraquecer a sigla. Essa manobra alertou a cúpula do partido e
Eduardo Cunha ganhou ainda mais liberdade na oposição. Acredito que ali o PMDB
definiu o futuro da presidenta. O PL não foi fundado até hoje e Kassab é ministro de Temer. Dilma 0 x 2 PMDB.
Dilma não governou em seu segundo
mandato e o impeachment foi uma mera formalidade. O governo não tinha poder
algum na Câmara e nada do que foi proposto para melhorar as condições econômicas
passou. A política do “quanto pior melhor” foi posta em prática com maestria.
Aumento do desemprego e retração do PIB é tudo o que a mídia precisa para
cumprir o seu papel no golpe e convencer pessoas de que era preciso retirar o
governo para que o país voltasse a andar. Dilma 0 x 3 PMDB.
Por fim o mês de dezembro de
2015. A última chance de Dilma evitar o impeachment era que o PT livrasse
Eduardo Cunha do seu. O PT indicou o voto desfavorável a Cunha e o revide veio
ligeiro.
Dilma e o PT ainda tinham
esperança diante da fragmentação de poder no PMDB. O grupo de Temer é chefiado
por Cunha, que é desafeto de Renan Calheiros. Mas o PMDB é realmente um câncer,
sua vocação é sobreviver, o seu lema é vão-se os anéis e ficam os dedos. O PT não
pôde contar com ninguém mais além de Requião e Kátia Abreu. Final de jogo.
Vemos aqui o que a classe média
assalariada não quer enxergar. Não foram as ruas que tiraram Dilma, foi o PMDB.
A antiga oposição foi convencida de que Michel Temer colocaria em pratica o
plano de governo derrotado nas urnas em 2014 e as manifestações populares foram
apenas a chancela de um golpe que todos enxergam e poucos discutem. A classe
média assistiu a essa partida em que a democracia perdeu com um gol impedido,
porém para o torcedor o que importa é a vitória e o sentimento de que roubado é
mais gostoso. Estão cegos mais que pela falta de informação, mas pelo ódio.
Viveremos a partir de agora a era
dos empresários. A aversão ao PT será o combustível para impulsionar todas as
reformas previstas pelos industriais. A flexibilização das leis do trabalho é
um nome bonito para a retirada da proteção dada ao trabalhador pela lei contra
o maior poder econômico do empregador. Em período de desemprego vão deixar o
empresário escolher quais os “direitos” o trabalhador terá, como se patrão e
empregado pudessem sentar para conversar de igual para igual e discutir sobre férias,
13º, licença maternidade, salário, alimentação, etc.
Espero que a classe média acorde desse
transe logo, mas pelo o que vejo o aprendizado virá apenas pela dor. Salários
sucateados, aumento na carga horária e aposentadorias baixas são apenas alguns dos
remédios amargos que teremos que tomar para que deixemos de abraçar patos de
borracha na frente da FIESP.
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