sábado, 7 de abril de 2018

A era do absurdo e o futuro do pretérito



Antes de começar o texto, GOSTARIA de pedir desculpas pelo título. E deixar claro que todas as vezes que um verbo for utilizado no futuro do pretérito, utilizarei caixa alta.
Vivemos uma era de absurdos. E uma das principais características desta era é que o criminoso é considerado culpado pela opinião pública, e chamo de opinião pública a grande mídia e aqueles por ela manipulados, antes mesmo de que haja algum crime minimamente verificado. Escolhe-se um culpado e depois se procura o crime. Utilizarei nisso naquilo que chamo de tese dois exemplos: o impeachment de Dilma e a prisão de Lula.
Dilma foi eleita em outubro de 2014 e uma semana após sua eleição ocorreu a primeira passeata pedindo seu impeachment. Embora pequena, já era uma manifestação demonstrando a incapacidade de uma parcela da população, especialmente em SP, incapaz de aceitar a derrota nas urnas. Eles já queriam o impeachment, mesmo que ainda não soubessem qual motivo seria capaz de “legitimar”, mesmo que de forma fajuta, suas vontades. Em março, dois meses e meio depois da posse, a passeata pequena se tornou gigantesca. Mais de um milhão de pessoas vestindo verde-e-amarelo, clamavam por impeachment. Junto a eles, pessoas pedindo intervenção militar, a volta da monarquia e utilizando símbolos nazistas. Depois desta passeata, cresceu na opinião pública a ideia de que era possível o impeachment da presidenta. Para isto, era necessário achar um crime. Nisto, apareceu uma advogada lunática, segundo a qual Dilma TERIA cometido um crime de pedalada fiscal. TERIA atrasado o repasse de dinheiro do governo para estatais para melhorar os números governamentais. Qualquer coisa que parecesse um crime SERIA suficiente para justificar o processo e o deputado mais bandido da história do mundo comandou o processo que resultou no afastamento de Dilma.
Um segundo pedido daquela passeata de pessoas em verde-e-amarelo que continha gente pedindo intervenção militar, a volta da monarquia e utilizando símbolos nazistas era a prisão de Lula. Ninguém sabia qual era o crime, mas queriam Lula na cadeia de qualquer jeito. Ele era ladrão e pronto. Para isto, seria necessário inventar um crime. Talvez no futuro alguém entenda o quão bizarro isto é, mas Lula SERIA condenado três anos depois pelo seguinte crime. A OAS era dona de um prédio e queria vender um apartamento para Lula. Isto na época em que o ex-presidente era a pessoa mais popular no Brasil. Para aumentar a possibilidade de venda, a OAS fez uma reforma neste apartamento, esperando que isto aumentasse as possibilidades de sucesso da venda. Lula visitou o apartamento com sua esposa. Esta gostou do imóvel, mas Lula não. Disse que não havia sentido um casal idoso comprar um tríplex. Alguns anos depois, um juiz tentando agradar a esta opinião pública que já tinha um culpado sem ter crime PRENDERIA o dono dessa construtora. O juiz manteve o empreiteiro preso até que ele o ajudasse a criar um crime. Dois anos depois, o empreiteiro fez sua parte para sair da cadeia. Disse ele em delação premiada que a reforma do apartamento que jamais foi de Lula SERIA uma propina. Lula RECEBERIA o apartamento e em troca FARIA lobby da construtora sabe-se lá onde. Lula SERIA considerado dono com base única e exclusivamente em delações. Não há documento algum que comprove sua posse. É como se eu juntasse algumas pessoas e dissesse que o apartamento em que você leitor(a) mora não é seu. Mesmo sem ter documento algum, isto SERIA suficiente neste mundo bizarro criado para condenar Lula. Se testemunhos servem para provar a posse, também servem para provar a ausência de posse, afinal.
Uma pessoa está na cadeia por um crime inventado. Por um crime do futuro do pretérito. A mídia repete à exaustão que o processo legal foi seguido. Como se o processo legal fosse suficiente para justificar a condenação por um crime que não existe, a não ser no futuro do pretérito. Mandela foi condenado por um processo legal. Luther King também. O processo não diz nada se aquilo que o motivou foi uma farsa. Para que esta farsa tivesse sucesso, a atuação da grande mídia foi fundamental. Anos repetindo mentiras para que elas ficassem gravadas na mente de boa parte da população como verdade. A revista Isto É trazia Lula vestido de presidiário antes mesmo do tal processo no futuro do pretérito existisse. A revista Veja contava em sua capa sobre um suposto plano que Lula TERIA para fugir para a Itália. A lei nunca foi tão descumprida na condenação de alguém como foi no caso de Lula. Mas já é claro que não há mais lei, afinal. A base da legislação, a presunção de inocência, já foi pro saco nesta época punitivista.
Na última pesquisa presidencial, Lula, o condenado no futuro do pretérito, aparece em primeiro. A turma do verde-e-amarelo diz que é porque o povo é burro. Eu acho que é pelo contrário, o povo é muito inteligente e de certa forma percebe a farsa. Vivemos o pior Brasil da nossa geração enquanto a mídia não se cansa de afirmar que ESTARÍAMOS avançando. O antigo segundo colocado que agora chega à liderança é Jair Bolsonaro, o fascista. Esta turma do verde-e-amarelo já conseguiu realizar seus dois primeiros pedidos. Dilma fora e Lula na cadeia. Qual será? O Rio já vive sob intervenção militar. É o futuro do pretérito comandando uma era de absurdos.

2 comentários:

  1. Nunca fui petista, nunca votei no Lula ou na Dilma. Porém, apesar de considerar comunismo e socialismo sistemas utópicos que são atraentes no papel e nunca funcionaram de fato na prática, me considero de esquerda. Porque entendo que ser de esquerda é acreditar na igualdade de direitos e oportunidades. E que isso não tem relação direta com o comunismo ou socialismo. Dito tudo isso, mesmo não acreditando que Lula é este herói perfeito que seus admiradores pintam, não há como negar que muita coisa foi feita no seu governo para diminuir as desigualdades sociais. Também não há como negar que seu julgamento, assim como o do impeachment, não foi nem um pouco justo. Acredito que faltava à Dilma traquejo social e um pouco de capacidade administrativa, mas nada grave foi comprovado para justificar o que foi feito. A culpa de Lula também não foi legalmente comprovada. E não importa se acredito ou não na inocência de ambos (acho até que não acredito), mas ver a justiça ser torcida dessa forma para atender aos interesses de outros corruptos comprovados me incomoda pra caramba.

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    1. Condordo plenamente com o que você escreveu neste comentário. Tenho a mesma leitura.

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