Paulo Maluf é um filho da puta.
Creio que poucas pessoas tenham dúvidas sobre isso. Roubou, mentiu, apoiou uma
ditadura. Paulo Maluf merece ser tratado com dignidade. Foi preso aos 86 anos.
Com câncer. Uma parte da sociedade comemorou seu sofrimento. “Está sendo feita
justiça”. Maluf conseguiu um habeas corpus. Revolta. “Injustiça e impunidade”.
Não interessa que o ex-governador esteja em prisão domiciliar e tenha os bens
bloqueados. Apenas a privação total da liberdade é vista como uma forma de se
fazer justiça. Justiça é igual a sofrimento e humilhação.
Paulo Maluf é claramente culpado.
Mesmo ele merece ser tratado com dignidade. Está no fim da vida e não há
sentido em impedir que viva o final de sua vida com o mínimo de qualidade.
Mesmo as pessoas menos decentes devem receber um tratamento decente no final da
vida. Não há sentido em prisão que não seja domiciliar para pessoas em idade
avançada e que não representam perigo à sociedade. Não é o caso do médico Roger
Abdelmassih, cuja liberdade claramente representa um risco. Mas no caso de Maluf,
serviu apenas como prazer para gente que perdeu qualquer capacidade de empatia
humana. Não deixa de ser curioso que Maluf tenha feito parte da sua carreira
estimulando este ódio e punitivismo. “Lugar de bandido é na cadeia”. Nada
melhor do que aproveitar o caso de Maluf para se mostrar diferente de Maluf.
Sejamos melhores que este tipo de pensamento. Infelizmente não somos.
Uma das maiores marcas do avanço
do fascismo no Brasil é a tara por punição. As pessoas estão com ódio e querem
ver sofrimento. Cada foto de político sendo preso pela Lava Jato, raspando o
cabelo e tirando foto com cara de tristeza causa festa na turma do
verde-e-amarelo. Pessoas saem nas ruas com as cores do país pedindo o fim da
impunidade. Comemoram cada prisão e reclamam de todo habeas corpus. Prisão
igual a justiça, liberdade igual a
impunidade. Sérgio Moro, ídolo da turma fascista, mostrou em entrevista
na TV o número de pessoas que colocou na cadeia como sinal de competência. Não
deu importância aos casos em que suas decisões condenatórias foram revertidas
em outras instâncias. Inversão da presunção de inocência, agora todos são
culpados até que se prove o contrário. Estímulo às delações, que são premiadas
até no nome e são consideradas por si só uma prova. Prisões preventivas
eternas. Tudo estimulado por uma mídia que aposta no medo e no ódio de forma
comercial. Pessoas com medo ficam em casa e consomem. Na falta do que gostar, o
ódio une e permite a manipulação. Pessoas deste tipo se consideram patriotas.
Elas dizem amar seu país. Como elas o amam, todas que não concordam são
automaticamente inimigas da pátria. Apropriaram-se dos símbolos nacionais e os
utilizam para gritar por sua visão tosca de justiça.
Amanhã Lula possivelmente será
preso. Quem acompanha este blog sabe minha opinião sobre o processo do
ex-presidente. Ele foi, a meu ver, condenado sem provas, num processo farsesco
que se transformou num circo midiático. Está sendo preso antes do julgamento em
última instância, numa clara afronta à Constituição. Quem assistiu à análise do
seu habeas corpus preventivo no Supremo pôde notar, caso ainda consiga pensar,
o grau de bizarrice que tomou conta do Poder Judiciário. O voto do ministro
Barroso, por exemplo, parecia vindo do programa do Datena. O ódio impede a
turma do verde-e-amarelo fascista de ter qualquer empatia humana. Lula não é
visto como um senhor de 74 anos sobrevivente de um câncer. É alguém que deve
sofrer e cujas imagens na prisão significarão regozijos de alegria nesta turma.
Apenas gente doente se alegra ao ver sofrimento. Uma prisão domiciliar do
senhor de 74 anos não basta para quem o odeia. Mesmo que eu o achasse culpado,
como acho que é o caso de Maluf, não conseguiria ficar feliz. Sinto-me humano
por isso.
Somos uma sociedade doente.
Pessoas que só sabem berrar e odiar estão vencendo todas desde o impeachment.
Estão conseguindo impor sua visão de país. Nunca estivemos pior, mas para eles
estamos melhorando. “Sendo salvos”. Tiraram o monstro da jaula e ele não para
de crescer. Na boa, estamos fudidos...
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