Não há nada mais perigoso para um
Estado laico do que um membro do Poder Judiciário que seja fanático religioso. O
fanatismo cega e faz com que a pessoa aja não de acordo com a racionalidade das
regras institucionais estabelecidas democraticamente, mas sim através de uma fé
pessoal baseada em subjetividades em vontades pessoais. O fanático religioso é
de certa forma alguém que se compara a Deus, que acredita que a figura divina
está sempre ao seu lado. Por estar sempre ao lado do Ser superior, o fanático
sente que O representa, sendo assim a sua vontade igual à vontade divina.
Estando com Deus o tempo todo, o fanático se vê como estando sempre com a razão
e tendo como função transformar a sua vontade, que afinal é a vontade divida,
em realidade. É isto que explica, a meu ver, o grande número de fanáticos
religiosos que no Brasil atual saem pedindo a morte e a prisão de quase tudo
que se mexe para, aos domingos, comungar e rezar. Para esta gente, Deus no
fundo não passa de um argumento de autoridade para justificar interesses
pessoais, uma abstração cuja companhia permite tudo, especialmente o ódio. Jair
Bolsonaro, por exemplo, poucos segundos após homenagear um torturador na sessão
de impeachment de Dilma, disse que seu voto era em nome de Deus. Não há
contradição na cabeça destes fanáticos, uma vez que o fanatismo não dá espaço
para reflexão. Todo fanático se acredita um Deus, uma vez que trata sua vontade
como vontade divina e se enxerga como um executor dos desejos do Ser maior que
está sempre ao seu lado. Sociedades em que fanáticos religiosos chegam ao poder
tendem a ser reacionárias e preconceituosas. Não há espaço para o respeito à
diversidade com alguém que se considera um Deus. Quando se está com Deus, se é
igual a ele, logo se atingiu a perfeição. Todo fanático é intolerante. Todo fanático se sente livre para odiar.
Deltan Dallagnol é um fanático
religioso. Fala mais sobre a Bíblia do que sobre a Constituição. Descreve-se em
sua conta no Twitter como alguém temente a Deus. Nesta semana, Dallagnol disse
jejuar e orar para que uma pessoa fosse presa. O Deus de Dallagnol, portanto, é
alguém punitivista. Considerando que Dallagnol acredita que suas vontades sejam
também as vontades do Deus em que arduamente acredita, temos outras características
desta representação divina. Dallagnol é contra o habeas corpus e a favor da
liberação quase irrestrita das prisões preventivas. Provavelmente acredita que Deus está do seu lado nestas empreitadas. O Deus de Dallagnol não
quer persão, o Deus de Dallagnol quer prisão. O Deus de Dallagnol, porém, não se opõe aos
privilégios da casta judiciária, uma vez que sua ovelha mais importante recebe
auxílio moradia mesmo morando na cidade em que trabalha. Dallagnol não faz
jejum por distribuição de renda, igualdade ou paz. Tampouco ora para aprender a
usar um Power Pont. Passa fome e reza apenas para pedir punição. Dallagnol quer vingança e não enxerga contradição em utilizar-se de sua crença divina para pedir o sofrimento de alguém, sem entrar no mérito de saber se esta punição é justa ou não. Quem lê este blog sabe minha opinião, mas o que está em pauta aqui é o uso de Deus com objetivos punitivistas.
É óbvio que cada pessoa pode ter
sua interpretação de lei e suas crenças. O que é assustador é ver a quantidade
de pessoas semelhantes a Dallagnol que fazem parte do nosso atual Poder
Judiciário e que usam suas crenças para manipular a classe média que está com
ódio de tudo, menos do que define como Deus. Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato
no Rio, elogiou o procurador fiel e também disse orar junto com seu irmão. Este
recebe dois auxílios moradia, uma vez que sua esposa também é juíza.
O fanático religioso perde a
capacidade de qualquer autocrítica. Somos uma sociedade que aos poucos é
dominada por este fanatismo. Deus está em todos os discursos, principalmente
nos que defendem o ódio. Não há espaço para amor e compreensão. Uma sociedade
em que pessoas dessas julgam e condenam não é mais capaz de discernir certo de
errado. Uma sociedade que utiliza estas figuras como exemplo não tem futuro. É medonho como pessoas que se dizem conscientes toparam se unir a este tipo de gente, sem olhar na história para onde as sociedades caminham quando seguem este caminho. Todo
governo totalitário de direita se apoia no fanatismo religioso. Bem-vindo à
República Fundamentalista do Brasil.
Fazer greve de fome para o Lula ser preso é fácil. Queria ver ele fazer greve de fome até o Aécio ser preso.
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