O presidente da República, Jair
Bolsonaro, repetiu no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações
Unidas a mesma tática que o consagrou no Brasil. Falou muita merda. Durante
alguns minutos que pareceram uma eternidade, o presidente mostrou ao mundo a
face do “novo” Brasil que ele representa: um país ignorante, prepotente,
fanático religioso, que sente horror à ciência e ao conhecimento, paranoico e
agressivo.
Bolsonaro deve à quantidade
gigantesca de merdas que disse durante a vida a sua ascensão na política.
Capitão fracassado afastado no Exército, tornou-se vereador e deputado falando
merda. Sem nenhuma proposta relevante e com um mandato insignificante,
representando um pequeno grupo de pessoas tão ignorantes e rancorosas quanto
ele, encontrou em programas de subcelebridades como Superpop, Datena e CQC a
chance de se apresentar a seu público. Sem ser especialista em nenhum assunto,
era chamado por estes programas para debater os mais variados temas, cumprindo
sempre o papel de ofender e xingar outros convidados.
Muitas pessoas são como Bolsonaro
e, usando jargões publicitários, ele teve a chance de, enquanto a Lava Jato usava
a grande mídia para mergulhar o país no punitivismo e na mediocridade, vender o
produto que o público queria. Sua presença em programas em que se expunha como
alguém racista, homofóbico e machista dava audiência e gerava polêmica. Pessoas
medíocres adoram pessoas “polêmicas”, identificam-se com elas.
Num momento em que o país está
mergulhado na merda, ninguém se adaptou melhor a esta era do que Bolsonaro. Ele
é o verdadeiro espírito do tempo. O Brasil consagrou nas urnas no ano passado
toda esta “brilhante” trajetória baseada em falar merda e não há razão agora para
Bolsonaro mudar. Ele saiu de capitão fracassado a presidente tendo como única
arma a facilidade com que fala merda. Aqueles que achavam que ele ia mudar
depois da eleição, que ia se adaptar à solenidade do cargo, são analistas
realmente muito ruins.
Como grande falador de merda que
é, Bolsonaro atrai e se cerca de gente que fala merda. É como se houvesse um Sistema Merdal semelhante ao Sistema Solar, com Bolsonaro como grande Merda sendo rondado de Merdinhas. Poucas coisas são mais simbólicas deste governo do que o presidente falando sobre cocô, aliás. O ministro da educação
segue seus passos, tentando falar o maior número possível de merdas e
desrespeitar o maior número possível de pessoas para ganhar seu espaço. O
ministro da Justiça usa a esposa para desrespeitar feministas e puxa o saco
sempre que possível do chefe. O ministro da Fazenda acha legal ofender a esposa
de outro presidente com jargões machistas e ri do assunto. O ministro do
Meio-Ambiente, que tentou se eleger deputado tendo como proposta matar pessoas
no campo, apoia o presidente quando este inventa dados para negar as queimadas
na Amazônia. Todos eles acharam demais o discurso de Bolsonaro na ONU. Acham demais
que ele tenha falado merda. O ministro da Justiça, que ficou em silêncio por
dois dias quando uma criança foi assassinada no Rio de Janeiro, correu ao
Twitter para elogiar a fala do presidente e sua luta contra o “comunismo” e
contra o “ambientalismo radical”. O mundo pôde ontem conhecer um pouco mais do
que está acontecendo no Brasil. Digo um pouco mais porque o presidente até que “pegou
leve” na Assembleia. Durante a campanha, por exemplo, ameaçou tirar o Brasil da
ONU, disse que ia prender ou expulsar do país os opositores, ameaçou fechar o
Supremo, entre outras coisas.
O Brasil tem diferentes períodos
em sua história. Império, República do Café com Leite, Estado Novo, primeiro período
democrático, Ditadura Militar e Nova República, resumindo, tendo esta última
terminado em 2016 ou 2018, de acordo com a análise. O certo é que hoje vivemos
a República da Merda. Uma nova era em que a ignorância é valorizada e premiada.
Onde falar merda é visto como qualidade. Os ciclos no Brasil duram pelo menos
20 anos. Muita, mas muita merda vai vir ainda. Atualmente temos um Supremo de
6x5. Todas as ações da Lava Jato que envolvem Lula são vencidas pela operação
por 6x5, todas as que não envolvem o ex-presidente terminam com 6x5 contra a
operação. Em 2021, dois dos ministros que votam sempre contra a Lava Jato
sairão, sendo substituídos por nomes de confiança de Bolsonaro. A merda está
apenas começando.
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