terça-feira, 28 de junho de 2022

A decadência de Nelson Piquet

 


É realmente difícil convencer um idiota bem-sucedido profissionalmente de que ele é um idiota. Em geral porque ele se cerca de pessoas que o bajulam. Mas também porque o idiota bem-sucedido acredita que o próprio sucesso profissional é uma prova de que ele não é idiota. Nelson Piquet era muito bom no que fazia. Muito muito bom. Foi três vezes campeão do mundo. Ganhou mais de vinte corridas. Deu sorte de ser muito bom numa atividade que, embora não muito relevante para a humanidade, uma parte significativa de nós leva a sério, a corrida de automóvel. Além de muito bom no que faz, Piquet sempre foi muito, mas muito idiota. Ele é tão, mas tão idiota, que ele consegue ser mais idiota do que foi bom piloto. Piquet tem três títulos mundiais de Fórmula 1. Se houvesse título mundial de idiotice, é possível que Piquet tivesse mais do que sete títulos mundiais nesta categoria. 

Piquet sempre se esforçou para ser o mais idiota possível. Sempre que perguntado sobre um assunto ou sobre uma pessoa, o objetivo de Piquet sempre foi dar a resposta mais idiota possível. Ele acha isto engraçado. É comum entre pessoas bem-sucedidas e idiotas responder perguntas destas forma. Quem trabalha no setor privado conhece bem aquele diretor que adora falar palavrões desnecessários e xingar o mais alto possível. Faz parte do que eles enxergam como poder. Não à toa Piquet ou este tipo de diretor se identificam tanto com o atual presidente da República. Na sua fala sobre Hamilton, Piquet poderia escolher muitos adjetivos. Poderia apenas dizer que Hamilton foi agressivo. Mas não, fez questão de explicitar seu racismo. Fez porque é adepto do quanto mais idiota melhor. Fez porque acha engraçado. Fez porque se sente poderoso ao fazer isto.

Piquet sempre se sentiu um tanto quanto injustiçado pelo público brasileiro. Ao mesmo tempo em que ganhava nas pistas, surgiu outro piloto brasileiro tão bom ou melhor e com mais carisma. Acontece. O idiota foi se tornando cada vez mais rancoroso e amargo. Era hiper falante até seu filho protagonizar o maior vexame possivelmente da história do esporte. Nelsinho Piquet herdou a idiotice, mas não o talento do pai. Ficou um tempo quieto. Mas quis o destino que Piquet se tornasse sogro de um novo fenômeno do mesmo esporte. Voltou com a corda toda. Recuperou a força e a energia. Força e energia que usa para falar merda.

O Brasil tratou por muito tempo gente como Piquet como engraçada. Suas barbaridades eram tratadas como “polêmicas”. Frases de “gênio”. Precisamos parar, aliás, com esta história de que piloto de Fórmula 1 é gênio. Não é. Schumacher não foi. Senna não foi. Eles são muito bons no que fazem. Mas gênio era, sei lá, o Da Vinci. À exceção de Hamilton, a Fórmula 1 nunca teve um atleta relevante para o planeta. A Fórmula 1 é cheia em geral de playboys mimados de famílias ricas totalmente alienados da sociedade. A Fórmula 1, entre outras coisas, corria na África do Sul nos anos 1980, durante o apartheid. Hamilton é relevante não apenas pelos sete títulos ou pelos recordes que bate, mas por ser possivelmente o primeiro piloto de Fórmula 1 não completamente alienado que eu lembre. Hamilton se interessa pela sociedade, entende o papel que pode ter como agente transformador e seus sete títulos mundiais, mais do que o fim, são o meio para que sua mensagem seja passada. É possivelmente o atleta mais relevante da sua geração. É o que Muhammad Ali foi nos anos 1960, Billie Jean King nos anos 1970, Maradona nos anos 1980, as irmãs Williams nos anos 2000, entre outros. Consegue fazer seu talento na atividade irrelevante ser relevante. Voltando ao Brasil, as barbaridades de Piquet foram sempre tratadas como humor pela mídia brasileira. Como as barbaridades do antigo deputado federal, aliás. “Olha que engraçado, ele falou que a ditadura deveria ter matado uns 30 mil”. Pessoas como Piquet se sentem realmente ameaçadas com a modernidade. Não sabem não ser idiotas e temem que a queda do idiota-mor seja a queda do próprio estilo de vida, baseado em privilégios e preconceitos.

O piloto Nelson Piquet está na história do esporte. A pessoa Nelson Piquet caminha rumo à irrelevância. O ex-piloto muito bom se tornou uma figura triste e rancorosa que só aparece na mídia falando merda ou servindo de chofer para um genocida aloprado. Não foi vítima de ninguém. Escolheu o seu caminho. Basta olhar para a cara de Piquet e notar como ele é infeliz. Pessoas como ele vão para a irrelevância sempre do mesmo jeito. Reclamando e ofendendo. E com um olhar triste, servindo de condutor para um idiota ainda mais idiota do que ele. Piquet já conhece de certa forma o ostracismo no país em que nasceu. Tanto que a frase racista que proferiu contra Hamilton demorou 6 meses para aparecer. Ninguém liga para o que ele fala. Agora deve conhecer o ostracismo na categoria que o consagrou como piloto. Este não existe mais. O que sobrou foi esta tristeza. A demonstração do impacto que o rancor pode causar em um ser humano.

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