William Waack foi afastado do
Jornal da Globo após o vazamento de um vídeo em que ele aparece cometendo um
ato racista. Waack foi nos últimos anos, junto com Alexandre Garcia, o mais
influente jornalista de pautas direitistas da maior emissora do país. Possuía
em seu telejornal liberdade editorial quase completa para opinar e foi uma das
vozes mais fortes do movimento que chamo de paranoia antipetista, formado por
jornalistas que basearam suas opiniões na defesa do que chamam de livre mercado e na crítica a programas sociais dos governos petistas, especialmente o Bolsa
Família e as cotas raciais. Segundo Alexandre Garcia, aliás, em um editorial do
Bom Dia Brasil, o governo petista era responsável pelo surgimento do racismo no
Brasil ao adotar a política de cotas nas universidades. Talvez o comportamento
do seu agora quase ex-coleguinha Waack o prove do contrário.
Não é a primeira vez que algo
deste tipo acontece na grande mídia brasileira, mas nunca havia envolvido
alguém com o poder de influência de Waack. Boris Casoy foi filmado num
intervalo fazendo chacota de um grupo de garis que sonhava em comprar um
celular. Como uma representação da elite que não se conformava com o acesso a
novos produtos que pessoas de origem humilde estavam obtendo na era Lula, Casoy
gargalhava e humilhava profissionais que realizam um trabalho fundamental para
o nosso dia-a-dia. Pediu desculpas no ar e não recebeu nenhuma punição da
Bandeirantes. Hoje está na Rede TV. Rachel Sheerazade, ícone da extrema-direita
lunática, causou polêmica ao defender o linchamento de um jovem contraventor
que havia sido amarrado numa árvore. Como “punição” do SBT, foi proibida de
opinar no telejornal e recebeu um contrato da maior emissora de rádio de São
Paulo para dar exatamente o tipo de opinião que gerou a polêmica. O mesmo SBT,
aliás, contratou Marcão do Povo, demitido da Record após usar xingamentos
racistas contra uma cantora de funk. Talvez o SBT seja o mesmo destino de
William Waack, pois aparentemente Silvio Santos aprova este tipo de
comportamento entre seus jornalistas.
A punição a Waack mostra que
nossa sociedade ao menos está evoluindo um pouco quanto a este assunto. Não há
mais espaço para racismo explícito na maior emissora do país e a postura da
Globo mostra ao menos que ela sentiu necessidade de agir dessa forma. Isto é importante,
mas muito ainda deve ser feito, especialmente para criar alguma diversidade nas
redações. Praticamente todos os apresentadores de telejornais, seja nas TVs
abertas ou fechadas, são brancos. São eles que decidem a forma como as
informações chegam aos telespectadores. Não há nenhum espaço para debates, há
basicamente pessoas brancas expondo paranoias e moralismos de classe média, sem
nenhum questionamento real sobre nossas desigualdades e desafios, incentivando
uma alienação cada vez maior entre seus telespectadores. Uma reportagem sobre
aumento de gasolina ou atraso em aeroportos tem mais destaque e tempo do que
uma matéria sobre miséria ou combate à desigualdade. O Brasil real segue
invisível na grande mídia. A maior parcela da população segue com pouquíssima
representação em emissoras que, afinal, são concessões públicas e, portanto,
devem satisfação por sua programação à sociedade.
A mídia tem uma responsabilidade
gigantesca neste grande movimento de falso moralismo, ódio e paranoia que gerou
o impeachment de Dilma e que agora evoluiu para uma assustadora onda de
extrema-direita que persegue artistas e professores. A grande mídia claramente
não se mostra preocupada ou interessada em fazer alguma autocrítica sobre seu
papel em todo momento caótico que o Brasil vive. Não vimos e creio que não
veremos nenhuma investigação sobre gastos de estatais, algumas com monopólio,
em publicidade nestes grandes meios, ou no silêncio de todos para as grandes
obras olímpicas no Rio enquanto elas eram construídas. O afastamento de Waack,
porém, mostra que em todo este caos trágico que vivemos, houve alguma evolução
social. Ao menos vivemos num período em que a emissora sente necessidade de dar
alguma satisfação a seu público quando algo deste tipo acontece. Diferentemente
do que houve com Casoy, há pouco tempo. Que figuras racistas como Waack
desapareçam. E que levem seus falsos moralismos, preconceitos e paranoias
juntos. Mas que fique claro que seu afastamento é apenas um pequeno passo. Uma pequena e simbólica
vitória num período trágico de derrotas para todos que defendem uma sociedade mais igual e sem preconceitos.
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