O
último ano chegou. Pelo menos não consigo imaginar uma situação diferente. Uma
vez tentei imaginar como será se eu acordar na última segunda de outubro e descobrir
que isto vai continuar. Não vai. Não é possível.
O
Brasil passou desde 2016 por um processo de auto implosão que eu sinceramente não conheço igual. Era inimaginável. Tá, houve
sim papel americano na Lava Jato. Mas todo o processo de destruição foi
praticado por agentes nacionais. Foi a grande mídia nacional, o Judiciário nacional,
a classe média nacional e, principalmente, o eleitorado nacional. Não conheço
nenhum caso em que uma pessoa tão abjeta como Bolsonaro tenha chegado ao poder
com mais da metade dos votos da população. Foi o Brasil que fodeu o Brasil. Ok,
houve toda a fraude para tirar Lula do páreo, mas ok, mesmo assim, é
inacreditável que a saída de uma pessoa do processo tenha sido suficiente para
que a pior pessoa do mundo se tornasse presidente. Nos últimos seis anos assistimos
a destruição do sistema democrático, de quase todo o aparato público, da
proteção social, da presunção de inocência, do direito à defesa, do sentimento
de sociedade. Sim, porque uma sociedade que escolhe um candidato que ameaça
matar ou expulsar seus opositores não existe mais. Uma sociedade que não tira
do poder uma pessoa que caçoa das vítimas da maior tragédia da geração não
existe mais. Uma sociedade que sucumbiu, em que a relação com o outro não é
marcada pela empatia e pela solidariedade, mas pelo medo e pela desconfiança.
01/01/23
será um dia de festa. Mas não se engane, o que acontecerá neste ano de 22 é
algo inimaginável. Com base em antecedentes históricos, podemos perceber que o
último ano de governos de pessoas como Bolsonaro costumam ser o pior. O que
será pior do que o que vivemos desde 2016? Algo que ainda não sabemos. Mas
quanto mais Bolsonaro e sua turma perceberem que a casa deles está caindo, maiores
serão as loucuras e maiores serão as radicalizações? O que é mais radical do
que atrapalhar vacinação de criança? Não sei. Bolsonaro joga com o inimaginável.
Ele é o “diferente”. Será o “diferente” até o fim.
2022
será bem foda. Os dois nomes de 2016 farão o possível para que o último ano não
seja o último ano. Vão fazer o possível para não perderem o que “conquistaram”.
Sim, eles veem o Brasil atual como fruto de uma “conquista”. Em algum momento o
juiz e o capitão vão se unir novamente. Falando de lei e de ordem. Falando de
prender e matar. Fustigando o caos. Dê uma olhada na rede social do juiz. É
apenas caos disfarçado por slogans de algum marqueteiro especialista em autoajuda.
Tentarão repetir 2018. Mas desta vez vão perder. E se esta turma só soube
semear o caos enquanto estava ganhando, você vai ver o que farão quando perderem.
Imagine o que serão os dois meses entre a vitória e a posse do Lula? Com
Bolsonaro presidente... Não dá para imaginar.
A
reconstrução exige paz. E a paz não se faz conversando com os amigos, e sim com
os adversários. O metalúrgico e o médico entenderam isto. Quando duas pessoas
minimamente civilizadas, dá para imaginar o que vai acontecer. A reconstrução
passa por este gesto. Mas até lá, teremos que viver o último ano do Horror. E
ele será mais horroroso do que nunca. Inimaginável até para quem o viveu até
agora. 2023 será o ano da paz. Mas 2022 será o último da guerra. O pior.
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