segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

IMPRENSA S/A




O corporativismo é algo normal em qualquer área. Ajudar o “colega” é muito mais bacana do que ajudar um qualquer.
Existem certas áreas em que essa história de corporativismo é mais acentuada. Na polícia o corporativismo é praticamente uma religião com apenas um mandamento: Ame o próximo policial como a ti mesmo. Mas como eu sou fã dessa profissão, não vou falar disso aqui.

Na imprensa o corporativismo é forte e muitas vezes recebe o nome de “matéria jornalística”.
O caso do cinegrafista Santiago Andrade é um caso chocante porque se trata de mais um pai de família que se vai por causa de uma coisa imbecil. Mais uma daquelas mortes estúpidas que a gente não sabe direito porque aconteceu. Dito isto, que fique claro que eu não estou aqui para dar os parabéns ao assassino pelo magnífico ato de soltar um rojão em uma multidão.

Esse não é um blog informativo, se você não sabe quem é Santiago Andrade e não sabe como ele morreu, vá se informar e volte aqui.
Nesses casos a imprensa cria um clima de guerra. Todas as emissoras de TV relataram o acontecido da forma mais grave possível (como se o próprio fato já não bastasse) e trataram de criar um clima de comoção entre a população.

Essa fantástica cobertura rendeu alguns frutos:
Santiago se tornou mártir de uma imprensa que sofre para poder levar informação às pessoas.

Jornalistas reclamam da falta de proteção e o Ministro da Justiça propôs uma “política de proteção aos jornalistas”.
Dilminha da galera colocou a Polícia Federal no caso.

William Bonner leu, no Jornal Nacional, um editorial.
A ONU se pronunciou sobre o caso.

O crime contra Santiago aconteceu no dia 6 de fevereiro. Dia 9 o policial federal Marcelo Luis de Miranda foi ferido gravemente com um tiro na cabeça após uma tentativa de assalto em SP, tudo isso na frente da mulher e da filha de 4 anos. Dois homens em uma moto anunciaram o assalto e, após a troca de tiros, um assaltante fugiu e outro morreu no hospital. Agora eu te pergunto: um desses crimes é pior que o outro?
Consegui saber que o policial também veio a falecer apenas pela internet. Já no caso Santiago pude acompanhar pela TV, em todos os horários, o acontecimento, o socorro, a morte, as investigações, os protestos da imprensa, Dilminha se pronunciando, identificação dos suspeitos, a prisão dos suspeitos e, pasmem, até o transporte aéreo BA-SP de Caio Silva de Souza. Foi uma cobertura digna de atentado terrorista. Meus parabéns a imprensa brasileira.
No caso Marcelo eu não descobri até agora qual o nome do assaltante morto no hospital, quanto mais se a polícia está próxima de capturar o assaltante foragido. Também não encontrei fotos de Marcelo para colocar aqui.

No editorial do Jornal Nacional foi falado em “ataque a liberdade de expressão”. Puta merda, aquele rojão claramente não foi jogado contra o cinegrafista. Aquele bandido queria apenas “causar” fazendo aquela merda explodir no meio da confusão e, mesmo que quisesse matar alguém, não teria como adivinhar que seria o cinegrafista. Aquela porcaria de rojão poderia ter acertado qualquer um, qualquer cidadão comum. Aí sim seria apenas um crime em uma manifestação, mas na mão da imprensa se torna um ataque à imprensa e a liberdade de expressão. Um editorial bonito e correto em quase todos os pontos, mas que erra apenas em usar a morte de um pai de família para transformar a imprensa em vitima maior da tragédia, sendo que a maior vitima foi SANTIAGO e a sua família. Poderia ter sido o Zé e sua família ou a Maria e sua família.
Por outro lado, agora os manifestantes conseguiram um belo tiro no pé. Os governistas têm faca, queijo e imprensa na mão para aprovar a “LEI ANTITERRORISMO”. Fazer manifestação se essa lei passar vai ser muuuuito tenso.

São 2 homens, 2 pais de família, 2 vítimas da violência, os 2 com mulher e filha. Pena que o corporativismo da imprensa brasileira olhou para apenas um deles e deixou histórias iguais tão diferentes.

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