Em
2014, o ano em que teremos a grande farra da Copa do Mundo em casa, viveremos
no 2º semestre algo menos importante e que não precisa tanto da nossa atenção quanto
o evento esportivo da FIFA: as eleições para presidente, governadores e mais
uns cargos X. Será uma espécie de after-hours da grande festa de junho / julho.
Dentre estes cargos, um deles é deputado federal, que normalmente traz os momentos mais inesquecíveis do horário eleitoral obrigatório.
Quem consegue esquecer o Clodovil falando que 69 era seu número, ou o Maguila batendo
num palhaço e, principalmente, o Tiririca escondendo o rosto. Isto tudo lembra
a história da celebridade que talvez tenha sido a mais importante politicamente
no país desde a redemocratização, o cantor Agnaldo Timóteo.
Em
1982 tivemos a primeira eleição direta para governador desde o AI-5. Voltando
do exílio forçado na França, o gaúcho Leonel Brizola, inimigo nº1 do regime
militar, decidiu que concorreria ao governo do RJ ao invés do seu estado natal,
pois queria ficar nos holofotes para uma possível empreitada presidencial. O
problema era como tornar-se conhecido entre a população mais pobre do estado,
cujo voto seria fundamental para as pretensões do candidato. Alguma mente brilhante
veio com a ideia salvadora: “Que tal nos unirmos a alguma figura popular que
possamos manipular?”. E eis que assim surgiu o convite a Agnaldo Timóteo, para que ele
fosse candidato a deputado federal pelo RJ pelo PDT de Brizola. Antes, um
pequeno parêntese: Por mais estranho que pareça hoje, Timóteo era o segundo
artista mais popular do Brasil à época, perdendo apenas para Roberto Carlos. E
lá foram eles, o cantor popular e o político esquerdista, saindo em carreata
pelos locais mais pobres do RJ, atrás de votos. A tática deu certo: Brizola foi
eleito governador e Timóteo tornou-se o deputado federal mais votado do Brasil.
Um
ano depois, veio a tempestade. Brizola fez em 1983 a mesma descoberta que um
outro partido de esquerda faria a nível federal 20 anos depois: não há como governar sem
distribuir cargos para o PMDB. A turma de Timóteo acabou ficando sem cargos no
governo, enfurecendo o cantor de “Mamãe”. Após uma árdua discussão no Palácio
das Laranjeiras, que incluiu Brizola chamando Timóteo de negro burro e safado,
para que este, em seguida, puxasse uma arma sem munição, os dois praticamente
romperam relações. Agnaldo, porém, manteve-se no PDT, criando um clima de guerra
com o “dono” do partido.
Entre
1984 e 1985, Timóteo participaria ativamente de duas das sessões mais
importantes da história do Congresso Nacional: a que votou a emenda Dante de
Oliveira e a que elegeu Tancredo presidente. Na primeira, Timóteo foi com o
partido e com a multidão, votando a favor da emenda das Diretas Já. A encrenca
veio na segunda.
Em
algum momento de 1984, Agnaldo se apaixonou pelas ideias de Paulo Maluf. Este
era, naquele momento, o inimigo nº 1 da opinião pública nacional, o homem que
impediu o povo brasileiro de realizar o sonho de votar para presidente da
República. No Colégio Eleitoral de 1985, Timóteo deu um verdadeiro show. Não
apenas foi o único deputado que não pertencia ao PDS (partido de apoio à
ditadura) a votar em Maluf, como berrava contra todos os deputados que apoiaram
a ditadura e haviam mudado de ideia ao fundar o PFL e apoiar Tancredo.
Destacam-se, dentre estes berros, os gritos de moleque cheirador para o neto de
Tancredo, Aécio, de traficante traidor para Nelson Marquezan, líder do
PDS e chefe da campanha de Maluf, que virou a casaca no dia da eleição, e de
índio analfabeto para Juruma, primeiro deputado indígena do país que votou em “Trancredo”.
Foi
nessa época também que a carreira artística de Timóteo entrou em decadência. Um
músico popular não poderia apoiar um político tão impopular, e assim ele se tornou símbolo da derrota malufista. Os convites para tocar na TV escassearam,
sobrando apenas poucos chamados de amigos fiéis, como Silvio Santos. Aos poucos
ele entrou num ostracismo que hoje explica o porquê de um cantor que foi tão
popular por 3 décadas não ter nenhuma música lembrada na atualidade. Uma espécie
de Wilson Simonal, um pouco menos radical. Seu “crime” não foi tão grave.
A
carreira política de Timóteo continuou, sem tanto brilho, mas sempre com
algumas polêmicas. Foi vereador no Rio de Janeiro e em São Paulo, em que se
destacou pelo apoio ao projeto de Cesar Maia que queria proibir seios
siliconados na Sapucaí, pelas visitas diárias a Paulo Maluf na cadeia e pela
absurda defesa à prostituição infantil. Na última eleição, em 2012, perdeu a
reeleição para a Câmara paulistana, pondo praticamente fim à sua carreira
política.
A
trajetória de Timóteo mostra um lado que muitas celebridades desconhecem no
momento em que entram na política. Existe um risco ao se tomar uma decisão
impopular. Marquito, assistente de Ratinho, ficou um mês fora do ar no programa
do SBT ao votar a favor do aumento do IPTU. Para o ex-cantor popular, a carreira
política representou o fim da carreira artística.
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