Em
17/06/1992, o São Paulo enfrentou o Newell’s Old Boys na final da Libertadores
no estádio do Morumbi. O público foi de 105.185 pessoas e o jogo foi
transmitido pela TV Gazeta. Seis meses depois, o mesmo SP enfrentaria o
Palmeiras na final do hoje chamado “Paulistinha”. O público foi de 110.887 e o
jogo foi transmitido por Globo e Bandeirantes. De lá para cá, aconteceu uma
coisa que acabou com o interesse pelos estaduais e que tornou o futebol
brasileiro esta coisa chata que é hoje: A TV a cabo.
Tornamo-nos
pessoas que se julgam “globais”. Temos mais acesso a coisas que acontecem em
Londres ou Nova York do que a coisas que acontecem no interior do Brasil.
Passamos a enxergar nossa realidade como sendo a destes locais e não de coisas que
acontecem muito mais próximas a nós. Isto para mim é muito claro no humor. Essa
nova geração de stand up tem como referência Seinfeld, e não Chico Anysio.
Falando de
futebol, temos uma geração hoje que já passou parte da adolescência assistindo
campeonatos estrangeiros na TV e que nunca foi a um estádio. São pessoas que se
identificam mais com Manchester United e Barcelona do que com times do interior
do Estado. Mais do que isso, passamos a ter jornalistas, os grandes formadores
de opinião, que começaram a frequentar jogos na Europa com mais frequência,
tendo mais vivência no Santiago Bernabéu do que no Moisés Lucarelli. Público e
formadores de opinião, portanto, vivem hojen essa realidade, criada pela televisão a cabo. Ela moldou um
público e hoje atende ao seu interesse.
Por influência
familiar ainda temos um time, mas não nos interessa mais que eles sejam apenas
locais. Queremos que eles ganhem o mundo e façam parte, nem que apenas na nossa
cabeça, daquela nova realidade europeia a que nos acostumamos e falsamente
vivemos. Ganhar do Palmeiras não basta mais ao torcedor do Corinthians, o sonho
realizado foi vê-lo ganhar do Chelsea.
Aos poucos o
futebol brasileiro está se “adaptando” a esta nova realidade imposta por um
público europeu. O mata-mata foi pro saco, dando lugar a um chatíssimo
campeonato por pontos corridos, em que o melhor sempre ganha. A próxima vítima
é o campeonato estadual. Fodam-se os times do interior, eles não nos interessam
mais. É perda de tempo e dinheiro viajar para as cidades próximas do estado,
quando deveríamos nos esforçar para buscar uma aproximação com os clubes
europeus. Quem nunca ouviu que Flamengo e Corinthians, com boa gestão, poderiam
ser o Real Madrid e o Barcelona? Pois eu ainda prefiro que eles sejam Flamengo
e Corinthians.
Gosto muito de
programas de debates esportivos da TV a cabo, principalmente aqueles com
jornalistas mais velhos. Gosto muito de ver gente que se julga séria falando de
um assunto como futebol como se fosse a coisa mais importante do mundo. O meu
“favorito” é um que passa de manhã que mistura futebol com o que há de mais
chato na MPB. Gosto mais ainda quando o termo especialista é usado e quando
eles ficam horas esperando um jogador dar uma entrevista dizendo que agradece a
Deus e aos companheiros. Divirto-me também quando eles falam que tudo tem que mudar,
que temos que acabar com os estaduais, que eles não têm mais interesse algum do
grande público, e que temos que acabar com o mata-mata, ele não é justo. No
mesmo programa, eles lembram saudosistas como o futebol era legal até os anos
80. Ninguém questiona o paradoxo de ser contra estaduais e sentir saudade da
época em que estes eram os campeonatos mais importantes do país e em que todos
os campeonatos eram decididos por em sistema de mata-mata.
Tive uma
conversa sobre este assunto com uma pessoa que disse que o mundo mudou e que
temos que nos adaptar a esta nova realidade. Se for isso mesmo, que pena... O
mundo está mais chato. A minha mensagem àqueles que ficam em casa aos domingos
para assistir campeonato inglês seria: Desligue a TV e vá ao estádio! E viva o Ituano !
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