quarta-feira, 16 de abril de 2014

Os estaduais não são chatos. Os torcedores são.



                Em 17/06/1992, o São Paulo enfrentou o Newell’s Old Boys na final da Libertadores no estádio do Morumbi. O público foi de 105.185 pessoas e o jogo foi transmitido pela TV Gazeta. Seis meses depois, o mesmo SP enfrentaria o Palmeiras na final do hoje chamado “Paulistinha”. O público foi de 110.887 e o jogo foi transmitido por Globo e Bandeirantes. De lá para cá, aconteceu uma coisa que acabou com o interesse pelos estaduais e que tornou o futebol brasileiro esta coisa chata que é hoje: A TV a cabo.
                Tornamo-nos pessoas que se julgam “globais”. Temos mais acesso a coisas que acontecem em Londres ou Nova York do que a coisas que acontecem no interior do Brasil. Passamos a enxergar nossa realidade como sendo a destes locais e não de coisas que acontecem muito mais próximas a nós.  Isto para mim é muito claro no humor. Essa nova geração de stand up tem como referência Seinfeld, e não Chico Anysio.
Falando de futebol, temos uma geração hoje que já passou parte da adolescência assistindo campeonatos estrangeiros na TV e que nunca foi a um estádio. São pessoas que se identificam mais com Manchester United e Barcelona do que com times do interior do Estado. Mais do que isso, passamos a ter jornalistas, os grandes formadores de opinião, que começaram a frequentar jogos na Europa com mais frequência, tendo mais vivência no Santiago Bernabéu do que no Moisés Lucarelli. Público e formadores de opinião, portanto, vivem hojen essa realidade,  criada pela televisão a cabo. Ela moldou um público e hoje atende ao seu interesse.
Por influência familiar ainda temos um time, mas não nos interessa mais que eles sejam apenas locais. Queremos que eles ganhem o mundo e façam parte, nem que apenas na nossa cabeça, daquela nova realidade europeia a que nos acostumamos e falsamente vivemos. Ganhar do Palmeiras não basta mais ao torcedor do Corinthians, o sonho realizado foi vê-lo ganhar do Chelsea.
Aos poucos o futebol brasileiro está se “adaptando” a esta nova realidade imposta por um público europeu. O mata-mata foi pro saco, dando lugar a um chatíssimo campeonato por pontos corridos, em que o melhor sempre ganha. A próxima vítima é o campeonato estadual. Fodam-se os times do interior, eles não nos interessam mais. É perda de tempo e dinheiro viajar para as cidades próximas do estado, quando deveríamos nos esforçar para buscar uma aproximação com os clubes europeus. Quem nunca ouviu que Flamengo e Corinthians, com boa gestão, poderiam ser o Real Madrid e o Barcelona? Pois eu ainda prefiro que eles sejam Flamengo e Corinthians.
Gosto muito de programas de debates esportivos da TV a cabo, principalmente aqueles com jornalistas mais velhos. Gosto muito de ver gente que se julga séria falando de um assunto como futebol como se fosse a coisa mais importante do mundo. O meu “favorito” é um que passa de manhã que mistura futebol com o que há de mais chato na MPB. Gosto mais ainda quando o termo especialista é usado e quando eles ficam horas esperando um jogador dar uma entrevista dizendo que agradece a Deus e aos companheiros. Divirto-me também quando eles falam que tudo tem que mudar, que temos que acabar com os estaduais, que eles não têm mais interesse algum do grande público, e que temos que acabar com o mata-mata, ele não é justo. No mesmo programa, eles lembram saudosistas como o futebol era legal até os anos 80. Ninguém questiona o paradoxo de ser contra estaduais e sentir saudade da época em que estes eram os campeonatos mais importantes do país e em que todos os campeonatos eram decididos por em sistema de mata-mata.
Tive uma conversa sobre este assunto com uma pessoa que disse que o mundo mudou e que temos que nos adaptar a esta nova realidade. Se for isso mesmo, que pena... O mundo está mais chato. A minha mensagem àqueles que ficam em casa aos domingos para assistir campeonato inglês seria: Desligue a TV e vá ao estádio! E viva o Ituano !

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