segunda-feira, 7 de abril de 2014

Roberto Justus e o funk ostentação



                Roberto Justus é um homem de sucesso. A foto acima mostra o porquê. Contemple-o no ápice de sua riqueza. Filho de um engenheiro que fugiu da pobreza na Europa, chegou à terceira idade com uma mulher gostosa, uns 30 anos mais nova, um relógio no pulso, mesmo estando ao lado de uma piscina, uma roupa de marca. Junte a isso a bebida que pisca e um pouquinho de inveja e teríamos o rei dos camarotes. MC Guimê é um homem de sucesso. Filho de um ajudante de eletricista, enriqueceu graças ao seu trabalho na música e é possivelmente o nome mais famoso do mais controverso e importante movimento musical do Brasil no momento, o funk ostentação. Quer entender a nossa sociedade, olhe para Justus e para Guimê. Ambos representam a mesma coisa.
                Roberto Justus é publicitário. Talvez o mais importante do país. Ele e seus colegas têm como missão vender produtos. Sua tática mais comum é ligar o consumo de produtos a sucesso, mercadorias a sonhos e realizações. Compre a pasta de dente A e uma mulher linda vai beijar sua boca. Compre o carro B e uma mulher linda vai beijar sua boca. Compre a cerveja C e uma mulher linda vai beijar sua boca. Deu certo. A publicidade nos convenceu que não somos pessoas, somos consumidores. Pessoas pensam, consumidores compram. Pessoas refletem, consumidores seguem instintos. A publicidade é a mãe do funk ostentação. Numa sociedade composta quase que exclusivamente por consumidores, nada mais sensato que o consumo dos melhores produtos signifique sucesso.
                Roberto Justus tem um programa de televisão. Neste, algumas pessoas se sujeitam a situações embaraçosas e humilhantes por causa de um emprego. Mais ou menos como nós no nosso dia-a-dia. Um é contratado, os outros são demitidos sumariamente. A identificação do público, formado quase que exclusivamente por pessoas que assim como os aprendizes são achincalhadas por um chefe quase que diariamente não é com os seus iguais, mas sim com Justus. Todos querem ser Justus. Os concorrentes do programa deixam bem claro que o sonho é ser Justus. A publicidade faz com que busquemos identificação com o sucesso e nos recusemos a aceitar o fracasso. O sucesso é a riqueza, o poder, mas acima de tudo, o consumo.
                Roberto Justus é respeitado e foi escolhida a segunda personalidade mais influente para os jovens brasileiros em 2012, atrás apenas de Eike Batista. Deve estar em primeiro agora, uma vez que Eike deixou de ser sinônimo de sucesso. MC Guimê não é tão respeitado ainda. É mais difícil vender alguém de origem humilde e tatuado como ele, mas nada que um bom trabalho de publicidade e uma ida ao programa do Luciano Huck não resolva. Enxergar Justus e Guimê como duas coisas é sinal de falta de reflexão. Mas consumidor não reflete, consumidor compra. O que os diferencia é a aparência. O desenvolvimento da publicidade nos converteu em “consumidores-produtos”. O Facebook e a exposição da felicidade que o diga. O produto Justus ainda é mais valioso do que o produto Guimê. Como eu disse, nada que a publicidade não resolva.
                Roberto Justus e MC Guimê representam exatamente a mesma coisa. Enriqueceram ligando felicidade a consumo. Os publicitários acreditam que têm a profissão mais importante do mundo. Estão certos. Na sociedade dos consumidores, ninguém é mais importante do que o cara que nos convence a comprar. Tenho amigos publicitários que sempre perguntam, ao defender a importância de sua profissão, “como seria o mundo sem a publicidade?”. Minha resposta é “um mundo melhor”.

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