Presidente da Câmara, o deputado
Rodrigo Maia expressou hoje um sentimento que há muito tempo toma conta de boa
parte da classe média e da elite brasileira e, por mais que se tente negar, é
uma das bases da rejeição a Lula e ao governo petista. Segundo Maia, o Bolsa-Família
“escraviza” pessoas. A ignorância e o preconceito de pessoas como Maia contra o
programa e contra as pessoas beneficiadas por ele estão explícitos nesta frase,
que tem tido menos repercussão do que deveria.
O Bolsa-Família libertou pessoas.
É sem dúvida a maior conquista brasileira do séc. XXI. Deveria ser o grande
orgulho da nossa geração. Fora o fundamental fato de que tirou milhões da
miséria e tirou o Brasil do mapa da fome extrema no mundo, o programa deu a
milhões de pessoas uma possibilidade libertadora, a possibilidade de dizer não
a trabalhos extenuantes e mal-remunerados. Antes do programa, a população mais
pobre era obrigada a aceitar basicamente qualquer migalha para não morrer de
fome, recebendo uma baixíssima remuneração por trabalhos duríssimos. Tendo uma
renda básica garantida mensalmente, que permite resolver suas necessidades
básicas, os beneficiados puderam ter a chance de dizer não a condições
exploratórias. O Bolsa-Família foi um dos principais motivos para o aumento na
remuneração de serviços aos quais a classe média e a elite estavam acostumadas
a pagar merrecas. O programa deu alguma capacidade de negociação a estes
trabalhadores. Quantas pessoas das classes mais abastadas não ouvimos nos
últimos 15 anos reclamando que “um pedreiro ganha muito” ou que “está
impossível pagar uma empregada” e, principalmente, “não sei quem não quer sair
de casa para trabalhar não”?
O Brasil foi um país fundado
tendo como base a escravidão e carrega desta época inúmeras e gigantescas
consequências. Disse Joaquim Nabuco em O
Abolicionista que após a abolição o Brasil entraria numa nova fase, ainda
terrível e que duraria pelo menos trezentos anos, a fase das consequências da
escravidão. Uma destas consequências é a incapacidade de nossa elite e de nossa
classe média, louca para se sentir elite, de valorizar o trabalho,
principalmente o braçal. Paga-se muito em supérfluos e pouco em trabalho. O
Bolsa-Família obrigou esta turma a pagar mais para manter certos privilégios.
Isto gerou revolta numa turma que não está acostumada a ser contrariada.
Rodrigo Maia nunca fez nada na
vida. Filho de Cesar Maia, prefeito do Rio duas vezes, arrumou um emprego num
banco de um amigo do papai aos 20 anos. Aos 26, arrumou um cargo de Secretário
de Governo da Prefeitura do Rio com o sucessor de papai, Luiz Paulo Conde, na
época em que eles ainda eram amigos. Aos 28 anos, em 1998, começou a parasitar
na Câmara dos Deputados, graças ao apoio do ainda popular papai. Vinte anos
depois segue no mesmo lugar, sem nenhum projeto importante. Assumiu a
presidência da Câmara após o impeachment fajuto de 2016, o qual apoiou. Quase
virou presidente em 2017, sonha em virar presidente em 2018. Candidato a
prefeito do Rio de Janeiro em 2012, teve magníficos 4% dos votos na capital
fluminense. Repetindo, Rodrigo Maia nunca fez nada na vida. Pessoas como ele
são contra o Bolsa-Família. Querem continuar pagando pouco para as pessoas que
fazem tudo, podendo assim continuar a fazer nada pagando pouco. Maia é herdeiro
do pensamento escravista que moldou o país e que faz com que um programa como o
Bolsa-Família, premiado mundialmente e que serviu como exemplo e inspiração em
outros lugares do mundo, seja absurdamente contestado internamente. Maia disse
a frase sobre o Bolsa-Família a empresários brasileiros em Washington. Pessoas
como ele. Continuou seu discurso falando mal também do Projeto “Minha Casa
Minha Vida” e falando aquele blábláblá de sempre sobre carga tributária, que
rico adora ouvir. Falou também sobre combate à corrupção. O Botafogo. A elite corrupta finge se preocupar com a
corrupção. Mas só a usa como argumento para manter seus domínios. Ela só quer
pagar menos para a empregada, para a babá e para o pedreiro. Assim sobrará mais
dinheiro para gastar com as férias da família na Disney.
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